Hoje, ao chegar para mais um dia de vivência na escola, faltavam apenas cinco minutinhos para a abertura dos portões. Era o nosso segundo dia de observação e, sinceramente, eu e minha dupla estávamos bastante empolgados. Estávamos ali, esperando o portão abrir, observando os alunos enfileirados, quando nos bateu uma surpresa: "Cadê nossos alunos?" — foi o que pensamos. Parecia até coisa do destino: só estavam na fila justamente os alunos que ainda não tínhamos conhecido. E foi assim que começou o nosso dia, com novas carinhas, novas personalidades e a promessa de novas descobertas.
Ao entrarmos na sala, percebemos uma agitação no ar. Era o aniversário de uma colega da turma, e todos estavam empolgados com a comemoração que aconteceria mais tarde. Apesar disso, a aula de Ciências seguiu seu rumo, com uma proposta muito bacana: revisão sobre o efeito estufa. As crianças foram desafiadas a criar selos relacionados ao tema, e foi aí que a criatividade explodiu. Cada um trouxe um olhar diferente, cores, desenhos, ideias ... Foi muito legal de ver!
Durante a atividade, aconteceu um episódio curioso: duas crianças começaram a discutir, e um terceiro tentou apaziguar. Foi aí que outro aluno, assistindo à cena, soltou: "Tu quer ser advogado, é?". Rimos discretamente. Em seguida, outro aluno, distraído, entrou na conversa e soltou: "Então me diz o que tem na Lei 2, versículo 5!" — e dessa vez não me contive. Esses momentos espontâneos mostram o quanto os estudantes são atentos e têm referências vivas, mesmo nos comentários mais inusitados.
Outro ponto que chamou bastante nossa atenção foi o quanto os alunos quiseram interagir conosco. Em vários momentos, demonstraram curiosidade sobre quem éramos além da sala de aula. Perguntaram se tínhamos Instagram, se poderiam nos seguir, e ali sentimos uma quebra sutil daquela barreira inicial entre "estagiários" e "alunos". Foi como se, de repente, estivéssemos mais próximos, mais acessíveis. Meio sem saber como responder, disfarçamos um pouco o assunto e falamos: "Me diz o seu que depois a gente olha".
Foi nesse clima descontraído que surgiu uma cena engraçada: a Letycia pediu uma tesoura emprestada ao aluno G., e ele prontamente respondeu: "Só se você me seguir no Instagram!" — não consegui segurar a risada. Em seguida, esse mesmo aluno começou a contar sobre alguns vídeos que costumava assistir, mencionando um influenciador que "fazia várias loucuras" e se referindo a ele como "pixcopata" . Foi um daqueles momentos que misturam inocência, humor e o jeito muito particular que os alunos têm de ver o mundo.
No segundo horário, em Matemática, tivemos um momento importante com a professora regente. Conversamos sobre possibilidades de regência futura e ela nos deu algumas sugestões, o que nos deixou bastante animados (e com a cabeça cheia de ideias!).
Quando chegou o momento da festa de aniversário, que coincidiu com a aula de Matemática, a turma estava radiante. Docinhos, bolo, alegria e etc. Muitos disseram que já estavam contando os dias para o aniversário do próximo ano da colega ! A professora teve que fazer um verdadeiro jogo de cintura para trazer os alunos de volta à concentração, mas como ela mesma disse: "Esses momentos são fora da rotina e por isso mesmo tão especiais, e que muitos ali não tinham essa oportunidade com frequência ."
Mesmo com toda a euforia, ela ainda conseguiu introduzir brevemente o conteúdo, e foi impressionante ver como, mesmo em meio à agitação, as crianças conseguiam absorver e interagir. Hoje foi um daqueles dias que não se esquece facilmente. Mais do que observar uma aula ou seguir uma programação, vivemos a escola em sua essência: cheia de imprevistos, de risadas, de criatividade e de conexões humanas. Senti que nos aproximamos mais da turma, que começamos a fazer parte daquele ambiente de verdade. Foi um dia leve, espontâneo e cheio de aprendizados que vão muito além do conteúdo formal — aprendizados sobre convivência, escuta e sensibilidade. Saí com a certeza de que é nesse encontro entre o planejado e o inesperado que a educação ganha vida.
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