quinta-feira, 15 de maio de 2025

QUANDO O SILÊNCIO TAMBÉM ENSINA (Emily Karoline Freire Gomes)

Ao chegar à escola neste dia, senti um cansaço físico e emocional muito intenso, como se tivesse sido "atropelada por um caminhão" — uma metáfora que expressa bem o nível de exaustão presente antes mesmo do início das aulas. Apesar de sempre buscar deixar meus problemas pessoais do lado de fora da sala, percebi que esse estado acabou influenciando, ainda que sutilmente, minha percepção e disposição ao longo do dia.

Logo ao entrar na sala de aula, percebi um ambiente bastante apático. Os alunos estavam muito silenciosos, com uma postura de quem "apenas existia", como se estivessem desmotivados ou simplesmente alheios à dinâmica escolar. A professora da primeira aula tentava conduzir o conteúdo, mas enfrentava uma turma com pouca ou nenhuma participação ativa. Mesmo quando ela fazia perguntas, a resposta dos alunos era mínima, e, muitas vezes, só ocorria após insistência.

Durante uma atividade de interpretação, percebi que os estudantes demonstravam mais interesse em finalizar a tarefa rapidamente do que em compreender o conteúdo. Quando a professora avisou que a entrega da atividade seria por ordem de chamada, os alunos com nomes no final da lista correram para realizar algo que haviam ignorado até então. Esse comportamento provocou risos na sala, especialmente após um erro de cópia em que um aluno trocou a palavra "lente" por "leite", ao copiar um cartaz fixado pela professora. Situações como essa evidenciam uma aprendizagem pautada mais na execução mecânica da tarefa, revelando uma postura voltada ao cumprimento de exigências escolares em vez de um envolvimento genuíno com o processo de aprendizagem.

Outro ponto que me chamou atenção foi a frequência com que os alunos, ao se depararem com uma pergunta, logo perguntavam: "Em que página está a resposta?", o que indica certa dependência do material e pouca autonomia de leitura ou interpretação.

Na segunda aula, de Matemática, foi possível perceber uma mudança significativa na dinâmica da turma. Apesar das dificuldades apresentadas por alguns alunos, houve maior participação e envolvimento com a atividade proposta, que retomava conteúdos da aula anterior. Isso sinaliza algum nível de continuidade e apropriação do que havia sido trabalhado anteriormente.

Durante esse momento, observei mais de perto o comportamento de um aluno em particular, como uma forma de validar minha percepção — mesmo estando cansada, quis confirmar se o que eu sentia refletia, de fato, o clima da aula. Esse aluno me pediu ajuda com um exercício, e ao começarmos a analisar juntos, notei que ele rapidamente identificava o caminho para resolver a questão. No entanto, seu processo era bastante automático: ele não lia a questão por completo e, frequentemente, eu o instigava com tom brincalhão, perguntando "tem certeza?". Em seguida, ele parava por alguns instantes e passava a refletir com mais atenção, o que indicava uma oscilação entre a execução mecânica e momentos de real envolvimento com o raciocínio proposto.

Essas pequenas pausas, ainda que provocadas de maneira descontraída, demonstram que há espaço para o desenvolvimento de uma postura mais crítica e reflexiva diante dos desafios escolares. O desafio, nesse caso, parece ser criar situações em que o estudante sinta-se instigado a ir além da resposta rápida ou da simples reprodução, favorecendo a construção de sentido em sua aprendizagem.

O cenário observado neste dia evidencia como a rotina escolar pode ser atravessada por diferentes fatores que impactam diretamente o processo de ensino-aprendizagem. As relações entre os sujeitos, o ambiente físico e emocional, o cansaço acumulado e a maneira como o conteúdo é apresentado formam uma rede complexa, na qual nem sempre é possível manter o engajamento de todos.

A apatia dos estudantes, a baixa participação e a busca por respostas prontas apontam para uma cultura escolar que, muitas vezes, prioriza a entrega rápida em vez da reflexão crítica. Isso nos faz pensar sobre a função da escola e sobre como criar práticas mais significativas, que despertem o interesse dos alunos e favoreçam a construção do conhecimento, e não apenas o cumprimento de tarefas.

Observar essas situações, mesmo que desafiadoras, contribui para compreender melhor a realidade da escola e a importância de desenvolver um olhar mais sensível e estratégico, que acolha a complexidade do cotidiano escolar sem julgamento, mas com disposição para aprender e propor transformações possíveis.

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