Neste texto, uso a letra "i" como recurso de linguagem neutra.
Enquanto nós, professoris, buscamos métodos, caminhos, para ensinar, is estudantes já têm sua própria maneira de aprender.
Faz tempo que não faço em sala de aula a atividade que vou compartilhar com vocês agora. Mas é uma atividade tão boa que sei que posso voltar a usar a qualquer momento: a descoberta de um método próprio de aprendizado e, consequentemente, de ensino de si mesmi.
Melhor ainda, você poderá realizar essa atividade com você mesmi e com alguém que esteja por perto agora.
Nessa atividade, a primeira coisa que peço ais alunis, individualmente, é que listem, por escrito, três coisas que gostariam de aprender. Qualquer coisa. Não precisa estar associada a algum conteúdo da disciplina ou da matéria. Em seguida, cada estudante lê o que escreveu.
Depois peço que cada estudante liste, por escrito, três coisas que já aprendeu muito bem aprendido. Também pode ser qualquer coisa: tocar um instrumento musical, andar de bicicleta, o nome de todos os estados do Brasil, fritar um ovo, etc. Cada estudante depois lê para toda a turma o que escreveu.
Agora a coisa começa a ficar interessante...
Para cada coisa que aprendeu muito bem aprendido, cada estudante lista, sempre por escrito, três maneiras que usou para aprender aquilo. De forma que essas três coisas, juntas e em sequência, realmente sejam necessárias e suficientes para que tenha aprendido aquilo. Para ficar mais fácil de perceber como o aprendizado funcionou, cada item da lista deve começar por um verbo no gerúndio (final "ndo").
Vamos ver dois exemplos...
Primeiro. Um estudante aprendeu a andar de bicicleta. Ele aprendeu isso: 1) observando outra pessoa pedalar; 2) vendo alguns vídeos tutoriais na internet; 3) comprando uma bicicleta. Essa lista não atende o que foi pedido porque os três itens, juntos, não levam ao aprendizado. O estudante nem usou a bicicleta, então não pode ter aprendido a andar apenas usando essas três maneiras.
Segundo exemplo. Uma estudante aprendeu a falar inglês. Ela aprendeu isso: 1) pesquisando traduções de músicas; 2) vendo filmes em inglês sem legendas; 3) combinando a "hora do inglês" com uma amiga, em que elas, por 10 minutos diários, falavam entre si apenas em inglês. Essa lista é válida porque dá mesmo pra aprender inglês fazendo isso, combinando estudo e prática.
Enquanto is alunis estão escrevendo essas três listas, uma para cada coisa que aprendeu, passeio entre as carteiras, lendo o que estão escrevendo e indicando se cada lista é válida.
Quando todis terminam, divido a sala em grupos de três. Cada estudante compartilha suas listas, fazem perguntas e dão sugestões de melhoria umis ais outris. Geralmente, não há necessidade de que cada estudante compartilhe suas três listas (nove itens no total) com toda a turma. Basta compartilhar com seu pequeno grupo.
Nesse mesmo grupo, ou em outro grupo de três, cada estudante com o auxílio dis colegas tentará identificar três coisas comuns em suas três listas. Por exemplo, pode ser que nossa estudante que aprendeu inglês conversando com uma amiga também tenha aprendido os nomes de todas as capitais pedindo a uma amiga que, de vez em quando, do nada, lhe perguntasse o nome da capital de dois ou três estados. Então essa maneira de aprender na interação com uma pessoa amiga é algo comum a pelo menos duas listas dessa estudante. Cada estudante tem então uma nova lista de três itens com maneiras de aprender que se mostraram eficazes em mais de uma situação.
Em seguida, ainda no mesmo grupo, ou em um novo grupo, cada estudante vai tentar aplicar essa nova lista tríplice naquela primeira lista que fez das três coisas que gostaria de aprender, criando uma lista de três itens para cada coisa. Ela vai tentar, primeiro, adaptar os itens da lista de maneiras comuns de aprender, mas também pode incluir alguma maneira que era específica de algo que aprendeu. Lembrando que as listas precisam ser válidas, ou seja, precisam dar conta de realmente aprender aquilo que a pessoa gostaria de aprender. Eu passeando entre os grupos e is estudantes de cada grupo fazemos essa checagem a respeito da validade de cada lista.
Por fim, peço que cada estudante escolha uma das coisas que gostaria de aprender e que conte para toda a turma como aprenderá aquilo, indicando os três itens de sua lista.
A atividade pode se esgotar aí, mas podemos ir adiante, pedindo que is alunis realmente tentem aprender aquilo durante o semestre e reservando algumas aulas para que possam compartilhar o seu progresso com toda a turma. Das vezes que fiz isso, foi uma experiência bem rica, com pessoas compartilhando como superar a timidez, como ficar rico, como tocar violão... E, na última aula, fazíamos uma demonstração e apreciação dos resultados. Por exemplo, em determinada turma, comemos um pudim que uma aluna havia aprendido a fazer enquanto cantávamos junto com outro aluno que havia aprendido a tocar violão.
A descoberta do método, das maneiras como aprendemos bem algo e a atitude consciente de aprender novas coisas usando estratégias semelhantes é um grande presente que podermos dar a nós mesmos e que será útil para toda a vida.
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E você? Como lida com as maneiras diferentes pelas quais is alunis aprendem?