quarta-feira, 29 de setembro de 2021

OS NOMES DIS ALUNIS (Didaticx 01)

Neste texto, uso a letra "i" como recurso de linguagem neutra. Sem isso, o título deste texto seria "Os nomes da(o)s aluna(o)s".

Memória: em mim mora. Decorar: saber de cor, de coração. A cada nova turma, meu primeiro desafio é memorizar os nomes di todis is alunis. De 100 a 150 novas pessoas a cada semestre, distribuídas em três ou quatro turmas. Para vencer esse desafio, venho fazendo algumas experiências que compartilho com vocês.

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Esqueça que você não tem uma boa memória. Sempre que lhe ocorrer "não vou conseguir decorar os nomes de mis alunis, tenho uma memória muito fraca", lembre-se de que o esforço para aprender tantos nomes trará uma grande recompensa: um melhor relacionamento com cada um de sis alunis.

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Pela minha experiência, a memorização envolve basicamente duas coisas: repetição e associação.

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Sempre procuro chegar na sala uns 10 minutos antes de começar a aula. Isso é muito útil, na primeira aula, para começar a aprender o nomes dis estudantis. O diálogo com a primeira pessoa que aparece é mais ou menos assim...

— Boa noite. Meu nome é Eduardo. Como você se chama?

— Maria.

— Seja bem-vinda, Maria. Fique à vontade. Começaremos a aula pontualmente às 18:30.

E depois que Maria se senta...

— Deu pra descansar nas férias, Maria?

— Não muito, professor, eu trabalho.

— Você trabalha em quê, Maria?

— No comércio.

— Legal, Maria. Espero que, com a nossa metodologia, você possa se sentir mais descansada durante a aula. 

Nesse pequeno diálogo, eu falei o nome da Maria quatro vezes. 

Terei diálogo semelhante com cada aluni que chegar. E, para aquelis que chegarem depois da aula já começada, logo após concluir a atividade que está acontecendo, me dirigirei, mesmo que mais brevemente, a cada umi. E vou repetir o nome de cada aluni cada vez que me dirigir a eli. 

Quando, durante a aula, is estudantis estiverem fazendo alguma atividade individual ou em grupo, eu percorrerei a sala com os olhos e repetirei mentalmente o nome de cada aluni que eu ver. E se não lembrar o nome de algumi, irei até eli para perguntar.

Do meio para o final da aula, preencherei a lista de chamada sozinho, em silêncio, como mais um exercício de memorização. No final da aula, é comum alguém chegar e perguntar:

— Professor, e a chamada?

— Quantas vezes eu já chamei seu nome hoje, Lucas?

— Não sei. Seis ou sete, professor.

— Então já fiz sua chamada seis ou sete vezes, Lucas.

Antes de terminar a primeira aula, com is alunis em círculo, chamo umi por umi pelo nome. Isso costuma deixar is alunis impressionados. Mais importante que isso: eles sentem que estão sendo reconhecidos, vistos, acolhidos.

Como os nomes ainda estão em minha memória de curto prazo, e possivelmente irão se embaralhar com os nomes dis alunis das outras turmas, eu tiro uma fotografia de todo mundo ao final da primeira aula. E todo dia, até o próximo encontro, eu olho a fotografia, foco o olhar em cada estudante e repito mentalmente seu nome. Mas a memorização ainda é difícil na segunda aula, porque aparecem estudantes que faltaram à primeira aula e algunis alunis mudam de penteado ou de maquiagem.

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Junto com a repetição, costumo fazer associações. Não para cada nome de cada aluni, mas apenas para aqueles que me parecem mais difíceis de memorizar. Às vezes é uma associação física: um aluno de nome curto, Caio, é também um aluno bem baixo ou bem magro. Outras vezes uma associação psicológica: uma aluna chamada Bárbara que é muito extrovertida. Algumas vezes, é uma associação com minha história de vida: sempre associo os Felipes a primos e amigos admiráveis que tenho com esse mesmo nome. E tem os casos em que associo nomes ligeiramente diferentes uns com os outros: por exemplo, dois estudantes de turmas diferentes, um que se chamava Enivaldo e outro que se chamava Evanildo.

Em algumas disciplinas, cheguei a pedir que os estudantes fizessem as associações pra mim. Em círculo, em sequência, cada umi responde minha pergunta:

— Por que eu devo lembrar de seu nome? O que seu nome tem de inesquecível?

Quando faço isso, é sempre muito divertido, além de revelar a personalidade e os afetos dis alunis.

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Tão importante quanto eu aprender os nomes dis alunis é que elis aprendam os nomes unis dis outris. Certa vez, fiz o seguinte. 

Dividi as pessoas presentes em pares. Cada par tinha uma dupla missão: aprender o nome uni di outri e criar uma dinâmica de memorização de nomes a ser realizada mais adiante na aula. Após dois minutos, eu juntava os pares de dois em dois, com a mesma dupla missão: aprender os nomes de quem estava no grupo e definir uma dinâmica de memorização a partir do que cada par já havia planejado. Caso chegasse algumi aluni atrasadi, integraria um dos grupos. Cada grupo tinha quatro minutos para cumprir a dupla missão. Depois eu juntava os grupos de dois em dois, com a mesma dupla missão, dobrando o tempo do planejamento. E assim eu repetia até que apenas dois grandes grupos cumprissem sua dupla missão. Para finalizar, cada grupo executaria a dinâmica que planejou. Essa atividade toma bastante tempo, mas tem um excelente impacto na memorização dos nomes e na integração dis alunis.

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Durante o semestre, para manter os nomes na memória, é muito útil a "roda de sentimentos", que é o assunto do próximo texto desta série.

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Quando o semestre acaba, e o contato com is alunis é interrompido ou se torna muito esporádico, a maioria dos nomes vai, infelizmente, caindo no esquecimento, o que pode gerar algumas situações constrangedoras. Uma delas aconteceu há mais de trinta anos, quando eu era professor particular de violão. Eu dava aula para duas amigas. Algum tempo depois das aulas, encontrei uma delas na Ponte Metálica:

— Oi, mulher. Há quanto tempo!

— Não lembra mais do meu nome, né, Eduardo.

— Mas claro que eu lembro, mulher. Você e a Beth são inesquecíveis.

— Então me diz qual o meu nome.

— Você não confia em mim?

— Não. Diz.

— Agora você provocou meus instintos escorpianos. Não vou dizer.

Mudei de assunto, ficamos bem e, depois de nos despedirmos, quando ela estava uns dez metros adiante, lembrei enfim do nome dela.

— Lembranças para a Beth, Ivani.

Ela virou e sorriu.

Hoje em dia, quando encontro alguni ex-aluni e não lembro o nome, não faço mais esse jogo perigoso de fingimento. Geralmente peço uma dica:

— Qual a primeira letra do seu nome?

Muitas vezes, é o suficiente para eu lembrar. Quando não é, peço desculpas, pergunto o nome e trago para a conversa alguma lembrança do tempo em que estivemos juntos em sala

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Espero que, ao ler essas experiências, você tenha tido algumas novas ideias de como aprender os nomes de sis alunis. Se for o caso, comente, responda, compartilhe sua ideia ou experiência.