Relato 4
Shrek é um dos meus filmes favoritos, mesmo tendo assistido muitas e muitas vezes durante a infância, ainda hoje me divirto com os personagens absurdos e as ótimas referências que formam a narrativa. Além disso, ele também entrega um dos meus diálogos favoritos do cinema que acontece entre o protagonista e seu amigo Burro:
Shrek: Os ogros são como cebolas
Burro: É… fedem e fazem a gente chorar
Shrek: Não, Burro… Camadas! Cebolas têm camadas, ogros têm camadas…
Bem, as escolas também podem feder e fazer a gente chorar, mas hoje eu quero falar sobre a outra coisa, porque nessa última quarta eu me deparei com uma escola cheia de camadas, assim como ogros, cebolas e pavês. Novamente, aula de matemática. A agenda dizia que haveria correção da atividade de casa, aula sobre ideias de subtração e atividade de classe. No decorrer da tarde a professora compartilhou conosco que as crianças não estavam fazendo o dever de casa, naquele dia apenas duas haviam entregado e a diferença de desempenho de quem fazia o dever e de quem não fazia era grande. Ela demonstrou preocupação com a aprendizagem da turma e desabafou dizendo que a escola não consegue muita coisa trabalhando sozinha. Essa questão fez a minha mente borbulhar: "E se eles recebessem algo cada vez que entregassem a lição, como um jogo? Mas isso reforçaria aquele lance de rankeamento que nós odiamos…", "ah, mas por que eles têm que fazer dever de casa? Se bem que eles precisam consolidar esse conhecimento, né? E tem que fazer prova…", "Mas e se o dever de casa for algo ligado ao cotidiano deles, será que iria surgir interesse?", no fim, só concluí que era complicado.
Na aula de educação física - aquela que as crianças reclamam do tamanho dos textos - o professor também contou que só tinha um dia na semana com a turma do 3°B e que gostaria de passar vídeos, mas a escola não tinha projetor, então por isso as aulas eram daquela forma - primeiro se copia o texto, depois jogamos no pátio.
Ademais, naquela mesma tarde, ainda ouvi de uma criança que estava triste porque ia fazer 3 anos que seu irmão havia falecido, depois uma menina me perguntou se eu sabia o que era "job", outra criança indignou-se por ter que copiar textos e fazer cálculos e outro afirmou que fazer atividades não compensa. Enfim, muitas situações, muitas camadas. Eu confesso que essa tarde me deu sensação de desespero, deixando meu corpo e mente cansados. Como lidar com essa cebola? Ainda bem que existe vida fora da escola, eu só gostaria que houvesse mais vida dentro dela.
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