quarta-feira, 21 de maio de 2025

A FLOR CALADA E CANTOS ANCESTRAIS (Emily Karoline Freire Gomes)

Hoje vivi um dia cheio de acontecimentos e aprendizados no estágio. Antes mesmo de chegar à escola onde estagio, participei de uma reunião de pais na escola em que trabalho, o que foi bastante cansativo.Apesar do cansaço, iniciei o estágio com mais disposição do que na quarta-feira anterior, quando me senti mais apática. Tivemos aula de Ciências, com uma atividade avaliativa sobre vacinas, fermentação e outros conteúdos importantes.

Na aula de hoje, também conhecemos um novo rosto: o aluno P., que estava afastado por motivo de doença. Já havíamos sido avisadas sobre a sua "fama" na escola. Assim que chegou, ele perguntou aos colegas quem eram as novas professoras presentes na sala.A aula seguia tranquilamente até que vimos um aluno de outra sala correndo atrás das agentes de inclusão. No primeiro momento, não entendemos o que estava acontecendo, mas logo percebemos que P. ria da situação, demonstrando uma postura um tanto indiferente do que foi comentado de sua "fama".

Ao final da aula de Ciências, P. chamou a atenção de toda a turma e, de maneira inesperada, disse: "Gente, vou ali fumar." Olhei para minha dupla, sem entender, enquanto os colegas responderam: "Pode ir." Em seguida, ele pegou sua caneta de um personagem e saiu da sala. Um dos estudantes comentou que ele fazia isso porque via o pai fumando, o que nos fez refletir sobre a influência do ambiente familiar no comportamento das crianças.

Depois do intervalo, demos início à aula de Matemática, dando continuidade ao estudo das medidas de comprimento. Achei estranho que algumas alunas não tinham voltado ainda para a sala. Quando retornaram, uma explicou que precisou sair devido a um machucado nas costas, enquanto a outra relatou que havia ido contar à coordenação que P. tinha feito uma ameaça contra ela, pois ele tem uma cisma com ela desde antes.

Enquanto ainda assimilávamos essas situações, fomos informadas de que teríamos que parar tudo, pois os alunos participariam de uma oficina. Quando ouviram a palavra "oficina", muitos se animaram e perguntaram: "O que é uma oficina? Vamos sair da sala?"

A oficina foi sobre cantos afro-indígenas, e foi um momento muito rico e interessante. Os alunos se identificaram bastante, principalmente porque muitos deles participam de grupos de capoeira. Foi inspirador perceber como a musicalidade dentro da sala de aula, aliada à interculturalidade e à interdisciplinaridade, pode ser uma ferramenta poderosa de ensino.

Um momento muito especial para mim foi ter recebido, nesse mesmo dia, uma flor de papel feita por uma aluna bastante calada, a V. Esse gesto singelo me tocou profundamente, pois demonstrou, de maneira silenciosa, a construção de um vínculo afetivo, tão importante no ambiente escolar.

Este dia de estágio reforçou para mim a complexidade do ambiente escolar, onde é preciso lidar com desafios comportamentais, mediar conflitos e, ao mesmo tempo, vivenciar momentos de alegria e aprendizado. A oficina de cantos afro-indígenas evidenciou a importância das práticas culturais no ensino, enquanto gestos simples, como a flor de papel recebida da aluna V., mostraram como vínculos afetivos enriquecem a prática pedagógica. Compreendo, cada vez mais, que ser educadora exige sensibilidade, respeito à diversidade e abertura ao constante aprendizado.


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