Relato 6
Quase toda quarta e sexta-feira nós somos convidados a refletir sobre os nossos sentimentos, e posso dizer que o estágio da última quarta-feira resultou num misto deles. Além disso, ainda me proporcionou uma profunda reflexão sobre a inclusão. Esse, que parece ser o tema da vez, é uma das camadas que compõem a escola atualmente, mas deixemos as tais camadas de lado por um momento. Hoje eu quero falar de caminhos.
Bom, começando pelo início, na última quarta-feira conheci um novo rosto. Era uma criança que havia faltado muitos dias. Depois que ele me disse seu nome, falou algo que eu entendi como "meu apelido é enorme", "seu apelido é enorme? Qual é seu apelido?" - respondi. "Não, meu apelido é Normie." Então, esse é o Normie. Normie faz uso da cadeira de rodas, pois não tem os membros inferiores ou, como disse seu colega da frente, ele não tem as pernas.
De início, eu fiquei preocupada - "Como será que ele fica no recreio? Será que vem um adulto e fica com ele só parado num canto? Como será na educação física?" Basicamente, eu mal o conhecia e já estava pensando nas coisas que ele não poderia fazer ou nas dificuldades que ele poderia enfrentar. Mas, graças a Deus, eu pude aprender uma lição. Normie disse pra mim: "Olha, tia, o que eu sei fazer" e levantou o corpo com a força dos braços, subindo na mesa para ver a janela.
Quando tocou o recreio, dois amigos vieram ajudá-lo a sair - repare, não veio um adulto, mas sim seus amigos, e o fizeram voluntariamente. Também foi muito massa ver o Normie brincando livremente durante o recreio, correndo com a cadeira de um lado para o outro, se divertindo, como qualquer outra criança. Como eu pude, mesmo que por um momento, não encarar isso como o mais importante?
Eu penso que a educação é um caminho que a gente percorre a vida toda, e quase sempre é um terreno pedregoso. Basta passearmos nossas retinas tão fatigadas que enxergaremos que no meio do caminho tem muitas pedras, tais como falta de formação de profissionais e a estrutura dos ambientes. Mas acredito que a primeira delas a ser removida deve ser o nosso olhar limitante, que tantas vezes destaca o que não pode ser feito e se esquece daquilo que, de fato, pode ser feito.
Se vemos as crianças como seres potentes, então precisamos acreditar no que elas podem fazer. Isso não significa ignorar as dificuldades. Elas existem. Mas que não sejam suficientes para a gente parar no meio do caminho. Vamos, aos poucos, remover as pedras.
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