Dia 21/05, quarta-feira
Cheguei para o estágio com o coração ansioso e a cabeça pedindo férias da rotina da manhã. Pra minha surpresa, eu e minha dupla de estágio aparecemos com looks combinando sem querer: zebrinhas 🦓. Um fashion crime? Talvez. Um sinal de sintonia? Com certeza!
Apesar do cansaço, fui com aquele pensamento positivo: "que hoje seja melhor que a quarta passada". E olha… nem precisei esfregar lâmpada mágica — meu desejo foi atendido rapidinho. Ao entrar na sala, dei de cara com uma novidade: um rostinho novo, cujo nome já era mais comentado que lançamento de série na Netflix. O menino chegou desconfiado, com aquele olhar de "não me venham com muita empolgação", até que um colega de outra sala tentou muito tirá-lo de sala para brincar, mas, não conseguiu.
Ele ficou a maior parte do tempo na sala, fez uma atividade que uma professora de outra turma havia deixado (já que ele não acompanha o conteúdo da turma), e devorou um pacote de biscoito de polvilho em tempo recorde. Eu, sinceramente, teria comido aquilo em três dias e ainda fecharia com um pregador de roupa.
Consegui me aproximar dele perguntando o nome (sem resposta), mas fui esperta: comentei sobre a caneta do Homem-Aranha. Pronto, bastou falar em super-heróis que o escudo caiu. Consegui interagir com ele. Infelizmente, ele também mostrou comportamentos que não condizem com a idade — como simular que estava fumando com a caneta. Um colega logo explicou: "ele faz isso porque o pai dele fuma". Duro ouvir isso, mas importante enxergar além do comportamento.
Mais tarde, fui surpreendida por um abraço do acaso: descobri que alguns alunos moram no mesmo bairro onde cresci e ainda frequentam os mesmos lugares que marcaram minha infância. Foi como reencontrar versões pequenas de mim mesma caminhando por ruas que já conheciam meus passos. Um momento simples, mas carregado de memória.
Na aula de Ciências, acompanhei um aluno em processo de alfabetização. Ele leu um livro para mim, e a professora comentou que, no início, ele nem reconhecia as letras. Fiquei com o coração aquecido — é como ver uma flor nascendo em pleno asfalto.
Na aula de Matemática, o aluno TG, que sempre volta do intervalo com alguma dor misteriosa (dores altamente suspeitas, diga-se de passagem), dessa vez voltou bem, e eu consegui ajudá-lo de pertinho. Vi como ele é capaz, só falta um empurrãozinho contra a maré da desmotivação.
Também estive com o aluno I, que às vezes resiste às atividades, mas sempre termina. Estamos naquele processo de fazer ele entender que ler as questões é mais vantajoso do que pedir a resposta (ele ainda não acredita, mas a gente chega lá).
A aula foi interrompida por uma oficina de cantos afro-indígenas, e que presente foi esse momento! Os alunos estavam atentos, conectados, e o aluno K, cheio de orgulho, compartilhou que tem origem indígena e que é filho de um orixá. Foi lindo ver ele se sentir pertencente, reconhecido.
Cantamos, dançamos, nos conectamos com as raízes e com a alma da escola. Nesse dia, eu não apenas estagiei — eu vivi, senti, aprendi. O estágio tem sido esse lugar de encontros inesperados, onde até o biscoito de polvilho vira metáfora, e um olhar trocado pode mudar o rumo da manhã. Saí com a sensação de que, apesar das dificuldades, estou exatamente onde deveria estar. E com uma certeza: a escola, com todas as suas zebrinhas e canções, é mesmo um lugar mágico e potente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário