Finalmente a quarta chegou!
Ao chegar na escola, fui bem recebida pela professora e pelos pequenos, ganhei alguns abraços e um caloroso "boa tarde". Seguimos com a nossa aula de matemática, a professora fez a agenda e passou pelas mesas observando quem havia feito a atividade de casa. Notou que dos 16 alunos, apenas dois haviam feito, teve uma breve conversa comigo e com a minha dupla, comentando sobre o desinteresse nas atividades de casa, ela mencionou que nas provas, era nítida a discrepância entre as notas de quem estudava em casa e de quem não estudava, e disse que estava pensando em estratégias para contornar essa situação.
Estávamos corrigindo a atividade de casa quando uma menina chegou, sentou-se sem olhar para ninguém e abriu o caderno, fiquei observando de longe aquele rostinho que eu ainda não conhecia, todos estavam corrigindo, resolvendo as contas que a professora escrevia no quadro, mas ela não, fazia sozinha, de cabeça baixa, usando palitinhos para fazer as contas, até que percebeu que 86 palitinhos eram demais para se fazer e me pediu ajuda, tentei ajudá-la com a continha, mas ela recusou, dizendo que não gostava desse jeito, respeitei e fiz o possível do jeitinho dela.
O professor de Educação Física entrou e, junto com ele, uma agente de inclusão, ela conversou um pouco com a menina e, do outro lado da sala, ouvi uma vozinha dizendo "Eu quero aquela de preto" e, logo em seguida, um "vem cá" da cuidadora. Me encaminhei até lá, e a agente perguntou se eu poderia colocar minha cadeira ao lado da aluna, pois ela precisava sair e a pequena não gostava de ficar sozinha naquela aula, concordei e sentei-me ao lado dela e de um garotinho, ficamos conversando durante o tempo livre da aula, nós três, como velhos amigos sentados na calçada de casa, e por breves momentos, aqueles rostos de oito anos pareciam carregar décadas de pensamentos, estavam indignados com o fato de que o sábado e o domingo passavam voando, enquanto os cinco dias da semana se arrastavam, fizeram até uma demonstração com os dedos, representando o relógio, até que o garoto disse:
— Uma coisa que eu acho injusta é o final de semana ter só dois dias. Se temos cinco na semana, por que não podemos descansar três?
Ah, pequeno filósofo... mal sabe ele que já há adultos fazendo essa mesma pergunta todos os dias.
Levantei e fui até outras mesas, mas fui chamada novamente pelo pequeno militante, desta vez com outro questionamento:
— Tia, você comeu peru ou galinha no Natal passado?
— Nenhum dos dois, comi camarão.
— Graças a Deus! Porque a galinha e o peru viram dinossauros! O peru é um velociraptor e a galinha é um T-Rex. Mas tem que criar eles por muiiiiito tempo, comendo só alface e coisas saudáveis.
— É? E quanto tempo eu tenho que criar?
— Tipo... sete milhões de anos!
E eu que achava que cuidar de plantas já exigia paciência, agora terei que criar um peru por sete milhões de anos para testar a veracidade da informação.
Foi um dia bastante divertido, conversei, me revoltei e ri muito das coisas que falavam, no fim só sei que vou começar a alimentar minha galinha com alface hoje mesmo, vai que evolui para um T-Rex antes do próximo Natal.
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