sexta-feira, 16 de maio de 2025

A CADA DIA UMA CONQUISTA (Nalígia Holanda)

Chegamos no terceiro dia de estágio e hoje percebi que tanto as crianças quanto as educadoras estão mais familiarizadas conosco. Sempre tem um elogio, um abraço e muitos sorrisos por parte das crianças ao entrarmos na sala. Pois bem, a tarde inicia. Em um dado momento, a professora precisou se ausentar. A turma já estava um pouco agitada e para que não houvesse uma desorganização maior, tomei a iniciativa de fazer uma breve apresentação, em que a criança diria o seu nome e algo que gosta de fazer. E assim conseguimos conhecer um pouquinho mais de cada um. Desde o primeiro dia, tenho me aproximado das crianças, em especial as portadoras de TEA ( Transtorno do Espectro Autista), observando suas especificidades. Existem ao todo 3 (três) alunos laudados e hoje estavam presentes 2 (dois). Um desses estudantes é a "Branca de Neve", que me recebeu com um abraço e um lindo sorriso. Aparentemente ela é agitada e se desorganiza com facilidade, então minha estratégia é conversar baixinho com ela e com calma, para que aos poucos ela consiga entender o que estou propondo.

  Nesta tarde, contamos com o apoio de uma professora auxiliar, que orientava Branca em suas tarefas. Enquanto isso, eu ajudava Capitão América, outra criança com laudo e que estava nos seus primeiros dias na escola. Neste momento todos copiavam a agenda e tudo ia bem, até que a professora auxiliar reprovou a escrita de Branca e destacou a folha do caderno da menina, rasgando-a ao meio. Isso fez com que Branca de Neve chorasse bastante a ponto de não querer mais escrever. Quando a criança me viu, se abraçou comigo e aos poucos a convenci a recomeçar a escrita. Eu a ajudava ao mesmo tempo que entendia o seu tempo e o seu desenvolvimento. E assim, Branca conseguiu terminar a agenda, lógico que não ficou perfeito, mas foi o melhor que ela conseguiu fazer. Sinto que falta essa percepção por parte das educadoras. 

Outra situação que fiquei pensativa, foi uma forma de tratamento por parte da professora regente, que apontava o aluno mais " forte" (que sabia ler) e depois fazia o mesmo gesto indicando o estudante mais "fraco" ou seja, que não sabia ler. Considero essa atitude constrangedora e que pode causar diversos danos e traumas no desenvolvimento da criança designada mais "fraca". Ficou visível a expressão de tristeza no rosto do aluno.

 Todavia nem tudo está perdido. Na aula de hoje, foram trabalhadas as sílabas da família do "f". A educadora escreveu uma frase na lousa com palavras que começavam com "f " e iniciou uma leitura coletiva. Em seguida ela indagou a turma sobre: o  nome do sujeito da frase, a ação que este praticava, bem como o lugar onde ele se encontrava. Achei interessante como ela estimulou a compreensão do texto. Percebo uma professora engajada na alfabetização das crianças, só não concordo com algumas formas de expressão em determinados tratamentos. Já presenciei gestos de carinho dela com os alunos, mas vez ou outra, surge uma fala que não contribui para o desenvolvimento integral das crianças. 

No final da tarde participamos do ensaio de uma dança que as crianças farão em homenagem ao dia das mães.

Saí da escola refletindo que pensar que a sala de aula é apenas um espaço para aprender a ler e escrever é um engano. Na sala de aula são construídas relações e dessas relações nascem a formação da identidade, o entendimento de ser capaz, inteligente, solidário e respeitoso. Nasce também o desejo de ser visto e reconhecido como um ser humano potente e possuidor de direitos. 

Portanto, o que deve acontecer na sala de aula é o processo de ensinar para a vida, valorizando os esforços, comemorando as pequenas conquistas que surgem a cada dia, amenizando as desigualdades e contribuindo para a construção de um ambiente escolar mais saudável e mais humano.  

        



Nenhum comentário:

Postar um comentário