A caminho da escola, vi a diretora Edna caminhando com uma sacola de compras. Cheguei primeiro e, quando estava conversando com algumas estagiárias, ouvi um grito dela com estudantes que aguardavam o início de aula sentados em fileiras no pátio coberto. Tive a impressão de que o nome do primeiro aluno que ela gritou era Eduardo, mas pode ter sido só o susto.
Quando a maioria das turmas já estava seguindo suas professoras para as salas, ouvi Edna comentar com algumas funcionárias: "Estou com muita raiva!". Quando ela ficou sozinha, fui até ela e disse: "Dia difícil?". Ela veio até mim, desarmada, e a acolhi num abraço enquanto ela dizia: "É... estou só."
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Edna se referia à ausência de Lia, professora que teve um problema na voz e foi readaptada como bibliotecária. Foi a pessoa da qual mais me aproximei na escola, ajudando-a muitas vezes nas atividades da biblioteca. Desde o semestre passado, ela havia assumido a Coordenação Pedagógica, já que a prefeitura não havia enviado uma substituta para a professora que havia mudado de escola. Há duas semanas, Lia estava com dificuldade de locomoção devido a um travamento da coluna. Desde a semana passada, está de licença médica. Mandei uma mensagem para ela, perguntando como estava. Ela disse ainda estar aguardando a autorização para a ressonância, que as dores terríveis só passavam quando tomava o remédio e que achava horrível ficar dentro de casa sem trabalhar. Mandou um emoji chorando, que respondi com um abraçando.
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Quem assumiu a biblioteca foi uma jovem funcionária temporária chamada Alice, que está reorganizando a biblioteca e fazendo triagem de livros para etiquetagem. Olhei pela veneziana e até pensei em ajudá-la, mas ela estava de máscara e senti que não ia ser bom para minha alergia a ácaros. Depois ela me contou que também havia muito mofo. Então fiz bem em não oferecer ajuda.
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Sem a biblioteca, tenho passado mais tempo na sala das professoras. A professora Lina tem dois anos na escola pública, após uma longa história em escolas particulares. Perguntei se ela se arrependia de ter feito a troca. Ela pensou um pouco e disse que não. Mas falou que queria ir além. Perguntei seus planos, imaginando que ela quisesse fazer pós-graduação, mas ela me surpreendeu dizendo que estava estudando para um concurso de auxiliar administrativo no poder judiciário. Segundo ela, para ter uma rotina mais tranquila. Comentei como achava adoecedor o trabalho de dois turnos na escola e como essa rotina fazia pessoas vocacionadas como ela desistirem da profissão de professora. Comentei que as professoras deveriam ganhar o mesmo salário mas ir à escola em apenas um turno, usando o tempo restante livremente para viver, vivenciar cultura e se inspirar para sua atividade docente. "Assim, talvez você não precisasse pensar em mudar de profissão". "Com certeza, se fosse assim, eu preferiria continuar professora".
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Já eram quase 17h. Fui para o pátio para cumprimentar o(a)s estagiários(as) enquanto saíam. Depois me despedi da diretora Edna, que estava mais calma. Saí da escola, mas a escola, as pessoas da escola, não saíram de mim.
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