domingo, 11 de maio de 2025

ESPIRAIS DA DOCÊNCIA: CONFISSÕES DE UM PROFESSOR QUE SOBREVIVEU AO ESTÁGIO (Eduardo)

No próximo dia 18 de maio, completo três anos como professor efetivo da UFC, concluindo assim meu estágio probatório e ganhando estabilidade legal como servidor público. Então, nesses três anos, tenho sido também um estagiário. Para mim, é um marco importante porque estou batendo um recorde de permanência no emprego. Em todos os meus empregos anteriores, durei no máximo dois anos. Apenas quando fui bolsista de doutorado passei mais do que três anos numa atividade só. A inconstância era uma característica marcante não apenas de minha atuação profissional, mas de vários outros aspectos da minha vida.

A palavra probatório está ligada a prova. É um período para provar à instituição que a pessoa é confiável e capaz de assumir permanentemente o cargo. Mas sinto também que é provar no sentido de degustar, experimentar, saborear... para ver se a pessoa gosta daquilo. "Você quer mesmo isso?". A pergunta que a supervisora fez para o Gabriel é uma pergunta importante. Quando eu mesmo fiz estágio de Pedagogia numa escola, não foi minha supervisora que me provou, que me submeteu à prova, mas uma outra professora, durante o recreio na sala dos professores: "Você é estudante de Pedagogia? Vem fazer estágio na minha sala pra você desistir!"

Esse tempo de aproximadamente três anos é muito decisivo para a sobrevivência de uma empresa (quase 50% das empresas brasileiras fecham em até três anos), de um ser humano (a maioria das mortes infantis ocorre nos primeiros anos de vida) e de um professor (muitos desistem antes de completar dois anos no primeiro emprego). É nesse período inicial que as iniciativas estão mais sujeitas a morrer. Então meu sentimento é de que sobrevivi.

Minha grande prova, ao assumir como professor efetivo, foi passar a dar a disciplina de Estágio. Como professor substituto, eu dava disciplinas de Didática, várias por semestre. Meu concurso foi para Didática e Estágio Supervisionado, foi a porta que encontrei para entrar, e o preço foi assumir 10 créditos de Estágio e dar apenas 4 créditos de Didática para as licenciaturas.

Voltar ao ambiente escolar, pelo qual não tenho muita simpatia em geral, foi e ainda é um grande desafio. Mas, focando menos no sistema e na instituição, e mais nas pessoas, fui criando um espaço de afetos, de bem-querer, que inclui professoras, funcionárias, estudantes e vocês.

A cada semestre as coisas meio que se repetem. "Meio que" porque não é exatamente igual. Minha querida e saudosa professora, mestra e amiga Luiza de Teodoro foi a primeira a me falar de um tempo que não era linear nem circular, mas espiralado. Eu reencontraria essa mesma noção ao fazer uma formação para facilitar grupos de estudo do Pathwork. As coisas parecem se repetir, mas essa aparente repetição se dá em outro nível, ascendente ou profundo.

Percebi, ao ouvir os relatos de vocês na sexta-feira passada, que há duas espirais girando desde 2022.2, quando assumi minha primeira turma de estágio.

A primeira espiral tem a ver com o julgamento, a que tenho me referido com alguma frequência. Estudantes, movidos por teorias e idealismos, estranham as práticas pedagógicas da escola e das professoras, muitas vezes julgando-as negativamente. Com o passar dos meses, vocês vão percebendo que a realidade é mais complexa, que muitos fatores influenciam certas atitudes: fatores pessoais, relacionais, familiares, comunitários, sociais, econômicos, ideológicos... A leitura coletiva dos relatos, e a conversa a partir deles, tem um papel importante na consciência dessa trama de muitos fios. Como escreveu Guimarães Rosa, "porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total".

O resultado dessa espiral não precisa ser o pessimismo, mas pode ser a vontade de darmos nossa contribuição, dentro das possibilidades concretas, sabendo que esta espiral ainda vai dar muitas voltas por anos, décadas, séculos. Ao final de cada semestre, sinto que vocês conseguem fazer esse caminho: do julgamento à compreensão ampliada.

A segunda espiral, relacionada à primeira, é mais longa ou então a mudança de nível é menor, quase imperceptível, e tem a ver com as práticas pedagógicas em si, aparentemente incapazes de dar conta das necessidades. Semestre após semestre, vejo vocês descobrirem que se perde muito tempo com a cópia da agenda, que crianças do atendimento especializado ficam muitas vezes à margem das atividades principais das aulas, que as professoras se exageram (em palavras e atitudes) na tentativa de ter domínio sobre a sala...

Se a primeira espiral parece se resolver a cada semestre, pela consciência de vocês, essa segunda espiral parece se repetir sem se resolver, com avanços muito pequenos. Me veio até a ideia de em julho, quando não iremos à escola, fazermos um levantamento dessas situações, pesquisarmos um pouco mais sobre por que acontecem e criarmos algumas hipóteses de possíveis soluções. O que acham?

Desejo que essa reflexão sobre as espirais possa auxiliar vocês a organizar melhor pensamentos, sentimentos e ações nessa aventura que é buscar atingir o ideal formulado por Paulo Freire de aproximação entre o discurso e a prática: "É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática".

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