sexta-feira, 23 de maio de 2025

SÓ QUER SER A POLIANA (Loriene Ribeiro Silva)

Relato 5


     Quarta foi um dia cansativo pra mim. Eu estava meio doente, tive que almoçar e sair às pressas, acabou que minha garrafa de água ficou em casa, o dia estava muito quente e eu ainda tive crises de espirro; para resumir, eu não tinha dez centavos de carisma pra entregar. O nível de insatisfação estava alto.

     O interessante é que eu não parecia ser a  única a me sentir dessa maneira. As crianças copiaram muito naquele dia. Copiaram a agenda, depois a correção da atividade de casa, depois uma atividade de classe, depois a correção da atividade de classe e ainda um cronograma e por último mais um texto. Não vou mentir, eu já estava me cansando de pedir para alguns que copiassem. A professora do primeiro tempo tinha solicitado nossa ajuda em relação a algumas crianças que não estavam participando da aula e o professor do segundo tempo também pontuou algumas dificuldades e até encaminhou três crianças para a diretoria por causa de uma confusão. Basicamente, todos estavam insatisfeitos em algum nível. 

     Eu já estava pensando que este meu relato seria uma enxurrada de lamúrias e negatividade gratuita, até que na quarta à noite, antes de dormir, lembrei da pokebola de papel que ganhei de um dos meninos, ele tinha desenhado corações na parte de dentro e escreveu "para ti" atrás. Depois, durante o recreio, uma das meninas me mostrou sua brincadeira de fazer casa de passarinho com os galhos e folhas perdidos no pátio, me fazendo recordar de quando eu brincava de tudo no mundo no quintal de casa. Também dei uma mini aula de como amarrar cadarços e ganhei muito carinho de uma criança que eu nem sabia o nome, do mesmo jeito que ela não sabia o meu. Mergulhada nessas recordações eu me senti meio Poliana, tentando ver o lado bom das coisas. A tempestade de insatisfação que perturbava minha mente se dissipou pouco a pouco e eu pude dormir em paz. O dia não tinha sido tão ruim afinal.

     Por último, acho válido ressaltar que ver o lado bom das coisas não deve ser usado para fingir que o lado ruim não existe, pelo contrário, nos serve como combustível para lutar contra ele. De fato, o estrago tá feito, mas no meio dele ainda é possível encontrar beleza, amizade e esperança, coisas pelas quais ainda vale a pena se manter de pé.


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