Segundo dia na escola, já acordei ansiosa, como quem vai reencontrar uma turma de velhos amigos ou pequenos causadores de caos, depende do seu ponto de vista.
É semana de evento na escola onde trabalho, o que significa uma coisa: o caos estava confortavelmente instalado, depois de uma manhã cansativa, cheguei em casa correndo igual Usain Bolt, direto para o banheiro. A correria das quartas-feiras continuava, mas desta vez consegui almoçar com calma, não muita, mas tentando evitar o mal-estar da semana passada, um progresso eu diria.
Na estação, tive uma surpresa incrível, o metrô passou no horário, sim, a Metrofor foi eficiente um dia na década, algo digno de ser aplaudido. Pedi um Uber para a escola, que prometia chegar em 10 minutos, claro que virou 14, por causa dos bilhares de semáforos existentes no centro de Fortaleza, mesmo assim cheguei cedo, às 13h05. O portão já estava aberto, meu suor ainda não havia evaporado, e mesmo assim me encaminhei para a sala, lá estavam eles, as carinhas que eu já começava a reconhecer, com sorrisos tímidos me olhando.
Estavam copiando a agenda quando cheguei, logo depois, revisaram o conteúdo da aula anterior, corrigiram as atividades de classe, e claro, começaram a disputar quem acertava o resultado da continha com um entusiasmo que faria inveja a qualquer campeonato. Em seguida, corrigiram a tarefa de casa que poucos tinham feito, vieram mais atividades, e aí começou o drama:
— Tia, é muita coisa!
— Eu vou morrer de tanto copiar!
Um drama digno de novela mexicana, mas copiaram.
Veio a troca de professores e aí entrou o de Educação Física, era o meu primeiro contato com ele, bastou ele aparecer para uma menina já lançar para mim:
— Ah não, tia! Ele vai passar um texto enoooooorme!
E logo ela e os outros estavam abraçados ao professor, com a euforia de quem encontrava a Xuxa nos anos 2000.
Ele chegou, passou sua agenda e fez um mistério ao entregar as provas, só o dono podia ver a nota, até que a primeira a ser chamada recebeu e já gritou:
— TIREI 7!
E acabou o suspense ali mesmo.
Logo vieram outros:
— TIREI 8!
— EBA, só errei uma!
— E eu só errei TODAS!
Depois do intervalo, veio o tal texto, enoooorme, estava lá, na lousa, pronto para desafiar a paciência da turma e cumprindo o que prometia.
— Tio, que tanto texto é esse? Já tô com dor de cabeça.
— Viu? Eu disse!
Reclamaram, dramatizaram... e copiaram. Na força do ódio, e tudo porque queriam ir logo para o pátio jogar handebol.
E foram, divididos em grupos, correram feito loucos, jogaram a bola para qualquer lado, gritaram, tropeçaram, brigaram... Não entendiam muito bem o esporte, mas vibravam cada vez que a bola passava pelo goleiro, não sabiam como marcar gol mas também não se importavam. Estavam felizes. A raiva pelo professor evaporou como suor no sol do meio-dia.
E foi assim que a tarde terminou, eles se divertindo e eu, exausta e encantada, lembrando-me dos meus felizes dias sendo apenas uma criança.
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