sexta-feira, 30 de maio de 2025

UMA QUARTA SEM COR (Eduardo)

Não sei se vocês conseguem imaginar minha ansiedade e preocupação ao chegar pela primeira vez com estagiária(o)s na escola Alba Frota em 2022. Eu estava num ambiente desconhecido, sendo responsável por 16 pessoas que eu havia conhecido duas semanas antes. 

Eu havia feito um contato prévio com a diretora, mas, quando cheguei lá, a diretora não estava. E eu jamais esquecerei da pessoa que acolheu a gente e nos apresentou as professoras, sala por sala: Alice, a secretária da escola. Junto com o sentimento de gratidão foi crescendo a simpatia quando passei a conhecer mais o jeito altamente responsável e, ao mesmo tempo, incrivelmente simpático, de Alice.

Há alguns meses, numa conversa informal, ela contou que tinha dito ao filho certa vez: "Eu queria ter parido a Faber Castell". Ri a valer e fiquei com aquilo na cabeça. Sempre que passava em uma papelaria, lembrava da Alice. Até que, semana passada, coloquei meu plano em ação e comprei um estojo e canetas coloridas da Faber Castell para presentear Alice, mesmo sem ser seu aniversário ou uma data especial.

Cheguei na escola animado, curioso para ver a reação dela ao presente, mas não a vi na Secretaria. Quando as crianças foram para a sala e a escola estava mais calma, me aproximei da servente Anne e perguntei por Alice.

— Você não soube? O netinho dela faleceu ontem.

E me contou a história de uma criança de três anos que havia falecido durante a noite. Depois eu soube, na sala das professoras, que o menino já tinha tido algumas convulsões, mas estava aparentemente melhor de saúde ultimamente. Infelizmente, durante o sono, se engasgou com a secreção de uma gripe e faleceu, sendo encontrado pela manhã, no quarto com seus outros irmãos (sete crianças no total). 

Mandei mensagem para Alice, manifestando minha tristeza e desejando paz. Contei que tinha levado um presente e que lhe entregaria na semana seguinte. Ela me respondeu:

— O meu presente você já me deu, desde o primeiro dia que nós vimos: A Sua Amizade. Ore por nós. Obrigada, viu!? PS - Espero que não seja A Faber Castell. Kkkkkkkkkkkkkkkk

E eu pude ouvir sua risada gostosa ao ler sua mensagem.

As canetas coloridas tomaram um susto nesta quarta-feira. Ficaram sem cor. Mas semana que vem estarão brilhando no abraço que darei em minha amiga. Se vocês encontram um ambiente acolhedor na escola, em parte se deve a ela.

RELATÓRIO - METÁFORAS (Kairon)

FAIXA - METÁFORA

mais um dia cansativo, que perigo, parece que tô dentro do sistema digestivo.
tô sendo engolido, digerido, só quero saber quando que vou ser cuspido.
o dia amanheceu na minha quebrada bem cedinho, me levantei e fui tomar meu cafezinho.

escovei meu dentes, peguei o meu café, é hora de ir embora, eu vou dar no pé.

no meu trabalho, foi uma correria, olhei no moovit enquanto o ônibus corria.
"nossa", disse eu aliviado, finalmente hoje é o dia que não chego atrasado.

subi no ônibus e pra minha surpresa, eu me deparei com duas caras de tristezas.

numa breve conversa o surpreso fui eu, todo mundo chega cedo e o atrasado sou eu.

cheguei morrendo sede, mas fui correndo pra aula, o dia foi diferente, tiveram aula fora de sala.

não sei se tô morto ou vivo, mas de uma coisa eu sei, que não importa quanto eu caia, em pé eu ficarei.

foram muitos sorrisos e olhos de alegria, enquanto o que perde chora, o ganha só sorria.

mas dentro de sala não vi nenhuma novidade, copiavam a agenda e passavam atividade.

mas entendo que é tudo uma rotina, limpa limpa limpa é hora de uma faxina. 

que monotonia da metodologia, hoje na aula de matemática foi aula de geometria. 

nossa que climão,  pra que essa cisma? tem duas bases, bb, eu tô falando pro prisma. 

com uma ponta e uma base, nossa que vexame, tô falando dela? 

- a pirâmide. 

em observação, observando sem parar, quanto mais eu observo, mas eu tenho pra falar.

tem coisa que se não diz, tem coisa que se fala, vou apontar meu lápis usando uma navalha.

pra finalizar tive um momento diferente, foram várias risadas e todo mundo sorridente.

cai ou não cai, vendo eles, dizendo pra ver se sai, tá ficando divertido. 
- "tio, vamo brincar mais?"

o jogo da garrafa virou uma competição, era final do mundial, maior que o brasileirão

mas o final do jogo eu deixo pra outro dia. 

tenho que sair, tenho que correr já são 14:30 na aula vou aparecer

O QUE EXISTE NO MEU MUNDO DA LUA? (Ana Beatriz)

No dia 28 de Maio as crianças estavam trabalhando o texto "No mundo da Lua" que me chamou bastante atenção por ser um texto que incentiva a imaginação das crianças, o texto diz: 

"Vou inventar um rua 
onde se pinte e borde, 
se faça e aconteça, 
se cante e dance, 
se plantem corações.... 
uma rua onde todos vivam no mundo da lua." 

A professora primeiramente perguntou às crianças o que seria pintar e bordar de acordo com o texto e tivemos muitas respostas, uma delas dizia: fazer o que quiser! E como seria viver um mundo onde podemos fazer o que quiser? Seria legal ou perigoso? 

Logo após, na atividade do livro com base nesse texto as crianças deveriam criar o seu próprio "Mundo da Lua" com um desenho mostrando como ele seria e eu amei o mundo que todos eles criaram, foi lindo ver a imaginação deles ganhando forma no papel e se divertindo com a atividade. Consegui fotografar o "mundo" do Shikamaru (nome fictício) que diz assim: 

"Vou inventar uma rua 
onde se vive em uma rua de ovo de páscoa
onde tudo é doce
casa de granulado 
mar de chocolate quente 
e sol de bala... "

E depois de todos essas criações me senti tentada a pensar no que existiria no meu mundo da lua também e saiu isso: 

  "Vou inventar uma rua
onde se brinque o dia todo,
onde risadas soam como música
e a bagunça, seja bem-vinda.
Uma rua com cheirinho de bolo no forno,
e livros espalhados como flores no chão.
Uma rua onde todos se sintam felizes e amados,
com um pé na terra
e a cabeça no mundo da lua."  

No mais, o dia foi muito bom! Ganhei uma folha de um bobbie goods pintado, um adesivo de gatinho e ainda fui elogiada por uma das crianças , aquilo fez meu dia. E ahhh! Também tive a chance de escrever em letra cursiva no quadro e a professora adorou kk talvez minha letra não seja tão e aquele receio de escrever no quadro seja só mais um medo bobo né. 

SURPRESAS (Levi)

Hoje acordei animado para ir ao estágio, mesmo com os desafios que a turma está passando, me senti animado de ver todas as crianças e ver como seria a regência das professoras.

Quando chego na escola, tive a minha primeira surpresa: chegou uma professora substituta no lugar da professora Vanessa. A chegada dela me surpreendeu, pois não esperava que seria tão rapido o processo de substituição do professor. Eu percebi que a professora estava com dificuldades na turma, parecia um pouco perdida e sem entender alguns procedimentos que ocorriam na sala de aula. Sinto que me identifiquei com ela, o meu comportamento era semelhante ao dela quando cheguei no Alba Frota. Eu e minha dupla fornecemos todo o apoio necessário para a professora no sentido de auxiliar nas dúvidas e no acompanhamento dos alunos. 

No meio da aula da professora, novamente houve uma interrupção por parte da diretoria para levar as crianças ao pátio. Estudantes de fisioterapia fizeram uma gincana com várias brincadeiras para as crianças. Eu percebo novamente que a professora não havia sido informada que seria na aula dela, então acabamos conduzindo as crianças para o pátio e assistimos elas.

No retorno para a sala de aula, quase no horário do intervalo, a professora Elisângela iniciou o conteúdo de "Primas " da disciplina de geometria. Infelizmente a professora não tinha muito tempo, então as crianças não puderam compreender plenamente a matéria. 

Na aula de artes, ocorreu uma coisa inesperada: não aconteceu nada. A professora não passou atividade, não deu conteúdo e nem conversou com os alunos. As crianças ficaram livres para conversar entre os colegas e nada mais. Foi um acontecimento inesperado para mim, já que ela tinha 50 minutos de aula para realizar alguma coisa com as crianças e simplesmente nada foi feito.

UM DIA LEVE, COM SOTAQUES E LEMBRANÇAS (Larisse Sousa)

A rotina da sala do segundo ano B foi natural e como acontece de costume. Mas o dia pareceu ser mais leve e tranquilo, especialmente porque a professora demonstrava estar também mais serena.

Nesse dia, havia uma criança nova, que eu ainda não conhecia. Mostarda (nome fictício) me contou que havia viajado para Minas Gerais. Por isso, não havia vindo alguns dias anteriores.

Em um dos nossos momentos de conversa, perguntei se ele era daqui de Fortaleza, porque percebi um sotaque diferente na fala dele. Ele me respondeu que não, que era de São Paulo. Achei interessante pela forma como ele falava. Nisso, tivemos uma troca de falas, de sons e fonéticas da diferença do R quando falávamos. Ele, por exemplo, falava "doRmia", enquanto eu falava "dormia". E ele falou:

— É porque você fala o R mais fraquinho, eu falo o R mais forte.

Durante a tarde, eu e minha dupla, Bia, também ficamos responsáveis por mediar uma das atividades da turma, pois a professora havia nos pedido. Ela pediu para que explicássemos e fizéssemos junto a eles uma atividade do livro didático, que fizemos com atenção e cuidado.

Eu, pessoalmente, gostei muito de termos direcionado a turma, que, aliás, é uma turma muito acolhedora, com crianças espertas, ativas e cheias de graça. Acredito que foi super tranquila a nossa regência inusitada.

Ao final do dia, antes de eu ir embora, Mostarda fez um gesto carinhoso. Ele criou uma figurinha, escrevendo o seu nome e a sua idade no meu caderno. Ele recortou e colou na minha capa do caderno, como um gesto de lembrança, pois disse que logo viajaria de novo e eu já teria como lembrar dele.

Finalizei o dia com chave de ouro. Muito contente com esse dia específico.

CORDEL ABECEDÁRIO DO 1° ANO (Nalígia Holanda)

Preste muita atenção 
No que hoje vou contar
Uma nova invenção 
Do abc ensinar

Os estagiários 
Tiveram uma missão 
O abecedário 
Reforçar com atenção 

No primeiro ano
Todos devem aprender 
E entra pelo cano
Quem não sabe ler

Foram separados 
os fracos dos fortes 
Alunos destinados 
A receber suporte 

A gente percebeu 
Uma nobre intenção 
Mas o que entristeceu
Foi a expressão 

De todos os alunos 
Foram contados seis
No tempo oportuno 
Lendo de uma vez

O que surpreendeu 
Foi a dedicação
De quem percebeu 
Que não é fraco não 

Ao final da aula 
Os fortes devem ler
O abc com calma
Pros fracos aprender

Da leitura dos fortes
Erros apareceram 
E não tiveram sorte 
Pois enfraqueceram

Pensamos num instante 
Qual a percepção 
Que cada estudante 
Vai ter de si então 

Saímos desejando 
Trazer motivação 
Ensinar alegrando 
Sem comparação.


NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA (Loriene Ribeiro)

Relato 6


Quase toda quarta e sexta-feira nós somos convidados a refletir sobre os nossos sentimentos, e posso dizer que o estágio da última quarta-feira resultou num misto deles. Além disso, ainda me proporcionou uma profunda reflexão sobre a inclusão. Esse, que parece ser o tema da vez, é uma das camadas que compõem a escola atualmente, mas deixemos as tais camadas de lado por um momento. Hoje eu quero falar de caminhos.


Bom, começando pelo início, na última quarta-feira conheci um novo rosto. Era uma criança que havia faltado muitos dias. Depois que ele me disse seu nome, falou algo que eu entendi como "meu apelido é enorme", "seu apelido é enorme? Qual é seu apelido?" - respondi. "Não, meu apelido é Normie." Então, esse é o Normie. Normie faz uso da cadeira de rodas, pois não tem os membros inferiores ou, como disse seu colega da frente, ele não tem as pernas.


De início, eu fiquei preocupada - "Como será que ele fica no recreio? Será que vem um adulto e fica com ele só parado num canto? Como será na educação física?" Basicamente, eu mal o conhecia e já estava pensando nas coisas que ele não poderia fazer ou nas dificuldades que ele poderia enfrentar. Mas, graças a Deus, eu pude aprender uma lição. Normie disse pra mim: "Olha, tia, o que eu sei fazer" e levantou o corpo com a força dos braços, subindo na mesa para ver a janela.


Quando tocou o recreio, dois amigos vieram ajudá-lo a sair - repare, não veio um adulto, mas sim seus amigos, e o fizeram voluntariamente. Também foi muito massa ver o Normie brincando livremente durante o recreio, correndo com a cadeira de um lado para o outro, se divertindo, como qualquer outra criança. Como eu pude, mesmo que por um momento, não encarar isso como o mais importante?


Eu penso que a educação é um caminho que a gente percorre a vida toda, e quase sempre é um terreno pedregoso. Basta passearmos nossas retinas tão fatigadas que enxergaremos que no meio do caminho tem muitas pedras, tais como falta de formação de profissionais e a estrutura dos ambientes. Mas acredito que a primeira delas a ser removida deve ser o nosso olhar limitante, que tantas vezes destaca o que não pode ser feito e se esquece daquilo que, de fato, pode ser feito.


Se vemos as crianças como seres potentes, então precisamos acreditar no que elas podem fazer. Isso não significa ignorar as dificuldades. Elas existem. Mas que não sejam suficientes para a gente parar no meio do caminho. Vamos, aos poucos, remover as pedras.

MAIS UM DIA DE ESTÁGIO (Renata Feitosa)

Mais um dia de estágio, outro dia que eu estava sedenta por não ir. Tenho problema no joelho e estou com mais uma crise, no qual me deixa mal humorada e com fortes dores, mas não tinha o que fazer, eu tinha que ir.


Cheguei uns minutos mais cedo. Me sentei do lado dos colegas e comecei a observar as paredes e dei de cara com um cartaz sobre bullying, a princípio achei legal, mas depois pensei que aquela escrita não tinha muito a ver com a faixa etária do público alvo, senti que tinha sido tirado de uma pesquisa do Google. Meus pensamentos foram interrompidos por uma oração em conjunto dos alunos e professores, que estavam enfileirados, esperando o horário de ir para sala de aula. Deixei meu pensamento intrusivo escapar e falei " que??"  minha dupla respondeu que era rotina, que eles rezavam antes de ir para sala de aula. Logo soltei " mas o estado não é laico?!" em tom de deboche, pois estava levemente indignada. 


Diante disso, eu comecei a me perceber e pensar que de novo eu estava trazendo um olhar pessimista para aquele lugar. Mas como uma pessoa que não possui fé alguma, sempre me incomodei com os quadros e cultos religiosos desde que eu estava ali no lugar deles. Sinto que não temos a opção de escolher em que ou em quem vamos crer. Mas certamente deve ser algo muito sensível pra se pôr em pauta, não pra mim, mas para aqueles que creem. 


Dando sequência ao dia fomos todos para sala. Não foi um dia muito produtivo, o primeiro tempo foi reservado para uma avaliação pesquisada de geografia. A professora deu uma folha em branco para cada aluno acompanhando de outra com as perguntas. O que me chamou mais atenção foi o fato dela colocar na lousa em que página estaria a resposta para cada pergunta, uma delas até especificava o parágrafo. Tentei auxiliar alguns alunos com suas dúvidas, mas parecia que eles não acreditavam muito em mim e em seguida iam rever com a professora se o que eu tinha dito era correto. Foi interessante ver como eles não conseguiam focar mais que dois minutos, mesmo sendo algo que valia nota. Me perguntei diversas vezes " será que eu também era assim?" Acredito que sim, me tornei uma pessoa tímida depois do fund1, eu era uma matraca … acho que dei muito trabalho aos meus professores. 


Finalmente o recreio, eu estava morrendo de fome e doida pra almoçar. Dessa vez não consegui resistir ao doce que o professor leva, mas estava tranquila pois meu cardio está em dia. Não posso deixar de relatar que esse recreio estava com mais gritos que o normal, eu não conseguia ouvir meus pensamentos, tão pouco meus colegas. Tentei conversar com anEmily, mas sem sucesso eu não conseguia entender nada do que ela falava.. 


Finalizou o recreio e fomos para sala, cheguei e sentei. Minha dupla estava passando pelas crianças até que uma falou " Tio, você é muito alto né. Parece um attack on titan" e foi aí que eu cometi a gafe de soltar uma gargalhada, aquilo me pegou de surpresa, justamente porque minutos antes eu o vi passando pelas crianças e pensei "nunca tinha reparado que o Gabriel era alto". Tentei me desculpar, mas acho que foi sem sucesso... Ah, Attack on Titan é um anime sobre Titãs. 


Voltando pro assunto.. a professora estava focada em terminar alguns preparativos da feira de ciências. Então rapidamente deu a devolutiva da avaliação de geografia, me choquei com fato de mesmo pesquisada, houveram notas como 5,0; 7,0 e apenas um 10.


Nesse momento ela queria que alguns que não estivem pintando ou desenhando fizesse uma atividade, logo ouvi " professora, mas é injusto fazer atividade enquanto eles não fazem". Por fim, apenas alguns poucos fizeram, mas a atenção dela estava dividida e assim logo passou o tempo e acabou a aula.



FAZ O "L" (Milena)

Na quarta eu estava muito desanimada para ir à escola porque minha terça tinha sido muito cansativa, mas acabei resolvendo ir. O ônibus acabou atrasando e comecei a sentir o desânimo dando espaço pra culpa por chegar atrasada, mas parece que, naquele dia, várias pessoas chegaram atrasadas também, então a culpa acabou se diluindo. 

Entrei, dei boa tarde às crianças e comecei a conversar com algumas sobre os cartazes e alguns desenhos que estavam na sala. Uma das crianças me falou que era um polvo, mas a auxiliar me explicou que, na verdade, era uma água-viva e que esse era o tema da feira de ciências deles. Achei o máximo e busquei, na memória, todo o meu repertório sobre águas-vivas para dialogar com a criança que achou que era um polvo. Então, comecei a explicar para ele usando o desenho do Bob Esponja como exemplo porque no desenho ele e o Patrick caçam águas-vivas.

Aí você me pergunta: funcionou? Na verdade, não! Ele me disse que era desenho antigo, coisa de velho e que ele não assistia. Algumas crianças até arriscaram o nome de alguns personagens, mas só conheciam o Bob Esponja e o Patrick.

Parece que na aula anterior as crianças tinham ficado responsáveis por fazer pesquisas para a feira de ciências. Então naquela aula alguns trouxeram cartazes, outros trouxeram águas-vivas produzidas por eles, outros trouxeram imagens e uma criança trouxe 10 curiosidades sobre as águas-vivas. Eu meio que saí de lá especialista em águas-vivas, então aí vão duas coisas que ainda lembro: elas são imortais e brilham no escuro.

Em seguida, começaram a estudar a letra do dia, que era o L. A professora escreveu na lousa, fez o sinal da letra com a mão e pediu para eles fazerem o L. Ao ouvirem "Faz o L", algumas crianças começaram a gritar: "Lula, Lula, Lula, Lula!". Fiquei pensando no autocontrole da Larissa porque em nenhum momento ela riu; apenas acalmou os ânimos das crianças e seguiu a aula. Essa disciplina de não rir das coisas que as crianças falam eu ainda não tive porque nunca consigo evitar. Naquela tarde, eles aprenderam não só o LA - LE - LI - LO - LU - LÃO, mas também que o L pode ter som de U.

Enquanto a Larissa fazia outra atividade com as crianças, ela pediu que eu e a Hanna trabalhássemos as vogais com duas crianças que ainda não identificam as letras. Recebemos um alfabeto móvel para realizar a atividade com as meninas, e o que eu peguei tinha letras bem grandes. Iniciei mostrando todas as letras para identificar quais ela conhecia. Ela conhecia as vogais, mas, das consoantes, não conhecia nem a inicial do próprio nome, embora tenha decorado como escreve. Das consoantes, ela só conhecia o S, X, V, B, H e M. Ela também não reconheceu a letra L que foi a letra estudada momentos antes. Além disso, tentei montar palavras fáceis com ela, como BOLA, mas ela não associava a letra ao som, então quando eu mostrava a letra B para ela era como se aquilo não significasse nada.

Ao terminar, a Larissa perguntou minhas percepções sobre a atividade que realizei e conversamos um pouco sobre possíveis abordagens. Ela também me ensinou como iniciar a leitura de palavras quando a criança já reconhece as letras.

Após a conversa, a Larissa pediu ajuda para anotar na agenda das crianças que, no dia seguinte, haveria aula. Fui colocando o recadinho e, quando cheguei no Mateus (nome fictício), ele perguntou o que eu estava escrevendo. Respondi que era um recado para a mãe dele, informando que amanhã haveria aula, e ele prontamente respondeu que não ia vir porque não ia ter aula pro irmão dele, e só ele ir pra aula era muito injusto. Achei bem curiosa a percepção dele de justiça, mas, internamente concordei com ele.

O recreio chegou e eu e a Hanna saímos, mas decidimos voltar pra sala. Fiquei deitada lá e confesso que foi uma ótima escolha, porque era bem menos barulhento. O recreio acabou e as crianças voltaram para a sala. A Larissa tinha comentado mais cedo, uma atividade que ela queria realizar com as crianças naquela tarde: um ditado mudo, que consistia em mostrarmos plaquinhas com palavras para que as crianças, em duplas, lêssem baixinho e fizessem o desenho correspondente no caderno. Eu e a Hanna fizemos 12 plaquinhas com palavras fáceis, médias e difíceis, enquanto a Larissa ia desenhando os 12 espaços pros desenhos no caderno.

Pensei que ela ia fazer a atividade, mas ela deixou eu e a Hanna conduzirmos e foi um sucesso! As crianças adoraram. Ao longo da atividade, também fomos adaptando, chegando mais perto das crianças que não estavam conseguindo ler direito, ajudando a juntar as sílabas e escolhendo palavras mais fáceis quando alguma criança não estava conseguindo acompanhar. Acredito que o único problema foi que não nos atentamos ao fato de que as duplas continuaram as mesmas desde o início da aula e em algumas, acabaram ficando duas crianças que tinham dificuldades semelhantes. Mas ficou de aprendizado para melhorarmos nesse quesito na próxima atividade. Enfim, foi uma tarde proveitosa, bastante agradável e fiquei bem contente por não ter faltado. Nada como um dia bom para dissipar um dia ruim!

O PALMEIRAS É MUITO RUIM! (Gabriel Costa da Silva)

 No dia 28 de Maio, aconteceu o nosso quinto encontro na escola Alba Frota, o que indica que a frequentamos a esta escola há mais de um mês. Como o tempo passa rápido! No dia de hoje, nada de crises de autoestima, mas também nada de conforto. Resolvi sair um pouco do preto, e coloquei uma camisa do Palmeiras, um time que eu nem torço, mas simpatizo por conta do meu pai (spoiler: essa camisa foi motivo de surpresa, discussões e julgamentos).

Fiz minha rota habitual de cada encontro, cheguei na escola e o dia começou de maneira um pouco diferente do acostumado: a sala estava mais "silenciosa" do que o normal. Não se ouvia muita alteração de voz, levantar da cadeira despretensiosa ou algo do tipo. Contudo, não me deixei iludir, sabia que aquilo não iria durar muito tempo. Logo percebi que isso se devia à uma atividade avaliativa de Geografia que seria realizada. No entanto, a dinâmica da atividade surpreendeu — a professora disponibilizou as respostas no quadro e os alunos precisavam apenas abrir a página correta no livro. Foi interessante (e um pouco preocupante) observar que, mesmo com as respostas dadas, as crianças tiveram certas dificuldades em realizar a atividade em tempo hábil. Geralmente, a matéria de Geografia é trabalhada no segundo horário, porém, desta vez, foi realizada no primeiro, para que os pequenos tivessem mais tempo de realizar a atividade (o que funcionou até certo ponto, pois nem todos terminaram antes do intervalo e perderam alguns minutos preciosos em sala finalizando). Das dificuldades, percebi que muitos se dispersaram muito rápido, não conseguiam focar na atividade por sequer 5 minutos; alguns tinham dificuldade de entender o enunciado da questão, outros de encontrar a resposta mesmo procurando na página de referência. Apesar dos pesares, a grande maioria conseguiu finalizar tal atividade.

Durante o intervalo, vivi um momento curioso e divertido: uma das crianças veio me perguntar por que eu estava usando uma camisa do Palmeiras. A partir dessa simples pergunta, surgiu uma discussão saudável entre eu e algumas outras crianças sobre seus times de futebol. Foi uma troca leve, com brincadeiras, risadas e muita gritaria! Por conta do barulho e exaltação, não conseguimos manter uma comunicação mais serena, fazendo eu ficar até um pouco rouco por tentar acompanhar o tom das crianças. Algumas falavam: "Tio! O Palmeiras é muito ruim!" "O melhor time é o Flamengo!" Brincamos e discutimos sobre a temática, mas também com respeito pelas preferências uns dos outros. Achei muito positivo ver como o futebol, que muitas vezes pode gerar rivalidades, ali foi motivo de diálogo e convivência. Soube até que uma dessas crianças, que não é da minha turma, debochou um pouco dos times que eu torço, o que pode quebrar totalmente meu argumento anterior de respeito pelas preferências, mas tudo bem! Tenho esperança que ela vai aprender com o tempo a respeito.

Mais tarde, observei algumas crianças envolvidas na pintura de animais marítimos e de um submarino. Elas estavam animadas preparando o material para apresentar na feira de ciências da escola. A concentração e o cuidado com os detalhes mostravam o quanto estavam engajadas e empolgadas com o projeto. Entretanto, duas coisas me deixaram um pouco incomodadas ali. Primeiro, as crianças só tinham aquele momento em específico para focarem nos seus projetos? Foi notório que a professora simplesmente não conseguiu dar sua aula de português, pois, enquanto alguns estavam trabalhando em suas pinturas, as outras crianças ficaram curiosas e se dispersaram para observar o trabalho de seus colegas. E segundo: porque só os mais "habilidosos" estavam envolvidos no projeto de pintura? Infelizmente, não cheguei a perguntar qual seria, de fato, o projeto que irão apresentar, e se essas outras crianças que não estão participando, terão algum papel importante posteriormente. Contudo, acredito que um projeto que desse a oportunidade de todos contribuírem reforçaria uma identidade maior da turma com o projeto, trabalharia a união e fortalecimento dos laços, além de elevar a importância do incentivo à criatividade no processo de aprendizagem.

No geral, foi um dia tranquilo, mas cheio de pequenas interações significativas. Aos poucos, vou percebendo como cada momento no estágio contribui para a construção do meu olhar pedagógico — seja nas observações mais simples ou nas conversas espontâneas com os alunos. Tudo vira aprendizado.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

CUIDADO COM A RÉGUA! (Thalita D.)


Quarta-feira, 28 de maio.
Eu estava tendo uma semana complicada, lidando com uma sinusite e uma dor de cabeça que já durava três dias. Mesmo assim, fui para a escola, já estava com saudade das conversas com os pequenos.

Ao chegar, fui recebida com muitos abraços dos meus best friends.
A rotina seguiu a mesma, agenda, correção da atividade de casa. Inclusive, em alguns relatos anteriores, mencionei a frustração da professora com relação a essas atividades. Mas, nesse dia, ela estava feliz, e as crianças também, a maioria havia feito a lição, foram parabenizados e desafiados a dobrar esse número. A professora propôs um trabalho, sem valer nota, apenas para observar as dificuldades individuais de cada um.

Houve a troca de professores e, por um tempo, as crianças ficaram em "tempo livre". Alguns desenhavam, outros comiam, outros conversavam. Sentei perto das meninas e estávamos papeando, quando, do nada, uma começou a fazer um penteado no meu cabelo, outra passou a "pintar" minhas unhas com esmalte fictício, e uma terceira veio com um Carmed para passar na minha boca. Nem sei como aquilo tudo começou… Pisquei o olho e estava num verdadeiro spa! Recebi até massagem, isso tudo até elas começarem a brigar e eu ter que desmanchar meu SPA gratuito. Por que será que alegria de pobre dura pouco?

Caminhei pela sala e me aproximei de um garotinho que estava fazendo vários desenhos, desenhava cartinhas no estilo Pokémon. Ele estava desenhando cada colega como um personagem diferente, até que disse:

— Olha, tia! Eu desenhei você também!
— Nossa! E o que é isso na minha mão? Uma espada?
— Não, tia, é uma régua! Porque você é a tia, né? E seu poder é de bloqueio… e de reguada!

Meu poder era basicamente bater com uma régua… Meu Deus, onde foi que eu errei?
Mas, pelo menos, eu era uma das mais fortes! Ri muito e prometi que iríamos brincar juntos com as cartas, e que eu ficaria longe das réguas durante o jogo.






DITADO MUDO? (Hanna Caroline)

Essa quarta, como basicamente todos os meus dias, começou comigo atrasada! Que de acordo com meu irmão não é nenhuma novidade. Eu sempre tento fazer tudo o mais cedo possível que chegou a um ponto que eu mal durmo pra tentar não me atrasar, acredito que eu tenha o dom do atraso, o que me deixa completamente irritada e esquecendo muitas coisas durante o dia. E nessa quarta eu também cheguei atrasada e morta de fome no ru, que como sempre também estava lotado, com uma fila enorme onde fiquei uns 10 minutos nela impacientemente. Mas dessa vez decidida a comer com calma, pois não aguentava mais engolir a comida e sair às pressas. 

Entretanto, nessa quarta eu tive companheiros de atraso, o que na minha cabeça ficou uma situação mais leve, não estava só. Felizmente não foi um atraso absurdo, então tudo deu certo para um começo de tarde. 

Acredito que de todas as quartas essa foi a que a sala estava mais lotada, acho que só faltou 1 aluno, fiquei me perguntando se era por conta da paralisação dos professores que ia ocorrer na quinta e os pais decidiram mandar todas as crianças na quarta. Mas apesar da lotação do primeiro ano, foi uma tarde bem produtiva. Onde por mim já pode ser considerado o nosso primeiro dia de regência. Demos um suporte maior a professora, a pedido dela realizamos atividades com alunas que tinham mais dificuldades e comparadas com a turma estavam para trás. Era preciso trabalhar vogais com elas, eu me disponibilizei a reforçar as letras com a Lia (nome fictício), e percebi que a maior dificuldade dela é a insegurança. Ela parecia bem receosa em responder minhas perguntas, respondia qualquer letra sem nem olhar para aquela que eu estava mostrando. Mas eu insistia, brincava e ela ia raramente tentando e quando ela acertava ficava super feliz e com um ar de surpresa como se não acreditasse que ela tinha acertado algo. Conversando com a professora, ela também citou que notou a insegurança da Lia e ela acredita que seja pela dificuldade que a mesma tem em falar, o que a deixa retraída e preferindo ficar em silêncio. Perguntei se ela já havia conversado com a mãe da Lia sobre a levá-la ao fono, ela disse que a mãe inventa que está em uma fila esperando ser chamada, mas já faz tanto tempo que ela diz isso que a professora disse que é mentira dela. Isso me entristeceu, pois em uma sala de 20 alunos, não têm como dar atenção individualizada para cada um e existem tantos ali que necessitam dela.

Dessa vez, na hora do intervalo eu e Milena decidimos ficar em sala, o que foi uma paz para mim. Essa nossa ideia de ficar na sala foi um alívio mental. Após o intervalo a professora deu mais uma tarefa pra nós, produzir plaquinhas com palavras fáceis, médias e difíceis. Nessa produção, além de ter certeza que minha letra é feia, eu descobri que não sei escrever letras tão grandes assim. Mas no fim deu certo, eles entenderam minha letra, e assim realizamos o primeiro ditado mudo da minha vida. Como as crianças são bem competitivas e participativas, foi bastante divertido. Nessa dinâmica eles ficavam em dupla, leriam a placa o mais baixo possível e só diria para sua dupla qual palavra foi lida e assim eles desenhariam no caderno. Apesar de ter sido ótimo, teve um momento que o Nate (nome fictício) que apesar de já também está conseguindo ler, não era tão rápido como os outros e ele teve dificuldade para ler o nome "livro" o que fez ele chorar e pensando nas outras crianças com dificuldade também, se eu pudesse voltar no tempo, eu teria conversado com a Milena e a professora para fazer duplas com os que já estavam conseguindo formar palavras com os que tinham mais dificuldades.  Assim todos se divertiam e se ajudariam.


QUADRIL, QUADREL, QUARTETO! (Ana Letícya)

Dia 28/05 – Quarta-feira 

O dia já começou no modo agitado nível hard, porque lá na escola onde trabalho estávamos em plena comemoração do Dia Mundial do Brincar. Resultado? Água, areia, lama… e uma professora meio enlameada esquecida de que o corpo humano precisa de hidratação! Quando finalmente lembrei que água não vem do espírito santo, fui encher minha garrafa e… surpresa: o galão já tinha virado lenda. Tive que dar uma passada estratégica no supermercado da frente antes do estágio, e claro que cheguei no limite do horário — tão em cima que a acolhida foi só um sorrisinho e um "boa tarde" pro professor.

Na aula de Ciências, os alunos estavam começando as vivências para a feira de ciências. Era possível perceber a intencionalidade na formação dos grupos, que foram organizados com base nos níveis de leitura e interesses — ponto pra professora! Até que, do nada, como quem anuncia que esqueceu o feijão no fogo, ela solta: "Ah, e hoje é meu último dia." Eu e minha dupla trocamos aquele olhar dramático digno de novela das 21h e um grito interno: "AAAAAAAAAAAA". O desespero bateu, mas a ficha nem caiu direito. A professora era super acolhedora com a gente, e claro, já começamos a pensar: "Agora é com a gente a feira de ciências?"  Pena que a gente ainda não desbloqueou a habilidade de prever o futuro.

A aula foi interrompida por uma atividade na quadra com o pessoal da fisioterapia. Ela conseguiu desenvolver só um tiquinho da proposta, e eu perguntei se essas atividades extras eram avisadas com antecedência. A resposta? "Sim, mas não sei o horário." Perfeito. A atividade envolvia desafios psicomotores, e os pequenos estavam super engajados (nada como correr, pular e suar pra motivar uma criança). Meu amigo P não quis participar e ficou de prosa comigo. Disse que ia fazer aniversário e eu, ligeira, já perguntei se eu seria convidada e se teria bolo. Ele respondeu que sim, porque eu merecia (óbvio), mas minha dupla não. Kkkkk. (Mais tarde ele reconsiderou e deixou ela merecer também. Generoso.) Teve até abraço comemorativo nosso (ÊÊÊÊÊ)

A atividade foi até o final da primeira aula, e depois do intervalo veio… rufem os tambores… a aula de Matemática! E PASMEM: sem interrupções, sem missão secreta, sem aniversários, nada! A aula aconteceu do início ao fim, um verdadeiro milagre pedagógico. A prof pediu que formassem duplas, mas ainda tinha uns alunos em quarteto. Começou a discussão:

– "Professora, ali tá em quadril ainda!"

– "Que quadril, cara? É quadrel!"

GENTEEE… pensando bem, faz muito mais sentido trio, quadril… quem foi que inventou "quarteto"?

Durante a aula, eles fizeram uma atividade diagnóstica para que a professora pudesse observar as dificuldades da turma e corrigiram as atividades. Também sentamos com a professora para conversar sobre os conteúdos que vêm por aí e começamos a organizar nossas futuras intervenções.

Depois de um dia desses — com banho de lama logo cedo, notícias bombásticas e questionamentos linguísticos sobre quadril x quadrel x quarteto — só me resta aceitar que na escola, cada dia é um episódio novo. E que venha o próximo capítulo, com ou sem água na garrafa, mas sempre com caos, risadas e muito aprendizado.

O DIA EM QUE O Y PESOU MAIS QUE O ALFABETO INTEIRO (Sadrak Alves)

Hoje tudo parecia estar andando em câmera lenta, o tempo, a nave da trilha e até mesmo eu… Tudo atrasou e como se o universo estivesse avisando que hoje os passos seriam mais duradouros. Cheguei um pouco aflito pois havia me atrasado, geralmente sou um relógio ambulante (como sou conhecido por um amigo).

Ao chegar na trilha, ali a nossa missão já estava traçada pela guardiã do compasso, hoje teríamos que acompanhar seis guardiões do tesouro, aqueles que ainda não haviam desvendado o mistério das letras. Nos deram folha, comandos e metas: – Eles precisam repetir os nomes cinco vezes, preciso que vocês perguntem quais são as letras presente no papel, para observar quais os guardiões não conhecem. 

Até aí não havia visto tanto problema, a questão foi quando a guardiã do Compasso falava várias vezes: – Pode continuar, pois nesse primeiro momento da aula eles vão fazer só isso.

Os guardiões repetia, e eu repetia também. Eu já estava cansado, imagine eles.  Três guardiões comigo, desses haviam dois que já sabia muito bem reconhecer as letras, um só se atrapalhava com o "Y", essa letra que parece escorregar da boca de quem tenta nomeá-la. Rimos juntos tentando falar a letra. O outro só não reconhecia cinco letras, mas de tanto repetir ficou também só no em uma letra. 

Já a terceira guardiã o processo foi diferente, ela tinha mais dificuldade, olhava pro papel como quem olha pro longe. Eu até tentei, mas nada ali fazia sentido para ela, talvez nem para mim. Na condição que eu estava não conseguia pensar em nenhuma outra forma de ensinar de maneira que facilitasse o seu aprendizado, pois fomos pegos de surpresa com essa atividade. Foi aí que perguntei para a guardiã do compasso se havia jogos, como alfabeto móvel, ela disse que sim, tem vários, mas está guardado na torre das estratégias (sala do AEE), esses materiais ficam sempre lá.

Fiquei com isso na cabeça, refletindo por que esses materiais não estão também aqui? Por que não fazer desses jogos pontes para o aprendizado? Talvez, com eles, tudo pudesse fazer um pouco mais de sentido.

No segundo momento, algo voltou a se repetir, aquela famosa distinção entre "os fortes" e "os fracos". Termos que ainda ecoam na minha cabeça, mesmo que eu tente esquecê-lo.  A professora chamava um a um, e os "fortes" tinham que fazer primeiro, enquanto os "fracos" assistiam, se tratava da mesma atividade realizada por aqueles seis guardiões.

Uma das guardiãs acabou tendo mais dificuldade do que esperava a guardiã do compasso e quando terminou a guardiã do compasso olhou e disse: "Pensei que você fosse forte, mas você é fraca".

Assim, na frente de todos, meu peito apertou. Sim, eu sei... Esse assunto já foi bastante discutido. Já ouvimos que é importante ter cuidado com os julgamentos, que há sempre contextos e histórias por trás. E tudo bem, isso tem um pouco de verdade. Mas não tem como ignorar determinadas atitudes, pois há coisas que, ditas diante das crianças, deixam marcas. E como já foi discutido amplamente esse tema… talvez seja melhor guardar essa inquietação para outro momento ou não...

No fim do dia, o mesmo guardião que tropeçava no "Y" foi pego pela mãe, a professora comentou, em tom leve, que ele só não sabia essa letra. O menino sorriu, achando que era vitória, um alívio talvez. Mas a mãe respondeu: – Só? Só? É muito! Amanhã ele volta com Y decorado.  O sorriso dele não caiu de uma vez. Foi sumindo devagar. E eu fiquei ali, calado. Pensando em como, de vinte e seis letras, ele só não sabia uma, e ainda assim, parecia não ser suficiente, como se não houvesse espaço para tropeçar. E isso… isso me entristece. Porque às vezes a conquista é pequena só para quem está olhando de fora. Por dentro, ela pode ser um mundo inteiro.

Ah, e eu quase ia esquecendo… Antes que o dia terminasse, algo ficou marcado que foi: um longo abraço. Na verdade, vários. Foi um dia em que o afeto apareceu sem ser chamado, do jeito mais bonito, sem pressa, sem palavras. Teve um dos guardiões sensíveis, aqueles que falam mais com o corpo do que com a voz,  que passou por um longo tempo me abraçando pelas minhas costas e também cabeça repousada no meu braço. 

Por fim, concluo, que hoje, não foram as letras que pensaram, foi o modo como elas foram tratadas. Foi a pressa em decorar o que ainda poderia ser descoberto devagar, no ritmo da criança. Foi a divisão entre "fortes" e "fracos", como se o aprender fosse uma corrida e não uma trilha. Ver o sorriso morrer devagar no rosto de um guardião que só tropeçou numa letra e que deveria ser celebrado, mas foi cobrado, isso me doeu. Por outro lado, ganhei abraços longos.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

O DIA MAIS ESPERADO… E O MAIS INESPERADO! (Emily Karoline Freire Gomes)

Hoje, ao chegar para mais um dia de estágio, confesso que estava bastante cansada. A rotina intensa dos ensaios juninos tem sido animada, mas ao mesmo tempo exaustiva. Apesar do cansaço, nada que comprometesse as atividades do dia.

Iniciamos com a disciplina de Ciências, com foco na Feira de Ciências que acontecerá no mês de junho. A professora decidiu adiantar os conteúdos e os alunos foram divididos em equipes, cada uma com a missão de trabalhar aspectos relacionados à poluição dos mares, rios e oceanos. Os grupos ficaram responsáveis por diferentes propostas: alguns fariam maquetes representando as formas de poluição, outros desenvolveriam uma pescaria simbólica para mostrar o impacto do lixo nos mares, enquanto outros produziriam artes e cartazes. A professora, inclusive, trouxe pesquisas impressas, além de várias imagens, que os alunos utilizariam para compor os cartazes e organizar a exposição.

A ideia era que todos participassem ativamente dessas produções, mas, com a pausa inesperada para outras atividades, o desenvolvimento desse trabalho acabou não acontecendo como planejado.

Enquanto os alunos estavam envolvidos na organização inicial dos materiais, fomos surpreendidas com a notícia de uma atividade no pátio. Minha dupla perguntou à professora se esses eventos eram avisados com antecedência, e ela respondeu que sim, mas que o horário não havia sido informado.

Durante esse momento, nossa professora nos comunicou, com um risinho de nervoso, que, a partir da próxima semana, não estará mais conosco, pois se aposentará. Disse que, temporariamente, quem assumirá será a coordenadora. Olhei para minha dupla e, meio em tom de brincadeira e desespero, falei: "Já temos que planejar algo para próxima aula, kkkkk!"

Os alunos, então, seguiram para o pátio, onde participaram de uma atividade motora conduzida por profissionais da fisioterapia. Eles aproveitaram muito e, claro, não faltaram momentos de descontração. Durante a atividade, começamos a brincar com o aluno P., que, naquele momento, não estava muito afim de participar das propostas de atividades no pátio.

Em meio à conversa, minha dupla perguntou para ele se eu merecia um pedaço de bolo. Sem pensar duas vezes, ele respondeu de forma direta: "Não!" — e ainda completou com muito bom humor: "Já pode começar a chorar!" Cai na risada, é claro! Mas, pouco tempo depois, ele já mudou de ideia e soltou: "Você merece tudo!" — só ficou a dúvida no ar: tudo de bom ou tudo de ruim? Fica aí o mistério!

Após o intervalo, tivemos aula de Matemática. Conversamos com a professora sobre nossa próxima regência e sobre como poderíamos alinhar o conteúdo com o que ela já vem trabalhando. Ela, sempre tranquila, disse: "Tudo se dá um jeito" e nos informou que, em breve, começará a trabalhar o conteúdo de perímetro, de forma bem básica.

A partir daí, surgirá a nossa regência, com propostas de atividades que envolvam interação com a malha quadriculada, além de dinâmicas com objetos do cotidiano, para tornar o conteúdo mais próximo e significativo para os alunos. A professora comentou que, neste primeiro momento, será apenas uma apresentação do tema para eles, o que nos deixou mais à vontade para pensar em estratégias lúdicas e criativas.

Em seguida, houve uma atividade diagnóstica para avaliar as dificuldades dos alunos, envolvendo conteúdos já trabalhados em aulas anteriores. Pela primeira vez, a aula de Matemática fluiu completamente: conseguimos realizar a sondagem, a atividade de sala e, ainda, corrigir a tarefa de casa dentro do tempo previsto.

O dia foi repleto de informações, emoções e boas risadas. No entanto, ficou também a apreensão pela aposentadoria da professora, que nos deixa o desafio de continuar sem sua presença e com grandes expectativas para a próxima quarta-feira!

segunda-feira, 26 de maio de 2025

FIONA, A PEDAGOGRA (Eduardo)


Eu já havia tentado assistir a Shrek algumas vezes, mas desisti pela metade. Não cativou a minha atenção. Mas em seu relato da semana passada, a Lori trouxe uma citação do filme sobre os ogros serem como uma cebola e suas várias camadas, e resolvi tentar mais uma vez.

Não sei se foi a gripe prolongada, e sua sensação de corpo pesado, mas desta vez consegui ver até o final. E mais do que o Shrek, mesmo com suas camadas, quem me chamou a atenção foi a Fiona, a princesa encerrada na torre de um castelo, mantida presa por um dragão, esperando um príncipe encantado que a salvasse.

Não só Fiona é libertada não por um príncipe, mas por um ogro, mas descobrimos que, sob uma maldição, ela se torna uma ogra todas as noites. E, no final, em vez de ter o feitiço desfeito e voltar a ser humana, Fiona se transforma permanentemente em ogra pelo beijo de amor verdadeiro de Shrek.

Então fiquei pensando que se as camadas da cebola são uma boa analogia para a personalidade de um ogro, o conflito de Fiona também pode ser uma boa analogia para o estágio escolar supervisionado. No início a expectativa de um resgate romântico, idealizado, inspirado por príncipes teóricos encantados que hão de nos livrar da prisão da realidade sombria. Mas o príncipe só pensa em se tornar rei, não está nem aí pra Pedagogia, manda um ogro para salvá-la apenas para garantir sua promoção de posto.  E esse ogro que nos salva mas que, assim como uma cebola, fede e faz a gente chorar, é negado e desprezado. Até que descobrimos que a Pedagogia é meio ogra, embora tenha vergonha de admitir e deseje ser apenas uma linda princesa da Disney.

A história fica ainda mais surpreendente porque o mediador da resolução do conflito não é nenhum grande sábio, um estudioso renomado, mas um burro. É por meio dele que Fiona descobre o amor verdadeiro em vez do amor idealizado. Um burro que faz o convite para vivenciarmos o feio real em vez da bela ilusão. 

A escola não é castelo, é pântano. Não tem príncipes e princesas, tem ogros e ogras com suas camadas que nos parecem feias e fedorentas, mas que são reais, de carne e osso, vivendo, sofrendo, trabalhando.

Fiona Pedagogra já fez a sua escolha. E a nossa escolha, qual será?

sexta-feira, 23 de maio de 2025

ANSIEDADE E SAMBA (Levi)

O começou bastante agitado no trabalho, houve muita demanda e muitas situações em que acabei me envolvendo. Quando me deparei, já estava na hora de ir para o estágio... Me atrasei! Não gosto de me atrasar, mas infelizmente por causa do grande volume de demandas da escola em que trabalho acabou acontecendo, e eu nem consegui almoçar. 

Cheguei as 13:15 e não encontrei ninguém nos corredores, fui direto para a sala do 4°ano A. Assim que entro na sala de aula, os alunos concentram seus olharem na minha pessoa, e eu não encontro a professora. Quando fui perguntar para a coordenação, naquela tarde a professora Vanessa havia faltado novamente. Eu estava sozinho com a turma do 4°ano A, a professora havia faltado, não tinha nenhum funcionário dentro de sala comigo e infelizmente a minha dupla não pode comparecer ao estágio por motivos de saúde. Sério, que caos.

Por volta de 13:30 chegou uma secretária que me informou da ausência da professora e me repassou uma atividade proposta pela professora. Era uma atividade que consistia em duas questões, uma se tratava em resolver a tabuada de multiplicação do 2 ao 5, a outra eram contas armadas de Adição e Subtração. Naquele momento eu senti um peso grande, eu estava sozinho com o 4° ano e teria que ensinar-los e corrigir as atividades. Escrevi a atividade na lousa e solicitei que todos copiassem e resolvessem antes da correção, aqueles com dúvidas poderiam me chamar para qualquer apoio.

A atividade fluiu muito bem, as crianças copiaram e permiti que elas respondessem durante a correção na lousa com o meu pincel. Todas estavam animadas para responder, faziam fila, gritavam e pediam para participar. Em determinado momento eu já havia corrigido as questões, e a turma pediu por mais questões de matemática para solucionar. O curioso é que mesmo elas não sabendo ou possuindo dificuldades na solução, pediam para participar e pediam para corrigir a resposta delas.

Após a realização da atividade, a professora Elisângela chegou para a aula de Geometria. Logo após tivemos intervalo, e no retorno do intervalo, a diretora interrompeu a aula da professora para nos comunicar que teria uma roda de samba dentro da sala de aula. Ao meu ver, a professora não havia sido comunicada anteriormente. Ela esboçou surpresa e comentou comigo que não estava sabendo. E de fato não estava, pois ela havia iniciado a aula dando conteúdo novo para as crianças sobre geometria plana.

A roda de samba em si foi mediada por estudantes da Unilab e por integrantes da Escola de Samba Império Ideal, que tomaram a frente para conversar com as crianças sobre o Samba e a sua importância histórica. As crianças engajaram e dançaram muito, todas saíram bastante felizes e animadas com a roda de samba. 

O estágio começou sendo bastante desafiador pelos revézes que surgiram, mas terminou com um gostinho doce de alegria e de samba :)

COM 'C' SE ESCREVE CASA, COM 'Ç' CORAÇÃO (Ana Beatriz)

No dia 21 de maio, demos continuidade às atividades do estágio supervisionado na escola. Fui bem recebida pelos alunos por meio de abraços e palavras carinhosas. Logo após minha chegada, uma aluna solicitou minha ajuda com as atividades do dia, o que prontamente aceitei. Naquela tarde, os alunos estavam trabalhando com palavras que utilizam as letras "c" e "ç". A proposta era registrar no caderno de atividades seis palavras com "ç" e, em seguida, construir duas frases. Durante a realização da tarefa, auxiliei diversas crianças e pude observar diferentes níveis de desenvolvimento na turma. Enquanto alguns estudantes conseguiam realizar as atividades com autonomia, inclusive antecipando os comandos da professora, outros ainda demonstravam dificuldades com o reconhecimento das letras do alfabeto, apresentando confusões frequentes.

Durante o intervalo, fui mais uma vez surpreendida pelo carinho espontâneo das crianças quando uma aluna da turma do Sadrak e da Nalígia passou distribuindo beijos entre nós, um gesto que expressa perfeitamente o vínculo afetivo que estamos construindo ao longo do estágio.Ao retornarmos do intervalo, foi proposto o momento de relaxamento. No entanto, uma aluna fez um comentário que me chamou atenção: "Como a gente pode relaxar de luz acesa?". Eu concordei com ela, pois realmente pequenos detalhes podem interferir na eficácia de atividades que exigem concentração e tranquilidade, e o momento de relaxamento realmente pede um ambiente próprio para isso nem que seja uma luz fechada ou uma música calminha.

Antes do encerramento do turno, houve mais um ensaio para a apresentação do Dia das Mães. Foi gratificante acompanhar o progresso dos alunos, especialmente de Zuko (nome fictício), uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em comparação com o ensaio anterior, percebi que ele já havia memorizado parte da coreografia inicial, embora ainda fosse nítido a confusão em seu rosto. Apesar das dificuldades, ficou evidente o seu esforço e envolvimento com a atividade. Durante o ensaio, eu e Larisse (principalmente a Larisse) tentamos reproduzir os passos para demonstrar aos alunos.

Encerramos o dia com uma sensação de progresso e afetividade, tanto no que diz respeito ao desenvolvimento das crianças quanto à construção de vínculos com os alunos dentro do ambiente escolar.

CEDILHAS E FUTUROS PLANOS (Larisse Sousa)

Cenário: Sala do 1º ano B, Escola Alba Frota. Mesas organizadas em grupos, quadro branco com palavras escritas: "louça, laço, açaí, açúcar". Crianças espalhadas, algumas escrevendo, outras conversando. A professora Rose escreve na lousa, sempre de frente para a turma.

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Cena 1
(Luz suave. Som de lápis riscando o papel. Larisse está na sala.)

Larisse (pensando):
Mais um dia de estágio… Hoje, foco total na rotina da turma.

(Larisse dá boa tarde para sua dupla e para a professora.)

Larisse:
Boa tarde!

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Cena 2
(As crianças estão sentadas, concentradas nas atividades. A professora escreve na lousa.)

Professora Rose:
Hoje nós vamos trabalhar com palavras que têm a cedilha.

(Ela escreve: louça, laço, açaí, açúcar.)

Crianças (em coro):
"SSS"!

Larisse (anotando mentalmente):
Estão aprendendo sobre palavras com cedilha e sobre formação de frases.

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Cena 3
(Algumas crianças levantam a mão para mostrar suas frases. Larisse auxilia uma das crianças que estava com dificuldade.)

Larisse:
Muito bem! "Laço" é com cedilha, tá certinho!

Criança:
Larisse, tem mais palavras que usa esse sinal?

Larisse:
Tem sim! É doce, e no meio da palavra tem um som de "su"…

(Larisse deixa a criança pensando, sem dar a resposta completa.)

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Cena 4
(As crianças continuam as atividades. Larisse e sua dupla se encontram no fundo da sala, conversando em voz baixa.)

Larisse:
Amiga, que tal fazermos nossa primeira regência na primeira semana de junho?

Beatriz:
Sim! Acho uma ótima ideia. Acho que dá super certo.

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Cena final
(O ambiente fica mais animado. As crianças começam um ensaio de dança para o Dia da Família. Larisse observa e, às vezes, dança junto a turma com atenção.)

Larisse (pensando):
Rotina tranquila, atividades bem conduzidas, ensaio bem animado.
Como será quando for a nossa vez de conduzir tudo?

(Luzes diminuem. Fim da cena.)

A AVENTURA DE MARIANA (Milena)

Na quarta-feira, as crianças estudaram a família do V. É uma turma muito participativa, então, em alguns momentos, a sala fica bem barulhenta porque todos querem responder, ficam ansiosos para ter sua resposta ouvida e escolhida, e alguns até levantam e chegam perto da professora para responder. A maior dificuldade das crianças com a letra V é que elas confundiam com o som da letra F. Então, quando a Larissa pedia uma palavra com VA, eles respondiam com FAca.

O primeiro tempo seguiu com as atividades de Língua Portuguesa e, como sempre, agenda, copia e cola, recados na agenda para pedir que, na aula seguinte, a criança trouxesse o livro que esqueceu, e eu, a Larissa e a Hanna reclamando do calor. O de sempre.
Enquanto eu auxiliava as outras crianças, a Hanna estava ajudando uma delas, a Lua, que tem mutismo seletivo e nunca reage a nada. Até para ir ao recreio precisamos pegar na mão dela, senão ela não anda. Mas naquela tarde, a Hanna conseguiu fazer ela rir. E foi tão inesperado que eu e a Larissa nos entreolhamos e começamos a rir também.

Faltando alguns minutos para o recreio, sentei perto de uma pilha de livros infantis e comecei a folhear um. As crianças chegavam devagarinho e começaram a pegar livros também. Uma delas pediu que eu lêsse uma história. Era um conto de fadas. Perguntei se ela conhecia os personagens da capa, e ela foi nomeando. Foi um momento bem interessante porque a menina é venezuelana e falava os nomes dos personagens em espanhol.

Após o recreio, tivemos um ensaio geral para a apresentação do Dia das Mães. A Lua não participou porque ficava parada, imóvel. Então, comecei a conversar com ela e, embora não obtivesse nenhuma resposta, pedi que ela balançasse a cabeça se era sim ou não. Ela permaneceu quieta, mas me olhando com curiosidade, e eu continuei falando. Acho que, em algum momento, ela percebeu que eu não ia ficar calada e começou a balançar a cabeça respondendo às minhas perguntas.

Na volta para a sala, ela esperou que eu pegasse sua mão. Falei para ela que sabia que ela conseguia ir sozinha e dei dois passos à frente, chamando ela. Acredito que ela achou a situação engraçada, porque ficou sorrindo (algo que não é muito comum, pois nunca esboça reação nenhuma) e andando bem devagar. Continuei chamando e esperando. No tempo dela. Ela ia em passos lentos, mas ia. Em alguns momentos, eu virava de costas e ela parava; então, eu virava novamente, e ela ficava rindo. Uma das auxiliares viu a cena e me falou que, se eu pegasse a mão dela, ela andava mais rápido. Mas eu não tinha pressa, deixei ela vir sozinha no tempo dela.

Quando voltamos para a sala, uma das crianças me entregou um livro pedindo que eu lesse. A professora achou a ideia interessante e pediu que eu lesse para toda a turma. Era um livro bem legal, em rimas, que contava a história do passeio da Mariana. No livro, o avô ia com ela para uma aventura especial: a biblioteca. Gostei de ler para eles, e alguns até abaixaram a cabeça para ouvir a história. O problema é que, no meio do livro, eu já estava cansada de ler.

Acontece que eu só peguei o livro que uma criança tinha sugerido e esqueci de folhear antes de começar a leitura. Então, era uma história ENORME, e o arrependimento foi tomando conta de mim aos poucos. Mas eles acabaram ouvindo a história inteira. Coitados. Depois da leitura perguntei se eles tinham gostado, a maioria respondeu que sim, mas alguns disseram que não. Eles estavam com livros em mão e uma criança pediu que eu lesse outro, mas eles tinham mais atividades para fazer. Por fim, treinaram letra cursiva e a tarde se encerrou.


UM DIA TRANQUILO NO 1° ANO (Nalígia Holanda)

Mais uma tarde se inicia na escola. Como de costume, aguardamos o sinal tocar e depois acompanhamos a professora e as crianças para entrar na sala de aula. Hoje fomos apresentados à Pequenina e ao Cabeludinho. Segundo a professora, ambos faltaram bastante nos últimos dias, por isso ainda não havíamos nos conhecido. 
À medida que as crianças iam chegando, conversávamos um pouco com cada uma, e está sendo muito gratificante perceber o carinho que elas demonstram conosco. Lembram da Branca de Neve? Pois bem, ela está cada vez mais próxima de mim e de meu amigo, que faz dupla comigo no estágio. Por várias vezes ela nos procura para sentar pertinho de nós e para trocar carinhos. A sensação é que ela se sente tranquila e gosta do nosso apoio.  
Nesta tarde, uma outra professora auxiliar acompanhou Branca. Percebi que ela respeitava os tempos da menina, orientando com calma e paciência, e tudo correu muito bem. As duas professoras nos relataram que no dia anterior as crianças estavam muito agitadas, inclusive Branca de Neve. Elas disseram que foi um dia bastante cansativo, mas que hoje tudo estava muito calmo, fiquei pensando: será que nossa presença estava contribuindo para que o ambiente estivesse mais tranquilo? 
Com isso, durante a aula, a professora nos indicou alguns estudantes que precisam de um acompanhamento mais direcionado, para que consigam avançar. E assim, nos aproximamos desses alunos. Eu acompanhei mais de perto a aluna Mary Jane, que ainda possui dificuldade em identificar as letras, mas é dedicada e tem uma caligrafia linda, acredito que em pouco tempo também será uma leitora. Mary Jane me relatou que o barulho do ambiente a incomoda, talvez esse seja um dos motivos que impedem a sua concentração. No decorrer da tarde, a professora iniciou o estudo da família do V, observando objetos que começam com essa letra. Houve também questões com rimas. Enquanto eu ajudava Mary Jane, a Professora auxiliar chamava Branca para fazer sua tarefa. Em um momento, Branca sentou perto de mim e de Mary Jane, então aproveitei e pedi que trouxesse seu caderno. Ela me atendeu e respondeu sua tarefa rapidinho. Era uma tarefa de matemática para aprender a contar objetos e identificar os números. As professoras ao verem Branca fazendo sua tarefa comigo, sorriram e disseram: Pronto já pode ser contratada! Também sorri, e fiquei muito feliz pela confiança da criança e pelo momento de descontração com as educadoras.
Ao final da tarde tivemos o último ensaio para a apresentação do dia das mães e ao sair levei para casa um sentimento bom, o de que estamos no caminho certo. 

SÓ QUER SER A POLIANA (Loriene Ribeiro Silva)

Relato 5


     Quarta foi um dia cansativo pra mim. Eu estava meio doente, tive que almoçar e sair às pressas, acabou que minha garrafa de água ficou em casa, o dia estava muito quente e eu ainda tive crises de espirro; para resumir, eu não tinha dez centavos de carisma pra entregar. O nível de insatisfação estava alto.

     O interessante é que eu não parecia ser a  única a me sentir dessa maneira. As crianças copiaram muito naquele dia. Copiaram a agenda, depois a correção da atividade de casa, depois uma atividade de classe, depois a correção da atividade de classe e ainda um cronograma e por último mais um texto. Não vou mentir, eu já estava me cansando de pedir para alguns que copiassem. A professora do primeiro tempo tinha solicitado nossa ajuda em relação a algumas crianças que não estavam participando da aula e o professor do segundo tempo também pontuou algumas dificuldades e até encaminhou três crianças para a diretoria por causa de uma confusão. Basicamente, todos estavam insatisfeitos em algum nível. 

     Eu já estava pensando que este meu relato seria uma enxurrada de lamúrias e negatividade gratuita, até que na quarta à noite, antes de dormir, lembrei da pokebola de papel que ganhei de um dos meninos, ele tinha desenhado corações na parte de dentro e escreveu "para ti" atrás. Depois, durante o recreio, uma das meninas me mostrou sua brincadeira de fazer casa de passarinho com os galhos e folhas perdidos no pátio, me fazendo recordar de quando eu brincava de tudo no mundo no quintal de casa. Também dei uma mini aula de como amarrar cadarços e ganhei muito carinho de uma criança que eu nem sabia o nome, do mesmo jeito que ela não sabia o meu. Mergulhada nessas recordações eu me senti meio Poliana, tentando ver o lado bom das coisas. A tempestade de insatisfação que perturbava minha mente se dissipou pouco a pouco e eu pude dormir em paz. O dia não tinha sido tão ruim afinal.

     Por último, acho válido ressaltar que ver o lado bom das coisas não deve ser usado para fingir que o lado ruim não existe, pelo contrário, nos serve como combustível para lutar contra ele. De fato, o estrago tá feito, mas no meio dele ainda é possível encontrar beleza, amizade e esperança, coisas pelas quais ainda vale a pena se manter de pé.


POKÉMON, EU ESCOLHO VOCÊ (Thalita D.)

Dia de estágio, acordei animada, ao chegar na escola, como sempre, fui bem recebida pela professora e pelas crianças. A rotina seguiu como de costume: agenda, correção da atividade de casa, depois a atividade de classe. Tudo dentro do previsto... ou quase.

Notei logo de cara que estavam mais agitados do que o normal. Enquanto ajudava alguns com as tarefas, conversava também. Me contaram que teriam um ensaio para o Dia das Mães. Entre risos, me disseram que além de "passar vergonha", ainda iriam sair de lá exaustos, perguntaram se eu iria vê-los na festa, falei que infelizmente não, insistiram e falei da minha aula mas não se importaram e continuaram insistindo pela minha presença.

Chegou o momento da aula de educação física. E se antes estavam agitados, agora a energia parecia ter se multiplicado por cinco. Correram, se bateram, falaram alto, gritaram, tudo isso dentro da sala, não teve aula no pátio, apenas copiaram o cronograma da disciplina e as 10 questões que seriam de um trabalho. 

Enquanto o mundo parecia virar de cabeça pra baixo, sentei ao lado de um menino que estava concentrado em seus desenhos. Ele rabiscava personagens famosos entre as crianças, como o "Bombardino Crocodilo" e outros. Tentou perguntar o nome dos personagens, mas disse que não conhecia. Então, no meio dos desenhos, me perguntou com a maior naturalidade:
— Tia, qual dos três pokémons iniciais você escolheria?

Agora sim! Esse daí eu conheço!
Respondi:
— O Charmander, né?

A partir daí, engatamos um papo animado sobre nossas escolhas, as evoluções dos nossos pokémons e, claro, sobre Naruto. Foi quando ele lembrou que queria um boneco do Naruto e começou a listar os presentes que queria ganhar no Dia das Crianças: bonecos, cartinhas, itens de anime e muito mais. Achei engraçado até ele soltar:
— Você que vai me dar!

Fiquei em choque. Felizmente chegou a hora do bendito ensaio e me safei do meu papel de mamãe Noel.

Na hora do ensaio, fui lavar as mãos e beber uma água, achando que teria um momento de paz, engano meu, uma garotinha voltou correndo do ensaio, agarrou meu braço e me obrigou a ir vê-la no pátio:
— Tia, você tem que me ver dançando!

Nem parecia a mesma que, minutos antes, dizia estar morrendo de vergonha.

O dia terminou com uma chuva de abraços. Quando fui sair da sala, uma delas se agarrou em mim me impedindo de ir embora. Quase levei pro Maracanaú comigo mas, convenhamos, não tô querendo perder meu réu primário esse ano, me despedi dela sorrindo, prometendo que estaria de volta na próxima quarta-feira.

P.S. Ganhei um desenho do Naruto do pequeno artista. Ele até escreveu em letra cursiva, segundo ele, "Os artistas escrevem assim".

quinta-feira, 22 de maio de 2025

O DIA DO P… POLVILHO! (Ana Letícya)

Dia 21/05, quarta-feira

Cheguei para o estágio com o coração ansioso e a cabeça pedindo férias da rotina da manhã. Pra minha surpresa, eu e minha dupla de estágio aparecemos com looks combinando sem querer: zebrinhas 🦓. Um fashion crime? Talvez. Um sinal de sintonia? Com certeza!

Apesar do cansaço, fui com aquele pensamento positivo: "que hoje seja melhor que a quarta passada". E olha… nem precisei esfregar lâmpada mágica — meu desejo foi atendido rapidinho. Ao entrar na sala, dei de cara com uma novidade: um rostinho novo, cujo nome já era mais comentado que lançamento de série na Netflix. O menino chegou desconfiado, com aquele olhar de "não me venham com muita empolgação", até que um colega de outra sala tentou muito tirá-lo de sala para brincar, mas, não conseguiu.

Ele ficou a maior parte do tempo na sala, fez uma atividade que uma professora de outra turma havia deixado (já que ele não acompanha o conteúdo da turma), e devorou um pacote de biscoito de polvilho em tempo recorde. Eu, sinceramente, teria comido aquilo em três dias e ainda fecharia com um pregador de roupa.

Consegui me aproximar dele perguntando o nome (sem resposta), mas fui esperta: comentei sobre a caneta do Homem-Aranha. Pronto, bastou falar em super-heróis que o escudo caiu. Consegui interagir com ele. Infelizmente, ele também mostrou comportamentos que não condizem com a idade — como simular que estava fumando com a caneta. Um colega logo explicou: "ele faz isso porque o pai dele fuma". Duro ouvir isso, mas importante enxergar além do comportamento.

Mais tarde, fui surpreendida por um abraço do acaso: descobri que alguns alunos moram no mesmo bairro onde cresci e ainda frequentam os mesmos lugares que marcaram minha infância. Foi como reencontrar versões pequenas de mim mesma caminhando por ruas que já conheciam meus passos. Um momento simples, mas carregado de memória.

Na aula de Ciências, acompanhei um aluno em processo de alfabetização. Ele leu um livro para mim, e a professora comentou que, no início, ele nem reconhecia as letras. Fiquei com o coração aquecido — é como ver uma flor nascendo em pleno asfalto. 


Na aula de Matemática, o aluno TG, que sempre volta do intervalo com alguma dor misteriosa (dores altamente suspeitas, diga-se de passagem), dessa vez voltou bem, e eu consegui ajudá-lo de pertinho. Vi como ele é capaz, só falta um empurrãozinho contra a maré da desmotivação.

Também estive com o aluno I, que às vezes resiste às atividades, mas sempre termina. Estamos naquele processo de fazer ele entender que ler as questões é mais vantajoso do que pedir a resposta (ele ainda não acredita, mas a gente chega lá).

A aula foi interrompida por uma oficina de cantos afro-indígenas, e que presente foi esse momento! Os alunos estavam atentos, conectados, e o aluno K, cheio de orgulho, compartilhou que tem origem indígena e que é filho de um orixá. Foi lindo ver ele se sentir pertencente, reconhecido.

Cantamos, dançamos, nos conectamos com as raízes e com a alma da escola. Nesse dia, eu não apenas estagiei — eu vivi, senti, aprendi. O estágio tem sido esse lugar de encontros inesperados, onde até o biscoito de polvilho vira metáfora, e um olhar trocado pode mudar o rumo da manhã. Saí com a sensação de que, apesar das dificuldades, estou exatamente onde deveria estar. E com uma certeza: a escola, com todas as suas zebrinhas e canções, é mesmo um lugar mágico e potente.

FINALMENTE UMA REAÇÃO (Hanna Caroline)

Toda quarta eu penso: "Meu Deus, o que eu vou escrever hoje?" Parece que nunca tem nenhuma novidade, nada para comentar.

Mas hoje foi diferente. Foi uma quarta-feira que me deixou feliz, porque a menina que eu fico ajudando nas atividades e na agenda finalmente sorriu para mim, reagiu de alguma forma! Geralmente, ela fica só parada, olhando e copiando.


E o melhor: ela deu uma risada com som e até mostrou os dentes! Minha meta da tarde virou fazer ela rir o tempo todo. Brinquei, mexi o nariz, dancei… fiz de tudo para manter aquele sorriso e conseguir uma interação real com ela.


Acho que, no dia em que ela falar comigo, vou sair dando saltos de felicidade!

Essa foi, com certeza, a melhor parte da minha quarta e o que eu mais queria comentar com a turma.


O LUGAR ONDE TODO MUNDO PODE SER UM CARRO… SERGIPE (Renata Feitosa)


O dia começou como de costume, atividade de português, exercitando a interpretação textual. A escola estava mais barulhenta que os outros dias e para ser sincera eu já estava dispersa por estar doente e com a sensação de ouvidos tampados e o barulho me deixou mais alheia ainda. Coincidentemente a professora também estava mal, até brincou dizendo que tinha pensando em ir embora e deixar a turma por nossa conta, mas que tinha passado por isso na própria graduação e não foi legal e por isso não faria — falou em tom de brincadeira, claro. Apenas respondi " que os oprimidos não virem os opressões" rindo da situação. 


Diante disso algumas frases sobre estar cansada e exausta foram soltas. Ela está nessa escola apenas há 6 meses e relata que já está se arrependendo de ter mudado. Entendi naquele momento que realmente tudo ali era complicado, o espaço interno e o barulho externo, a acústica da sala e uma professora que dava conta de alfabetizar de repente no 5° ano. Aos meus olhos as crianças se comportam como aquelas de 5° ano mesmo. As brincadeiras e os desleixos de indivíduos que estão começando a ter que lidar com responsabilidades visto que muitos deles tomam conta do próprio material escolar e que pelo o que notei se esquecem com uma certa frequência. Nada fora do normal, mas que para uma professora que estava acostumada com os menores que certamente tinham mais intervenções dos responsável está sendo desafiador. 


Mudando a perspectiva, os alunos estavam mais tranquilos, mais desfocados, mas sem muitos alardes. Muitos não concluíram a tarefa, parece que não há motivos para fazer, nem que seja copiar as respostas do quadro. A professora logo em seguida começou um breve assunto de geografia pois teria ensaio após o recreio então ela aproveitou para adiantar. Observei que eles se engajam mais em geografia e logo deu a hora do intervalo. 


No intervalo o de sempre, almoço. Até que fomos "benzidos" como disse a Letícia. Foi benzido? Ou abençoados ? Não me lembro, mas foi algo assim. Uma criança, a mesma da grande pauta da última sexta. Ela passou por nós, a princípio dando nossa presença (ela estava contando quantos éramos), depois um beijo do lado direito do rosto, mais uma rodada de beijo no lado esquerdo, exceto que eu recebi no mesmo lugar,direito. E de novo com uma bagunçada no cabelo e mais uma rodada de beijo no braço… Será que a ordem foi assim? Não sei, sei que fomos acalentados por ela naquela tarde, foi divertido e caloroso. Eu só fui saber que essa era a tal criança do relato depois. O recreio havia terminado e fomos olhar o ensaio. 


Formaram-se as filas e começam a coreografia. Mas tudo que vinha na minha cabeça era " se eu fosse supor como aquela criança era mediante o que aquela profissional estava pensando, eu chutaria que ela era uma criança agressiva.." cheguei até compartilhar com meus colegas sobre essa reflexão, sobre jamais pensar que aquela criança de alguma forma desencadearia tal reação. Confesso que fiquei um pouco triste de relembrar essa situação e mais ainda de colocar rosto e personalidade à aquela que estava apenas na minha imaginação. 


Logo acabou o ensaio e voltamos para sala, aula de geografia. O assunto era sobre miscigenação. A professora foi explicar o que era e porque nós éramos um país miscigenado. Desenhou o mapa do Brasil na lousa e foi falar sobre colonização, até que o Luís que estava ao meu lado pergunta: " Tia, em que lugar todo mundo pode ser um carro? " Pensei e respondi que não sabia, e ele respondeu "Sergipe" eu soltei uma mini gargalhada sincera. Foi o bastante pra deixar me deixar leve, até cheguei em casa e fiz a mesma piada para o meu namorado e ri de novo da mesma piada. 


Por fim, a aula acabou rápido. Me despedi da professora, desejei melhoras e tomei um rumo a minha casa.