quarta-feira, 16 de julho de 2025

UMA DIRETORA ENTRE PORTAS E LÁGRIMAS (Nalígia Holanda)

Em uma manhã tranquila de trabalho, estava eu,  sentada na minha mesa, pensando na minha trajetória. Quem diria! Eu, uma estudante madura do curso de pedagogia, chegar aqui, onde estou, como diretora de uma escola, e logo a Escola Alba Frota, que foi o berço do meu aprendizado docente ainda no estágio. Durante esse meu momento nostálgico, eis que algo inusitado acontece. Dois eventos ao mesmo tempo, em que a minha presença foi solicitada.


 Ocorreu que a sala do 1º ano B ficou trancada por dentro, inclusive com a mãe de uma das crianças presentes, e no mesmo instante a professora do 1º ano A saiu da sala de aula chorando por ter sido agredida por uma criança. Respirei fundo, e tentei organizar o pensamento para agir da melhor forma. Recebi a professora do 1º ano A, oferecendo-lhe um copo com água para que ela pudesse se acalmar. Pedi ajuda à coordenadora no sentido de utilizar a caixinha de primeiros socorros para higienizar o ferimento da educadora. Enquanto isso, contactei o máximo de chaveiros possíveis para solucionar o problema da sala trancada.


 Quando finalmente consegui um profissional para destravar a porta do 1º ano B, fui ao encontro da professora agredida para conversar com ela e acolher da melhor forma aquela experiência dolorosa. As lágrimas que escorriam de seu rosto, doeram em mim também, apesar de saber que ela não acreditava que eu pudesse amenizar situações como esta no seu cotidiano.


 Muitas vezes, estar na minha posição como gestora me custa carregar o peso do julgamento e da responsabilidade de todas as frustrações e de todas as deficiências de um sistema que não facilita a promoção de uma gestão democrática. Ser imparcial e ao mesmo tempo atenta às subjetividades, não é uma tarefa fácil. Com isso, pensei em algumas ações para dirimir o ocorrido da agressão. Primeiramente, me propus a conversar com a família, para pensarmos em melhores formas de incluir essa criança. Convoquei uma reunião com o corpo docente para juntos compartilharmos nossos sentimentos e colher sugestões de melhorias no ambiente de trabalho, que atenda não só os aspectos da inclusão, mas o bem estar de todos, professores e crianças. Levarei também o ocorrido para a Secretaria Municipal de Educação, no intuito de prover um amparo psicológico para as educadoras, como também reforçar a necessidade de discussões e assembleias sobre como esse tipo de inclusão não favorece o desenvolvimento da criança e adoece o profissional de educação. De imediato, decidimos mudar a criança de sala, nos próximos dias, para observar como ela se adapta ao novo ambiente.


 Após a conversa, a professora, mesmo com dor, decidiu continuar seu expediente. Aquilo me doeu, porém não insisti para que fosse dispensada, pois infelizmente eu não tinha como substituí-la naquele momento. Quanto à sala do 1º ano B, o chaveiro consertou a fechadura e todos puderam sair. A professora conseguiu conduzir bem a situação, não houve tumultos e até a mãe da criança não reclamou muito. 


Ao final desse dia, percebi que ser diretora da Escola Alba Frota é equilibrar o dever fazer com o que se pode fazer. E uma coisa é certa, quando existe união e as forças se juntam para um bem maior, é possível trilhar um novo caminho, uma nova rota, e continuar seguindo em frente. Por isso, ao mesmo tempo que me vejo como uma gestora responsável por praticar uma gestão democrática, também me vejo como um ser humano que comete erros e acertos, mas que tenta na vivência do dia a dia da comunidade escolar, ser uma aprendiz do digno desafio de fazer acontecer a educação. 


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