Em plena 5 horas da manhã de uma quarta-feira eu já estava acordando. Tomei um café bem reforçado e fui fazer algumas atividades em casa. Por volta de 10h30, já tive que almoçar para ir para o trabalho. Sou professora do 4º ano na escola Alba Frota, que fica a muitos minutos da minha casa e, pelas prioridades da vida, ainda tenho que enfrentar ônibus lotado.
Cheguei na escola por volta de 11h45, fui na sala dos professores, mas o barulho estava ensurdecedor e o cheiro que vinha do riacho próximo queimava as minhas narinas. Então, fui direto para o pátio para a acolhida dos alunos. Depois da acolhida, seguimos para a sala. Eu estava tão cansada, mas mesmo assim dei um "boa tarde" acalorado para as crianças. Até que, do nada, chegou um professor da Universidade Federal do Ceará. Eu ainda não o conhecia. Ele deu "boa tarde", se apresentou e perguntou se eu poderia receber duas estagiárias durante alguns dias. Minha vontade era negar, mas sabe quando você fica sem reação? Acabei aceitando. Porém, é muito difícil para o professor ter duas pessoas o observando direto, fazendo anotações.
Elas chegaram, cumprimentaram a todos, sorridentes, com aquele brilho nos olhos de quem está começando algo novo. Por dentro, confesso que fiquei desconfortável. Já tinha tido experiências não tão boas com estagiários antes e o receio voltou a bater. Mesmo assim, respirei fundo e segui com a rotina da turma. Tentei não dar muita abertura no começo, mas fui observando. Aos poucos, percebi que aquelas meninas não estavam ali apenas para observar, mas para se conectar.
Nos dias que se seguiram, vi algo acontecer que mexeu comigo. Crianças que, até então, pareciam invisíveis na correria do dia a dia começaram a responder melhor, a participar mais. Alunos que eu, por mais que tentasse, não conseguia alcançar por completo começaram a se abrir com elas. Vi escutas verdadeiras, olhares atentos, e percebi que a presença das estagiárias estava fazendo a diferença. Não só para elas, mas para as crianças também. E para mim.
Comecei a permitir pequenas intervenções. Deixei que lessem uma história, que ajudassem com uma atividade. E vi brilho nos olhos dos alunos. Aquilo me desarmou. Como professora, às vezes ficamos tão sobrecarregadas que não percebemos o quanto uma presença nova pode somar.
Mas, como tudo que é bom também passa, o dia da despedida chegou. As crianças já sabiam e estavam com os corações apertados. Eu também. Fizemos um bilhetinho simples de agradecimento e, no fim da aula, nos despedimos com abraços sinceros.
Elas foram embora e ficou um vazio, mas também uma certeza: da próxima vez, vou acolher com mais segurança quem vier para somar. Aprendi que abrir espaço não diminui meu trabalho. Pelo contrário, amplia a potência do que construímos na escola.
E naquela tarde, voltando para casa naquele mesmo ônibus lotado, pensei: ainda bem que não disse "não" naquele dia.
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