quinta-feira, 10 de julho de 2025

A BOA FILHA (Thalita D.)

Era uma quarta-feira aparentemente comum, mas para mim, não era nada comum.
Acordei às 5h com o coração disparado, era meu primeiro dia no novo trabalho. Às 7h já havia chegado na escola Alba Frota. E, curiosamente, não era só mais uma escola. Era a escola onde fiz meu estágio da faculdade, alguns anos atrás.

Entrar ali de novo foi como abrir uma porta no tempo.
Os corredores estavam iguais, a escola estava igual, ou quase, algo estava diferente, parei, pensei, puxei o ar pelo nariz e encontrei o problema, o cheiro estava diferente, finalmente aquele mau cheiro tinha ido embora, quem diria que a associação do professor Eduardo recuperaria mesmo o riacho, né? Respirei aliviada.

Me encaminhei para a sala do 3º ano, agora não mais como estagiária, mas como professora. Sim, professora. A ficha ainda estava caindo.

Logo que entrei, dezenas de olhinhos curiosos se voltaram para mim. Sentei, respirei fundo e me apresentei para eles.

Decidi que naquele primeiro dia não trabalharia nenhum conteúdo formal. Preferi me dedicar à escuta, à criação de vínculo, ao reconhecimento daquele novo universo que estava ali diante de mim.
Apresentei de forma geral o que veríamos no bimestre para que entendessem melhor como iríamos trabalhar.

Voltamos do intervalo e propus uma dinâmica leve para que pudéssemos nos conhecer melhor. Cada um, inclusive eu, faria um desenho que o representasse e depois explicaria o desenho para a turma. No meio de tudo aquilo surgiram algumas piadinhas das crianças e descobri que assim como quando eu era estagiária, não consigo segurar a risada.

Depois disso deixei um tempo livre para eles, caminhei entre as carteiras, puxei conversa com alguns, observei o que faziam com calma.

A manhã voou, e terminou com a sensação boa de quem se reencontra com um sonho antigo. Senti que fui bem recebida e que será uma boa caminhada. 

Fiquei pensando depois sobre o tempo, sobre como ele transforma.
Voltar à mesma escola como professora foi quase como colher algo que plantei sem saber se vingaria. E ali, naquela simples quarta-feira, estava eu, colhendo.

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