sexta-feira, 11 de julho de 2025

DIAS QUE MARCAM (Larisse Sousa)

Naquela quarta-feira, cheguei cedo à Escola Alba Frota. Era o dia da culminância do projeto "O Meu Alfabeto", desenvolvido pelas crianças do 2º ano ao longo das últimas semanas. Eu estava animada, mas também um pouco apreensiva — como sempre fico em dias de apresentação. Mesmo depois de tantos anos na docência, ainda sinto aquele frio na barriga antes de abrir espaço para que os pequenos compartilhem suas criações.

Passei a manhã ajudando a organizar os trabalhos na sala e no pátio, ajeitando os cartazes, conferindo os nomes nas listas, conversando com as famílias que iam chegando. À medida que o espaço ia ganhando cor e som, fui percebendo como as crianças estavam empolgadas. A cada nova chegada, uma explicação, um convite, um "olha aqui o meu!". A escola, naquele momento, era um lugar de pertencimento visível.

Durante as apresentações, me emocionei em mais de uma ocasião. A Louise, por exemplo, que é mais reservada no dia a dia, surpreendeu a todos com a firmeza e sensibilidade ao apresentar a letra L, de Louise e de "Lua". Seu cartaz, colorido e cheio de recortes, trazia frases sobre o que essa palavra significava para ela. Era simples, mas carregado de sentido.

Como professora, ouvir cada criança falar da sua letra, do seu processo criativo, das suas escolhas, me fez refletir sobre como, muitas vezes, subestimamos a potência da escuta infantil. Ali, elas não estavam apenas mostrando um conteúdo aprendido, mas estavam se colocando no mundo — com suas vozes, seus pensamentos e seus afetos.

Ao final do dia, quando os pais e responsáveis se despediram e as crianças foram embora, sentei na sala por alguns minutos e respirei fundo. Estava cansada, sim, mas profundamente grata. Aquela culminância foi muito mais que uma apresentação: foi um encontro real entre escola, criança e família.

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