sexta-feira, 11 de julho de 2025

"EU SOU ESSA REDE, MESMO SEM QUERER SER" (Hanna)

Era mais uma quarta-feira, daquelas que já começam arrastadas. Eu, cansada, contando os dias para as tão sonhadas férias. Desde o começo do ano, não sei o que é ficar completamente bem. Uma gripe mal curada emenda na outra, e a sala cheia, lotada de crianças espirrando, tossindo, com aquelas carinhas abatidas, não ajuda em nada.

A tarde mal começou e eu já sentia aquele peso nas costas, misto de cansaço físico e mental. Enquanto passava pela sala, ajeitando as atividades do dia, meus olhos pararam no Bento. Ele estava ali, encolhido na carteira, rostinho corado e olhinhos baixos. Nem precisava muito pra perceber: Ele não está bem.

Minha primeira reação? Frustração. No fundo, pensei: "De novo? A mãe sabia que ele estava assim e, mesmo assim, mandou pra escola? Parece que eu que tenho que virar enfermeira…"
É difícil não pensar assim no calor do momento, ainda mais quando a sala está cheia e eu tentando dar conta de tudo: ensinar, cuidar e manter o ambiente em paz.

Chamei a coordenação e pedi que ligassem para a mãe. Enquanto isso, sentei ao lado do Bento, ofereci água, coloquei a mão na testa dele que ardia. Por dentro, eu seguia pensando: "Não é justo com ele. Não é justo comigo. Por que insistir em trazer a criança desse jeito? Será que essa mãe não quer cuidar? Será que acha que escola é hospital?"

Mas quando ela chegou…
Minha frustração derreteu na mesma hora.

Ela entrou apressada, com o rosto cansado, os olhos cheios de preocupação e culpa, como quem já sabia o julgamento que estava pairando no ar. Pegou o Bento no colo, com aquele jeitinho de mãe que segura o peso do mundo sem reclamar, e ele, de imediato, se aconchegou nela, aliviado.

Ali, eu entendi.
Não era sobre "não querer cuidar". Era sobre não ter escolha.

Vi, naquela cena, mais uma mãe solo tentando equilibrar tudo: trabalho, contas, a pressão da vida e um filho que só queria colo. A escola ainda é a única rede de apoio que muita gente tem. Eu sou essa rede, mesmo sem querer ser.

Naquele instante, fiquei torcendo de verdade para que o Bento melhorasse logo. Não só pela saúde dele e pelo aprendizado, mas porque eu sabia que aquela mãezinha também precisava dele bem. Ela precisava que ele voltasse à escola, não apenas para aprender, mas porque, infelizmente, enquanto ela luta pela sobrevivência, a gente acaba sendo o único porto seguro.

No fundo, somos todas mulheres tentando não desmoronar.


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