quarta-feira, 9 de julho de 2025

"O PAJEÚ NÃO TEM COMEÇO NEM FIM" (Eduardo)

Acordei com o despertador às 12:30. Desarmei a rede que estava pendurada no jardim de inverno, guardei em meu armário e fui molhar o rosto no banheiro. Hoje faz um mês que resolvi levar uma marmita feita por minha esposa, almoçar e tirar meu cochilo na escola, em vez de ir e voltar em casa na hora do almoço. Desde que fiz essa mudança, tenho me sentido mais disposto para as aulas da tarde. 

Hoje precisei bastante dessa disposição porque faremos uma aula de campo. Desde que eu era professor de estágio que não me conformava com o cheiro ruim que vem do riacho em frente à escola, do Pajeú, que em tupi antigo quer dizer "rio do pajé", rio do líder espiritual indígena. Assim que me tornei professor do 5º Ano da Alba Frota, resolvi fazer um projeto interdisciplinar durante todo o ano para que as crianças conhecessem o rio e pudessem ter empatia e lutar por ele. Desde o início do ano, tudo que estudamos nas mais diversas matérias ligamos ao projeto: estamos estudando a história e a geografia do Pajeú, lendo literatura infantojuvenil sobre ele, usando informações estatísticas sobre ele para aprender Matemática, compreendendo suas características em Ciências e apreciando seu aparecimento nas Artes cearenses; até em Educação Física estamos aprendendo danças relativas ao movimento curvo dos rios. Hoje foi um dia importante pois fizemos o percurso do Pajeú desde sua nascente até sua foz, onde desemboca no mar. 

Após a acolhida da diretora, fomos direto para o ônibus que estava nos esperando em frente ao CDL. As crianças não continham sua excitação e, para dar conta de tanta animação, contei com o auxílio da professora PRB, da professora de Educação Física, de um estagiário e de uma estagiária de Pedagogia da UFC e de minha filha Maria, que faz o 6º ano em outra escola, mas que uma vez por semana vem ser minha estagiária informal no turno da tarde.

Nossa primeira parada foi em uma das possíveis nascentes do Pajeú, na Tibúrcio Cavalcante com Padre Valdevino. Infelizmente, não conseguimos autorização para entrar no terreno, que é todo murado. Algumas crianças subiram em cima do ônibus para tentar ver melhor, mas não conseguiram ver o ponto de água original que tanto queriam, pois já está encoberto. Partimos então para o outro local em que se diz que também pode ser a nascente do rio, no cruzamento da Bárbara de Alencar com a José Vilar, onde já há mais construções e o rio também não é visível. Embora já soubessem disso, devido à nossa preparação inicial, não ver a água nascendo foi uma grande frustração para as crianças. Uma delas disse:

— A gente tem que tirar o Pajeú de baixo da terra!

Fomos então até a Rua J. da Penha, onde o riacho é visível, já com muito lixo e o mau cheiro que sentimos lá em frente à Alba Frota.

Foto: Google Maps

Mesmo tendo visto alguns peixinhos valentes nas águas sujas, as crianças ficaram muito tristes e uma delas disse:

— Além de tirar o Pajeú de baixo da terra, a gente precisa cuidar dele.

Depois, partimos para o Centro, passando novamente ao lado da Alba Frota a caminho do Paço Municipal (sede da prefeitura), onde o rio, embora ainda sujo, é abraçado por árvores como é em frente à escola.

Uma das crianças, já cansada do longo passeio, comentou:

— Esse Pajeú é muito grande!

Fortaleza, CE, Brasil, 04-04-2019: Canal que passa o Rio Pajeú no Centro de Fortaleza. (Foto: Mateus Dantas / O POVO) (Foto: Mateus Dantas)
Foto: Mateus Dantas

Fomos então para a Praia Mansa, onde o Pajeú deságua no mar, entre o Marina Park Hotel e a Indústria Naval Cearense. Infelizmente, também não conseguimos ver a água entrando no mar, devido às construções, o que despertou nova frustração. Uma das crianças, que ainda não tinha perdido a poesia, falou:

— O Pajeú não tem começo nem fim. 

E assim voltamos para a escola. Ainda tínhamos alguns minutos antes das 17h, e ficamos conversando em sala sobre a visita e sobre o que faríamos em seguida para tirar o Pajeú de baixo da terra e cuidar dele. Estamos todos animados para a continuidade do projeto.

*

Para quem quiser conhecer mais sobre o Riacho Pajeú:

- Riacho Pajeú - Da nascente até a foz! Um rio esquecido em Fortaleza (vídeo): 
https://www.youtube.com/watch?v=_IjXTrSavQ4

- Era uma vez um rio: diário de bordo de imersão no riacho Pajeú (blog): 
https://eraumavezumrio.wordpress.com/

- O rio secreto de Fortaleza: análise das consequências da ação antrópica sobre o Riacho Pajeú e suas implicações na paisagem urbana (TCC):

- Os caminhos do riacho Pajeú (reportagem): 
https://mais.opovo.com.br/reportagens-especiais/ecossistemas-de-fortaleza/2020/12/28/os-caminhos-do--riacho-pajeu.html

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