quinta-feira, 3 de julho de 2025

CACOS DE VIDRO (Ana Letícya)

Quarta-feira era pra ser só mais uma quarta-feira. 

Na minha rotina de mãe solo, vivo no modo hard core: pega toalha, acorda criança, manda pro banho, faz lanche, coloca lancheira. A manhã parece uma maratona com tempo curto e tarefas infinitas. Mas no meio da correria, algo me parou.

Meu filho, cabisbaixo na hora do lanche. Um silêncio diferente. Um olhar que pedia ajuda. Às vezes, a pressa do dia a dia nos cega e só percebemos tarde demais.

Sentei, acolhi, respirei com ele. Perguntei o que havia, e ele respondeu com lágrimas. Depois de um tempo, conseguiu dizer entre soluços:

"Mãe, você precisa ir na escola, tão me zoando, me chamando de coisas. E hoje quebraram a janela com a bola e colocaram a culpa em mim."

Foi como um soco. Peguei o celular e vi a mensagem da coordenadora:

"Boa tarde, mãezinha. Estou mandando essa mensagem para que você venha até a escola, pois o seu filho quebrou a janela da secretaria."

Na hora, o sangue ferveu. Mas ninguém conhece um filho melhor do que a própria mãe. E ali, diante do choro dele, eu sabia: ele não mentia.

Fui até a escola com o coração apertado, mas com o olhar firme.

Cheguei na escola Alba Frota, conversei com a coordenação, ouvi o que tinham a dizer, e com calma contei o que meu filho havia me relatado. Aos poucos, os fatos foram se clareando, outras crianças confirmaram o ocorrido e a verdade encontrou o caminho certo. Fiquei pensando o motivo de não terem feito isso antes do meu filho ser acusado injustamente.

A escola ouviu. Dialogou. Se comprometeu a acompanhar mais de perto e isso não só esclareceu os fatos, como fortaleceu ainda mais o elo entre família e instituição. Porque educar uma criança é, antes de tudo, caminhar juntos. E naquele dia, caminhamos na mesma direção.

Voltei pra casa com meu filho, sabendo que naquele dia ele aprendeu algo importante:

Nem todo mundo vai te enxergar de primeira,

mas quando você tem alguém que acredita em você e está disposto a escutar de verdade, a justiça se constrói com diálogo, presença e coragem.

E eu também aprendi:

No meio do caos das manhãs corridas, vale sempre a pena parar… olhar… e escutar. Porque às vezes, a forma mais poderosa de proteger é simplesmente estar ali, inteira.

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