Hoje fui chamada para ir até a Escola Alba Frota, onde estuda meu sobrinho Lucas. Ao atender a ligação da coordenação, fui informada de que ele havia se envolvido em um incidente: teria ferido um colega com um lápis durante uma atividade. Lucas sempre foi uma criança doce, reservada e muito curiosa. Receber essa notícia foi, no mínimo, desconcertante, pois não condizia com o comportamento que sempre observei nele.
Ao chegar à escola, fui acolhida pela coordenadora, que explicou que o episódio ocorreu durante uma atividade em grupo. O colega envolvido era Pedro, um aluno que, segundo relatos, costuma provocar os outros com certa frequência. Apesar disso, a coordenação disse não saber ao certo o que teria levado Lucas a agir daquela forma. Relataram que ele também demonstrou surpresa com o ocorrido.
Enquanto aguardava para conversar com a professora, observei a sala. Lucas estava quieto, visivelmente desconfortável. Pedro, por outro lado, interagia normalmente com os colegas. Era perceptível que havia algo além do incidente pontual. A professora me recebeu com atenção, mas revelou que não sabia como lidar completamente com a situação. Ao mencionar que Pedro "às vezes exagera nas brincadeiras", percebi que o comportamento dele já vinha sendo notado, mas talvez não devidamente acompanhado.
Esse momento me tocou profundamente. Senti um misto de tristeza e preocupação. Lucas nunca foi de reagir com agressividade, o que me levou a refletir: será que aquele gesto foi um desabafo silencioso? Quantas vezes ele pode ter tentado lidar com provocações sozinho, sem saber como se expressar?
Saí da escola com sentimentos complexos. É evidente que ferir alguém não é aceitável, mas também entendo que, por trás de atitudes inesperadas, podem existir dores não verbalizadas. É preciso cuidado ao interpretar o silêncio das crianças, nem sempre é timidez; às vezes, é tentativa de suportar algo que elas não sabem como nomear.
Do ponto de vista pedagógico, acredito que este episódio aponta para a importância de uma escuta mais atenta e de estratégias de acolhimento emocional dentro do ambiente escolar. A professora, mesmo dedicada, parecia não estar totalmente preparada para lidar com esse tipo de conflito, e isso é compreensível, afinal, são muitos desafios no cotidiano docente.
Situações como essa mostram a necessidade de investir em formação continuada, de criar espaços para o diálogo e de promover ações preventivas que envolvam toda a comunidade escolar. O bullying, quando não identificado e cuidado, pode gerar impactos emocionais profundos, tanto em quem o sofre quanto em quem o reproduz.
Como tia, também compreendi que nossa escuta em casa é tão importante quanto a da escola. Precisamos estar atentos aos pequenos sinais, às mudanças sutis de comportamento, aos silêncios prolongados. Talvez, se Lucas tivesse sido ouvido antes, esse dia teria sido apenas mais um capítulo tranquilo de sua rotina escolar, e não um marco de desconforto e questionamento.
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