quinta-feira, 3 de julho de 2025

NO COMPASSO DE TEREZA (Milena)

Na última quarta-feira fui levar minha filha Tereza, de 7 anos, à escola. Ela é uma criança autista e tem dificuldade de acompanhar o ritmo da turma, então precisa de uma acompanhante terapêutica (AT) para ajudar no processo. O problema é que a escola está cheia de demandas e não tem nenhuma AT disponível para ela. Por isso, Tereza tem faltado bastante às aulas, mas recebi um aviso da escola sobre o limite de faltas, então resolvi levá-la.


Acontece que naquela quarta, eu tomei coragem e decidi tomar uma iniciativa. Fui conversar com a diretora e disse que eu mesma ficaria com a Tereza durante a aula, pois não ia mais negar a ela o direito de estudar, pretendia acompanhá-la de pertinho e não aceitaria um não como resposta.


Entrei em sala com ela e a rotina das crianças começou com uma acolhida que a Tereza não quis participar. Ela preferiu ficar no meu colo. Enquanto a professora realizava a acolhida com as outras 20 crianças, fui tentando tirar minha filha do colo. A acolhida acabou e a professora passou uma atividade no quadro e todas as crianças começaram a copiar. 


A Tereza sabe escrever, mas demora muito pra passar do quadro pro caderno, então eu mesma fui copiando por ela. Pra distrair um pouco enquanto eu escrevia, dei o meu celular para ela. Pois, é assim que costumo fazer em casa quando preciso que ela fique mais quietinha. 


Em certo momento, a professora se aproximou e sugeriu que eu ajudasse minha filha em uma atividade com sílabas e imagens. Pediu que eu mostrasse, por exemplo, a imagem de uma bola, dissesse a palavra devagarinho e ajudasse a Tereza a identificar a sílaba inicial. 


Eu achei bem simples e resolvi tentar, mas ela não queria saber da bola, nem da sílaba, nem de mim. Queria o celular! Quando tentei tomar o celular da mão dela, ela me arranhou, jogou tudo no chão e começou a gritar e chorar. Eu sei que devia ter reagido, mas segui sentada na cadeirinha minúscula, pensando no que fazer quanto a toda aquela situação enquanto me sentia sendo devorada pela frustração tal qual um castelo de areia é engolido pela onda do mar.


Senti uma frustração que não cabia no peito por não conseguir ajudar minha filha do jeito que ela precisava, por não saber o que fazer e por não poder desistir. E, confesso também que estava um pouco envergonhada pela situação toda, pelos olhares assustados das crianças, pelo olhar da professora que tentava acalmar minha filha enquanto eu só aceitava a situação e envergonhada, principalmente, por ter achado que era uma boa ideia dar o celular para ela.


A professora até tentou acolher a Tereza, mas aquela altura ela estava muito irritada, agitada e sem conseguir se acalmar. Então sem conseguir pensar numa resolução, eu resolvi levá-la de volta para casa me sentindo completamente impotente. 


Antes de ir embora, a professora me chamou no cantinho e me falou que apesar da Tereza não ficar até o fim da tarde, ela tinha ficado feliz por ela ter ido e pela minha presença também, que compreendia a minha dificuldade e esperava que em breve a escola tivesse mais AT'S a disposição. Além disso, ela me perguntou se eu podia escrever um relato contando a minha percepção sobre a tarde para que ela utilizasse como "documento" para a solicitação de uma acompanhante terapêutica para a Tereza. 


Senti a frustração dando lugar à esperança. No caminho de volta ela já estava bem mais calma e consegui tranquilizar meu coração também, ainda não sei qual será a solução do problema, mas vou seguir dando um passo de cada vez, pois desistir não é uma opção.

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