sexta-feira, 4 de julho de 2025

PORQUE O AMOR NÃO DÁ PARA DELEGAR (Hanna Caroline)

Era uma quarta-feira comum, daquelas em que a gente já acorda cansada só de pensar em tudo que precisa fazer. Saí de casa no automático: criança vestida, lanche na mochila, beijo rápido na testa e lá fui eu encarar mais um dia puxado no trabalho, daqueles com prazos apertados e chefe de mau humor.
No meio da tarde, no auge da correria, o celular vibrou. Número conhecido: escola Alba Frota.
 "Seu filho está com febre, pode vir buscá-lo?"
 
Na hora, meu coração apertou, mas junto veio a frustração. Respirei fundo, pedi pra sair, mesmo sabendo o peso que aquilo traria depois. O chefe não escondeu o olhar atravessado, veio o julgamento de brinde. Peguei minhas coisas e fui, porque não existe relatório, meta ou prazo mais urgente do que um filho doente.
Quando cheguei na escola, Olhei em volta e vi outras crianças na escola, visivelmente doentes, e pensei: Por que sempre eu? Por que outras mães não vêm? Por que eu tenho que largar tudo e sair mais cedo, justo hoje, com tanto trabalho acumulado e o chefe já me olhando torto?

Ao chegar à coordenação, lá estava ele, deitadinho, rosto quente, olhos marejados. Me olhou como quem diz: "Até que enfim, mãe", mas sem cobrança, só alívio. Peguei no colo, mesmo com ele pesando mais do que meu braço aguenta, e fomos embora.
No caminho, ele encostou em mim, meio grogue de febre e sono, e disse baixinho:
 "Eu só queria você aqui, mamãe."
E foi ali, naquele instante simples, que tudo desacelerou.
Sim, foi difícil sair do trabalho. Sim, foi péssimo não ter com quem dividir. Mas naquele momento, ficou claro: o lugar certo para ele era em casa, e o meu lugar era ali, com ele.

Às vezes a gente reclama da escola ligar, de ter que sair correndo, de o mundo não entender o que é não ter rede de apoio. Mas a verdade é que escola não é hospital, e colo de mãe não dá pra terceirizar. Eles cuidaram até onde podiam. Depois, me chamaram, como deve ser.

Naquele dia, eu entendi, mais uma vez, que estar presente, mesmo atropelando tudo, também é uma forma de amar e proteger.
Nem sempre vou dar conta de tudo. Nem sempre vou conseguir evitar os olhares tortos, nem as perdas no trabalho. Mas meu filho precisa saber e sentir que ele é prioridade. Mesmo quando o mundo inteiro tenta dizer o contrário.

Porque, no fim das contas, não é sobre o que a gente deixa para trás, e sim sobre para quem a gente corre quando mais importa.

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