Era para ser um dia comum, daqueles que a gente acorda cedo, faz almoço, limpa a casa e arruma a filha para deixar na escola. E justo nesse dia que eu estava sonhando em fazer a unha, uma hidratação no cabelo, enfim, cuidar um pouquinho de mim.
Pois bem, cheguei na escola da Branca e fui com ela até a sala de aula como de costume. Quando eu já estava saindo aconteceu algo que de início não levei muito a sério, mas depois me vi presa em uma situação que me custou a tarde inteira. Aconteceu que naquele exato momento, a professora de Branca me chamou para dar um comunicado, e de repente a professora auxiliar recebeu uma ligação e precisou sair às pressas. Quando a professora auxiliar saiu, bateu a porta e… parecia mentira, mas a porta emperrou e não abria mais. Eu disse para a professora regente: - E agora? Eu preciso ir, tenho um compromisso!!. E ela me respondeu: - Infelizmente a senhora vai ter que esperar, pois preciso falar com alguém que possa resolver essa situação. Fiz uma cara feia e me sentei em uma cadeira. A professora ligou para a diretora explicando o ocorrido e a diretora prontamente começou a ligar para alguns chaveiros, a fim de solucionar o problema.
Enquanto eu estava sentada comecei a observar. A professora mesmo diante daquela situação conversava com as crianças para acalmá-las. Ela propôs uma roda de conversa com o seguinte tema: Vamos observar a nossa sala de aula, o que você acha que poderia fazer para torná-la mais bonita e aconchegante? E assim, uma por uma, foram falando seus desejos. Pintar cada parede de uma cor, fazer um pequeno cantinho da natureza, com vasos de plantas e flores, desenhar uma amarelinha no chão, foram alguns palpites dados pelas crianças, que já estavam ficando empolgadas com aquela conversa e imaginando como a sala poderia ficar mais alegre e mais parecida com cada um. A professora anotava cada desejo, e mesmo sem ter planejado aquele momento ela começou a perceber que a situação de enclausuramento apesar de ruim estava se tornando um projeto.
Eu achei tão interessante a forma como ela conduzia tudo e digo que até esqueci que não ia mais fazer minha unha. A gente ria de alguns desejos mirabolantes, se admirava com outros bem interessantes e na hora que todos falavam de uma só vez gerando aquela confusão, a professora aumentava o tom de voz e pedia que se organizassem, levantando a mão para falar um de cada vez. Para as crianças com TEA que normalmente não ficavam sentadas, a professora os convidava para participar mas não os obrigava, respeitava seus tempos. Ao final, todos desenharam como queriam que a sua sala de aula fosse, explicando sua produção. A professora fez um varal para expor os desenhos.
Durante esta tarde, eu aprendi muito sobre o papel da educadora. Ao ver sua atuação pude vivenciar a sua rotina, que é atravessada por muitas coisas, como: uma sala de aula pequena para muitos alunos, poucos materiais didáticos e pedagógicos, poucos profissionais de apoio.
Com isso, me senti incomodada em ficar parada só olhando e como eu já estava lá mesmo, resolvi ajudá-la. E logo, lá estava eu, auxiliando os atípicos com suas criações, estimulando outros que disseram que não tinham ideias dando dicas, como: Pense em desenhar algo que você gosta muito e que poderia trazer para a sala de aula.
Assim, as horas passaram e eu nem senti. O chaveiro veio consertar a porta e como já estava na hora da aula terminar, chamei Branca e me despedi da professora e das outras crianças. Quando cheguei em casa me peguei rindo desse dia que começou com uma raiva e terminou com uma vivência diferente, a de saber como é ser professora. Pois é, eu nem sabia que era assim.
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