Como já comentei anteriormente, ser professora não era um grande sonho da minha infância, na verdade eu só quis mesmo a tal profissão lá pelos meus 18 anos, e com ressalvas. Mesmo que de início eu não tivesse muito apreço pela docência, eu tive várias referências que me inspiraram a ser uma boa professora, tais como a senhorita Honey de Matilda, o Mestre Yoda de Star Wars e até o Sr. Miyagi de Karatê Kid. Obviamente que eu não poderia usar a mesma metodologia que a maioria deles, sem dúvida eu seria presa se colocasse uma criança para limpar os carros ou para retirar uma nave de um pântano usando a força do pensamento. (PS: eu sei que a força em Star Wars é mais do que simplesmente a "força do pensamento.")
Enfim, o que eu quero dizer é que eu tinha boas referências, só que agora eu não seria mais professora, eu seria diretora, e nesta categoria não é difícil encontrar maus exemplos. No próprio filme da Matilda, nos deparamos com a terrível Sra. Trunchbull, em Carrossel temos a diretora Olívia, e em Curtindo a Vida Adoidado temos aquele diretor maluco que persegue o protagonista. Além disso, eu não me recordo de sequer uma vez em que eu tenha admirado o diretor(a) das escolas que estudei. Todos eles eram considerados desnecessariamente chatos. Seria esse o meu destino?
Então, com o intuito de subverter esse estereótipo terrível, decidi que não seguiria os modelos da cultura pop, até porque é pra isso que existem os teóricos da educação. Por isso, semanas antes do meu primeiro dia como diretora na Escola Alba Frota, me pus a estudar profundamente os conteúdos referentes à gestão, e cheguei na escola cheia de ideias inovadoras e teoricamente embasadas, porém, a realidade é sempre mais complexa. Quantas demandas! Logo no primeiro dia, eu precisava me reunir com os professores, ouvir as solicitações das famílias e repassá-las à Prefeitura, organizar papeladas, ajustar o calendário letivo, garantir que a escola estivesse pronta para receber as crianças na volta às aulas e ainda pensar nas avaliações externas.
Não foi à toa que o tio Ben disse pro Peter Parker: "Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades". Só que em meio a tantas tarefas, eu só queria me virar para as demandas e dizer: "E quem disse que isso é problema meu?", mas era problema meu. Era minha responsabilidade. Aquilo não era mais sobre "a diretora que eu quero ser", mas sobre "a escola que eu quero ter". Ao fim daquele primeiro dia, saí de lá cansada, mas decidida a voltar, estilo Exterminador do Futuro (só que sem a violência).
O dia seguinte seria diferente, meu pensamento não era mais sobre aplicar teorias, claro que o conhecimento científico é necessário, mas ele seria articulado com uma escuta ativa que se atenta ao que perpassa os corredores da instituição. A partir daquele momento, meu objetivo era construir, junto com os sujeitos que formam a escola, um espaço de acolhida e desenvolvimento. Sei que virão dias de cansaço e estresse, muito provavelmente eu serei vista como uma chata, mas apesar disso, o objetivo que mencionei é para mim mais que um desejo, é um compromisso.
Não acho que será fácil e também não acho que serei a grande "mãe da educação", mas me permita, pelo menos por agora, sonhar com a escola que eu sempre quis, deixe que eu faça dela a minha referência.
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