sexta-feira, 4 de julho de 2025

ATÉ UMA CRIANÇA DO INFANTIL FARIA! (Gabriel Costa da Silva)


Na última quarta-feira, meu filho Gabriel, de 10 anos, aluno do 5º ano da Escola Alba Frota, chegou em casa visivelmente abalado. Ele não quis lanchar, como costumava fazer, e ficou mais quieto do que o normal. Depois de algum tempo, acabou contando para mim e para a avó o que havia acontecido na escola naquele dia.

Durante uma atividade em sala, ele errou uma questão da atividade de matemática. A professora, em vez de orientar com paciência, gritou na frente de todos os colegas: "Isso até uma criança do infantil sabe fazer!" — palavras duras, que deixaram meu filho envergonhado, constrangido e, acima de tudo, magoado.

Quando ele terminou de contar, confesso que meu coração se apertou. A dor dele bateu em mim. Minha primeira reação foi de indignação, mas também de dúvida. Será que eu deveria ir até a escola? Será que valia a pena "comprar briga"? Decidi então conversar com meu irmão, que tem mais conhecimento na área da educação, e pedi sua opinião sobre o que fazer.

Ele me ouviu com atenção, e foi firme ao dizer que aquilo não era apenas um deslize. Era algo sério, que não poderia passar em branco. Explicou que atitudes como essa, se normalizadas, deixam marcas profundas nas crianças e acabam contribuindo para a perpetuação de práticas desrespeitosas dentro da escola. Concordei com ele. Não era só pelo meu filho — era por todas as crianças que poderiam ser tratadas daquela forma.

No dia seguinte, fui até a escola e pedi para conversar com a coordenação pedagógica. Fui recebido com respeito e, para minha surpresa, a coordenadora ficou tão constrangida quanto eu. Disse que se envergonhava do ocorrido, que aquela não era a conduta esperada de um professor da escola, e até sugeriu que chamássemos a professora para conversar juntas. Mas, naquele momento, preferi não. Meu objetivo ali não era constranger ninguém, e sim deixar claro que, como pai, não aceitaria que meu filho fosse humilhado.

No dia seguinte, a professora chamou meu filho e pediu desculpas. Disse que não percebeu o tom em que falou, que não teve a intenção de ofendê-lo. Ele me contou isso com um alívio tímido, mas eu percebi que aquela ferida ainda estava ali, mesmo que mais discreta.

Essa situação me fez pensar sobre o peso das palavras na infância. Um comentário feito de forma impensada pode parecer pequeno para quem fala, mas imenso para quem escuta. A sala de aula deve ser um espaço de acolhimento, onde o erro seja entendido como parte do processo de aprendizagem — e nunca como motivo de humilhação.

É importante que os profissionais da educação reconheçam que sua postura tem um impacto emocional duradouro sobre os alunos. Não basta ensinar conteúdos; é preciso ensinar com respeito, empatia e escuta. Fico grato  pela postura da coordenação, que acolheu minha queixa com seriedade. Mas também fico atento: é preciso que as escolas estejam dispostas a rever práticas, a formar continuamente seus professores e a construir um ambiente mais humano.

Meu filho continua gostando de estudar, mas eu, como pai, fiquei com a sensação de que preciso estar ainda mais presente, mais atento. Porque, às vezes, o maior aprendizado que uma criança precisa é o de que ela tem o direito de ser respeitada — e que, se isso não acontecer, alguém estará lá por ela.

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