sexta-feira, 4 de julho de 2025

VÁRIAS VERSÕES (Renata Feitosa)


Uns dias atrás recebi uma ligação da minha cunhada me pedindo carinhosamente para acompanhar uma reunião do meu sobrinho, visto que ela estaria dando curso e não teria como faltar. — Acho que ela confia em mim pelo olhar pedagógico. Fiquei lisonjeada, mas *muito* nervosa. 


O dia da reunião chegou e eu estava suando frio, embora entenda como tudo irá ser conduzido, era a primeira vez que eu sairia responsável por alguém. Já que iria para escola fui buscar meu sobrinho em casa para levá-lo a escola. 


Chegando na escola notei olhares de " eu não faço ideia de quem seja essa mulher". Claro que a escola foi previamente avisada sobre quem iria participar da reunião, mas eu nunca havia pisado naquela escola então era de se prever. 


Chegando na sala onde seria a reunião individual com a professora regente. Ela começou se apresentando e logo seguiu com a " anamnese" do meu sobrinho e relatou comportamentos distintos do que eu acompanho em casa, e um deles que me chamou atenção foi o mais simples, que na escola no almoço ele come tomate. Sim, tomate! O Saulo detesta tomate. 


É incrível como o ambiente muda tudo. Notei a delicadeza em me informar os comportamentos diversos dele, acredito que isso venha do fato que poucos responsáveis compreendem que não conhecem e nunca irão conhecer suas crianças em todas as instâncias. O que é loucura se for parar para pensar, como que a pessoa que convive "24/7" com outra ser humano não o conhece seus comportamentos por inteiro. Mas como professora consigo compreender que o Saulo terá comportamentos diversos em ambientes distintos e com pessoas diferentes.


Depois de um grande devaneio, acenei com a cabeça e disse que a mãe dele iria amar saber disso, e que tentaremos incluir o tomate que ela disse que ele tanto gosta. Ela pareceu aliviada de não precisar me convencer de que ela falava a verdade. 


Por fim, sai de lá com uma sensação de importância. E que o olhar pedagogico  auxilia muito essa relação escola-responsável. Nem tudo é uma grande confusão. Entender que a nossa criança só é especial pra gente, muita cobrança seria amenizada. 


Se defender de responsáveis que estão apenas olhando para suas crianças sem pensar no coletivo e nos educadores ali presente é uma luta diária dos professores. Tentar se desdobrar em discursos pisando em ovos pois os responsáveis não estão abertos a ouvir e ver outras versões de suas próprias crianças tendo em mente que o seus serão perfeitos e impecáveis. 


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