quinta-feira, 3 de julho de 2025

ENTREGA DE RESULTADOS (Levi)

O céu de Fortaleza amanheceu chuvoso, e diante de um clima tão ameno recebo uma ligação do meu irmão, Joel, que relatou por telefone que estava muito doente e não poderia receber os resultados do boletim escolar de seu filho, que se chama José. Diante da situação, ele solicitou a minha presença como responsável dele na escola para o recebimento dos resultados. Coincidentemente eu não tinha marcado nenhum compromisso no dia e eu estava livre, então topei e fui para a Escola Alba Frota.


Joel estava em processo de separação da sua esposa, a Maria. E este processo tem sido muito doloroso para o José, que tem muito apego ao pai mas que o pai não tem sido muito presente nos estudos da criança. A criação do Joel foi dificil, sempre trabalhou desde criança e ele nunca valorizou os estudos. Diante de uma criação difícil, ele considera que a escola não é um aspecto importante na formação do sujeito e que o caminho a ser seguido desde sempre é o de trabalhar.


Estacionei meu carro numa rua próxima da escola e fui andando até a escola. Chegando lá fui orientado pela secretária o local de entrega dos boletins, que seria na sala do 4A. A professora estava entregando para os pais que estavam chegando e havia uma fila de 3 pessoas na minha frente, aguardei e logo já chegou na minha vez.


A professora Roberta que estava entregando foi ágil com os atendimentos dos pais, então quando chegou a minha vez e me apresentei como o tio de José e ela  me entregou o boletim indicando os pontos fortes e pontos fracos do José. José é uma criança muito extrovertida, gosta de brincar com todos, é uma criança alegre, bastante hiperativa e não deixa ninguém quieto. No entanto, diante do processo de separação dos pais José tem se tornado uma criança indisciplinada e agressiva. Passou a contrariar os comandos da professora e deixou de participar das atividades propostas em sala.


A docente também relatou que José é uma criança que tem sérias dificuldades de leitura e de escrita. Na escrita o José troca os números e as letras, erra na leitura de sílabas e não reconhece ainda certas letras do alfabeto. Diante da situação, a professora fez severas críticas aos pais de José pois eles não estavam instigando José para estudar e isso faria dele uma criança fraca e analfabeta no 4° ano. Por conta de suas sérias dificuldades de leitura e escrita, suas notas eram baixas e ele não alcançou a média da escola. Também criticou o comportamento de José dentro da escola e que ele tem sido uma criança muito difícil e a sua convivência tem sido desafiadora dentro de sala de aula.


A professora em nenhum momento tocou no assunto sobre a possibilidade de José possuir algum transtorno de aprendizagem ou estar em um processo contínuo de sofrimento diante da situação familiar, e por conta disso, não concordei com as críticas da professora Roberta. De fato, os pais de José são ausentes na escola por serem trabalhadores e não possuem disponibilidade de estarem o tempo todo próximo do filho gerenciando o aspecto pedagógico, mas não posso afirmar que são negligentes. Perguntei a professora se ela achava que o José poderia ser um aluno com dificuldades de aprendizagem e ela retruca: "ele somente não escuta o que a gente fala, é um menino muito indisciplinado e muito difícil"


Foi algo duro de escutar, pois José é apenas uma criança que está brincando e vivendo a sua infância. Os seus problemas de aprendizagem não podem ser minimizados ou tratados como frescura por conta de seu comportamento. Diante da problemática, conversei com Joel, não com a intenção de brigar com a professora, mas com o intuito de buscar apoio para José. Levamos José no psicólogo e logo fomos ao psiquiatra para descobrir qual era a dificuldade de José. Logo tivemos o diagnóstico: José possui dislexia. O diagnóstico não foi uma surpresa, pois era perceptível as dificuldades de aprendizagem, então o nosso próximo passo foi buscar apoio na escola para tratar o aspecto pedagógico de José.


A coordenadora pedagógica foi muito solícita e nos atendeu, mostramos o diagnóstico de dislexia e solicitamos um maior apoio pedagógico da professora. Apoio no sentido de suporte pedagógico dentro de sala de aula, propondo atividades e intervenções para José. Após a reunião com a coordenação, conversamos com a professora e explicamos o diagnóstico de dislexia do José. Inicialmente ela se mostrou resistente, pois o aluno é completamente diferente dentro de sala de aula e isto muda a percepção da docente. No entanto, explicamos que não podemos deixar de lado os fatores externos da escola de lado quando se trata de aprendizagem. A professora se prontificou de prestar apoio ao Aluno e pediu desculpas pelo o que havia dito no dia da entrega de boletins


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