quinta-feira, 11 de abril de 2024

“QUAL O SEU DIFERENCIAL ENQUANTO DOCENTE?” (Victoria Rodrigues)

Mais uma semana, mais um relato... Hoje, na primeira aula, a professora Lilica fez a correção da prova de matemática, e soltou a seguinte frase para começar: "Vamos ver onde vocês erraram?" Dei uma olhada nas provas corrigidas, tinham questões sobre adição, subtração, antecessores e sucessores, escrever os numerais por extenso, e as notas foram bem variadas, o Da Vinci (ele adora desenhar), foi o único da turma a tirar 10,0 e como recompensa ganhou uma barra de chocolate (a professora e os alunos fizeram um acordo, quem tirasse 10,0 na prova ganharia um chocolate), enquanto tivemos alunos tirando 0,0/0,5, alguns ficaram entre 6,0 e 8,0, mas não irei entrar nesse quesito no relato de hoje, a professora Lilica fez a correção da maioria das questões, não conseguiu concluir pois o tempo da 1° aula já tinha acabado e a professora Aurora assumiu a turma. Iniciamos então, a segunda aula do dia, a desconhecida Aula de Artes, me refiro a ela como desconhecida, pois como já apresentei em outros relatos, é uma disciplina que não costuma ser trabalhada, e o tempo de aula às vezes é utilizado para qualquer outra atividade. Os alunos utilizaram esse tempo para terminar de escrever a "agenda" e a correção da prova de matemática.

Hoje, tivemos uma presença nova, o Viajante, um aluno da manhã, que faltou na semana de provas, veio no turno da tarde para fazer as provas de língua portuguesa e geografia, a professora Aurora o levou para a sala ainda no primeiro tempo, colocou ele na última cadeira, no canto da sala, enquanto a professora Lilica fazia a correção, e observando aquela criança, comecei a me perguntar "Por que ele não está em um espaço separado?" Afinal, os colegas que já fizeram as provas tinham um ambiente silencioso e "propício" para concentração, enquanto ele tentava fazer duas provas, enquanto havia cerca de 15 crianças conversando simultaneamente e uma professora explicando o conteúdo de outra matéria. A maioria de nós, adultos, já temos certo entendimento sobre os nossos processos de aprendizagem, de concentração, de métodos de estudos, e entendemos que alguns precisam de total silêncio, outros não se incomodam com ruídos, outros (e aqui eu me incluo) sempre escutam música ao estudar, e porque não pensamos nisso para permitir que a criança tenha um ambiente minimamente confortável para completar tal atividade, que por si só, já é estressante? (fiz um desvio, mas ainda não é o ponto principal do relato de hoje, sigamos...), quando a professora Aurora assumiu a turma, os alunos continuaram escrevendo a correção da prova de matemática no caderno, a professora fez anotações no seu diário de turma e depois foi acompanhar como o Viajante estava indo nas provas, não me aproximei, mas consegui ouvir algumas coisas, segue um dos diálogos:

- Escreva o derivado da palavra jardim.

- Não sei.

- Como é o nome do rapaz que trabalha cuidando do jardim?

- Jardineiro!

- Ótimo, escreve aí.

 

Logo após a criança escrever a resposta na prova, a professora Aurora foi explicando o que significa ser derivado, e incentivando o aluno a tentar concluir as demais questões. Depois que o aluno concluiu a prova, foi liberado e a professora já fez a correção (foi um 7,6).

Após o intervalo, iniciamos as aulas de ciências, e a professora Aurora me contou uma situação que aconteceu com ela na última semana, ela ouviu um dos alunos fazer um comentário desrespeitoso e perguntou "Que tipo de conversa é essa dentro de sala de aula?", o aluno prontamente negou que havia feito qualquer comentário desrespeitoso e a professora insistiu que tinha ouvido, então ele pediu desculpas e sussurrou para um de seus colegas "A professora tá ficando cada dia mais louca". Ela deixou a situação passar, mas começamos a nos questionar, "Porque uma pessoa ouviu algo, ou como alega o aluno, pensa que ouviu, ela é louca?", "Se tá ficando mais, então é porque já era louca antes?" (Ainda não tenho essas respostas, mas registro as perguntas aqui, caso alguém queira se aventurar em respondê-las, sinta-se à vontade).

Toda quarta-feira, antes do estágio, tenho minha sessão de psicoterapia (saio da sessão direto para a escola, a BR 116 e a Av Aguanambi são as telas de fundo na minha cena de reflexão encostada na janela do ônibus #emodosanos2000), e justamente hoje, a Orquídea (apelido que atribui para/ a terapeuta) me fez o questionamento que intitula este relato, "Qual o seu diferencial enquanto docente?" (disse que responderia próxima semana, provavelmente não irei KKKrying), mas passei a tarde pensando sobre isso, sobre os relatos dos meus colegas, sobre os exemplos que tenho na graduação, sobre as professoras que abrem as suas salas para estagiários, sobre as minhas concepções e experiências e me questionei, "Será que sou a professora que só aponta os erros e 'insuficiências'?" "Será que sou a professora que fala firme demais?" "Será que sou a professora que não traz ludicidade para a sala?" "Será que sou a professora que está tão preocupada em não ser 'carrasca' e está se tornando a mãe que mima?" "Será que eu sou uma professora que só se prende ao idealizado/utópico?" "Será que eu sou uma professora?". E agora, enquanto escrevo esse relato, concebi uma resposta, o meu diferencial enquanto docente, está em mim mesma, enquanto pessoa, aluna, professora, filha, irmã, ser político e social, só eu trago minhas experiências, só eu sei das minhas concepções, crenças e sentimentos, não se trata de algo específico que salta aos olhos, mas sim, de um conjunto complexo de características e atributos que me constroem, destroem e reconstroem diariamente.

A você, que está lendo/ouvindo este relato, te convido a refletir sobre isso também, você pode se surpreender com as descobertas. 

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