sexta-feira, 5 de abril de 2024

LUZ NO FIM DO TÚNEL (Eduarda Lacerda)

Pensando como me sinto hoje, me leva a reflexão de como me sentia antes e de como me senti ontem. Antes eu queria desistir de tudo, estava destinada a mudar de profissão e apenas concluir a faculdade. Perdi as contas de quantas vezes eu pensei assim. Ontem, ao chegar na escola, depois de alguns gastos para estar ali e um esforço grande, me senti anestesiada, mas essa anestesia era de cansaço, a sensação era que cada dia eu me sentia ainda mais cansada, só me vinha uma coisa na cabeça: "Estou longe de casa há tanto tempo E com o tempo se aprende Tão inútil é o orgulho Passageiro é o mundo E que importância tem os medos Se serão irrelevantes com o tempo? Viver é só um ensaio de uma vida eterna Nesta vida eu nada ganho Meu vazio é do teu tamanho Eu só queria voar, tudo pra trás deixar" -Voar: Marcela Taís Porém eu me permiti viver o que estava sendo proposto a mim. Foi então que entrando na sala vi a professora com provas em mãos e com o desejo ardente de que as crianças tirassem notas boas. O problema era que, no meu ponto de vista, aquela não seria uma boa vertente para um bom desempenho daquela avaliação, ou de nenhuma avaliação. Descrevendo aquela cena, foi a seguinte: apenas a professora estava com a prova em mãos e ia lendo, questão por questão e respondendo as mesmas. Em um determinado momento fez até uma certa repetição: sudeste, sudeste, sudeste e depois vocês pintam o que? -Sudeste! _Todos responderam_. Finalizou com a seguinte frase: depois dessa revisão não é possível que vocês não tenham decorado. Muitas pessoas iriam ficar assustadas e/ou até mesmo revoltadas, porém me gera uma série de reflexões, a maior delas é: os mais afetados são o aluno e o professor. Sigo refletindo, e penso que dos dois o que mais pode promover mudança para o grupo, ainda que no mínimo de seu esforço, é o professor e individual, a criança, que não está isenta de suas responsabilidades. Sem militância ou julgamento, ouso dizer que entendo o seu completo desespero (da professora), ela verbaliza, olhando pra mim: as vezes me sinto incompetente. (Pois apesar de todo aquele "esforço" para fazê-los "decorar" eles ainda não tinham "decorado" e obtido a nota desejada) No que tange ao professor, quando se tem apropriação do conteúdo e quando conhece as formas de aprender de seus alunos, obtém-se o sucesso da aprendizagem em quase 100%. Penso também que conhecer o nível de aprendizagem da turma, não haveria necessidade de elaborar questões com palavras que não fazem parte do vocabulário e uma prova visivelmente bagunçada, estamos falando de prova, um simples papel que trava muitas crianças, uma forma avaliativa, todo o conhecimento daquele tempo aprendido de resume a 10 questões. Quando se "decora" algo, perde-se a apropriação do assunto e eu vejo o meu processo escolar neste contexto. Hoje me pego pensando em quantas vezes estive em rodas de conversas, não pude contribuir com meu conhecimento, pois apesar de saber o que estavam falando, eu não conseguia interpretar a temática do assunto. Por exemplo: perguntar qual seria a natalidade para eles, iriam confundir alguns, mas se perguntar qual seria a quantidade de pessoas nascidas daquela população, iria trazer mais esclarecimentos, contudo minha visão critica é: a criança precisa saber e ter contato com palavras assim, com essa terminologia, para entender e aprender, e assim ser inserida em um mundo político. Quando elas recebem a prova e veem a palavra _natalidade_, elas até conhecem o conceito, mas pelo nome (que é o ideal a ser estudado) engancha na prova e não sabe "responder", porque não lembra o que significa "natalidade". Ainda em defesa do professor, a sala é pequena, a turma é numerosa, com algumas demandas. Mas a escola disponibiliza de alguns espaços, então sair daquele cubículo sufocante e ir para algum espaço maior, já seria algo positivo e talvez trariam mais esclarecimentos dos assuntos que, por vezes, são complexos e acabam ficando subjetivos. Após a prova eles foram para o lanche e depois intervalo. Ao voltarem fizeram uma prova de artes que eu achei que era uma folha de rascunho de tão feia que estava (me desculpem), toda borrada, quase que ilegível, completamente infantil, em resumo: era um caça palavras. Essa questão da prova mexeu comigo, porque não adianta reclamar na aplicação dessa avaliação, quando a avaliação necessária não está sendo feita. Acreditem, as intenções da professora são boas, ela só precisa, assim como nós caprichar, ter consciência do que está sendo passado e de como está sendo passado. Esse assunto, pra mim, levaria algumas horas ou dias, então encerro ele por aqui, pois nada mais me impactou no dia, tanto quanto essa situação. E a luz no fim do túnel, apesar de ter sido uma visão 90% negativa sobre o sistema e não sobre o professor, pude ver e ouvir a autonomia que o professor tem, que pela falta dela hoje me sinto sufocada e estava me fazendo desistir. De repente senti esperança e eu não quero mais perde-la.

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