quarta-feira, 3 de abril de 2024

NÃO JULGAR E NÃO SER JULGADO (Eduardo)

É estranho apenas ler os relatos de vocês, e não escutar a voz de vocês lendo, não olhar pra vocês, não perceber as emoções na leitura, não perguntar nem conversar. Walter Benjamin diz que as melhores narrativas escritas "são as que menos se distinguem das histórias orais", e eu senti falta de ouvir os relatos diretamente de vocês.

Quando eu pedi que vocês evitassem julgar as professoras, mas tentar compreendê-las, eu não esperava ser atendido tão rapidamente. E só agora percebi um efeito colateral desse não julgamento da outra pessoa: a revelação de si. Porque, quando evitamos julgar as outras pessoas, aumentam as chances de não nos julgarmos. E isso nos deixa mais à vontade para expressar nossos possíveis "erros", já que sabemos que não haverá julgamento em relação a eles também.

No espaço vazio que antes era do julgamento, surge a semente da curiosidade, da percepção e da compreensão. Nós ainda vemos o que está "errado", mas, em vez de nos apressarmos a descobrir os "culpados", nós juntamos informações para tentar entender o que está acontecendo. E esse conhecimento vai ser útil na hora de planejar as regências, e realizá-las, e contá-las, e refletir sobre elas, sempre sem julgamento.

Na quarta-feira passada, minha "regência" foi ajudar a bibliotecária a entregar os kits de material escolar para mães, pais e outros responsáveis. Abrir caixas, transportar kits, desmembrar caixas. Um trabalho braçal que me permitiu conhecer mais os adultos de nossas crianças, além de trazer alívio e sorrisos para a bibliotecária.

E depois dos recreios, ouvir mais das professoras. E também falar de mim. Um dia mais tranquilo, mais seguindo o fluxo. Na volta a pé pra casa, experimentei um novo caminho: outras ruas, calçadas, casas... A mudança muitas vezes é silenciosa, de experiência em experiência, fazendo pequenas novas escolhas.

Que julgamento eu não farei nesta quarta? E o que vocês terão pra me contar na próxima sexta?

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