quinta-feira, 18 de abril de 2024

NOITES ENSOLARADAS (Eduardo)

Tem gente que acha que o professor deve apagar o quadro ao final da aula em respeito ao professor da aula seguinte. Pois eu prefiro apagar o que o outro professor escreveu para ter uma ideia do que aconteceu na aula anterior. Sejam fórmulas matemáticas, conceitos filosóficos ou meros rabiscos, minha curiosidade se alegra em imaginar o que aconteceu naquela aula.

Na sala em que temos aula de estágio, com acesso restrito apenas aos professores que têm chave, os "restos" da aula anterior são mais perceptíveis. Sexta-feira passada, sobre as mesas, havia alguns desenhos...


Uma de vocês, que já havia feito a disciplina de artes, explicou a técnica: uma pintura colorida a lápis na folha, coberta por uma pintura com tinta preta, e o desenho final feito com palitos rompendo a camada de tinta. Técnica que bem poderia receber o nome de "noite ensolarada", feito o título que uma das alunas deu ao seu desenho.

Também poderíamos chamar de noite ensolarada tanto a nossa experiência na escola quanto os próprios relatos. 

Algumas vezes, vamos para a escola como se o desenho de nossos sentimentos estivesse coberto por uma camada escura. No contato amoroso com as crianças, que funcionam como palitos, vamos abrindo clarões em nosso sentimento.

Podemos considerar também como palitos os relatos de vocês, que vão traçando esperança na escura realidade da educação pública.

E esta greve pela qual estamos passando? Seria uma camada de tinta escura? Ou seria um palito para atravessar a situação crítica da educação brasileira nos últimos anos?

sexta-feira, 12 de abril de 2024

CÓPIAS ATÉ À MORTE, DESGOSTO DAS LETRAS E CONFISSÕES PEDAGÓGICAS (Rian Rodrigues)

Ainda que esses registros sejam voltados para as nossas experiências na escola, eu não poderia deixar de mencionar o nosso último encontro na faculdade, na sexta-feira passada, porque esses momentos têm sido muito marcantes para mim. Foi muito enriquecedor ouvir cada relato e compartilhar experiências, reflexões e discordâncias, e aprender várias coisas nesse processo, como um olhar mais sensível para considerar o lado do professor e sua realidade, como um ser humano (como alguém que enfrenta problemas, que sofre, que experimenta a perda e o luto, que se cansa, que fica desanimado, que pensa em desistir); a desvalorização do pedagogo (ou dos "tio" e das "tia") no imaginário social; o compromisso e o papel social do professor com a educação pública de qualidade; a importância do planejamento docente; dentre outras coisas. Eu tenho falado para algumas pessoas que, para mim, esses encontros "parecem terapia", e, a cada semana, eu me sinto ansioso pela próxima sexta-feira (e não só porque está mais perto do final de semana).


Já a nossa quinta ida à escola foi mais um dia em que pude interagir com as crianças, ouvi-las e descobrir mais sobre seus interesses. Logo quando cheguei, acompanhei as crianças na fila para a sala, cumprimentando-as e perguntando como elas estavam, e, na sala, eu passei pelas cadeiras de algumas crianças para conversar com elas. Rosa, Gustavo e Abner me falaram sobre alguns jogos do Roblox que eles gostam. Gustavo também me falou que tinha uma espada de verdade (uma "katana") que cortava tudo. Noah me abraçou duas vezes e disse: "Tio, eu tava com tanta saudade de tu." Marcelo me mostrou seu suco, que tinha uma cor diferente, e me pediu para adivinhar de que era. (Era guaraná)


À medida que eu interagi com essas crianças ao longo do dia, me veio à mente que, na educação infantil, existem as rodas de conversa (que supostamente deveriam ser o espaço para as crianças se comunicarem e falarem sobre seus interesses e pensamentos). Mas, assim que as crianças chegam no fundamental, elas são silenciadas e impedidas de compartilhar suas ideias e desejos, sendo que elas têm tanta coisa pra falar! Elas querem contar sobre os jogos preferidos delas, sobre Roblox, sobre suas 50 Ferraris e suas espadas mágicas. Então por que não temos um espaço para ouvi-las?  


No início das atividades do dia, a professora informou que havia trabalhado Ciências no dia anterior e iria trabalhar de novo, porque estava atrasada no livro. Regina começou com o visto na atividade de casa, só que, como poucas crianças haviam feito, ela decidiu resolver junto com elas. A professora expressou insatisfação com o fato de que muitas famílias não olham a agenda nem a tarefa de casa (e essa relação e ausência da participação de algumas famílias parece ser um ponto de bastante fragilidade dentro desse contexto, que impactam as crianças de diferentes formas).  


Após esse momento inicial, Regina começou a resolver outras atividades do livro didático de Ciências, cuja temática era sobre os dentes de leite e os dentes permanentes. Eu vi que o livro didático trazia uma sugestão de um livro de literatura infantil que narrava uma história de uma criança vivenciando esse período da sua vida em que seus dentes começavam a cair ("Tem uma janela na minha boca", era o nome da história). Não conheço o livro nem os autores, então não posso falar sobre a qualidade da história, mas eu pensei em como talvez fosse legal iniciar a aula com a leitura desse livro ou de algum outro livro de literatura infantil dentro desse tema, com finalidade de deleite, e explorar com as crianças suas experiências relacionadas a arrancar dentes (o que seria uma ótima oportunidade para elas falarem e se expressarem), para, então, abordar a temática dos dentes de leite da perspectiva das Ciências. 


Ainda no primeiro tempo, Regina nos avisou que estava com uma demanda relacionada ao preenchimento do diário com as notas da sua turma do 5º ano, e, por isso, no segundo tempo, as crianças iriam copiar o texto do livro didático sobre dentes de leite, enquanto ela realizava esse trabalho. "Elas vão copiar esse texto nem que não queiram… Até morrer."


Ela também falou para nós que, no segundo tempo, nós seríamos seus "vigias" e que iria nos colocar para trabalhar, enquanto ela preenchia os diários. "Quando eu olho para vocês, meus olhos brilham. Vocês são minha salvação. Hoje vocês vão trabalhar; vocês vão ser os professores deles." 


Ela nos deu o poder do pincel, isto é, a tarefa de escrever na lousa o nome das crianças que ficavam em pé (e, caso chegasse a três ocorrências, a criança ficaria sem recreio). (Peço perdão pelo excesso de parênteses, mas julgo necessário acrescentar mais um para acalmar vocês e informar que nós não fizemos uso desse "poder"). Frequentemente, a professora demonstrava bastante insatisfação quando as crianças ficavam em pé na sala, inclusive quando elas se levantavam para falar conosco, mesmo que ela ainda não tivesse começado de fato a aula ou que as crianças já tivessem concluído a atividade. Porém, ela não aparentou ter nenhuma indisposição com a gente diante desse fato, porque ela disse para as crianças que estavam mais próximas de nós que elas podiam conversar conosco sentadas em seus lugares. (Se ela tivesse algum problema com a gente, muito provavelmente ela deixaria aparente!)


Como parte das nossas atribuições do dia, ela também nos encarregou da tarefa de escrever os nomes das crianças nas capas dos livros de Português e Matemática. Além disso, ela nos relatou outras expectativas que tinha a nosso respeito: "Se vocês ficassem mais tempo no estágio, eu ia pedir reforço para esse aqui e esse aqui", falou, apontando para duas crianças que, segundo ela, estão com mais dificuldade no processo de alfabetização. Ela nos contou que, nos estágios de anos anteriores, ela encarregou os estagiários de fazerem algumas atividades com crianças específicas que ainda tinham dificuldades na escrita, inclusive do próprio nome. 


No recreio, eu cumpri a minha promessa: como era o último dia antes da greve, eu brinquei de pega-pega, corri e suei com as crianças (logo depois de ter comido o bolo delicioso que Liara me ofertou. Não recomendo correr após comer; nossas mães estavam certas). Apesar de alguns problemas no intervalo envolvendo colisões entre crianças, choros e gelos na cabeça, elas demonstraram ter se divertido bastante com esse momento. 


No segundo tempo, depois do recreio, a professora Regina não trabalhou Arte novamente, mas, como havia nos informado previamente, passou uma atividade para as crianças copiarem um texto do livro de Ciências, enquanto ela passava as notas da sua turma do 5° ano para o diário. Esse foi o episódio que mais me marcou nesse dia e que mais me deixou triste. 


Uma das crianças, Camila, estava com muita dificuldade de copiar o texto e frequentemente se perdia nas palavras, então eu fui sentar perto dela, para auxiliá-la. Ela olhava para o seu caderno com um semblante extremamente angustiado, como se estivesse a ponto de chorar. Quando eu perguntei a ela porque estava assim, ela me respondeu: "Eu não gosto dessas letras". Depois, ela me falou que não gostava de fazer texto, porque demorava demais.  


Embora eu mesmo estivesse angustiado com aquela atividade, por ver como aquilo estava sendo desgastante e sem sentido para Camila, que olhava com tanta aflição e ansiedade para as letras das quais ela desgostava, eu tentei ajudá-la de alguma forma, já que eu não podia confessar para ela que realmente eu também odiaria as letras se eu fosse obrigado a fazer aquilo. Eu tentei apontar algumas estratégias para ela não se perder, como observar as letras das palavras; com qual letra começava e terminava a palavra; procurar a última palavra que ela havia escrito no caderno; seguir a linha do texto… E ela conseguiu continuar a cópia com um certo nível de autonomia, apesar de se perder eventualmente e eu precisar novamente ajudá-la a retomar. 


Porém, no final da aula, quando estava próximo da hora da saída, Camila ainda estava tentando copiar o texto e, ao perceber que não ia dar tempo de terminar, ela começou a chorar intensamente. Aquilo realmente partiu meu coração. Não se tratava, como alguns costumam pensar, da postura de uma criança "preguiçosa" que não queria escrever, mas de uma criança em agonia com uma atividade que parecia sugá-la cognitiva e emocionalmente, porque não tinha o menor sentido para ela e não a estava ajudando a aprender a escrita de maneira significativa. E isso, para mim, era evidente pelo fato de ela se perder tão frequentemente na cópia, porque a atividade não a auxiliava a identificar e reconhecer melhor as palavras que ela estava escrevendo. Ao tirar os olhos do livro por um momento, quando ela voltava, nada daquilo fazia sentido para ela. Era só um monte de letra misturada que ela não gostava.


Com isso, podemos lembrar da crítica de Vygotsky às concepções, já presentes em sua época na Psicologia e na Pedagogia, que enfatizam o aprendizado da escrita como um mero ato de habilidade motora, desconsiderando o complexo processo cognitivo e sociocultural envolvido nisso. "Ensina-se as crianças a desenhar letras e construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que se acaba obscurecendo a linguagem escrita como tal" (Vygotsky, 1984, p. 119 apud Rego, 1994, p. 68-69). 


Por isso, Dangió (2017, p. 70-71, grifos meus), fundamentada na teoria de Vygotsky, destaca:


À vista disso, a necessidade de escrever precisa ser engendrada em situações volitivas no processo de aprendizagem, requerendo um alto grau de consciência desse processo de apropriação da escrita como um complexo instrumento cultural. Isso postula um planejamento pedagógico da escrita como prática de uso social. As condições didáticas devem impulsionar o motivo para escrever, com objetivos claros e direcionadores da atividade [...].


Posteriormente, refletindo sobre esse episódio, eu percebi que, quando eu mesmo tive que copiar o nome das crianças da lista de frequência para a capa dos seus livros, depois eu nem conseguia lembrar se tinha escrito alguns nomes, porque, após um certo tempo, aquela atividade se tornou mecânica e automática, mesmo que aquela escrita tivesse um propósito para mim. E eu fiquei pensando no quão improdutivo e exaustivo deve ter sido para Catarina escrever de forma mecânica algo que, para ela, não tinha propósito algum e que depois ela não iria sequer lembrar. 


Para pontuar, eu não acho que a cópia e a memorização por si só são recursos negativos, "tradicionais" ou tecnicistas, até porque, no nosso próprio cotidiano, existem muitas situações em que há a necessidade de utilizá-las: como copiar um número de telefone ou um endereço de algum lugar; copiar os nomes das crianças na capa dos livros, dentre outras possibilidades. Eu acredito que essas práticas são aquilo que o professor e o contexto pedagógico fazem delas, de modo que elas podem ser contextualizadas e significativas, ou podem ser sem significado e emocionalmente desgastantes.  


Além disso, poucas crianças estavam realmente copiando esse texto, e a professora tinha consciência disso. Pelo que ela nos explicou, a atividade serviu basicamente como uma forma de preencher aquela lacuna de tempo das crianças enquanto ela escrevia nos diários do que propriamente promover uma intencionalidade pedagógica mais sistemática.


Quanto a mim, eu me senti muito angustiado diante de toda essa situação, porque eu vi mais uma ilustração viva de como práticas associadas a uma concepção pedagógica mais tradicional sugam as crianças (tanto no aspecto cognitivo quanto no emocional) e tiram não só prazer como o próprio sentido da aprendizagem (fazendo-as desgostar até mesmo das letras! – logo aquilo que deveria ser uma ferramenta para se brincar e interagir com outros).


Diante de alguns aspectos que eu já relatei até aqui sobre a professora Regina, eu tenho refletido sobre o fato de que a prática pedagógica de um professor é algo muito mais complexo do que um rótulo é capaz de emoldurar. Em uma das aulas da disciplina de Docência no Ensino Fundamental, que estou fazendo esse semestre, discutimos sobre como as práticas docentes não são "puras" ("ou isto, ou aquilo"), mas envolvem uma interrelação, e até mesmo uma "mistura", de diversos elementos que revelam diferentes tendências e concepções pedagógicas. Como destaca Silva (2010, p. 68)


Analisar a prática pedagógica do professor exige mais do que uma compreensão semântica da expressão; exige a percepção das concepções que fundamentam essa prática e da intencionalidade revestida nela, que transcende a mera aplicação de metodologias ou de técnicas.


Por isso, a autora afirma que não podemos enxergar a atividade docente como "um conjunto de ações desarticuladas e justapostas, restrita ao observável", visto que ela "envolve consciência, concepção, definição de objetivos, reflexão sobre as ações desenvolvidas, estudo e análise da realidade para a qual se pensam as atividades." (Silva, 2010, p. 68)


Assim, no caso da professora Regina, suas falas, comportamentos, concepções pedagógicas implícitas e explícitas, suas metodologias (que ora se complementam, ora se contradizem; ora conservam, ora criam e ousam), tudo isso reflete uma complexidade de fatores da sua formação pessoal e profissional, da sua identidade, da sua ética etc. Além disso, são elementos que, para mim, tornam evidente que não há prática pedagógica sem teoria por trás, ainda que implícita. Concordo com Giugno (2002, p. 115) quando ela afirma que "A prática pedagógica de todo o professor carrega, por trás de suas ações, um conjunto de ideias que as orientam. Mesmo não tendo consciência dessas ideias, dessas concepções, dessas teorias, elas estão presentes." Portanto, sem uma constante postura crítica e reflexiva do professor a respeito da sua própria prática docente, bem como de uma formação contínua, a tendência é reproduzir e imitar aquilo que já nos é familiar, ainda que apresente inconsistências e contradições.  


Em meio a isso tudo, cada vez que eu chego mais perto do fim do curso, as questões relacionadas à minha competência profissional e consistência pedagógica têm se tornado objeto constante de reflexão (e, devo dizer, de receios). Peço perdão por fazer desse espaço um confessionário pedagógico, mas eu tenho muitos questionamentos sobre a minha capacidade de lidar com uma sala de aula, pela minha falta de experiência prévia, principalmente no Fundamental. Às vezes, eu tenho medo de ser idealista demais na minha maneira de enxergar a realidade da sala de aula e as crianças, como se as coisas fossem mais fáceis de lidar do que realmente são. Eu tenho receio de "poetizar" demais a sala de aula como eu "poetizo" os meus relatos. Eu tenho medo de chegar "despreparado" na minha atuação como professor e de ser incompetente, de não conseguir ter mais tempo, energia e criatividade para pensar em coisas novas quando eu já estiver na escola, por ser vencido pelo cansaço, pela correria intensa da rotina e pelas pressões burocráticas do sistema. Eu tenho medo de não conseguir ter uma postura crítica e reflexiva quando eu for professor, embora seja algo que eu defenda hoje. Eu tenho medo de não conseguir lidar com as crianças no cotidiano, por não ter o respeito delas enquanto professor. Eu tenho medo de ser inconsistente e incoerente.   


Como eu tenho destacado até aqui, eu vejo essa turma de 1º ano que estamos acompanhando como uma turma tranquila e muito boa de se trabalhar. Porém uma das coisas que eu penso, por exemplo, é que talvez a turma só seja mais "tranquila" desse jeito porque eles andam "na linha" com a professora Regina. Então o que eu suponho ser "fácil" de trabalhar com eles hoje pode ser resultado de todo um trabalho prévio dessa professora em garantir essas condições de comportamento e disciplina. 


Só que, por outro lado, pelas minhas concepções pedagógicas, eu fico pensando nesses recursos utilizados pela professora para gerar disciplina e controle sobre a sala de aula, como o poder do pincel de tirar o recreio e as exigências constantes de que as crianças fiquem sempre sentadas, como algo que eu não gostaria de utilizar – embora eu acredite, sim, que seja necessário ao professor estabelecer disciplina e autoridade em sala de aula, para que, como destaca Paulo Freire (2013), a liberdade não se torne libertinagem. Mas será que, quando eu estiver na minha própria sala de aula como professor, eu não vou utilizar recursos semelhantes? Será que eu mesmo não serei um profissional contraditório e incoerente?


Em um estágio anterior, eu tive uma experiência com uma turma do 2º ano do Fundamental que era bem mais agitada, porém a professora tentava controlar de forma mais rígida (embora sem sucesso). E, quando nós fizemos a tentativa de levar atividades mais lúdicas, que contavam com a participação mais ativa das crianças, foi como abrir os portões de um zoológico. Por serem atividades que lhes permitiam maior liberdade de ação e movimentação, elas aproveitaram a oportunidade para "se soltar", já que estavam mais acostumadas a um modelo mais tradicional e inflexível. 


Embora essas experiências tenham me frustrado na época, elas não me fizeram desacreditar da possibilidade de levar a ludicidade para a sala de aula e de valorizar o engajamento ativo das crianças no processo de aprendizagem. Porém, elas me fizeram perceber que isso não é um trabalho fácil, muito menos uma construção repentina, como se fosse dar tudo certo na primeira tentativa. É um processo (cotidiano) que exige mais tempo do que o que nosso estágio possibilita. E pensar nisso, de certa forma, também me faz ter um maior respeito e consideração por essas professoras que estão ali diariamente, construindo esse trabalho tijolo por tijolo, mesmo que eu discorde de alguns (ou muitos) aspectos dessas práticas.   


Apesar dos meus medos, uma coisa que eu tento lembrar, em meio aos surtos pedagógicos, é que ser professor é uma tarefa inacabada. Muitas vezes eu penso na minha formação e capacitação profissional como algo pronto e acabado, como se eu já precisasse chegar em sala de aula "perfeitinho", como o "melhor professor", e como se eu só tivesse esse momento atual da graduação para investir na minha formação. Só que eu vejo que, apesar das boas intenções, essa postura chega a ser não só ignorante, como também arrogante, porque nós somos criaturas frágeis, finitas e limitadas, e nunca estaremos "prontos" e "acabados" aqui. Na realidade, como destaca Paulo Freire (2013, p. 51), "o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento.".


É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade. (Freire, 2013, p. 57, grifo meu)


Diante disso, tenho tentado, já há um tempo, refletir sobre o fato de que ser professor não é chegar pronto em sala de aula, mas se trata de uma construção cotidiana, visto que certos conhecimentos e competências só são trabalhados e desenvolvidos a partir de uma dimensão vivencial e prática, na qual a teoria vai se materializando, se enriquecendo, se modificando e assumindo novos contornos, em um constante processo de ação-reflexão-ação (Silva, 2010). Afinal, a realidade é que nenhuma sala de aula é igual, porque os educandos não são iguais, de modo que sempre haverá novos desafios para o professor em seu exercício profissional. Isso porque a educação envolve um processo de relações interpessoais, e lidar com pessoas não vem com uma fórmula mágica ou uma receita infalível (quem dera), até porque não são objetos a serem manipulados, mas sujeitos com os quais interagimos.


Billy Joel tem uma música que eu gosto muito, chamada "Vienna", e eu sempre lembro dela nessas situações (de surtos), principalmente o trecho em que ele canta: "Slow down, you're doing fine. You can't be everything you wanna be before your time." ["Desacelere, você está indo bem. Você não pode ser tudo o que quer antes do seu tempo."]. Isso me lembra que eu não posso nem preciso tentar ser tudo o que eu quero ser agora, em termos pessoais e profissionais; que eu não preciso saber de "tudo" da Pedagogia agora ou ser o "melhor professor" hoje. Como já dizia o sábio, há um tempo para cada ocasião e propósito debaixo do céu (Eclesiastes 3:1). "Hoje" não é a "única" oportunidade que eu tenho para estudar e me aperfeiçoar na minha profissão. Cada estação da minha vida trará novos desafios próprios para serem vivenciados, de maneira que não dá para esperar que, na minha estação atual, eu já esteja pronto para tudo o que virá pela frente. Inevitavelmente, haverá inconsistências e contradições no processo – senão, não seria mais processo, e sim produto. Mas o importante é ter consciência desse inacabamento e continuar buscando e investindo no constante processo de ação-reflexão-ação.


Embora esses pensamentos não eliminem automaticamente todos os meus receios, eles me ajudam a descansar um pouco e a ter uma perspectiva alinhada das coisas, sabendo que eu posso desacelerar, parar e respirar, porque há uma Vienna muito melhor que a de Billy Joel esperando por mim.


Uma boa greve para vocês. 😀 (Sentirei falta das nossas terapias de grupo). 



DANGIÓ, Meire Cristina dos Santos. A alfabetização sob o enfoque histórico-crítico: contribuições didáticas. Tese (Doutorado em Educação Escolar) –  Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista. Araraquara, SP. 2017.


FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.


GIUGNO, Jane Lourdes Dal Pai. Desvelando a mediação do professor em sala de aula: uma análise sob as perspectivas de Vygotski e Feuerstein. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. 


REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.


SILVA, Edileuza Fernandes da. As práticas pedagógicas de professoras da educação básica: entre a imitação e a criação. VEIGA, Ilma Passos Alencastro; SILVA, Edileuza Fernandes da (Orgs.). A escola mudou. Que mude a formação de professores! Campinas, SP: Papirus, 2010. p. 61-82.


A MENINA QUE NÃO GOSTAVA DE LETRAS... AGORA GOSTAVA DAS LETRAS? (Helena Rios)

Começo a relatar a minha quarta feira a partir da minha saída do trabalho. Exatamente meio dia e seis minutos o ônibus que me leva para a escola (não tão gentilmente, nesse semana o motorista tinha pressa, só não sei de quê) chega na parada. Subi, passei na catraca e já me surpreendo com a cena de Sabichona sentada em uma das cadeiras altas, de olhos fechados enquanto outra menina, que assumi que fosse sua irmã, a Sabida, aplica um batom rosa em seus lábios. Sorri enquanto andava pela condução e sentei logo atrás das duas. A avó estava na cadeira da frente, com uma sacola enorme nas pernas. Disse um "oi, Sabichona!", fazendo com que ela abrisse os olhos. Logo ela perguntou "você tá indo pra onde?" e eu disse que iria pra escola. Fui surpreendida quando ela respondeu "ah, então é você mesmo, não estou enganada! É a tia, Sabida!". Como imaginei, a menina de muitos acessórios e maquiagem era sua amada irmã de quem ela tanto falava quando sentava ao seu lado para auxiliar na resolução das atividades. A Sabida que tinha muitos lápis de cor, que amava pulseiras e colares, que tinha um estojo de unicórnio. Quando me acomodei, Sabichona ficou virada me observando. Viu minha camisa estampada com gatinhos e me refrescou a memória com a informação de que tinha três gatas. Eu disse que ela já havia me contado mas deixei que ela dissesse o nome novamente. Sabendo que ela ficaria ali me observando e conversando durante toda a viagem, decidi trofar de lugar. Não me levem a mal, eu estava num coletivo em que Sabichona e outras duas crianças do trabalho me conhecem como tia. Entendo o entusiasmo delas de me enxergarem dividindo um ônibus, fora dos meus locais de trabalho e estudo mas, como comentei com o meu namorado, não quero ser tia nesses breves intervalos em que tenho como Helena. Naquele momento a Helena sentiu necessidade de aproveitar uma boa música no seu cantinho e assim fez. Chegando na escola e assumindo meu papel de tia, fui muito bem recebida e acolhida, como sempre, sentindo falta de algumas crianças assim como elas sentem da gente quando faltamos. Logo que entrei, a professora Irma me pediu pra sentar ao lado de Sabichona, dizendo que ela apresenta uma certa dificuldade em fazer atividades sozinha e que estava preocupada com o desempenho dela. Sentei ao lado dela e o sorriso foi enorme. Ela logo me perguntou onde eu morava e eu disse que naquele dia estava saindo do trabalho mas que não morava por aquelas bandas. Ela afirmou dizendo que realmente nunca tinha me visto no ônibus e que morava num bairro por ali. Ela, então, reclamou do tempo osioso daquele começo de tarde, quando a professora ainda organiza a sala e seus materiais para dar início a aula. Disse assim "quero uma tarefa pra fazer!". Confesso que me assustei já que Sabichona tinha me dito uma certa vez que detestava brincadeiras com palavras pois não sabia ler. Queria entender de onde surgiu esse gosto tão repentino pelas atividades que possuem letras de sobra. Dito e feito, professora Irma apareceu com o caderno de Sabichona e nele havia uma atividade de completar as palavras com as letras que faltavam. Irma me disse como eu deveria ajudar e assim fiz. Dizia a palavra que estava escrita, ia em cada família silábica, repetia bastante aquele fonema numa tentativa dela identificar com letras formavam aquele som. Percebi que ela ainda não compreende que a escrita é esse registro do que falamos, já que várias vezes a vi olhando pro alfabeto na parede a sua frente e ia chutando as letras que sabia. Perguntei pra ela se ela sabia quais eram as vogais e mais uma vez a vi chutando aleatoriamente. Senti necessidade de mostrar pra ela as vogais já que naquela atividade a maior parte das letras que faltavam nas palavras eram elas. Ficava esperando sua resposta e quando não vinha, juntava a consoante com cada vogal que havia escrito no seu caderno e perguntava qual o som era mais parecido com o que procurávamos. Fiquei tentando buscar referências das aulas de alfabetização, de ensino de língua portuguesa para facilitar o processo de aprendizagem para Sabichona mas percebi que preciso retornar com essas leituras, fazem muita falta quando nos deparamos com casos como o dela. Porém, Sabichona se saiu muito bem, apesar de suas dificuldades. Em alguns momentos a via desmotivada, dizendo que não sabia, que alguns fonemas não existiam já que seus chutes estavam incorretos. Percebi uma memorização de algumas palavras simples, e a elogiei pelo acerto. Isso a deixava feliz e acredito que essa validação é o que faz ela simpatizar com as atividades. Fizemos mais uma tarefa do livro juntas e ela pediu para copiar um texto que estava em letra cursiva no livro para o seu caderno. A turma estava se apropriando dessa forma de escrita e a professora Irma, inclusive, pediu para que alguns lessem. Pediu para uma garotinha ler e ela se negou. Pediu para mais um aluno ler mas esse também não quis. Outras crianças se manifestaram e leram com uma certa dificuldade. Eu li com Sabichona, colocando o dedo em cada palavra que lia para que soubesse que aquela formação de letras formava aquele som. Pedindo para que as crianças realizassem uma questão, professora Irma foi até as duas crianças que não quiseram participar da leitura para uma conversa individual. Foi a primeira vez que a vi fazendo aquilo. Tinha muito carinho e preocupação com as duas crianças, perguntando se tinha acontecido algo em casa, puxando alguns outros assuntos e se certificando de que estavam bem. Essa escuta e vínculo é importante, apesar de difícil numa turma numerosa. Enquanto isso, Sabichona copiava a letra cursiva em seu caderno e pude observar que nele haviam outras coisas escritas. Estavam em inglês. Fiquei sem entender e perguntei. Ela disse que via no celular e copiava. Pareciam títulos de vídeo no Youtube. E todos os vídeos eram do Kirby, aquele jogo que leva o nome do boneco rosado e fofinho da Nintendo. Percebi nela um desejo muito grande de escrever suas próprias coisas, mas enquanto não sabia, apenas copiava. E era assim que ela me comunicava e me dizia que estava criando uma intimidade com as letras. O recreio foi aquela correria de sempre e eles retornaram pra sala bem agitados. Mais uma vez, Desenhista me pede para ficar parada no meu cantinho enquanto ele me observa e rabisca sua folha. Toda a nossa comunicação até hoje foi através de desenhos. Ele sempre me desenha, ou ele sempre me mostra um desenho que fez. Se estimulado devidamente, Desenhista pode realmente se tornar um desenhista já que gosta tanto. Pedindo para que um grupo de crianças se retire da sala para jogar uns jogos educativos comigo e Isys, Desenhista implorou para ficar. Queria terminar o seu desenho e me entregar. Mas foi um dos "escolhidos". As crianças que não foram chamadas ficaram chateadas por não terem sido escolhidas. "Todo mundo foi escolhido! Não fiquem tristes!", disse professora Irma garantindo que próxima semana as crianças que ficaram na sala iriam brincar lá fora. No pátio, levamos o dominó de palavras tirado do livro didático das crianças, um Cruza-letras e um Tangram. As crianças se divertiam bastanta formando palavras, compentindo no dominó e quebrando a cabeça no Tangram. Foi legal observar o aprendizado se concretizando coletivamente e através de um jogo. Pensei que seria proveitoso para as crianças que estavm dentro da sala mas esperancei de que elas teriam sua chance na semana seguinte. Juntando os grupos no fim da tarde, eles brincaram um pouco no pátio e logo em seguida já era hora de ir embora. Demos nosso até logo para a professora Irma e eu pedi para que ela comunicasse às crianças da nossa ausência. Saí ansiando pelo nosso reencontro e pensando muito na Sabichona. Espero que até lá ela não perca o interesse pelas letras novamente e que sua relação seja de amizade sincera e duradoura.

NOTA 10 (Mattheus Meireles)

Quarta-Feira, 10 de abril

Hoje foi o dia da primeira regência, estava me sentindo cansado e nervoso, mas sabia que tudo daria certo. Tínhamos combinado com a professora que a nossa parte seria no primeiro período e assim fizemos. Foi decidido que seria uma atividade sobre os tipos de substantivos, assunto que os alunos estudaram bastante desde o primeiro dia de observação. As crianças foram organizadas em duplas, receberam o texto "O patinho feliz" e uma cruzadinha com dicas que envolviam os tipos de substantivos. Fizemos uma síntese na lousa do que eles tinham aprendido, incentivando eles a dar exemplos sobre o assunto e depois algumas crianças leram o texto para a classe. 
A turma se divertiu bastante fazendo a atividade, eu e a minha colega ficamos andando por toda a sala, indo de dupla em dupla ajudar nas dúvidas e observar a argumentação deles de qual seria a palavra que se encaixava nos quadrinhos. Um aluno que estava fazendo segunda chamada ficou sem dupla, então me juntei a ele para resolver a cruzadinha. As crianças estavam bastante participativas, pintaram alguns desenhos impressos na atividade. Apenas uma dupla não conseguiu terminar, ambos estavam com dificuldade, então ao final receberam ajuda.
Os alunos elogiaram bastante a nossa regência e avaliaram com nota 10, a professora enquanto isso ficou auxiliando uma criança que estava fazendo segunda chamada da prova na classe. Após o recreio a professora resolveu atividades do livro didático e avisou que não iria mais passar tarefa para casa, pois apenas três crianças faziam, logo preferia que eles respondessem e corrigissem tudo em sala de aula. No final da tarde expliquei que ficaríamos um tempo sem ir por conta da greve e alguns perguntaram "o que é greve?", explicamos do que se tratava e logo eles entenderam.



REGÊNCIA (Yasmim Capistrano)

Na última quarta-feira, dia 10 de abril, nós fizemos uma regência no estágio que iniciou no primeiro tempo. Eu me atrasei, porque a mãe de uma das minhas alunas, na escola que sou professora, demorou muito para buscá-la. Isso é o tipo de coisa que não acontece na escola que fazemos o estágio, 15 minutos antes de acabar a aula, algumas professoras já vão embora, deixando as crianças no pátio. Uma professora de uma turma de infantil, saiu pontualmente 16:59, deixando dois pequeninos sentados na parede. Fiquei bem pensativa, porque na escola particular que trabalho, isso jamais acontece, a cobrança com o cuidado da criança chega ser exagerado em alguns momentos. Mas, na escola do estágio, não só na saída, mesmo durante a tarde e principalmente no recreio, me dá uma sensação que tá todo mundo "jogado".

Voltando para a regência, a Cibele começou sozinha fazendo a agenda com eles. Depois que eu cheguei, pedi para sentarmos em roda no chão e fiz a leitura do livro Bichodário, nem todos prestaram atenção, mas muitos ficaram bastante interessados. Era um livro interativo, então as crianças falaram bastante, até gritavam e discutiram. Após a leitura, nós partimos para o ditado molhado (com uma letra escrita em um papel toalha, colamos outro por cima, quando espirrássemos água, a letra apareceria). Chamamos as crianças por ordem alfabética e quase todos participaram, menos a Helena que é bastante tímida e nunca participa em momento que ficaria na frente de todos. A cada letra descoberta com o borrifador, as outras crianças precisavam copia-las numa folha de ofício que nós entregamos, utilizando tinta e cotonete. A maioria das crianças ficaram empolgadas e fizeram tudo. Exceto dois meninos que ficaram brincando com a tinta, mas eles foram descobrir a letra, só não escreveram na folha. Terminamos pontualmente às 14:30, então não deu tempo de fazer uma outra brincadeira que tínhamos programado, mas já sabíamos que isso poderia acontecer. Limpamos a bagunça e as crianças foram pro lanche e recreio. 

As minhas considerações sobre a regência: 1- Senti que eles estavam mais agitados do que na outra atividade que fizemos. 2- Eu poderia ter ficado sentada em uma cadeira, enquanto eles ficavam no chão para que todos vissem o livro melhor. 3- Percebemos evoluções em algumas crianças como, um menino que antes se "recusava" escrever porque não sabia, fez tudo super empolgado. 4-Uma das crianças que estava resistente e não fez as letras na folha, é um menino que sempre é muito participativo e colaborativo. Cheguei a perguntar se tinha acontecido alguma coisa e ele me disse que no dia anterior outra criança brigou com ele. Essa situação me relembrou que mesmo com planejamentos e atividades lúdicas, o externo influencia na aula.

Depois do recreio, a professora disse para as crianças "Não vamos fazer geografia não porque o que importa agora é o alfabeto, não vamos perder tempo com que não importa". Então, ela copiou o alfabeto na lousa (letra maiúscula de forma e letra minúscula cursiva) e pediu para que todos copiassem no caderno. As crianças sentiram dificuldade nas letras minúsculas e ela disse que quem não conseguisse, que fizessem só as grandes. Logo eles terminaram e ela informou que ensaiariam para apresentação do dia do livro, iam dançar a linda rosa juvenil. A professora já tinha decidido os personagens, mas outras crianças queriam escolher e ficou uma bagunça. Por fim, ela disse que não ia fazer mais porque não tinha como ter duas rosas juvenis, três reis e etc. Então, mais uma vez as crianças ficaram sem nada para fazer, mas ouvindo que deviam ficar sentados e sem fazer barulho. Só que dessa vez a professora fez uma coisa diferente, ela olhou pra mim e disse "professora, você não tem nenhuma atividade pra fazer com eles não?", eu respondi que não. Ela chamou todos para formarem a fila 16:30 e ficamos todos em pé dar 16:45. Depois, deixou as crianças no pátio e fim do dia.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

GOLE D'ÁGUA💧(Marcos Lima)

Estou começando a achar que tem algo que não quer que eu chegue na escola no horário certo nunca..mais uma vez me atrasei, infelizmente. E, por incrível que pareça, só na quarta que acontece algo para que eu não chegue no horário.. o que me deixou mais triste foi que, devido ao meu atraso e o da Eduarda, nós não conseguimos fazer a regência no primeiro horário como tínhamos planejado, mas a professora nos tranquilizou ao dizer que tinha uma atividade para fazer com eles nesse primeiro horário e que poderíamos assumir a sala após o intervalo. Uffaa


Quando cheguei na escola, percebi que por mais que tenha sido só 4 dias na escola, eu vou sentir muita falta daquelas crianças enquanto estivermos longe devido a greve.. mas logo em seguida voltei o pensamento para o presente, ou seria passado? Bem, para o momento em que mais uma vez fui muito bem acolhido por todas as crianças, pela professora e pela minha "casca de bala" Eduarda. Naquele momento a professora estava realizando a atividade que disse que tinha para fazer enquanto nós chegávamos. Era uma atividade de geografia sobre a região nordeste. Durante a atividade, tive a oportunidade de conversar com um aluno que é visualmente muito maior que os outros alunos e isso me motivou a perguntar algumas coisas a ele… comecei pelo básico "quantos anos você tem?" e fui muito surpreendido quando ele me disse "13 tio" e essa foi a minha reação: 👁️👄👁️


Ele me explicou que não era de Fortaleza e, que na sua terra natal, ele já começou atrasado (iniciou a escola no 2º ano) e que depois de passar no 4º ano, o pai dele se confundiu ao matriculá-lo no ano seguinte quando o matriculou no 4º ano novamente quando vinham morar em Fortaleza. E isso me fez pensar nos inúmeros abismos sociais, econômicos e educacionais que tem naquela sala de uma carteira para outra..


Nesse dia eles estavam muito agitados e uma das formas que a professora viu para retomar o controle da sala foi bater o abençoado apagador na mesa e falar "vou tomar é um golão d'água para eu me acalmar desse jeito.." e de uma forma bem atípica uma das crianças disse "ixi, a tia vai tomar um gole d'água 😱" que, segundo ela, quando a professora toma água é porquê ela está brava ou sem paciência. 


Depois da atividade, veio o intervalo que por sinal, o relógio era diferente, esse tinha uma figura de um cachorrinho e os alunos logo perceberam a diferença e ficaram comparando com os relógios das outras salas. Depois do intervalo, eu e a Eduarda fizemos nossa primeira regência que foi planejada a partir da sequência do conteúdo de geografia que a professora estava abordando nas aulas passadas, com os temas "envelhecimento da população brasileira" e "migrações no Brasil".


Nós pensamos em acolhê-los com a música do Chaves "se você é jovem ainda.." para podermos introduzir o conteúdo a partir de conhecimentos que eles já trariam para nós após a música. Assim, surgiram discussões bem pertinentes sobre a importância de respeitar os mais velhos, de propiciar ambientes acolhedores e outras questões importantes para a evitar a exclusão dos mais velhos na sociedade. Então pudemos entrar no conteúdo, explicando o que é o envelhecimento da população, o que ocasiona e como era o Brasil décadas passadas e comparamos com a última década, observando que a expectativa de vida também aumentou, fazendo com que a explicássemos. Fizemos uma breve atividade de sala do livro que a professora nos tinha indicado para resolvermos com eles.


Posteriormente, falamos sobre as migrações no Brasil pegando como exemplo inúmeros casos dentro da própria sala de aula para podermos explicar o que é os fluxos migratórios e quais os principais destinos dessas pessoas que migram do nordeste para outras regiões do Brasil. Para encerrarmos, a professora nos indicou atividade de casa segundo o livro, que explicamos rapidamente.


Particularmente, gostei bastante da liberdade que a professora nos deu para abordarmos o conteúdo com eles e o suporte e segurança que ela nos passou. Além do engajamento que os meninos tiveram conosco. Acredito que tivemos um bom controle da turma e do conteúdo, o que era a minha principal preocupação, pois era a partir daí que todos iriam participar ou não da aula.

Enfim, espero que quando voltarmos da greve eu não me atrase para poder passar mais tempo matando a saudade de todos :)

POR QUE VOCÊ VEM AJUDAR MEUS COLEGAS? (Amanda Maria)

     O percurso foi tranquilo apesar de novo. Não consegui almoçar então cheguei cedo e fui direto comer meu pedaço de bolo. Entramos na sala antes dos alunos para organizar algumas cadeiras. E ao entrarem todos, contamos logo para o professor sobre a greve e ele também lamentou. Em seguida começou a aula fazendo a agenda para dar tempo do restante das crianças chegarem. Ganhamos mais um desenho de Márcio Levi que sempre faz um desenho em um pedacinho de papel pequeno para nós duas dividirmos. Ajudei flor com a agenda, nesse dia ela estava bem dispersa. Após a agenda o professor iniciou a correção de uma prova chamada Avalie-CE que os alunos fizeram no começo do ano. Maria a todo momento que falava com a gente dizia que estavamos "tão lindas e tão jovens". A correção da prova durou a tarde toda e foi bastante complicada. Daniel constantemente tinha que parar pois as crianças estavam fazendo outras coisas. Até um certo momento onde o professor simplesmente soltou um "Desisto" direcionado as crianças que continuavam desenhando enquanto ele fazia a correção. Quase no final tarde, Maria veio até nós novamente e me perguntou " Por que você vem ajudar meus colegas? ". Achei engraçado mas não fiquei surpresa, ela sempre tem ótimas perguntas. Não só ela mas todas as crianças, e isso é algo que vou sentir falta durante essa pausa. No fim da aula o professor comunicou ao alunos que iriamos passar um tempo sem ir a escola e perguntou quem sentiria nossa falta. Felizmente todas as crianças lentaram as mãos. Por fim, sinceramente espero que esse momento de greve seja breve e que possamos voltar o mais rápido possível.

TRABALHANDO EM EQUIPE E COM AUTONOMIA (Emanuely Gomes Lima)

Em meio a um misto de ansiedade com empolgação chegou o dia de realizarmos nossa primeira regência com a turma. Nossa proposta foi revisar o conteúdo de substantivos por meio de um texto aliado a um jogo de palavra-cruzadas em duplas.
A princípio, explicamos nossa proposta e elas já responderam de maneira bastante entusiasmada – pelo que conheço da turma ela é muito participativa e gosta de um desafio –... Foi muito bom ao passar por entre as duplas observar as crianças lendo o texto e tendo altas argumentações com seus colegas a fim de encontrarem a resposta correta, até mesmo aquelas que costumam ser mais desatentas mergulharam de cabeça na atividade!
Particularmente, algo que sempre me policio em minhas práticas docentes é o de estimular a autonomia da criança e valorizar a sua produção e devo dizer que saí extasiada da escola nesse dia por cada sorriso de "eu consegui" ou "eu acertei" ou mesmo de "a tia me elogiou" das crianças!
É interessante porque eu percebi que muitas delas quando me chamavam para tirar alguma dúvida meio que já esperavam que eu lhes desse a resposta e ficavam perdidas quando na verdade eu começava a questioná-las a fim de levá-las a pensar sobre aquilo e encontrar a resposta, algumas até se surpreenderam com elas próprias por perceberem que haviam encontrado a resposta. Inclusive, em alguns momentos pude ver algumas crianças que já haviam terminado se levantando de suas carteiras e indo até outros amigos para ajudá-los na atividade, alguns até acharam que eu iria repreendê-los por estarem em pé mas quando eu os elogiei pela atitude eles se surpreenderam.
Esses recortes que trouxe reafirmam a minha crença de que nós professores devemos dar liberdade para a criança se desafiar e desenvolver a sua própria autonomia, por meio de simples práticas como deixá-las tentar ajudar um colega na atividade ao invés de repreender por estar em pé ou "conversando", mostrar que você valoriza a intenção delas muitas vezes pode ser importantíssimo nesse processo de alimentarmos sua autoestima e própria autonomia, elementos que são tão importantes para sua formação mas que por vezes são negligenciadas pela mecanicidade que toma conta da rotina. 

SOMOS TÃO JOVENS (Liriane)

10 de abril de 2024.

          Último dia de estágio que antecedeu a greve. Peguei meu voo 753* com destino à Escola do Bosque (ouvi um senhor falando isso ao telefone*). Fui ouvindo algumas músicas, apesar de não fazer isso frequentemente, e fui repetindo durante meu trajeto a pé: Quero que você seja feliz, Hei de ser feliz também… Quase chegando à escola, encontrei Cibele, que me contou que eu poderia estar economizando vários passos descendo em outra parada mais perto da escola, não errarei mais, obrigado Cibele.
          Chegamos e nos juntamos a Helena, Mattheus e Amanda no pátio, conversamos um pouco e nos dirigimos às salas de aula. Para começar a tarde o professor Daniel decidiu fazer agenda primeiro, apesar das crianças ainda estarem chegando atrasadas, como na semana passada. Logo contamos ao prof que aquele seria nosso último dia, ele lamentou. Neste dia o prof permitiu que uma de nós auxiliasse Maria na agenda desde o início, fui ajudá-la. Durante a cópia da agenda Maria virou para mim e disse: "Nossa! Tu tá tão linda, tão jovem!", RI À BEÇA kkkkk. Ao fim da agenda, o prof começou a corrigir com as crianças a prova AVALIE-CE, que elas realizaram no início do ano letivo. Ele aproveita para estudar as estruturas das palavras da prova com as crianças na lousa. Os pequenos estavam bem dispersos, o prof tinha que parar a aula para poder chamar atenção deles. Coisas como crianças pintando e desenhando, olhando para a parede, conversando, sem estar na página certa, começaram a atrapalhar o percurso da aula. Em um momento o prof Daniel ficou em silêncio olhando para eles, até que uma garotinha perguntou: "Tio, porque você tá calado, não vai mais corrigir a prova?", Daniel respondeu: "Estou esperando vocês prestarem atenção, não vou dar aula para a parede!". 
          Foi uma tarde bem tumultuada. Deu o horário do lanche, a fila que não se levantasse de jeito nenhum, saíria primeiro para o recreio, assim aconteceu. Gosto de sair da sala durante o recreio, pois ficar naquele quadradinho direto me incomoda e a cadeirinha dói minhas costas, acho bom sentar com meus colegas e trocar ideias nesse tempinho.
          Ao fim do dia, um caos como puderam notar, o prof Daniel contou às crianças que passaríamos um tempo sem ir à escola, mas que talvez, talvez mesmo, voltaríamos antes das férias de julho. Perguntou quem gostou da nossa presença e ajuda e quem queria agradecer por isso. Ganhei algumas cartinhas no dia e senti como uma despedida, mesmo eles não sabendo ainda. Apesar dos pesares, já estou com saudades.

QUEM ACREDITA SEMPRE ALCANÇA (Cibele Pereira)

Olá, amigos.

Dia 10/04/2024, iniciamos a 5° quarta – feira do estágio supervisionado um tanto apreensivas e com o coração apertado, em 1° lugar pela nossa regência e em 2° lugar por essa quarta seria a nossa última quarta antes da greve.  No dia 10/04, foi a nossa segunda regência e contamos com a presença do Sr. E, nosso professor, nesse dia em específico aconteceu alguns contratempos e não conseguir encontrar a minha amiga Yasmim para irmos juntas para a escola. Cheguei na escola e encontrei as crianças correndo no pátio e em seguida já pararam para rezar o pai nosso, posteriormente segui para a sala e a professora informou as crianças que eu e a Yasmim íamos ficar com eles e logo a professora informou que ia para a secretária olhei para ela e sorri não sei se por desespero ou em concordância. Mas, de repente, o Sr. E aparece na porta e pergunta: cadê a professora? E eu olho para ele e respondo: "está na secretária" o professor apressadamente vai chamar a professora para o nosso momento. Passado esse momento, informei as crianças que íamos fazer a agenda e diferentemente da professora escrevi com pincéis colorido e soletrando letra por letra, e ao terminar a agenda me surpreendi com algumas crianças. Paulo, uma criança que quando chegamos no nosso primeiro dia não escrevia nenhuma letra e por muita insistência começou a fazer as letras do jeito que sabia e por incrível que pareça essa quarta-feira em específica ele estava bem animado e querendo ler, já a Mada, outra aluna que em "dias comuns" não faz a agenda naquele dia fez toda a agenda. Afinal, quem acredita sempre alcança. Depois da agenda organizamos a sala em "U" e nos sentamos com as crianças no chão para contar uma história chamada "Bichodário", nesse momento a Yasmim contou a história e eu fiquei responsável de manter a ordem na sala. Passado esse momento demos início a nossa atividade que foi nomeado de DITADO MÁGICO. Como consistiu a nossa atividade?  Chamávamos as crianças de acordo com as letras do alfabeto, escrevemos na lousa a letra "A" e perguntávamos quem começava com aquela letra e as crianças iam levantando o braço, chamávamos para a lousa e pedíamos que molhasse o papel toalha que tínhamos escrito diversas letras do alfabeto, assim revelando as letras "escondidas", mas antes de realizarmos essa atividade fizemos um combinado com a turma, pois íamos distribuir tintas, então combinamos que não podia sujar a roupa, o corpo ou passar a tinta no colega, e só depois distribuímos uma folha em branco, um pouco de tinta e um cotonete que seria o "lápis", depois como já mencionado chamávamos as crianças que borrifava a água e todos escreviam as letras que tinham sido reveladas. Todas as crianças colaboraram para a atividade e umas crianças até quebraram o combinado. Porém, tudo aconteceu conforme tínhamos combinado. Terminado esse momento fomos para o intervalo e depois seria a aula de história e geografia. Passado o intervalo voltamos para a sala e nos sentamos no batente de sempre e como comentado em relatos anteriores parecia que estávamos distribuindo dinheiro, foi só sentarmos e as crianças correram para cima da gente e novamente a professora mostrou incômodo e disse: "quando elas forem para aí briguem com elas e mande sentar", só balançamos a cabeça em concordância. Logo, a professora comentou com a turma que não iam estudar nada de história e geografia e que iriam estudar as letras do alfabeto novamente já que isso era o "carro chefe", até entendo a importância da alfabetização, mas não precisa desprezar as outras matérias que contribui para o aprendizado da criança. Pois bem fizeram o alfabeto novamente e a professora disse que iam ensaiar a música "linda rosa juvenil" e escolheu as crianças de acordo com os critérios "vozes da minha cabeça" e logo começou uma briga para discutir quem seria a bruxa, eu vou ser a bruxa para lá, eu vou ser a bruxa para cá e no final a professora desistiu de fazer a apresentação. Eles ficaram soltos de umas 15:20 até 17h e o para finalizar o dia a professora olha na nossa cara, e só entre nós ela acha que somos um arquivo de atividades, e pergunta: "vocês não têm nenhuma atividade legal aí para fazer não? Depois dessa indagação levantei-me e segui para o meu dentista. Mas, com a sensação de dever cumprido. 

MARMOTA (Eduarda Lacerda)

Hoje o dia começou 

Um pouquinho agitado 

O meu uber estava caro 

E o do Marcos atrasado 


Chegando na escola 

Estava tudo normal 

A professora se virando 

Pra ninguém ficar mal 


Mais uma avaliação 

Eles tinham que fazer

Pra nota complementar 

E todo mundo "aprender" 


Hoje trago pra vocês 

Algumas situações 

Pois não parecia sala 

E sim um stand up com atrações 


Os meninos inquietos 

À professora indagou 

"O relógio aqui da sala 

Quem foi que trocou?"


A professora atarefada 

Fingiu que não ouviu 

As crianças inquietas

Com dúvidas insistiu 


"Eu que trouxe, eu que trouxe"

Agoniada a Prof. falou 

A benção respondeu 

"Do 4º ano pegou!"


Ofendida a Prof. ficou 

Porque ninguém entendeu 

"Eu que comprei", ela falou 

"Tudo eu, eu, eu".


Depois de tudo isso 

Na lousa foi escrever 

Mas pincel era necessário 

Para assim proceder 


Ao pegar o pincel 

Nada de novo apareceu 

"Não tem nenhum pincel prestando 

Ar maria, glória a Deuuuuu".


De repente alguém grita 

"Quem minha agenda roubou?"

Todo mundo se agita 

"A tua agenda tu emprestou!" 


Os "devedores" na lousa 

A professora logo anotou 

"Com juros e correções monetárias"

Assim deve quem faltou 


Pois perdeu a oportunidade 

Da nota completar 

Logo hoje, quem precisa 

Teve que faltar 


O menino Ricardo 

Seu caderno foi mostrar

"Ô caderno bagunçado, ô menino avoado"

A Prof. teve que gritar


Uma coisa foi rica 

Disso não vou esquecer 

A felicidade da Prof.

Ao ver todos aprender 


Com algumas indagações 

Durante a aula a perguntar 

Respostas saindo

professora sorrindo 

"Estou pondo vocês pra pensar" 


A tarefa das crianças 

Meio torta, bagunçada

"Uma marmota, que futrico"

Fala a Prof. estressada 


Após o intervalo 

Novos profs. apareceu 

Era eu e o Marcos 

Era o Marcos e eu 


Em cima do planejado 

A aula então rolou 

Ficamos todos felizes 

A ideia todos comprou 


Uma canção cativante 

Um velhinho radiante 

Um esforço de gigante 

Um retorno impressionante 


Conseguimos observar 

Os meninos aprendendo

Uma troca bem legal 

Foi ali acontecendo 


Ver meu parceiro brilhante  

Todo alegre, saltitante 

Não tem preço, tem valor 

Dar aula por dinheiro,

Mas também por amor


Rubem Alves já dizia 

Que habilidade sem sentido 

É como ser desconhecido 

daquele conhecimento 

Que nos foi promovido 


Um não vive sem o outro 

você não vive sem os dois 

Sabedoria e conhecimento 

Não vamos deixar pra depois 


Com o pensamento de Carl 

Me sinto muito agradecida 

Por me ter apresentado 

Palavras bem construída 


Conheça todas as teorias 

Técnicas pode dominar 

Mas em uma alma humana 

Saiba ao menos tocar 


“QUAL O SEU DIFERENCIAL ENQUANTO DOCENTE?” (Victoria Rodrigues)

Mais uma semana, mais um relato... Hoje, na primeira aula, a professora Lilica fez a correção da prova de matemática, e soltou a seguinte frase para começar: "Vamos ver onde vocês erraram?" Dei uma olhada nas provas corrigidas, tinham questões sobre adição, subtração, antecessores e sucessores, escrever os numerais por extenso, e as notas foram bem variadas, o Da Vinci (ele adora desenhar), foi o único da turma a tirar 10,0 e como recompensa ganhou uma barra de chocolate (a professora e os alunos fizeram um acordo, quem tirasse 10,0 na prova ganharia um chocolate), enquanto tivemos alunos tirando 0,0/0,5, alguns ficaram entre 6,0 e 8,0, mas não irei entrar nesse quesito no relato de hoje, a professora Lilica fez a correção da maioria das questões, não conseguiu concluir pois o tempo da 1° aula já tinha acabado e a professora Aurora assumiu a turma. Iniciamos então, a segunda aula do dia, a desconhecida Aula de Artes, me refiro a ela como desconhecida, pois como já apresentei em outros relatos, é uma disciplina que não costuma ser trabalhada, e o tempo de aula às vezes é utilizado para qualquer outra atividade. Os alunos utilizaram esse tempo para terminar de escrever a "agenda" e a correção da prova de matemática.

Hoje, tivemos uma presença nova, o Viajante, um aluno da manhã, que faltou na semana de provas, veio no turno da tarde para fazer as provas de língua portuguesa e geografia, a professora Aurora o levou para a sala ainda no primeiro tempo, colocou ele na última cadeira, no canto da sala, enquanto a professora Lilica fazia a correção, e observando aquela criança, comecei a me perguntar "Por que ele não está em um espaço separado?" Afinal, os colegas que já fizeram as provas tinham um ambiente silencioso e "propício" para concentração, enquanto ele tentava fazer duas provas, enquanto havia cerca de 15 crianças conversando simultaneamente e uma professora explicando o conteúdo de outra matéria. A maioria de nós, adultos, já temos certo entendimento sobre os nossos processos de aprendizagem, de concentração, de métodos de estudos, e entendemos que alguns precisam de total silêncio, outros não se incomodam com ruídos, outros (e aqui eu me incluo) sempre escutam música ao estudar, e porque não pensamos nisso para permitir que a criança tenha um ambiente minimamente confortável para completar tal atividade, que por si só, já é estressante? (fiz um desvio, mas ainda não é o ponto principal do relato de hoje, sigamos...), quando a professora Aurora assumiu a turma, os alunos continuaram escrevendo a correção da prova de matemática no caderno, a professora fez anotações no seu diário de turma e depois foi acompanhar como o Viajante estava indo nas provas, não me aproximei, mas consegui ouvir algumas coisas, segue um dos diálogos:

- Escreva o derivado da palavra jardim.

- Não sei.

- Como é o nome do rapaz que trabalha cuidando do jardim?

- Jardineiro!

- Ótimo, escreve aí.

 

Logo após a criança escrever a resposta na prova, a professora Aurora foi explicando o que significa ser derivado, e incentivando o aluno a tentar concluir as demais questões. Depois que o aluno concluiu a prova, foi liberado e a professora já fez a correção (foi um 7,6).

Após o intervalo, iniciamos as aulas de ciências, e a professora Aurora me contou uma situação que aconteceu com ela na última semana, ela ouviu um dos alunos fazer um comentário desrespeitoso e perguntou "Que tipo de conversa é essa dentro de sala de aula?", o aluno prontamente negou que havia feito qualquer comentário desrespeitoso e a professora insistiu que tinha ouvido, então ele pediu desculpas e sussurrou para um de seus colegas "A professora tá ficando cada dia mais louca". Ela deixou a situação passar, mas começamos a nos questionar, "Porque uma pessoa ouviu algo, ou como alega o aluno, pensa que ouviu, ela é louca?", "Se tá ficando mais, então é porque já era louca antes?" (Ainda não tenho essas respostas, mas registro as perguntas aqui, caso alguém queira se aventurar em respondê-las, sinta-se à vontade).

Toda quarta-feira, antes do estágio, tenho minha sessão de psicoterapia (saio da sessão direto para a escola, a BR 116 e a Av Aguanambi são as telas de fundo na minha cena de reflexão encostada na janela do ônibus #emodosanos2000), e justamente hoje, a Orquídea (apelido que atribui para/ a terapeuta) me fez o questionamento que intitula este relato, "Qual o seu diferencial enquanto docente?" (disse que responderia próxima semana, provavelmente não irei KKKrying), mas passei a tarde pensando sobre isso, sobre os relatos dos meus colegas, sobre os exemplos que tenho na graduação, sobre as professoras que abrem as suas salas para estagiários, sobre as minhas concepções e experiências e me questionei, "Será que sou a professora que só aponta os erros e 'insuficiências'?" "Será que sou a professora que fala firme demais?" "Será que sou a professora que não traz ludicidade para a sala?" "Será que sou a professora que está tão preocupada em não ser 'carrasca' e está se tornando a mãe que mima?" "Será que eu sou uma professora que só se prende ao idealizado/utópico?" "Será que eu sou uma professora?". E agora, enquanto escrevo esse relato, concebi uma resposta, o meu diferencial enquanto docente, está em mim mesma, enquanto pessoa, aluna, professora, filha, irmã, ser político e social, só eu trago minhas experiências, só eu sei das minhas concepções, crenças e sentimentos, não se trata de algo específico que salta aos olhos, mas sim, de um conjunto complexo de características e atributos que me constroem, destroem e reconstroem diariamente.

A você, que está lendo/ouvindo este relato, te convido a refletir sobre isso também, você pode se surpreender com as descobertas. 

segunda-feira, 8 de abril de 2024

COISAS QUE FICARAM POR DIZER (Eduardo)

Sexta-feira, deu pra aliviar a saudade de ouvir os relatos de vocês: o timbre da voz, a ênfase em certas sílabas, o prolongamento de algumas vogais, as pausas de suspense... tudo isso contribui para que a experiência seja comunicada e que as outras pessoas também possam sentir um pouco do que cada uma de vocês sentiu.

Voltando pra casa, algumas coisas ainda ficaram reverberando dentro de mim, como se a aula ainda não tivesse acabado. Lembrei de três coisas que gostaria de ter dito, mas que, na dinâmica da conversa, acabei esquecendo.

Primeiro, sobre a avaliação na Escola da Ponte. Em vez de uma semana de provas em que todas as estudantes são testadas, cada estudante, quando se sente preparada em determinado assunto, pede à professora que avalie se ela realmente já compreendeu tal assunto. Uma avaliação que respeita o tempo de cada estudante.

Segundo, uma conversa que aconteceu na sala dos professores sobre um assunto que de vez em quando retorna: a progressão continuada dos alunos, fazendo, por exemplo, com que estudantes cheguem ao 3º e até ao 5º ano sem saber ler. O que me fez voltar à Escola da Ponte, onde não há divisão por anos, mas por pequenos grupos móveis, com crianças de diferentes idades, que são avaliadas a cada 15 dias.

Faço essas referências à Escola da Ponte não no sentido de imitação de uma escola idealizada mas pra gente perceber como certos problemas "insolúveis" em nossa escola tradicional podem encontrar solução desde que a gente pense em mudanças um tanto mais amplas e básicas.

E a última coisa que ficou por dizer aconteceu também na sala das professoras, logo depois dos recreios. Uma das profissionais responsáveis por acompanhar crianças com necessidades especiais estava visivelmente abalada e um dos professores pediu que ela se sentasse. Ela então desabafou a respeito do trabalho exaustivo, chegando a ser batida por uma das crianças, e contando com pouco apoio dos pais que "não dão limite" para a criança. Foi um momento dolorido e, ao mesmo tempo, bonito, por ver o acolhimento dessa pessoa pelas professoras.

Lembrei de um dos desenhos produzidos por nós na atividade de acolhida feita por Cibele e Yasmim: uma boca em fogo precisando botar para fora o que estava sentindo/pensando. É muito importante que a gente tenha tempo e espaço para desabafar. A existência desse tempo-espaço alivia a pressão e diminui a possibilidade da gente "descontar" esses nossos sentimentos em situações que não são apropriadas. Há muitos e muitos anos, tive uma ideia ainda não realizada que continua comigo: à semelhança dos Alcoólicos Anônimos, criar uma espécie de Professores Anônimos, um grupo de apoio mútuo em que professoras pudessem compartilhar seus sentimentos e experiências. Será que o que estamos fazendo, nas sextas-feiras, é um pouco isso?

sábado, 6 de abril de 2024

QUARTA-FEIRA, 3 DE ABRIL (Mattheus Meireles)

 As crianças tiveram prova de ciências hoje, fiquei responsável por auxiliar Lucas na leitura da avaliação, entretanto o aluno demonstrou dificuldade até em colocar a data na prova. A professora pediu para que eu lhe ajudasse explicando como poderia responder, também tive que escrever as letras em bastão para ele copiar, pois ele não sabia identificar a letra cursiva. Fiquei refletindo como deveria ser confuso para uma criança do nível de aprendizagem dele está na turma do quarto ano, ao longo da prova algumas crianças próximas me pediam “cola” e eu negava respondendo que deviam tirar dúvida com a professora. Ao final, entreguei a avaliação dele para a professora e ela me respondeu que talvez ele seja “especial”, porém a mãe não aceita. Na volta do intervalo as crianças estavam muito agitadas, fizeram um atividade de português e a professora falou a nota de cada aluno na prova, Luan o único que tirou nota 10 estava sentado quando a professora de sua mesa falou em alto e bom som “O Luan é muito inteligente sempre tira nota 10, deveria estar em escola particular”. Eu e minha colega de dupla nos olhamos e apenas ficamos sem palavras.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

CONHECENDO A TURMA: DIA 04 (Marcos Lima)

Com o engarrafamento na BR 116, ocorreu um atraso do ônibus fazendo com que eu chegasse à escola atrasado. Apesar do imprevisto fui muito bem recebido por todos os alunos, pela professora e pela minha parceria Eduarda. 


Ao chegar na sala eles estavam resolvendo a prova de forma oral, antes de resolvê-la por escrito. Quando me deparei com a cena, fiquei embasbacado com tal atitude da professora, visto que na semana anterior ela havia resolvido uma atividade valendo nota com os alunos sobre o mesmo assunto e eles saíram-se muito bem apesar de toda dependência interpretativa dos objetivos das questões. Muitas vezes eles sabem as respostas, mas não querem ou não conseguem interpretar a questão, pois, ao meu ver, eles estão "acostumados" a professora sempre "dar" as respostas das questões.


Após a professora explicar a prova por inteira, os alunos receberam-as e iniciaram a sua resolução. Alguns alunos tiveram a nossa ajuda para ler as questões, eu fiquei com o Filipe (nome fictício) , um aluno que não é alfabetizado, mas "escreve" (na forma de desenhar as letras). Esse não apresenta nenhuma deficiência até o nosso conhecimento. Ele é bastante quieto e inteligente, pois só em ler as opções ele já indica e responde corretamente, porém devido a falta da alfabetização ele não consegue expressar de maneira autônoma na prova e o que mais me surpreendeu foi a professora ter pedido para que a Eduarda ajudasse na leitura de outro aluno que ainda está se adaptando a língua e não ter me pedido para ajudar o aluno que é brasileiro, está na 5º série e não é alfabetizado. 


Inicialmente, eu estava assistindo outro aluno, esse com TEA e que por ter que copiar muitas coisas da folha e não do quadro, acabou se desorganizando levando um bom tempo até aceitar alguma coisa vinda da professora e de nós estagiários. Vendo que ele estava desorganizado e que a professora estava tentando ajudá-lo, deixei ela cuidando dele e me voluntariei para ajudar o Filipe que antes estava com grandes dificuldades para resolver a prova, rapidamente a entregou contrariando a vontade da professora "não posso fazer nada…temos que mostrar a realidade na prova..ele já foi bem em um trabalho feito em sala". Não sei você, leitor-ouvinte, mas não vejo como uma forma efetiva de "mostrar a realidade".


Quando terminaram de resolver a prova, foram liberados para o intervalo, mas alguns ficaram na sala resolvendo a prova do dia anterior (prova de português). Após a pausa, os alunos que trouxeram o livro de artes fizeram uma atividade do livro valendo ponto sobre o filme "Tainá"  e aqueles que esqueceram fizeram uma atividade extra sobre os símbolos da páscoa também valendo ponto….

Enfim, não vou conseguir abordar tudo o que aconteceu, mas acredito que trouxe os eventos mais importantes do dia :)