sexta-feira, 6 de junho de 2025

TRENA, TROCA E TERNURA: APRENDIZADOS EM CADA CENTÍMETRO (Ana Letícya)

Dia 04/06 – Quarta-feira

Pela manhã, eu estava no modo "mãe solo" no trabalho: sem auxiliar e com a esperança indo embora de mão dada com a paciência. Já estava quase aceitando meu destino de não ir ao estágio, quando, nos 45 do segundo tempo, colocaram alguém com a minha turma e eu consegui sair.

Peguei talvez a moto mais lenta de Fortaleza (sério, me sentia em slow motion), e, claro, cheguei no limite do horário. Tão agoniada que passei direto sem nem cumprimentar o professor. Só depois me toquei e dei aquele "boa tarde" meio atrasado, só pra não esquecer a educação em casa.

Ao entrar na sala, levei um mini susto: já tinha uma nova professora! Me apresentei brevemente, dizendo que éramos estagiárias já atuando na turma, mas não me estendi muito porque a aula ainda estava começando a se organizar. Comentei com minha dupla: "Temos que perguntar o nome dela!" só que uma criança se antecipou e soltou: "É professora M." Pronto, mistério resolvido. Mais tarde, ela se apresentou oficialmente.

Percebemos que ela estava um pouco confusa com os conteúdos e acabou retomando um assunto que os alunos já tinham visto. Pedi o livro de um aluno, dei uma olhada até onde tínhamos ido e a informei. Ela agradeceu, mas lamentou a ausência de registros no diário. Nos últimos 15 minutos, ela pediu que fizéssemos brincadeiras com a turma, eles escolheram jogo da velha e da forca. Foi um momento leve, com muita risada. No final, ela pediu que, dali em diante, realizássemos essas brincadeiras sempre nos 15 minutos finais de aula. Eu, meio sem saber se tinha entendido direito, só balancei a cabeça positivamente. A linguagem corporal salva.


Depois do intervalo, chegou a tão esperada aula de Matemática — nossa intervenção! Estava animada, mas já começou o desafio: os pincéis estavam mais secos que comer cuscuz velho. Mesmo assim, seguimos firmes! O tema era medidas de comprimento. Levamos réguas e dois tipos de trenas, o que já gerou bastante curiosidade nos alunos — menos na aluna L, que por algum motivo cósmico decidiu que não vai com a minha cara. Mas tudo bem, talvez os astros não estivessem alinhados, eu sou só a estagiária sendo julgada mesmo. 

Organizamos os grupos para facilitar o uso dos materiais. Eles mediram lápis, cadernos, agendas… e cada grupo ficou responsável por medir uma parte da sala. Fiquei com os meninos que pegaram uma área que apelidei carinhosamente de "cantinho do chuveiro" e um dia ainda vou perguntar pra professora o que era pra ser aquilo ali. Medimos chão, parede, coluna, colegas… foi uma bagunça do bem! Suor escorrendo (o que, convenhamos, é comum por ali), mas dava pra ver o brilho no olho deles.

Um aluno de cada equipe era o responsável por anotar as medidas, e o P, mesmo em processo de alfabetização, se prontificou. Foi incrível observar como ele se esforçou na escrita, um momento simples, mas muito significativo.

O desafio veio no fechamento: precisávamos voltar pra lousa e transformar as medidas. Só que o tempo parecia ter entrado em modo acelerado. Entre a agitação da turma e os minutos escorrendo pelo relógio, me senti sendo engolida por uma super máquina do tempo. Concluímos com 1 de cada equipe, mas, não como imaginamos, mas fica o aprendizado: na próxima, a gente ajusta os ponteiros e tenta de novo.

Dias como esse me mostram que o improviso faz parte da prática docente tanto quanto a planificação. E que, mesmo diante de pincéis secos, cronogramas bagunçados e crianças com personalidades fortes, é possível criar experiências de aprendizagem significativas — que marcam tanto os alunos quanto a gente. Cada desafio vira memória, e cada tentativa nos aproxima de sermos professoras melhores. Porque na educação, o importante não é controlar tudo, mas saber dançar conforme o ritmo (e às vezes, conforme o relógio).


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