Relato 9
Dentro do universo Marvel existe um conceito chamado "multiverso" que, basicamente, se refere a um conjunto de universos distintos com realidades alternativas. Agindo nesse conceito, há um personagem chamado de "O Vigia", ele é uma espécie de entidade cósmica que observa os universos com o intuito de registrar seus eventos, porém, esses seres vivem sob um juramento de nunca interferir nas realidades que observam. Então, enquanto Thanos evaporava metade da população com um estalar de dedos, o Vigia estava lá só assistindo. E hoje eu me senti como ele.
Foi um dia de prova. No primeiro tempo, as crianças realizaram uma avaliação da prefeitura e, no segundo tempo, a bimestral de matemática. Vez ou outra, uma criança pedia nossa ajuda: "Tia, quanto é tanto mais tanto?", "Tia, o que é uma esfera?", "Tia, qual é a resposta dessa?" e eu me senti exatamente como o Vigia dizendo "eu não posso interferir". Algo parecido aconteceu no recreio, quando duas meninas começaram a brigar do meu lado; não acho que era uma briga séria, mas confesso que não sabia o que fazer. A única maneira que eu sei de desarmar uma pessoa é fazê-la rir, então eu tive que apelar para cócegas.
Esse não é um recurso que posso usar sempre, então preciso pensar numa coisa nova, porque, afinal de contas, existem situações em que precisamos nos envolver. Acho que ser educador é isso: mexer na realidade alheia, não como alguém que destrói ou atrapalha, mas como alguém que, por ter contato com muitos universos, sabe de muita coisa e quer compartilhar para construir coisas boas. Na história da Marvel, o último Vigia que tentou fazer isso se deu mal, mas não estamos na realidade dele e, além disso, não somos Vigias. Cada um de nós é um universo.
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