DIÁRIO DIDÁTICO PARA GUARDAR DIDÁTICAS DE UM PROFESSOR DE DIDÁTICA, OU DIDATICÁRIO DO DIDATICÁRIO DE UM DIDATICÁRIO
quinta-feira, 19 de junho de 2025
"SIGA-ME E PONDERE A QUESTÃO" (Loriene Ribeiro)
segunda-feira, 16 de junho de 2025
CRIANDO AOS PEDAÇOS (Eduardo)
Uma técnica muito útil em processos criativos é separar os elementos de uma criação anterior e recombiná-los entre si ou com elementos de outras criações. É uma ideia simples, mas muito efetiva, e foi muito bom vê-la em ação nas regências e nos relatos de vocês. Seja a letra inicial que serve para dar vários presentes ao Sr. Alfabeto, sejam sílabas que se juntam formando as palavras mais variadas, sejam palitinhos e massinha de modelar que constroem sólidos geométricos puros ou aplicados em casas, prédios ou obras de pura imaginação.
Lembrei, pra variar, da velha citação de Paulo Freire: "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as condições para a sua construção ou produção". Essa condição criada de que as crianças manejem elementos soltos (letras, sílabas, palitos e massinhas) permite que as crianças construam e produzam conhecimento. Um conhecimento que não é apenas teórico, conceitual, mas também prático e afetivo. Porque além de criar coisas concretas como palavras e sólidos geométricos, as crianças têm mais liberdade para fazer algo que gostam. Então o ensino deixa de ser algo apenas do pensamento e se torna também algo da ação e do sentimento. Sentir, pensar e agir. Tudo junto e misturado. Aprender criando. Criar aprendendo.
As regências de vocês são fonte de ânimo e inspiração para as professoras supervisoras, que podem ceder à rotina e à monotonia devido à sobrecarga de trabalho. É como se soprasse uma brisa suave dentro das quentes salas de aula. Os elementos da experiência das professoras com os elementos da animação de vocês também podem render boas combinações num conhecimento construído ou produzido. Foi o que vi claramente na regência do guardião e da guardiã.
E as regências de vocês também têm efeito sobre mim, sobre minha prática pedagógica. A partir dos relatos de vocês, me veio a ideia de um jogo. Estou desenvolvendo pra gente jogar na próxima aula de sexta-feira. 😉
sexta-feira, 13 de junho de 2025
MASSINHA E PALITOS (Levi)
MAIS UMA OU MENOS UMA QUARTA-FEIRA? (Hanna)
PRIMEIRA REGÊNCIA: PLANEJAMENTOS, SURPRESAS E APRENDIZADOS (Larisse Sousa)
O planejamento inicial era que Bia e eu conduzíssemos a aula da professora, que já era habitualmente feita com a turma. Queríamos, assim, nos inserir na rotina natural das crianças e da professora, e também nos apropriarmos de uma dinâmica já comum no meio escolar. A ideia era começar com algo que elas já estivessem acostumadas, para que pudéssemos observar e nos adaptar à rotina da sala.
Pedimos o planejamento com antecedência à professora, mas, por conta de outras demandas e das formações pedagógicas que ela participou durante a semana, ela não conseguiu nos enviar. Ainda assim, nos adiantou que o conteúdo seria sobre as ruas, o que já nos deu um ponto de partida. Eu e minha dupla nos organizamos e nos preparamos com base nisso.
Ao chegarmos na escola, a professora nos mostrou o planejamento do dia, para que pudéssemos nos situar e organizar nossa regência a partir dele.
Só que, nesse dia, houve muitas surpresas com eventos diferentes e atípicos que tomaram boa parte do tempo. O primeiro evento foi a apresentação do Palhaço Alba. A apresentação foi super divertida, lúdica e bem engraçada para todos. As crianças gostaram muito, e nós também.
Em seguida, houve uma oficina de reciclagem com os mesmos participantes, com a proposta de construção de instrumentos musicais a partir de materiais recicláveis. Foi uma experiência rica, cheia de criatividade e bastante interessante.
Todavia, devido às atividades externas, não conseguimos concluir tudo o que a professora havia planejado para o dia, por mais que, nas últimas horas, tenhamos conseguido assumir a condução das atividades com mais autonomia e sem imprevistos.
Aprendemos, na prática, que o planejamento precisa ser flexível. E nossa expectativa também. No ambiente escolar, é comum que os imprevistos aconteçam, e precisamos estar preparadas para adaptar aquilo que foi previamente pensado. Mesmo com as mudanças, as crianças continuam aprendendo, e nós, aprendendo junto com elas. Foi um dia cheio, de fato, e nossa regência teve um gostinho de planejar, viver e se adaptar.
Desejo encerrar esse relato com a minha parte da criação da canção "Se essa rua fosse minha", que foi uma das propostas dadas às crianças no livro didático:
Se essa rua, se essa rua fosse minha,
Eu mandava, eu mandava-a colorir
Com desenhos e pinturas deslumbrantes,
Pra todas as crianças aqui vir.
AVALIAÇÃO (Milena)
QUEBRA DE EXPECTATIVA GERA BOAS SURPRESAS? (Ana Beatriz)
SEGUNDA REGÊNCIA (Renata Feitosa)
Mais um dia de estágio começando e outra vez a sequência de aulas foi alterada por uma atividade avaliativa da disciplina de geografia. Nesse meio tempo eu e minha dupla aproveitamos para finalizar os preparativos para regência que seria apenas no segundo tempo. Após finalizarmos, voltamos para sala, eles já tinham terminado a avaliação e logo a professora adiantou em passar a atividade de português já que ela não teria o tempo de costume por conta da nossa regência.
Um dos alunos entrou em sala e logo ela me chamou e perguntou se eu poderia ajudá-lo na atividade avaliativa que ele não tinha participado, supus que ele estava na aula de reforço tendo em vista que ela já tinha citado que ele era um dos alunos que ainda não era alfabetizado. Enfim, concordei e logo fui sentar ao lado dele. Dando início eu não tinha noção como iria fazer isso, como auxiliar em um atividade avaliativa que precisava de interpretação textual? Tentei o meu máximo para que ele tivesse autonomia e instiguei a leitura, mas eu já estava indicando onde ele iria ler, será que realmente era um auxílio ou eu dei as respostas? Mas o que eu faria? Deixaria ele sem responder? Como poderia ajudá-lo de outra forma? Respirei e continuei, nada que eu fizesse mudaria aquele cenário, infelizmente ele também é mais um vítima do sistema que o empurra de série em série a cada ano. Ficamos o resto do primeiro tempo mais o intervalo em sala, o que diga-se de passagem eu achei injusto. A maneira como a escola visa ajudá-lo é sobrecarregar ele com aulas/tarefas sem nenhum tempo de ao menos respirar e comer.. por que sim, ele não lanchou esse dia.
Logo após fim do recreio, a professora já havia perguntado se o tempo que tínhamos programado daria para ela fazer uma breve correção da atividade que ela havia passado no final do primeiro tempo e dissemos que não haveria problema e assim aconteceu.
Quando ela acabou a correção nos deu a palavra. Como eu havia dito no último relato tínhamos notado que os alunos demonstravam dificuldade em português, mais precisamente na formação e separação de palavras e letras. Dito isso pensamos em uma atividade de competição que consistia em formar/montar palavras através de sílabas de maneira correta. O início da atividade foi propor que eles mesmos fizessem as sílabas. Separamos a sala em dois grupos e distribuímos papéis para que eles fizessem as sílabas. A priori o grupo 1 se engajou mais e montaram a estratégia de pensar em palavras antes de escrevem as sílabas para que já tivessem palavras feitas. Já o grupo 2 pareceu não ter muito ânimo para dinâmica, mas acredito que faltamos com atenção em deixar no grupo 2 com crianças que já são tímidas e menos participativas. A divisão da sala foi feita apenas com um critério, que dois alunos que já eram mais avançados não ficassem no mesmo grupo, e o resto das crianças foram dívidas como já estava organizado em sala.
Demos alguns minutos para que eles finalizassem e o grupo 2 pareceu se movimentar mais com o decorrer do tempo e alguns impulsos da minha dupla. O critério para vencer era por pontos. Palavras monossílabas valiam 1 ponto, dissílaba valiam 2 pontos, trissílaba 3 pontos e polissílabas 4 pontos. Eles tiveram 15 minutos para montar as palavras. Quem tivesse mais pontos vencia a brincadeira. Confesso que achei que não teria tanta empolgação, mas no momento em que eu disse "VALENDO!", começou a correria dentro de sala. Foi sensacional ver os rostinhos pensativos em palavras possíveis em meio um mar de sílabas. Eu fiquei responsável por averiguar se as palavras estavam separadas corretamente e as copiar no quadro, no grupo 1 e minha dupla ficou responsável por fazer o mesmo no grupo 2. Eles montaram estratégias diversas, desde colocar sílabas nos dois lados da folha, ou dobrar para diminuir a silaba como: "FOR", eles dobravam para "cortar" o R e aparecer apenas "FO" e formar novas palavras. Após o tempo proposto, fomos a contagem e pedi para que eles ( grupo 1) me ajudassem a classificar as palavras e da os devidos pontos a elas. E o mesmo se repetiu no grupo 2 com o Gabriel.
Por fim fizemos a contagem de pontos e o grupo 1 venceu. Houve gritaria de comemoração, sim, teve. Mas não vi ninguém fazendo "graça" com outros da outra equipe, não vi ninguém triste por ter perdido. Fiquei feliz pelo desempenho da turma, e da reação de maturidade entre saber perder e ganhar.
SILÊNCIO, A PEÇA NÃO VAI COMEÇAR (Thalita Duarte)
UMA ESTRELA CADENTE NA PRIMEIRA REGÊNCIA (Nalígia Holanda)
ROUBO OU ESTRATÉGIAS? (Gabriel Costa da Silva)
No segundo tempo, colocamos em prática a atividade planejada, que consistia em uma brincadeira envolvendo a formação de palavras a partir de sílabas soltas. Com a ajuda da professora regente — que, por conhecer melhor a turma, contribuiu bastante nesse processo — dividimos a sala em duas equipes.
Explicamos as regras com clareza e demos início à atividade. Logo percebemos uma diferença no engajamento das equipes: enquanto uma delas participou com muito entusiasmo, na outra apenas alguns alunos se mostraram interessados. Ainda assim, foi possível observar momentos de bastante envolvimento por parte dos pequenos. Ainda assim, algo que me chamou atenção foi a veia competitiva da turma, especialmente entre os alunos mais engajados. Eles demonstraram um grande interesse em vencer e em pontuar, o que, na minha percepção, é um potencial que vale a pena ser explorado pedagogicamente. A própria professora comentou que eles adoram jogos, então senti que seria um desperdício não aproveitar esse recurso em sala de aula de forma intencional e educativa.
Algo que chamou minha atenção foi a forma como algumas crianças começaram a modificar ou reposicionar as sílabas disponíveis para tentar encaixá-las em palavras possíveis. Pude perceber que, mesmo de forma espontânea, estavam traçando estratégias para formar o maior número de palavras — o que demonstra pensamento lógico e criatividade. A dúvida que permaneceu no ar era se aquilo era permitido ou era "roubo". Eu, particularmente, preferi acreditar que se tratava de uma estratégia muito bem pensada para ampliar suas possibilidades e pontuar mais e, ainda que de forma espontânea, um certo raciocínio linguístico criativo.
Foram formadas palavras corretas da língua portuguesa, mas também algumas que não existem oficialmente, ou que eram aproximações de palavras reais. Isso gerou algumas discussões curiosas entre os alunos sobre o que "vale" ou não como palavra, e permitiu pequenas intervenções pedagógicas durante a dinâmica. A professora caiu na gargalhada quando viu a minha equipe escrever "cachalhota" (um possível animal marítimo ainda não descoberto segundo eles) e cochalho (que na verdade era pra ser chocalho, aquele brinquedo para bebês).
Ao final, o placar ficou em 72 a 51, se não me falha a memória. A contagem dos pontos acabou ultrapassando o tempo previsto para a aula, o que fez com que algumas crianças saíssem da sala antes do encerramento. No entanto, outras fizeram questão de permanecer até o fim, ansiosas para saber se sua equipe havia vencido.
Essa experiência foi muito rica e me fez refletir sobre o papel do lúdico na aprendizagem, o engajamento dos alunos e as diferentes formas de participação dentro da mesma sala. A atividade cumpriu seu papel pedagógico e também me proporcionou um aprendizado valioso sobre condução de grupos e adaptação de estratégias conforme o andamento da aula.
NEM JESUS EXPLICA ESSA QUARTA (Ana Letícya)
Por algum milagre do universo (e do algoritmo do Uber), tive uma manhã tranquila. Nem parecia real: a moto chegou rápido, e, pasmem, não cheguei atrasada no estágio! Comecei o dia conversando com alguns alunos e, no meio da conversa, uma aluna solta:
"Sabia que quando Jesus soltar vai ser assim?", apontando para um cartaz do Leviatã. Confesso que por um momento fiquei pensando se ela tava falando da volta de Jesus, do Apocalipse ou de algum lançamento cinematográfico que perdi.
O sinal tocou, as turmas foram para as salas… menos a nossa. Ficamos naquele limbo pedagógico, sem saber o que fazer, até que a diretora nos mandou levá-los. Chegando lá, sem nenhuma orientação, pensamos: "bom, vamos deixar eles livres por um tempinho, o que pode dar errado?"
A resposta: tudo. Tudo pode dar errado.
A professora chegou logo depois, no mesmo clima dos alunos: energia nível "5 cafés e uma dose de caos". Resultado? Muitos gritos, muita agitação e eu ali no meio, tentando entender.
Pra apimentar o dia, três alunos foram parar na coordenação — dois por comportamento e outro porque estava com febre. Esse último me preocupou muito, principalmente porque ele não queria que a família fosse avisada. Tentei conversar, fazer aquele papel de investigadora, consegui pouco.
Nos minutos finais, decidimos propor uma brincadeira. Eles escolheram jogo da velha, mas, pra manter a ordem, tinham que jogar calados e comemorar em silêncio. Foi tipo pedir pra um trio elétrico desfilar em modo mudo: deu certo, mas sem graça nenhuma.
Ainda durante a aula, o aluno J. me encarava fixamente, até que soltou, bem sério:
"Tia, você já fez cirurgia no nariz?"
Eu, confusa: "Por quê?"
"Seu nariz é tão fino."
Achei engraçado o quanto ele me observou para isso.
A aluna L., que até então tinha uma rixa silenciosa comigo (não sei por quê, mas ela me olhava como quem lembra de uma traição passada), decidiu falar comigo nesse dia. Comentou das minhas unhas e riu de algumas coisas. Senti que, finalmente, o muro de Berlim entre nós começou a ruir.
Na aula de matemática, o caos seguiu firme e forte. Percebemos que quando um certo aluno começa a brigar, a sala inteira entra em modo hard. A professora A. tentou corrigir a tarefa de casa, mas só três alunos tinham feito — um clássico. Então ela desistiu e passou desafios pra casa. Agora é esperar pra ver se eles vão trazer na próxima quarta ou se vão alegar amnésia coletiva.
Essa quarta-feira foi tipo uma montanha-russa: começou calminha e terminou no looping do caos. Mas foi também um dia de conexões, de escuta e de pequenas vitórias (inclusive com a aluna que me perdoou sem dizer, rs). Entre perguntas inusitadas, brincadeiras silenciosas e alunos fervendo (literalmente), sigo aprendendo que a sala de aula é um universo à parte, onde nada é garantido, mas tudo é oportunidade. E que às vezes, sobreviver ao estágio já é, por si só, uma conquista digna de troféu.
NO EPISÓDIO DE HOJE... (Loriene Ribeiro)
Relato 8
Primeiramente, boa tarde e, caramba, já estamos no oitavo relato?! O tempo está voando e só de pensar que logo, logo vamos nos despedir das crianças, já fico com saudade. Elas são tão engraçadas e eu acho o máximo ver a personalidade de cada uma. A maioria só está nesse planeta há cerca de uma década, o que é relativamente pouco quando se fala de infância, mas já sabem de tanta coisa, têm tantas opiniões e ideias sobre o mundo. Definitivamente, elas não são uma folha em branco e, para mim, isso é uma das coisas mais fascinantes em relação às crianças.
Muito bem, quarta-feira foi uma loucura. Eu sinceramente me senti num episódio do Zorra Total ou num desenho maluco do Cartoon Network; eu até pensei em comparar com um filme do Tim Burton, mas não é para tanto. Para começar, eu cheguei bem atrasada. Quando entrei no 3° ano B, percebi que havia mais crianças do que o normal; realmente, a sala estava lotada e penso que cheguei bem perto de descobrir como um pão de queijo se sente dentro de uma Airfryer, porque o calor que estava fazendo era absurdo. Com isso, refleti sobre como a estrutura também impacta o aprendizado; imagine se a sala fosse espaçosa e climatizada? Seria algo a menos para se preocupar em meio aos cálculos, textos e provas.
Inclusive, as provas estão se aproximando, então aquela foi uma longa tarde de revisão. No primeiro tempo, o conteúdo é matemática; no segundo, educação física. Thalita e eu nos preparamos para realizar uma intervenção neste último, porém, uma iminente apresentação de teatro nos impediu de realizar a proposta. Só que acabou que não teve nem intervenção nem peça teatral. Não soubemos o porquê do cancelamento da apresentação; só continuamos na Airfryer... digo, na sala de aula, até o fim do dia.
Mas, apesar dos pesares, posso dizer que foi um dia bom. Recebi muitos abraços, apreciei os cartazes da feira de Ciências, participei de uma mini-batalha Pokémon, dei conselhos amorosos e fui advertida a não colocar o nome da minha futura filha de "Emília", pois é nome de "velha". Eu só vacilei por ter passado quase a tarde inteira chamando de "Benício" uma criança que se chama "Murilo", mas ele me perdoou, então vida que segue. Que venha o próximo episódio!
quinta-feira, 12 de junho de 2025
QUANDO A MÚSICA NÃO BASTOU (Emily Karoline Freire Gomes)
Cheguei ao estágio cansada, com muita enxaqueca. Assim que entrei, o aluno K veio me contar como foi a feira de ciências. Ele disse que foi legal, e aquilo me despertou de novo a curiosidade sobre o nome da professora (que eu ainda não consegui gravar, mas confirmei que não tinha escutado errado antes).
Depois do toque, percebemos que a professora ainda não havia chegado na sala. Então tivemos que levar os alunos. Até eles estranharam a ausência dela. Deixamos que conversassem, porque ninguém havia passado orientação para nós — só disseram: "levem eles para a sala". Eu olhei para minha dupla como quem diz: "É isso? Agora nos viramos?". Realmente não entendi muito bem o que fazer naquele momento.
Quando a professora chegou, veio bem alvoroçada. A turma, que já estava animada, ficou mais ainda. Ela costuma colocar uma música no começo das aulas para acalmar os alunos, mas naquele dia parecia que era ela quem mais precisava da música.
A turma teve vários contratempos comportamentais, principalmente dois alunos que acabaram sendo levados para a coordenação. Isso desorganizou o ambiente, e o conteúdo sobre doenças como malária e cólera não foi trabalhado com a intensidade que poderia.
Depois do intervalo, na aula de matemática, a turma continuava agitada. A professora tentou fazer a correção das atividades e percebeu que quase ninguém tinha feito a lição de casa — só três alunos fizeram. Ela comentou que não teria como passar a aula inteira corrigindo uma atividade que a maioria não fez, até porque eles precisavam adiantar o conteúdo para a prova da próxima semana. Então, conversou com eles, dizendo que isso estava acontecendo com frequência, que não era legal e que esperava que, na próxima semana, todos tivessem as atividades feitas para poderem tirar suas dúvidas e evoluírem.
Por conta do tempo, a professora propôs duas questões desafiadoras como tarefa. No entanto, algo que mais uma vez me chamou a atenção foi perceber que nem a página anterior, que também trazia atividades, havia sido realizada pela turma. Sinto que esse tem sido um dos maiores desafios: encontrar maneiras de motivar os alunos e lidar com essa dificuldade no cumprimento das tarefas. É importante lembrar que existem muitos fatores que influenciam essa situação, e que a parceria entre família e escola é fundamental para que o processo de aprendizagem aconteça de forma mais efetiva.
A PRIMEIRA REGÊNCIA DOS EXPLORADORES APRENDIZES (Sadrak Alves)
Nesta quinta-feira os ventos da trilha surravam algo diferente, não seria só mais uma simples trajetória ao lado dos guardiões dos tesouros escondidos, dessa vez, iríamos mediar uma parte da trilha. Durante toda a semana, eu e a guardiã dos passos sábios planejavamos cada caminho, cada enigma e passo dessa jornada. O coração batia forte, não por medo, mas pela responsabilidade de conduzir os guardiões em direção aos mistérios do conhecimento.
Peguei a nave da trilha bem cedo para que nenhum imprevisto cruzasse meu caminho. A guardiã dos passos sábios me enviou um sinal que iria chegar com um pequeno atraso, fiquei com coração apertado, porém não acabou aí, a guardiã do compasso iria se atrasar também. Caberia, então, a mim reunir os guardiões e conduzi-los à sala. Senti o peso do momento sem minha companheira de jornada, contei com o auxílio do guardião da trilha, que me acompanhou nessa travessia inicial. Por sorte tinha poucos guardiões, logo chegou a auxiliar e pouco depois a guardiã do compasso, a guardiã dos passos sábios e também outros guardiões.
O local da travessia precisou ser escolhido com sabedoria. O primeiro plano seria no pátio, infelizmente, logo tivemos que modificar, pois o espaço já estava reservado para uma outra missão. Foi então que escolhemos um abrigo embaixo de uma grande árvore, em frente à sala. Ali, sob sua copa protetora, preparamos os objetos encantados e o desafio do dia. A jornada começou dentro da própria sala, com um canto mágico, com objetivo de libertar sorrisos e despertar os laços entre os guardiões e os exploradores aprendizes. Logo depois, iniciou-se uma conversa sobre aniversários: -Quem já participou de um aniversário? O que costuma ter nessa festa?.. Essas pistas eram apenas a porta de entrada para o verdadeiro desafio: O aniversário do senhor Alfabeto. Logo, um enigma foi lançado: -Será que alguma letra já completou aniversário?.
As ideias começaram a florescer. Foi então que foi revelado o segredo: -O senhor alfabeto precisa de ajuda para organizar sua festa. Mas antes de começar ele deixou um presente.
Todos saíram em busca do presente, encontrando as letras pelo caminho, A, B, C…. até o Z, que servia de guia até o ponto de encontro. Lá, uma caixa misteriosa aguardava. Um guardião se aproximou, colocou a mão e retirou um envelope repleto de cartas e entregou aos seus companheiros. Um guardião leu a mensagem e desvendou o mistério. Era a hora da contação de história: O aniversário do seu alfabeto. Sentaram-se no chão e os aprendizes assumiram a narração. Nem tudo foi fácil, alguns guardiões deixavam-se distrair fácil, mas perguntas e olhares atentos os traziam de volta. Estava fluindo, até que…o céu mudou.
Uma fumaça, uma luz, um sinal. Teria sido uma estrela cadente? Um disco voador? Uma nave? as versões divergiam, mas todas interromperam a narrativa. Por sorte, a história estava quase no fim. Ainda assim, com muita dificuldade concluímos a última página e realizamos alguns questionamentos sobre o livro.
Retornamos à sala, e em clima de celebração, foi proposto que cada um desenhasse e escrevesse o nome de um presente que gostaria de oferecer o seu alfabeto, mas tinha que ser algo que iniciasse com a primeira letra do seu nome. Surgiram diversos desenhos incríveis, que logo ficaram expostos em um varal na sala.
Embora após o intervalo tenha ocorrido outros trajetos, resolvi guardar para outro momento os relatos dessas passagens e deixar registrado aqui apenas o brilho desse primeiro ato da jornada realizado por nós exploradores aprendizes.
Foi um momento em que nós se via à frente da trilha, pela primeira vez conduzimos sozinho os passos iniciais dos guardiões, senti ansiedade bater no peito, lidamos com imprevistos e improvisos. Senti o peso da responsabilidade, mas também a leveza de ver os guardiões engajados, criando hipóteses, sorrindo e participando. Nem tudo saiu como o mapa prévia, mas a jornada aconteceu e isso, por si só, já é um tesouro raro.
segunda-feira, 9 de junho de 2025
A DANÇA DOS RELATOS (Eduardo)
Fonte: https://blog.runrun.it/estado-de-flow |
Existe o desafio de ficar sentado numa cadeira escutando alguém falar, de absorver uma série de informações sobre situações, ações, pensamentos e sentimentos que são narrados, de lidar com a complexidade de articular essas informações dando-lhe um sentido... E existe a habilidade necessária da atenção (para realmente ouvir o que está sendo dito), da paciência (para esperar nossa vez de falar), da empatia (para se colocar no lugar tanto de quem está relatando quanto das pessoas envolvidas no relato), da imaginação (para transformar palavras lidas em imagens em movimento)... Quando consigo mobilizar essas habilidades, me sinto fluindo, envolvido pelos relatos, me divertindo, gargalhando, sofrendo, me surpreendendo.
sexta-feira, 6 de junho de 2025
PREPARATIVOS (Levi)
FAIXA - POESIA COM A (Kairon)
sabe aquelas semanas que você não tá afim de fazer nada, parece que seu cérebro deu uma congelada.
você não consegue pensar direito, comer direito e andar direito, em tudo você costuma botar defeito.
nessa semana cansativa, declamando a minha narrativa, sinto que faço parte de uma comunidade sensitiva.
que sente.
que sente muito
que entende
que se entende
que se estende
cheguei um pouco atrasado, senta aí que vou contar, a história diferente pera aí vou começar.
cheguei na escola pra mostrar minha eficiência, pra ser professor, tem que malemolência.
dessa vez cheguei cansado, boa tarde, com licença, será que mesmo nesse estado eu mostro minha eficiência?
observando lado lado, falas e suas coerências, precisa ter empatia pra não perder a paciência.
estudando geometria na aula de matemática, estudando os macetes, estudando as suas táticas.
fabrica de pensamentos, qual a sua concepção? me diz aí qual a tua conclusão.
mesmo com toda diversão, tem que ter aprendizado, bora aprender brincando pra ninguém fica parado.
mesmo cansado, com sono e com o pé machucado, foi um dia de luta, quando que vou ser exaltado?
observando os alunos, percebi umas diferenças, eles estavam comportados mostrando aquela eficiência.
tô com bloqueio criativo, tô sem criatividade, rimando desse jeito parece que já tenho idade.
observando a professora, e toda metodologia, discorrendo o assunto enquanto a aula acontecia.
vejo novidades, um futuro promissor, o estágio tá acabando, já eu volto, professor!
PRIMEIRO DIA DE REGÊNCIA (Renata Feitosa)
Essa quarta seria diferente, iríamos pela primeira vez assumir a sala. Acordei com a sensação de insegurança, mas aliviada por já começar, pois isso significa que falta pouco.
Contextualizando — Nosso pensamento era ministrar a aula de geografia, visto que era a aula que eles mais se engajavam. Como ainda faltava um assunto de geografia a professora pediu para que déssemos continuidade e assim fizemos. Sexta feira ela me mandou o planejamento dela e o tema era "raiz africana" logo pensamos em não apenas utilizar o livro e assim fizemos.
Chegando lá as primeira aulas destinadas a português a professora utilizou para ensaiar as falas da feira de ciências, enquanto isso eu e o Gabriel estávamos finalizando os preparativos para regência. Fizemos um painel escrito " Nossas raizes africanas" o assunto abordava o que dentro da nossa cultura veio de origem africana e o contexto do porque nós temos traços culturais, advindos da colonização e as consequências da escravidão africana na nossa sociedade.
O tempo voou, logo deu o intervalo, colamos as letras do painel na parede e logo o recreio terminou. Não sei o que houve com o tempo nessa quarta-feira…
Os alunos retornaram e assim assumimos a sala, a professora estava terminando alguns preparativos para feira de ciência e nos deixou bem a vontade. Começamos por um termo que nos havíamos a professora falar umas aulas atrás, sobre miscigenação. Perguntamos se eles lembravam o que era e porque nós éramos um pais miscigenado. A princípio eles foram bem comunicativos, alguns comentaram que não lembravam, e outros responderam corretamente e assim adentramos na escravidão africana, perguntei novamente se eles achavam que isso deixou algo na sociedade.. e assim levamos esse bate papo e citamos sobre as coisas culturais que temos, desde danças à comidas e listamos na lousa. Logo após perguntamos sobre o impacto na sociedade. Sobre preconceito e racismo. Infelizmente alguns disseram que já passaram ou vivenciaram alguma cena de discriminação. Depois dessa conversa pedi para que eles desenhassem algo da cultura africana, para que pudemos refletir e ver nossas raizes.
Alguns se animaram, outros nem tanto.. na tentativa de anima-los/ encorajar-lós começamos a desenhar na lousa algo que já havíamos falado e listado na lousa, visto que muitos disseram que não sabiam como desenhar. Foi divertido, foi uma maneira de também participar da criação artística e mostrar que não precisa de muito pra fazer um desenho ( eu estava desenhando com palitinhos). Por fim, a aula se deu muito rápido e a professora estava ocupada e pediu para que passássemos atividade no livro, mas eles já estavam dispersos demais, eu pedi, mas poucos fizeram. Era apenas uma questão sobre algo que nós já tínhamos questionado, eram perguntas de vivências pessoais sobre discriminação. Alguns me mostram e consegui perceber o déficit em português de muitos. Dito isso, já estamos pensando em fazer algo relacionado a português também.
De maneira geral foi bom, espero que a próxima seja mais tranquila.
E O POLVO QUE TEM TRÊS CORAÇÕES (Larisse Sousa)
Quando cheguei, percebi que as crianças estavam envolvidas em uma proposta de desenho sobre animais marinhos em extinção. Pelo visto, estavam se preparando para a Feira de Ciências, que aconteceria na quinta-feira. Os desenhos estavam lindos, e essas crianças demonstraram ter muita criatividade e propriedade com o tema.
Algumas crianças desenharam um boto cor-de-rosa, outras desenharam um megalodonte, um tubarão enorme. Outras desenharam um polvo. Muitas crianças desenharam tartarugas marinhas, que, inclusive, ficaram lindas. Teve baleia, entre outros animais. Percebi que foi uma atividade muito rica e que elas gostam muito de desenhar. Proporcionou um aprendizado lúdico e criativo.
Depois dos desenhos, outra atividade do dia foi a apresentação oral da turma, também como parte da preparação para a feira. A sala foi dividida em 3/4 grupos, com 4/5 crianças em cada.
Um grupo ficou responsável por falar sobre os animais que estão em extinção; outro apresentou sobre as causas dessa extinção; e outro grupo compartilhou fatos curiosos sobre os animais estudados.
Uma das crianças me chamou muita atenção: o Caramelo (nome fictício). Ele é uma criança um tanto calada e normalmente demonstra ser mais quieto. Mas, ao apresentar sobre as possíveis causas de extinção, teve muita desenvoltura. Falava com firmeza, demonstrava conhecimento e propriedade no que dizia. Foi muito bonito de ver.
Nesse dia, aprendi junto com as crianças que:
- o polvo tem sangue azul;
- o megalodonte é um tubarão gigante e assustador. 😧
No fim da tarde, mais um gesto de afeto das crianças: recebi mais adesivos. Acho que meu caderno tá virando um mural de adesivos das crianças da Escola Alba Frota, e eu amo guardar essa memória comigo.
TRENA, TROCA E TERNURA: APRENDIZADOS EM CADA CENTÍMETRO (Ana Letícya)
Dia 04/06 – Quarta-feira
Pela manhã, eu estava no modo "mãe solo" no trabalho: sem auxiliar e com a esperança indo embora de mão dada com a paciência. Já estava quase aceitando meu destino de não ir ao estágio, quando, nos 45 do segundo tempo, colocaram alguém com a minha turma e eu consegui sair.
Peguei talvez a moto mais lenta de Fortaleza (sério, me sentia em slow motion), e, claro, cheguei no limite do horário. Tão agoniada que passei direto sem nem cumprimentar o professor. Só depois me toquei e dei aquele "boa tarde" meio atrasado, só pra não esquecer a educação em casa.
Ao entrar na sala, levei um mini susto: já tinha uma nova professora! Me apresentei brevemente, dizendo que éramos estagiárias já atuando na turma, mas não me estendi muito porque a aula ainda estava começando a se organizar. Comentei com minha dupla: "Temos que perguntar o nome dela!" só que uma criança se antecipou e soltou: "É professora M." Pronto, mistério resolvido. Mais tarde, ela se apresentou oficialmente.
Percebemos que ela estava um pouco confusa com os conteúdos e acabou retomando um assunto que os alunos já tinham visto. Pedi o livro de um aluno, dei uma olhada até onde tínhamos ido e a informei. Ela agradeceu, mas lamentou a ausência de registros no diário. Nos últimos 15 minutos, ela pediu que fizéssemos brincadeiras com a turma, eles escolheram jogo da velha e da forca. Foi um momento leve, com muita risada. No final, ela pediu que, dali em diante, realizássemos essas brincadeiras sempre nos 15 minutos finais de aula. Eu, meio sem saber se tinha entendido direito, só balancei a cabeça positivamente. A linguagem corporal salva.
Depois do intervalo, chegou a tão esperada aula de Matemática — nossa intervenção! Estava animada, mas já começou o desafio: os pincéis estavam mais secos que comer cuscuz velho. Mesmo assim, seguimos firmes! O tema era medidas de comprimento. Levamos réguas e dois tipos de trenas, o que já gerou bastante curiosidade nos alunos — menos na aluna L, que por algum motivo cósmico decidiu que não vai com a minha cara. Mas tudo bem, talvez os astros não estivessem alinhados, eu sou só a estagiária sendo julgada mesmo.
Organizamos os grupos para facilitar o uso dos materiais. Eles mediram lápis, cadernos, agendas… e cada grupo ficou responsável por medir uma parte da sala. Fiquei com os meninos que pegaram uma área que apelidei carinhosamente de "cantinho do chuveiro" e um dia ainda vou perguntar pra professora o que era pra ser aquilo ali. Medimos chão, parede, coluna, colegas… foi uma bagunça do bem! Suor escorrendo (o que, convenhamos, é comum por ali), mas dava pra ver o brilho no olho deles.
Um aluno de cada equipe era o responsável por anotar as medidas, e o P, mesmo em processo de alfabetização, se prontificou. Foi incrível observar como ele se esforçou na escrita, um momento simples, mas muito significativo.
O desafio veio no fechamento: precisávamos voltar pra lousa e transformar as medidas. Só que o tempo parecia ter entrado em modo acelerado. Entre a agitação da turma e os minutos escorrendo pelo relógio, me senti sendo engolida por uma super máquina do tempo. Concluímos com 1 de cada equipe, mas, não como imaginamos, mas fica o aprendizado: na próxima, a gente ajusta os ponteiros e tenta de novo.
Dias como esse me mostram que o improviso faz parte da prática docente tanto quanto a planificação. E que, mesmo diante de pincéis secos, cronogramas bagunçados e crianças com personalidades fortes, é possível criar experiências de aprendizagem significativas — que marcam tanto os alunos quanto a gente. Cada desafio vira memória, e cada tentativa nos aproxima de sermos professoras melhores. Porque na educação, o importante não é controlar tudo, mas saber dançar conforme o ritmo (e às vezes, conforme o relógio).
A QUARTA DA PRESSÃO BAIXA (Milena)
QUARTA-FEIRA DE SURTOS (Hanna)
EFEITO BORBOLETA (Thalita D.)
NÃO FOI TÃO RUIM ASSIM! (Gabriel Costa da Silva)
No primeiro tempo da aula, as crianças estavam envolvidas nos preparativos para a Feira de Ciências. Elas ensaiaram suas falas com entusiasmo e dedicação, demonstrando bastante envolvimento com o projeto. A professora havia levado uma caixa de som e um microfone para que cada um conseguisse falar e projetar sua voz com clareza. Logo de cara, o questionamento que havia feito comigo mesmo no relato passado (a respeito da criação de um projeto que envolvesse todos da turma) foi respondido. Contudo, não conseguimos aproveitar muito do momento como "plateia" dos pequenos. Enquanto isso, eu e minha dupla aproveitamos o momento para revisar e ensaiar a nossa regência, que ocorreria no segundo tempo da aula.
Quando chegou o momento da nossa intervenção, a professora titular nos deu a palavra e deixou a aula sob nossa responsabilidade. A disciplina era Geografia e, para este momento, escolhemos trabalhar o tema "Nossas raízes africanas". Queríamos propor uma reflexão sobre a presença da cultura africana no nosso cotidiano, destacando sua importância e suas contribuições. Iniciamos a atividade com uma conversa introdutória sobre o tema e, em seguida, propusemos que as crianças fizessem desenhos representando elementos do nosso dia a dia que remetem à África — seja na culinária, na música, nos penteados, nas roupas, ou em outras manifestações culturais.
No início da atividade, as crianças demonstraram interesse e curiosidade. Participaram da conversa e começaram a desenhar com empolgação. No entanto, ao longo do tempo, percebi que algumas foram se dispersando e o nível de engajamento diminuiu. Outras nem chegaram a tentar desenhar algo vindo de sua imaginação e disseram que não iriam participar da atividade. Ao tentar entender e conversar um pouco com essas crianças, percebi um certo "bloqueio" em relação à proposta de desenhar. Mesmo após as explicações e os exemplos dados na lousa, alguns demonstraram insegurança ou dificuldade para começar, como se não se sentissem confiantes em suas habilidades artísticas ou em suas ideias sobre o tema. Não as julgo, é normal se sentir assim, mas me pergunto se o pouco tempo inseridos no sistema escolar tradicional já foi suficiente para engessarem suas formas de expressão. Essa observação me fez refletir sobre a importância de criar um ambiente de acolhimento e incentivo, onde as crianças se sintam à vontade para se expressar sem medo de errar ou de serem julgadas. Apesar disso, conseguimos retomar a atenção de parte da turma, e algumas crianças se dedicaram até o final e entregaram seus trabalhos com criatividade. Alguns desenharam um pé-de-moleque, cocada, pandeiro, samba, capoeira, cada um ao seu jeito.
Surpreendentemente, terminamos a atividade antes do horário previsto, o que nos deixou um pouco "perdidos" no que viria depois. Ao virarmos para a professora, a mesma nos deu a sugestão de realizarmos a atividade do livro, e como estávamos ficando sem opções, acatamos a ideia e ajudamos os pequenos a realizarem a atividade sobre a temática. Novamente, as atenções se dispersaram muito rápido, mas muitas concluíram a atividade com êxito.
Ao final, ficamos alguns minutos após o fim da aula para organizar o mural das obras de arte produzidas pelas crianças e, modéstia parte, mas eles mandaram muito bem (e isso porque os "verdadeiros artistas" não participaram da atividade, estavam envolvidos na finalização do painel apresentável para a feira de ciências)! Foi muito divertido ver a criatividade tomar forma daqueles que se dedicaram. Refletindo sobre esse momento, percebo que manter o interesse da turma é um desafio constante e que exige estratégias de mediação mais dinâmicas. Entretanto, não foi tão ruim assim! Foi uma experiência valiosa, pois me permitiu vivenciar a prática docente, novamente, de forma mais autônoma e aprender com os desafios do dia a dia escolar.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
ENTRE DUAS TRILHAS (Sadrak Alves)
Geralmente, começo a me preparar bem cedo para mais uma jornada na trilha. Mas hoje o caminho foi diferente. Antes de seguir para o mundo encantado da escola, o destino me levou para um momento de cuidado, acompanhar minha mãe até o local que iria realizar uma cirurgia, o tempo ali corri desacelerado, parecia que os ponteiros não passavam.
Quando enfim estava indo para a estação do reabastecimento (RU) parecia que tudo está pronto para continuar… estava indo em uma carruagem reluzente (Uber carro), na hora de pagar algo aconteceu… meu satélite de dados que faz minha conexão com o universo (Dados móveis) resolveu acabar, fiquei desesperado pois não tinha como realizar o pagamento de outra maneira.
E foi aí que a travessia quase virou meme: como realizar o pagamento sem ter conexão? Pensei: - Pronto, vou virar aqueles protagonistas dos vídeos em que o motorista expõe alguém que tenta dar o calote. Mas graças a Deus não. Com um pouco de conversa, o motorista colocou para a próxima. E eu respirei aliviado.
Depois do susto, consegui almoçar, peguei a nave da trilha e segui viagem. Logo ao chegar, percebi que estava presente todos os vinte guardiões dos tesouros. É justo hoje, a minha companheira guardiã dos passos sábios não pôde está presente.
Hoje acompanhei duas guardiãs que ainda estão aprendendo a desvendar os segredos das letras. Uma delas estava com uma jujuba na mão, rapidamente falei: ainda não está no momento de comer, mas depois você pode comer. Ela não demorou muito e logo estendeu o braço e me ofereceu uma. Eu deveria ter recusado, né? E foi exatamente o que eu… não fiz. Ou melhor: o que eu deveria ter feito. Mas acabei aceitando. Comi a jujuba. E ainda agradeci. No fundo, me senti parte de uma aliança misteriosa e açucarada. Mas logo falei, guarda viu, depois você come.
Enquanto a professora organizava a sala, uma cadeira faltou. Vinte guardiões, dezenove lugares. A guardiã dos cachos escondidos, sempre esperta, sentou-se na cadeira da professora e falou: - Hoje eu sou a professora! Abram o livro na página 28 de geografia!
No mesmo instante, um guardião perguntou: -O que é que ela é?
E, em um coro, todos responderam entre risos: - mentiroso.
Riram tanto que os risos quase preencheram o espaço da cadeira que faltava.
Hoje foi um dia especial, duas guardiãs estavam completando ano, as guardiãs gêmeas. Uma delas perguntou: - Que trouxe presente para mim?
A irmã, sem hesitar, completou: - Pra mim também!
Como ninguém respondeu, ela disse, num tom de tristeza. - Nossa, ninguém nesta sala me deu presente…
Doeu um pouco ouvir isso. Mais tarde, uma das crianças que acompanhei olhou para mim, observou meu cabelo com atenção e falou: -Meu cabelo é cacheado, quando eu era pequena era igual ao seu. Mas agora cresceu e tá feio.
A fala me entristeceu e logo corrigi com carinho, dizendo que ele só tinha mudado, mas continuava lindo. Naquele momento, não era só sobre corrigir. Era sobre reafirmar. Era sobre ser apoio, ser espelho, ser escuta. Era sobre mostrar, com palavras e com presença, que sim, seus cachos são bonitos.
No segundo momento do dia, após o intervalo, continue trabalhando com as duas crianças. Mas dessa vez mudei de estratégia, ao invés de trabalhar com elas separadamente, propus que fizessem juntas. Disse que uma poderia ajudar a outra nas letras que não soubesse. Ideia funcionou, uma ajudava a outra com alegria, eram duas crianças se fazendo fortes e isso me deixou alegre.
Nesse dia, a professora estava mais leve, simpática, conversando mais, demonstrando mais paciência com as crianças e mais delicadeza. Confesso que fiquei feliz com isso. Estava tudo mais tranquilo, menos gritos e mais escuta.
Mas, mesmo com tudo isso, minha cabeça estava um pouco distante. Enquanto o corpo seguia na sala, minha mente vagava também na cirurgia da minha mãe. Conciliar o cuidado com os outros e a preocupação com quem a gente ama é como andar por duas trilhas ao mesmo tempo. Foi difícil equilibrar esses dois mundos, o mundo do cuidado com as crianças, que me pede atenção, carinho e paciência, e o mundo da minha própria preocupação, que apertava o peito a cada instante. E, mesmo assim, eu consegui estar ali de verdade. Porque presença não é perfeição. É fazer o melhor possível mesmo com as distrações, com as incertezas e os medos que a vida nos traz.