Como professor, e como cidadão, sempre me pergunto:
1. A pessoa não leu?
2. A pessoa leu, mas não entendeu?
3. A pessoa leu e entendeu, mas não deu muita bola?
Por exemplo, as pessoas que defendem que a educação deve preparar para o mercado de trabalho. Elas não leram, leram mas não entenderam ou leram e entenderam mas não deram muita bola para o terceiro objetivo da educacional nacional?
"Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho."
Se a pessoa não tinha lido, leu agora. Se nunca deu muita bola, é caso perdido. Então deixa eu me concentrar em quem não entendeu.
A gente não faz educação básica e superior para conseguir um melhor emprego ou passar num concurso. E professores não devem formar mão-de-obra qualificada. O trabalho vai muito além do mercado de trabalho.
Trabalhar é transformar um coisa em outra. Tudo bem, pode ser transformar borracha em sola de sapato numa indústria de calçados ou tornar uma pessoa num cliente numa central de telemarketing. Mas também pode ser modificar palavras em poemas ou desenvolver plenamente uma pessoa ou converter um consumidor num cidadão.
Qualificar para o trabalho é aprimorar a capacidade de nos lançarmos sobre coisas e pessoas do mundo para torná-lo um lugar melhor para todos. Como são muitas as expressões do trabalho, a educação deve ir muito além da especificidade da preparação para algumas dezenas ou mesmo centenas de ofícios profissionais.
A educação precisa chegar até o mais importante de todos os trabalhos para o qual precisamos nos qualificar: o trabalho sobre nós mesmos, no sentido de nos aperfeiçoarmos, que, coletivamente, é o trabalho para nos humanizarmos, para nos unirmos, para nos amarmos.
Se não fosse assim, cairíamos na observação de Paulo de Tarso:
"E ainda que conhecesse todos os mistérios e toda a ciência [...] se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria." (1 Cor 13: 2-3)
Então no fundo é isso: qualificar para o trabalho não é competir melhor por vagas de emprego, mas transformar a si e ao mundo. E o amor não é apenas o fim da qualificação, é também o meio como já nos revelou outro Paulo, o Freire: "a educação é um ato de amor".
Retrato do artista quando coisa
ResponderExcluir(Manuel de Barros)
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
(É tu, Lindo.)
Preciso me manoelizar um tanto mais pra chegar aí, Linda. :)
ExcluirInfelizmente vivemos numa sociedade que procura qualificar o sujeito somente para uma competição, hoje nossas crianças são instruídas para competir.são poucos os educadores que se preocupam com o emocional do ser do sujeito para que possa transformar a si e o mundo.
ResponderExcluirSomos poucos, mas com a esperança de que tem mais gente chegando. :)
ExcluirUma professora minha disse uma vez que não trabalha por amor, porque amor não paga as contas dela. Eu me surpreendi com a frase dela e foi aí que disse paa mim mesma: è, mas é tão bom quando trabalhamos com aquilo que amamos e amamos aquilo que fazemos pois isso torna tudo o mais bem mais suave! Eu rezo para que eu nunca perca esse amor pelo magistério.
ResponderExcluirQue sua oração seja atendida, Sol. Que seja atendida mesmo para os professores que não rezam por isso. :)
ExcluirAmém!:D
ResponderExcluir