segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Notas: o dinheiro educativo?

Palavras são curiosas: juntam coisas diferentes. 

Casa tanto pode ser uma construção quanto um espaço vazio numa blusa ou num jogo de tabuleiro. Manga também pode ser muita coisa, permitindo ao cantautor Fabiano dos Santos que junte, escreva e cante: "Não mangue d'eu [...] vamos nos lambuzar de manga [...] só não vale limpar a boca na manga da camisa".

E então temos nota que, entre tantas outras coisas, pode ser avaliação e dinheiro. E na escolarização se fixou realmente como um sistema econômico em que os alunos recebem um pagamento, em notas, para estudar. Embora ainda seja possível ler e aprender por pura curiosidade, são as notas que dão o ritmo do processo de ensino.

Elas são como o final de uma história. Todo o restante da narrativa, desde o início, precisa se desenvolver na direção daquele final. Se, no desfecho, as notas virão de um trabalho escrito, a metodologia precisa favorecer que o estudante escreva esse trabalho e o conteúdo estudado deve ser aquele que o estudante expressará no trabalho. O objetivo real, diferente daquele que foi lindamente formulado, há de ser simplesmente escrever o tal trabalho final.

Um professor universitário como eu, que tem um alto nível de autonomia quanto à sua prática educativa, pode fazer praticamente qualquer coisa durante um semestre menos deixar de dar nota a seus alunos. Sem aquela nota o aluno não passa pelo pedágio da educação. E o professor também não recebe a sua nota, o salário.

Nos meus delírios didáticos, fantasio começar um semestre dizendo a meus alunos que, independente do que façam ou deixem de fazer, todos já têm 10 como nota final. Mas quando penso nas acaloradas reações meritocráticas que enfrentaria, guardo o sonho para mim mesmo e para vocês que leem o didaticário.

Ainda bem que nota também também é som, e podemos cantar em sala de aula de vez em quando sem ter de emitir uma nota fiscal.

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