Faz tempo que não sou professor de Estágio, mas me vêm à mente estudantes daqueles tempos quando venho deixar minha filha Maria na escola e passo toda a tarde de quarta-feira na Alba Frota.
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Fonte: Google Maps |
Toda quarta, arranjo algo diferente pra fazer na escola. Hoje a professora da Maria, que conheço desde os tempos de Estágio, pediu para eu ler um de meus livros e cantar uma de minhas canções para a turma, o que eu fiz com alegria, embora Maria tenha ficado um pouco desconfortável com isso. Na hora do almoço, farei uma "roda de sentimentos" com ela pra descobrir o que ela estava sentindo. Outras duas professoras queridas, sabendo que eu levaria o ukulele hoje, pediram para eu também fazer uma pequena apresentação em suas salas. Essas crianças fazem eu me sentir um artista! E minhas antigas estudantes de Estágio ficariam felizes de saber que as salas agora têm ar-condicionado (sim, o prefeito cumpriu a promessa), o que alivia tanto o barulho quanto o mau cheiro. Mas nós da Associação de Pais e Amigos da Escola Alba Frota, que ajudei a fundar, já estamos tratando da recuperação do Riacho Pajeú.
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Fonte: Cecília Andrade
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Depois das pequenas apresentações nas salas de aula, fui descansar um pouco na sala das professoras, e uma delas, desde sempre muito brincalhona, falou:
— Eduardo, a UFC tá pagando tão mal assim pra tu trazer a tua filha pra Alba Frota?
Todas as pessoas que estavam na sala riram, eu inclusive, mas ficaram atentas quando perceberam que eu iria responder a sério, e não de brincadeira.
— Como todo pai, apenas estou querendo o melhor pra educação da minha filha, e sinto que conviver com crianças as mais variadas será muito melhor pra ela tanto agora como no futuro. Eu também me sentiria incoerente se defendesse a escola pública como professor da Faculdade de Educação da UFC e matriculasse minha filha numa escola particular.
— Eu não teria essa coragem, Eduardo — comentou outra professora.
— Foi aqui que ganhei essa coragem. Acompanhando vocês durante tantos semestres, diretamente e pelos relatos de minhas estudantes, passei a admirar o esforço de vocês diante das dificuldades. Então resolvi me juntar a vocês na luta por melhores condições em vez de pagar uma fortuna pra gente que eu nem conheço.
A conversa seguiu animada, com as professoras falando das dores e delícias de matricularem suas próprias filhas em escolas privadas.
Quando estava chegando perto das 11h, me levantei e disse uma frase que repito desde os tempos de Estágio:
— Já vou, gente. Tá na hora das "minhas crianças" saírem.
As professoras mais antigas riram. Saí da sala e me posicionei perto da grade. Enquanto esperava, fiquei revendo os rostos de tantas duplas que já passaram por ali com um sorriso e um "até sexta, professor". Foi quando Maria interrompeu meu devaneio, correndo até mim com sua alegria em me ver. Me ajoelhei, lhe dei um abraço e um beijo. Demos tchau à diretora e ao porteiro, caminhamos até nossa bicicleta e voltamos pedalando para casa.