Terça-feira, 22 de abril de 2025.
No dia anterior ao nosso encontro de estágio, começaram os burburinhos no grupo sobre uma paralisação. E adivinhem o dia? SIMMMM, no dia do estágio! O que seria de nós?
Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Para alguns, um dia comum. Para mim, um grande dia. Como de costume, acordei às 6 da manhã e já fui logo organizando uma grande mochila, pois tínhamos combinado nosso primeiro dia de estágio na escola. Então, preparei um look caprichado, minha marmita de guerra e um perfuminho básico pra disfarçar o fato de que não daria tempo de tomar banho. Eu estava tão ansiosa! No dia anterior, tinha encontrado o professor Eduardo nos corredores Facedianos e expressei essa ansiedade pelo início do estágio.
Às 7h25 da manhã, o professor confirmou: não teríamos como ir à escola naquele dia e nosso encontro seria online. Fiquei agoniada com a notícia. Já começou aquela quebra de expectativa… e ainda teria encontro virtual? Mas mantive o pouco equilíbrio que me restava depois de uma manhã de trabalho. Peguei meu ônibus, mas não com o destino que eu desejava, e sim com o destino possível. Cheguei na minha casinha, consegui descansar um pouco o corpo, depois de fazer o trajeto Cambeba/Bairro de Fátima com o sol rachando meu juízo (e a sola do sapato também).
Às 14h, iniciamos nosso encontro. E como sempre, o professor abriu perguntando o que estávamos sentindo. Eu: frustrada, porém aliviada por estar em casa e poder relaxar um pouco. Foi então que ele compartilhou que queria que participássemos da paralisação — e logo me veio à cabeça: "vou ter que me locomover de novo, com o sol na cabeça?". Mas não. O professor Eduardo, com toda a criatividade que carrega, nos fez participar de maneira acolhedora, com uma proposta que só alguém com um olhar bem atento conseguiria pensar.
Uma das ações da paralisação era que profissionais da educação, pais e alunos escrevessem cartas ao prefeito, dizendo qual escola cada um deseja ter. E aí veio o nosso desafio: escrever também a nossa carta. De início, achei desafiador. Mas bastou começar a escrever para que eu desabrochasse em palavras os desejos do meu mais profundo "eu": eu, criança de escola pública; eu, estudante de pedagogia; eu, professora. E nessa carta, todos os meus "eus" se expressaram com tanto sentimento que cheguei a ficar emocionada.
Foi uma escrita carregada de memórias, de lutas silenciosas, de sonhos guardados no peito há muito tempo. Enquanto escrevia, percebi o quanto desejo uma educação justa, viva e acolhedora. Uma escola onde ninguém seja invisível. Onde as crianças possam ser inteiras, os professores possam ser respeitados e os sonhos não precisem ser adiados.
Depois da atividade, li, reli, sonhei, imaginei, desejei — com toda a minha alma. Como uma criança que escreve para o Papai Noel esperando o presente de Natal, eu lia esperando que meus desejos se realizassem. Mas a vida adulta nem sempre é tão mágica assim…
Ainda assim, foi uma experiência de reflexão poderosa. Foi o tipo de aprendizado que não se escreve no quadro, mas que se sente no peito. Uma aula sem sala de aula, mas com conteúdo de sobra.
E assim foi um dia de não-estágio na escola… mas que me ensinou muito mais do que eu imaginava.
Carta:
Fortaleza, 23 de abril de 2025
Caro Prefeito Evandro,
Me chamo Ana Letícya e escrevo essa carta com o coração atravessado por muitas vivências, como aluna universitária em formação, como professora comprometida com a educação, e como aquela criança que fui por treze anos entre os muros de escolas públicas, sonhando com uma escola que fosse verdadeiramente sua. Hoje, venho, por meio desta carta, falar sobre a escola que queremos.
A escola que queremos não é apenas um espaço de permanência, mas de pertencimento. Um lugar onde as crianças não estejam apenas porque precisam, mas porque desejam estar. Desejamos escolas cujos muros abracem, não contenham. Que ofereçam estrutura segura, alimentação digna, espaços pensados para a infância e com a infância. Que as crianças encontrem ali não uma rotina rígida, mas liberdade para criar, experimentar, errar, crescer.
Queremos uma escola em que as paredes falem das crianças e com as crianças, não com quadros comprados em lojas, mas com obras produzidas por elas, com suas mãos, suas ideias, seus sentimentos. Que haja bibliotecas que não sejam fictícias, mas lugar real de encontros e leituras que formem sujeitos críticos e sonhadores. Desejamos uma escola em que nenhuma criança se sinta excluída, invisível ou silenciada. Em que a diversidade seja respeitada e celebrada. Em que as avaliações não sejam muros, mas pontes. Que os saberes sejam construídos em diálogo, e que nenhuma prova defina o que uma criança pode ou não ser.
E desejamos, com igual força, uma escola onde os professores e professoras sejam verdadeiramente valorizados. Que tenham condições reais de trabalho, tempo para o planejamento, acesso a materiais, formações continuadas, reconhecimento social e salarial. Que não carreguem a exaustão da rotina, mas a alegria da reinvenção diária do ensinar. Que possam reacender, em cada prática, o sentido da educação como ato de amor, coragem e esperança — como nos ensinou Paulo Freire.
Sonho e sigo lutando por uma escola em que a utopia não seja uma palavra distante, mas um horizonte possível. Sonho por outras Letícyas meninas e meninos de escolas públicas que encontrem, nos espaços escolares, não a repetição de silenciamentos, mas o florescer das suas potências. Que sejam vistas, ouvidas, respeitadas, provocadas a pensar, a criar, a transformar.
Escrevo esta carta porque acredito. Porque aprendi com a educação que é possível semear esperança onde tantos veem abandono. Porque, como educadora, sei que transformar a escola é transformar a sociedade.
Com esperança e compromisso,
Ana Letícya Santana.
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