sexta-feira, 25 de abril de 2025

O RETORNO DOS QUE NÃO FORAM (Loriene Ribeiro Silva)

Relato 1


     Vou logo lhes dizendo que o retorno a qual me refiro no título deste relato não diz respeito à "volta", como a que o carro ou alguém que saiu faz, mas sim à "resposta", "feedback",  "reação", até porque, como todos aqui sabem, nós não fomos. Não fomos para onde? Para a Escola Alba Frota. Quando? No dia 23 de abril de 2025. Para fazer o que? Dar início ao estágio no ensino fundamental. Enfim. Não fomos. Uma coisa que já tínhamos ouvido falar era que quase sempre surgem imprevistos, só não sabíamos que eles tinham tanta pressa em aparecer. 

     Pois bem, agora vou contar direito o que aconteceu e perdoem-me o início brusco deste relato. Bem, no dia anterior ao início do estágio, lá pelas 19 e tantas, deparo-me com um aviso de que no dia 23 não haveria aula devido a uma paralisação. Confesso aqui que li rapidamente, não prestei atenção no motivo, só me atentei ao fato de que não haveria aula e logo me preocupei com o início do estágio. Na manhã seguinte o professor confirmou: a Escola Alba Frota vai aderir à paralisação. Com essa informação eu pensei que nossa aula seria simplesmente cancelada ou que o professor passaria a leitura de algum texto, porém, ele veio com uma conversa de que teríamos aula online e que faríamos uma atividade relacionada a greve. "Atividade relacionada à greve? Isso existe?" - pensei. Na minha cabeça eu só poderia fazer algo do tipo se estivesse de em alguma manifestação, mas tudo bem. 

     A aula começou e logo fomos convidados a pensar em quais sentimentos aquela situação tinha gerado em nós, ou seja, damos nosso retorno em relação ao imprevisto e não só isso, mas também à greve, seus motivos, à luta por uma educação com "+ Freire, - Lemann" e etc. Sentimentos, retornos, reflexão. Tudo isso estava presente desde o começo da aula e culminou em cartas bem escritas e esperançosas sobre a escola que queremos. O processo foi melhor do que imaginei; me proporcionou reflexão e, mesmo que a realidade jogue areia em nossas expectativas, eu senti que preciso oferecer o melhor que tenho. Talvez eu não mude o sistema, mas se eu puder fazer a diferença na vida de alguma criança, vai valer a pena no final.


Segue a carta que escrevi:


Caro prefeito,



Venho por meio desta carta lhe dizer a escola que desejo para nossas crianças de Fortaleza. Já estou quase me formando em Pedagogia, mas para essa atividade não falo só como pedagoga, mas como uma estudante que sempre foi de escola pública. Primeiro, desejo que nossa escola seja bonita, que as paredes, as carteiras e os materiais sejam de qualidade, para que as crianças saibam que elas merecem bons materiais e que elas saibam que coisa bonita e bem cuidada não é só pra gente rica, mas para qualquer cidadão. Desejo que a merenda seja sempre de boa qualidade e suficiente para a fome de cada criança. Que seja um ambiente alegre, acolhedor e seguro. Desejo que as crianças sejam ouvidas, que elas desenvolvam sua autonomia e que tenham liberdade para se expressarem. Que a Educação faça sentido. Que as ciências, a matemática, as letras e o que mais tenha para ser aprendido não sejam coisas de outro mundo, mas que elas possam reconhecer a importância dos conhecimentos no seu próprio mundo e, assim, participar da construção do saber. Elas são capazes disso também. Desejo que os professores e demais funcionários sejam respeitados, que a carga horária não lhe tire o brilho nos olhos e que seus direitos sejam assegurados. Que as avaliações sejam para medir a aprendizagem e melhorar o que for preciso e não para rankear as escolas e pressionar estudantes e professores. No mais, desejo boas bibliotecas e salas de AEE bem equipadas. Que haja espaço para movimentos, brincadeiras e conforto. Que cada pessoa que chega à escola seja verdadeiramente acolhida e receba o respeito que todo ser humano é digno de receber. Pessoalmente aprendi que devo orar pelos governantes e, além de pedir aqui por uma melhora real, oro para que o senhor tenha sabedoria e faça o melhor pela nossa sociedade.


Com respeito e esperança,


Loriene Ribeiro. 

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