Eu acordei, nesse dia, com uma sensação de angústia. Tudo o que eu pensava era: "Eu não quero ir." Minha última experiência com a educação me deixou desmotivada, e por isso, toda essa ansiedade.
Quando eu estava saindo de casa, percebi uma ausência de movimentação estranha na escola ao lado e resolvi olhar o grupo para me certificar de que tudo estava certo. Foi então que vi a mensagem do professor informando que, por conta de uma paralisação, não haveria o primeiro dia na escola. A sensação foi de alívio.
Diante disso, o professor precisou contornar a situação, propondo uma aula on-line com a tarefa de escrevermos uma carta ao prefeito da cidade, apresentando a ideia da nossa escola ideal.
Escrever essa carta foi uma mistura de sentimentos. A princípio, parecia que eu estava apenas escrevendo um conto; em outro momento, me conectava com algo que, um dia, eu acreditei e me apaixonei, mas que, por ventura, me trouxe outra perspectiva por conta de uma experiência ruim.
Por fim, terminei a carta com uma pergunta na cabeça: Será que um dia eu verei a educação novamente com esses olhos? Encerro aqui esse relato bem intimista, mais escrito para mim do que para vocês, com a curiosidade e a esperança de que meu último relato traga visões diferentes.
Será que essa vivência será capaz de fazer vibrar algo que está parado em mim?
Carta:
Fortaleza/CE, 23 de Abril de 2025.
Prezado Senhor Prefeito,
Escrevo esta carta com o intuito de compartilhar um desejo de escola pública ideal, alinhada com princípios que considero fundamentais para a formação de cidadãos conscientes, críticos e engajados com a realidade em que vivem. Com a finalidade de melhorar a qualidade de ensino da nossa cidade.
A escola ideal é aquela que valoriza a escuta, o diálogo e o respeito mútuo. Um espaço onde estudantes não são vistos como receptores passivos de conteúdo, mas como sujeitos ativos no processo de aprendizagem, com histórias, vivências e saberes que merecem ser reconhecidos e integrados ao cotidiano escolar. A escola é sinônimo de liberdade.
A escola é sinônimo de liberdade, nesse ambiente o conhecimento não é imposto, mas construído coletivamente, com base em situações concretas da vida real. Os conteúdos escolares dialogam com a realidade local e com os desafios enfrentados pela comunidade, tornando a aprendizagem significativa e transformadora. Pois de que adianta transbordar conhecimento de realidade alheias a que eles vivem? O depósito de conhecimentos "aleatórios" é realmente uma boa educação?
A prática pedagógica é pautada pela troca, pelo questionamento e pela reflexão. O professor atua como mediador do saber, estimulando o pensamento crítico e incentivando a autonomia dos estudantes de forma que eles consigam se desenvolver integralmente.
Além disso, essa escola acolhe todas as diferenças. Promove a inclusão de forma efetiva, respeita as individualidades e se preocupa com o desenvolvimento integral dos alunos – intelectual, emocional, físico e social. E para isso é preciso ver nossas escolas de perto. Para além da formação de professores para termos profissionais melhores preparados para lidar com as individualidades, faz-se necessário que o ambiente seja adequado, ou seja, que disponha de toda acessibilidade e materiais necessários para proporcionar todas as experiências.
Ademais, a participação das famílias e da comunidade deve ser valorizada e incentivada, pois é essencial a ligação entre família-escola. A escola deixa de ser um espaço isolado e se torna um centro de convivência, diálogo e construção coletiva. Um lugar de acolhimento e respeito, como dito anteriormente, escola é sinônimo de liberdade, tornar o lugar onde nossas crianças e adolescentes passam a maior parte do tempo em lugar prazeroso e seguro é fundamental para a efetivação de todos os ideais já postos.
Essa visão de educação pública não requer apenas reformas estruturais, mas uma mudança de postura e investimento contínuo em formação de profissionais, na escuta ativa das necessidades locais e na construção de políticas educacionais verdadeiramente democráticas. Por isso venho por meio desta carta destacar meu desejo como cidadã. Ouvir o que o povo tem a dizer é necessário para evoluir. Para além disso, ouvir o principal agente dessa "missão dada", os professores. Aqueles que respiram todo esse movimento transformador, aqueles que dão tudo de si para transformar o mundo e não são vistos, são silenciados e desvalorizados. É preciso abrir os olhos para aqueles que estão lá definindo junto a vocês o futuro de uma nação.
Tenho plena convicção de que investir em uma educação humanizada e participativa é plantar as bases para um futuro mais justo, consciente e solidário. Conto com seu compromisso em tornar essa escola possível.
Agradeço pela atenção e coloco-me à disposição para dialogar e contribuir com ideias para fortalecer a educação em nosso município.
Com respeito e esperança,
Renata Feitosa Barbosa
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