sexta-feira, 25 de abril de 2025

GREVE, CARTAS, IMPREVISTOS E AULA REMOTA (Deusiane Milena de S. Martins)

Quarta seria nosso primeiro dia na escola, mas acabou não acontecendo por causa da greve. hoje é sexta feira, então minhas memórias de quarta foram se dissolvendo e eu fiquei com preguiça de escrever antes, então além de um relato, essa narrativa também é um exercício de memória.

Eu não estava ansiosa para ir à escola por vários motivos, mas o principal é que a escola é muito longe da minha casa. Mas eu moro quase chegando no Eusébio, então tudo é sempre muito longe. Outro incômodo pessoal é a aula ser à tarde; eu nunca tinha cursado nenhuma disciplina nesse horário e apesar de achar que a aula rende bastante, sempre me dá muita preguiça de sair no sol de meio dia torrando até a minha alma. 

No entanto, apesar de ter gostado dessa semana extra pra me preparar psicologicamente para a rota dos campeões, eu fiquei um pouco frustrada porque queria conhecer as crianças. Acho que nesses anos de formação, eu acabei tendo mais contato com crianças do que com adultos, então acabei nutrindo sentimentos muito bons e muitas expectativas por esses momentos com eles. Às vezes brinco com a minha irmã que nunca me senti tão amada como me sinto desde que comecei a trabalhar com crianças. 

A aula na escola acabou sendo substituída por uma aula online. Eu particularmente tenho muita dificuldade em focar em aula online, então sempre acaba virando só uma voz de fundo para alguma coisa que fico fazendo. Mas o professor acabou conseguindo o impossível: realizar uma aula remota que embora todo mundo tivesse com a câmera desligada teve muita participação, interação e sensibilidade. 

Nós participamos da greve mesmo sem ir de fato à greve. Em um dos momentos da nossa greve de Schrodinger nós escrevemos uma carta com o tema A Escola que Queremos, o que acabou desbloqueando memórias sobre a escola em que estudei. Apesar de sempre ter um ventilador quase caindo na cabeça de alguma criança e alguns professores terríveis, é uma parte da minha vida que eu guardo com muito carinho, então como um lugar significativo, acredito que as greves por melhorias são importantes, embora seja lamentável que haja tão pouco investimento na área da educação que é necessário frequentemente reafirmar a existência e as carências do ensino público.

Então de maneira geral, apesar do imprevisto ter me exposto a um formato de aula que eu não gosto, foi uma aula muito proveitosa. O professor gosta de perguntar como estamos nos sentindo, então, acredito que ao longo do dia experimentei muitas emoções, mas no fim da aula o que eu estava sentindo era esperança.

carta:

Fortaleza, 23 de Abril de 2025.

Prezado Evandro Leitão,
Venho, por meio desta, enfatizar sobre a escola que queremos. Fui estudante de Escola Pública ao longo de 12 anos e atualmente sou estudante de Universidade Pública; é triste saber que os mesmos problemas estruturais que enfrentei 10 anos atrás continuam reverberando no momento atual. 

Atualmente, estou em um programa de iniciação a docência que visa estabelecer o contato com as escolas públicas e o que tenho presenciado é uma estrutura precária, falta de material para as atividades pedagógicas, superlotação, salas quentes e professores desmotivados com a falta de valorização tanto pelo trabalho docente que realizam quanto pelo descaso com as crianças. 

Mas, assim como na época que cursei o ensino fundamental, também vejo a esperança e o vislumbre que as crianças e a comunidade escolar tem das coisas melhorarem. Portanto, a escola que queremos é uma escola onde você colocaria seus filhos para estudar; uma escola que tenha os meios para que uma criança possa se desenvolver integralmente, onde nossas crianças possam ter acesso a cultura, lazer e usufruir de uma educação digna que promova qualidade de ensino e espaço adequado para que daqui há 10 anos os problemas de hoje não continuem resistindo.

Atenciosamente,
Deusiane Milena de Sousa Martins.


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