Na terça-feira, eu estava com minha dupla de estágio na FACED, tentando descobrir todos os caminhos possíveis para chegar até a Escola Alba Frota. No final da noite, recebemos uma mensagem falando sobre uma possível greve nacional dos professores. Fiquei apreensiva, mas continuei me preparando normalmente para o estágio.
Levei tudo o que precisava na mochila, que costumo chamar de "casa", já que carrego praticamente a vida inteira ali dentro. Já estava pronta para mais um dia de trabalho quando recebi a confirmação de que realmente não haveria estágio. Bateu uma frustração imediata.A verdade é que eu já vinha de um dia bem cansativo, cheio de atividades escolares que me deixaram sobrecarregada. E agora, com o cancelamento de última hora, parecia que o peso da semana só aumentava. Era mais uma coisa para somar à exaustão que eu já estava sentindo.
Como o estágio presencial na escola havia sido suspenso, foi marcada uma reunião online para discutirmos os motivos da greve. Como seria remota, precisei voltar para casa, meu refúgio mais estável quando o assunto é foco. Confesso que tenho dificuldade em me concentrar fora de um ambiente preparado para isso, então sabia que precisava de silêncio e estrutura.
Estava saindo do meu trabalho, a caminho de casa, quando, ainda antes de cruzar o portão da escola, fui surpreendida por uma reunião de emergência que caiu de paraquedas na minha agenda já toda remendada. Como se o trajeto cansativo não fosse o bastante, ali estava mais um peso para a mochila,que já andava simbólica demais, carregando não só meus materiais, mas também o acúmulo de dias intensos e imprevisíveis.
No caminho de volta, me peguei pensando: será que estou sendo testada? Às vezes, parecia mesmo que o dia queria medir meus limites. Tive alguns contratempos no trajeto, os ônibus atrasaram consideravelmente e, quando finalmente avistei o meu se aproximando, senti um breve alívio, achando que as coisas, enfim, começariam a se resolver.Foi nesse momento que fui surpreendida por um episódio inusitado: um pássaro, em pleno voo, deixou seus dejetos exatamente sobre mim. Diante da situação, só consegui rir de nervoso. Me perguntei se aquele dia ainda poderia piorar, mas preferi não dizer isso em voz alta… vai que o universo resolve aceitar o desafio.
Consegui me conectar à reunião, mas já estava com dificuldade de concentração, imagine tentar acompanhar tudo dentro de um ônibus em movimento? Ainda assim, fiz o possível para me manter atenta ao que estava sendo discutido: desde os relatos dos colegas até os motivos gerais da greve. Achei muito interessante a proposta do professor de escrevermos cartas ao prefeito, reivindicando a escola que queremos. Foi uma forma de nos expressarmos diretamente ao poder público, colocando no papel as necessidades reais do nosso ambiente de ensino.
Confesso que, no início, me senti um pouco perdida na escrita. Mas, já em casa e com um pouco mais de foco, consegui me organizar e deixar as ideias fluírem. Escrever sobre a "escola que eu queria" se tornou, aos poucos, uma forma de transformar frustração em reflexão. Mesmo não sendo fã do ensino online, essa aula acabou sendo uma experiência diferente e, apesar de todos os imprevistos do dia, conseguiu deixar algo positivo.
Após nossa discussão sobre a greve, ficou mais evidente para mim que muitos problemas do ensino público que vivenciei continuam a perpetuar até hoje. As dificuldades que os professores enfrentam, as deficiências estruturais nas escolas e a falta de valorização da educação são desafios que se arrastam ao longo do tempo, afetando não só a qualidade do ensino, mas também a vida dos estudantes e dos profissionais da educação.
O mais interessante dessa reflexão, no entanto, é perceber que a luta dos professores não é algo isolado ou pontual; ela é, na verdade, uma batalha contínua, que precisa ser travada não só por aqueles que já estão em sala de aula, mas também por nós, os futuros educadores. Como futura professora, percebo que essa luta será o que me sustentará ao longo da minha trajetória educacional. Afinal, a defesa pelos direitos das crianças e dos educadores vai além de questões políticas; trata-se de garantir uma educação mais justa e igualitária para todos.
O professor tem o papel de criar um ambiente de aprendizado que favoreça o desenvolvimento integral dos alunos. O professor deve ser um facilitador do processo educacional, estimulando o pensamento crítico e incentivando a participação ativa dos estudantes, por meio de metodologias que conectem o aprendizado à realidade de cada um.
Além disso, é fundamental valorizar a voz dos alunos, tornando-os participantes ativos no processo educacional e respeitando suas experiências e realidades. A escola, por sua vez, deve ser um espaço inclusivo e acolhedor, que favoreça o desenvolvimento dos estudantes como um todo. Para que isso aconteça, é necessário apoio institucional, infraestrutura adequada e políticas educacionais eficazes. Essa experiência reforça que a transformação na educação começa no cotidiano da sala de aula e na construção de uma escola que promova a inclusão, a cidadania e a equidade.
Segue a Minha carta logo abaixo!
Fortaleza, 23 de abril de 2025.
Caro Senhor Prefeito,
Sou aluna do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará e venho, por meio desta carta, destacar a importância de valorizarmos uma educação pública de qualidade, voltada à formação de cidadãos críticos, conscientes e socialmente engajados. A "escola que queremos" vai muito além das promessas apresentadas em grandes propagandas. Ela precisa ser construída com diálogo, escuta e participação efetiva da comunidade escolar.
Se hoje eu pudesse imaginar a escola que eu gostaria de ter frequentado e que desejo para as futuras gerações seria uma escola viva, acolhedora, onde não apenas os alunos, mas também suas famílias e a comunidade em geral pudessem se sentir pertencentes e ouvidos.
Seria uma escola com recursos adequados para promover aulas criativas e interativas, com espaços seguros e confortáveis, onde as crianças tivessem liberdade para aprender com o corpo, com a mente e com o coração. Uma escola que fosse além do conteúdo curricular, e se mostrasse como uma verdadeira porta de entrada para múltiplas possibilidades de ser, pensar e transformar.
Hoje, como uma estudante em fase de conclusão do curso de Pedagogia, me coloco também no lugar de tantos professores e professoras que, diariamente, enfrentam desafios e seguem lutando por melhorias na educação pública. E nunca podemos esquecer que, no centro de tudo isso, está o principal sujeito da escola: o estudante. Toda decisão educacional precisa partir do compromisso com ele e com seu direito de aprender, de ser ouvido e de se desenvolver por inteiro.
No entanto, o que temos visto em muitas das nossas escolas é uma realidade que distancia esse ideal. Métodos repetitivos, a pressão por resultados em avaliações externas e uma cultura de competição entre escolas acabam esvaziando o verdadeiro sentido da educação. Obras que ficam pela metade, espaços escolares deteriorados e promessas não cumpridas comprometem não apenas o aprendizado das crianças, mas também o bem-estar de toda a comunidade escolar. Quando uma escola deixa de funcionar plenamente, todo o seu entorno sente o impacto. A escola precisa ser um espaço vivo, pulsante, e não apenas mais um número em um relatório.
Venho, portanto, por meio desta carta, pedir que Vossa Excelência volte seu olhar com atenção e compromisso para os pontos aqui levantados. Não adianta maquiar a realidade com propagandas que mostram apenas algumas escolas como vitrines de excelência, enquanto tantas outras seguem em situação de precariedade, com estruturas comprometidas e sem o devido retorno dos órgãos responsáveis. É preciso agir com justiça e transparência, garantindo que todas as escolas, sem exceção, recebam o cuidado e os investimentos necessários para que cumpram seu papel de formar cidadãos plenos. A educação de qualidade que tanto se divulga precisa, de fato, chegar a todos os cantos da nossa cidade, da propaganda à prática.
Conto com seu compromisso com a educação pública, democrática, inclusiva e transformadora que nossa Fortaleza merece.
Atenciosamente,
Emily Gomes.