terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Vestibulares (CMTP 09)

Nem passava pela minha cabeça me tornar professor. Tanto que fiz vestibular, e passei, para Engenharia Elétrica na UFC e Computação na UECE. Mas a troca das aulas da Olimpíada de Matemática pela porrinha no 2º ano, o mundo da música e as paixões adolescentes cobraram seu preço logo depois que saíram os resultados. E antes mesmo da matrícula já me deu vontade de fazer um outro curso, na área de Humanidades.

Pesquisei várias grades curriculares: Filosofia (me pareceu muito ousado para quem vinha da Matemática), Psicologia (fiquei assustado com a disciplina de Anatomia)... Escolhi História pela longa lista de disciplinas optativas interessantíssimas. 

O plano era fazer duas faculdades: Engenharia Elétrica por obrigação na UFC e História por prazer na UECE, mas a intenção não durou nem dois meses da monótona disciplina de Física I. Resolvi fazer vestibular novamente só para História na UFC. E passei.

A mudança não foi fácil. Precisei fingir que continuava assistindo aulas na Engenharia Elétrica para que meus pais não me enchessem o saco dizendo para não abandonar. Quando finalmente contei, já havei perdido o semestre e não tinha mais jeito. 

Depois de alguns meses, meu pai achou interessante ter um filho historiador, alguém com quem ele pudesse compartilhar as leituras mais densas como A Guerra de Canudos ou A História do III Reich. Minha mãe só começou a se acalmar no segundo semestre do curso, quando consegui uma bolsa de pesquisa.

Quando alguém dizia que eu iria ser professor de História, a reação era imediata:

— Não serei professor, serei historiador.

E, mesmo tendo mudado de ideia (vou contar pra vocês num dos próximos didaticários), me sinto um pesquisador de minha prática e um historiador de minha trajetória, como estou fazendo aqui com a série Como Me Tornei Professor.

Mesmo assim, de vez em quando penso em fazer um último vestibular, mas ainda não inventaram o curso que eu gostaria de fazer: uma formação em que eu frequente qualquer disciplina ofertada pela universidade, monte meu próprio currículo e termine com um histórico diferente de qualquer outro diploma.

7 comentários:

  1. Pois é, Eduardo (desculpa pela informalidade), também tive minhas idas e vindas nos cursos universitários. Sonhava com direito, ficava sempre no quase, nos vestibulares da UFC. Tentei administração, ciências contábeis, até economia! Tava mais perdido do que cachorro que caiu da mudança. Desanimado, fiz minha derradeira tentativa: consegui entrar para ciências sociais diurno na Uece. Cursei 4 anos, mas parecia ainda não ser o meu caminho e abandonei o curso. Achava que o tempo não passaria tão rápido, mas passou. Decidi fazer o curso técnico em Edificações, no Ifce, e concluí. Trabalhei alguns anos na área. Cheguei ao cargo de coordenador técnico por meio de muitas demostrações de meu conhecimento e capacidade, nadando contra a maré na empresa. Sempre via a ética como um farol a apontar o caminho da retidão, o que me fez confrontar meus superiores algumas vezes. Paguei o preço: fui transferido para outra empresa do grupo e depois demitido. Nessa época, minha mulher estava no 3º mês de gestação de meu segundo filho. Muita água rolou debaixo dessa ponte. Agora acho que você entende quando digo que há um preço a se pagar quando as escolhas feitas, embora sejam eticamente louváveis, e que "nadar contra a maré" exige uma boa dose de coragem. Mas hoje, eu já me vejo como professor, penso como professor, ensino aos meus filhos como um professor, e principalmente orgulho-me só de imaginar que, um dia, logo ali, serei realmente um professor! Adelante!

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    1. Parabéns por sua coragem, Wagner!
      Continuemos nadando e pagando o preço. :)

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  2. Infelizmente decidir ser professor, professora em nosso país não é bem aceito e muitas vezes escolhemos profissões que são bem vistas, tidas como lucrativas. E o professor não é remunerado como de fato merece, profissão tão importante não é reconhecida, espero que futuramente esse cenário mude!!

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    1. É verdade, Kaliandra.
      Façamos a nossa parte para que este cenário mude. :)

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  3. Professor Eduardo, que luta, que história! Estou no aguardo da continuação.

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    1. Estamos continuando e escrevendo a história neste exato momento, Beto. :)

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  4. Fico feliz de fazer parte dos seus próximos capítulos!

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