
Quando terminou a aula, eu estava arrependido por ter perdido os primeiros minutos. Dali em diante, não faltei nem cheguei atrasado nas aulas da Luiza.
Ela era o nosso oh captain, my captain, feito o mestre de Sociedade dos Poetas Mortos. E Fabiano nos batizou de Os internos do pátiO, uma sociedade de poetas vivíssimos. Visitávamos lugares escuros da universidade e líamos poemas passando uma lanterna de mão em mão. Quando nos formamos, começamos a nos reunir em nossas casas, principalmente na casa da Luiza, que virou nosso segundo pátio. A mestra foi se transformando em amiga, como preferia ser considerada.
Gosto de mim, e isso foi uma conquista, pois passei um tempão sem gostar. Louvavam tanto a minha bendita inteligência, e eu sabia que não era só isso. Mas aí eu compreendi que não deixava as pessoas verem meu lado afetivo, era culpa minha. Eu me defendia, porque era uma mulher pobre, preta, feia e só, numa sociedade extremamente exigente, em que você tem que ser mulher de fulano, ou tem que ser jovem, ou tem que ser bonita, ou tem que ser isso, ou tem que ser aquilo. No dia em que vi que podia ser tudo isso, se me deixasse amar, entendi que não me deixava amar porque não me amava.
Nós nos amávamos. E Manu traduziu isso em uma canção.
O nosso amor, Luiza,
Tem de ser vivido de forma musical.
Nosso tesouro é vida,
São nossas amizades, etc. e tal.
Vi o sol nascer,
Parecia com você,
Tinha o seu calor,
Brilhava forte feito amor.
Luiza desencarnou há três anos. E continua nos acompanhando. Antes de cada aula, fecho os olhos e peço a ela: Que essa aula seja tão inspiradora quanto as suas.
De vez em quando, Luiza me atende.
Parece a de História no ensino médio. Ela era uma miscigenação de raças. A pele era morena jambo, os olhos verdes e puxados. Sentava na mesa pra dar aula. Extremamente revolucionária. Todas as melissas eram apaixonadas por ela. Aula que ninguém faltava. Ela se amava tanto que a gente tb a amava.
ResponderExcluirDia desses numa bienal do livro encontrei com ela. A mesma. Mais baixa, pq eu cresci. As mesmas pinturas indígenas no rosto. Não pq ela se apropriava, mas pq a miscigenação tinha traços de povo indígena. Linda como sempre cabelinho curtinho e o que era antes negro na ocasião já estava bem rajado. Tinha seu charme. Eu hesitei, mas fui lá: "Eu fui sua aluna no SR". e ela: "Kátia, vc é inesquecível!"
ResponderExcluirMe pergunte o nome dela
ResponderExcluire eu sei?
Sabe mais que o nome, Katia.
ExcluirSabe o sentimento. :)
Cabelos brancos, coluna encurvada, mãos enrugadas e trêmulas.mas uma mulher de uma feto incrível e de um desejo incrível de fazer o que o outro tem a vontade de crescer. Essa é a imagem de uma professora que marcou minha vida. A minha primeira professora, que dava aula num cômodo tão apertadinho para 20 crianças na sala da casa dela depois de uma manhã inteira passar lavando roupas para os ricos da minha cidade como uma forma de sobrevivência. O nome dela? Geraldina nunca me esqueci dela.
ResponderExcluirBela imagem, Sol. :)
ExcluirUnknown= Sol rss
ResponderExcluirObrigado por me apresentar a Luiza, professor.
ResponderExcluirEla gostaria de lhe conhecer, Beto. :)
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