DIDATICÁRIO
DIÁRIO DIDÁTICO PARA GUARDAR DIDÁTICAS DE UM PROFESSOR DE DIDÁTICA, OU DIDATICÁRIO DO DIDATICÁRIO DE UM DIDATICÁRIO
quinta-feira, 19 de junho de 2025
"SIGA-ME E PONDERE A QUESTÃO" (Loriene Ribeiro)
segunda-feira, 16 de junho de 2025
CRIANDO AOS PEDAÇOS (Eduardo)
Uma técnica muito útil em processos criativos é separar os elementos de uma criação anterior e recombiná-los entre si ou com elementos de outras criações. É uma ideia simples, mas muito efetiva, e foi muito bom vê-la em ação nas regências e nos relatos de vocês. Seja a letra inicial que serve para dar vários presentes ao Sr. Alfabeto, sejam sílabas que se juntam formando as palavras mais variadas, sejam palitinhos e massinha de modelar que constroem sólidos geométricos puros ou aplicados em casas, prédios ou obras de pura imaginação.
Lembrei, pra variar, da velha citação de Paulo Freire: "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as condições para a sua construção ou produção". Essa condição criada de que as crianças manejem elementos soltos (letras, sílabas, palitos e massinhas) permite que as crianças construam e produzam conhecimento. Um conhecimento que não é apenas teórico, conceitual, mas também prático e afetivo. Porque além de criar coisas concretas como palavras e sólidos geométricos, as crianças têm mais liberdade para fazer algo que gostam. Então o ensino deixa de ser algo apenas do pensamento e se torna também algo da ação e do sentimento. Sentir, pensar e agir. Tudo junto e misturado. Aprender criando. Criar aprendendo.
As regências de vocês são fonte de ânimo e inspiração para as professoras supervisoras, que podem ceder à rotina e à monotonia devido à sobrecarga de trabalho. É como se soprasse uma brisa suave dentro das quentes salas de aula. Os elementos da experiência das professoras com os elementos da animação de vocês também podem render boas combinações num conhecimento construído ou produzido. Foi o que vi claramente na regência do guardião e da guardiã.
E as regências de vocês também têm efeito sobre mim, sobre minha prática pedagógica. A partir dos relatos de vocês, me veio a ideia de um jogo. Estou desenvolvendo pra gente jogar na próxima aula de sexta-feira. 😉
sexta-feira, 13 de junho de 2025
MASSINHA E PALITOS (Levi)
MAIS UMA OU MENOS UMA QUARTA-FEIRA? (Hanna)
PRIMEIRA REGÊNCIA: PLANEJAMENTOS, SURPRESAS E APRENDIZADOS (Larisse Sousa)
O planejamento inicial era que Bia e eu conduzíssemos a aula da professora, que já era habitualmente feita com a turma. Queríamos, assim, nos inserir na rotina natural das crianças e da professora, e também nos apropriarmos de uma dinâmica já comum no meio escolar. A ideia era começar com algo que elas já estivessem acostumadas, para que pudéssemos observar e nos adaptar à rotina da sala.
Pedimos o planejamento com antecedência à professora, mas, por conta de outras demandas e das formações pedagógicas que ela participou durante a semana, ela não conseguiu nos enviar. Ainda assim, nos adiantou que o conteúdo seria sobre as ruas, o que já nos deu um ponto de partida. Eu e minha dupla nos organizamos e nos preparamos com base nisso.
Ao chegarmos na escola, a professora nos mostrou o planejamento do dia, para que pudéssemos nos situar e organizar nossa regência a partir dele.
Só que, nesse dia, houve muitas surpresas com eventos diferentes e atípicos que tomaram boa parte do tempo. O primeiro evento foi a apresentação do Palhaço Alba. A apresentação foi super divertida, lúdica e bem engraçada para todos. As crianças gostaram muito, e nós também.
Em seguida, houve uma oficina de reciclagem com os mesmos participantes, com a proposta de construção de instrumentos musicais a partir de materiais recicláveis. Foi uma experiência rica, cheia de criatividade e bastante interessante.
Todavia, devido às atividades externas, não conseguimos concluir tudo o que a professora havia planejado para o dia, por mais que, nas últimas horas, tenhamos conseguido assumir a condução das atividades com mais autonomia e sem imprevistos.
Aprendemos, na prática, que o planejamento precisa ser flexível. E nossa expectativa também. No ambiente escolar, é comum que os imprevistos aconteçam, e precisamos estar preparadas para adaptar aquilo que foi previamente pensado. Mesmo com as mudanças, as crianças continuam aprendendo, e nós, aprendendo junto com elas. Foi um dia cheio, de fato, e nossa regência teve um gostinho de planejar, viver e se adaptar.
Desejo encerrar esse relato com a minha parte da criação da canção "Se essa rua fosse minha", que foi uma das propostas dadas às crianças no livro didático:
Se essa rua, se essa rua fosse minha,
Eu mandava, eu mandava-a colorir
Com desenhos e pinturas deslumbrantes,
Pra todas as crianças aqui vir.
AVALIAÇÃO (Milena)
QUEBRA DE EXPECTATIVA GERA BOAS SURPRESAS? (Ana Beatriz)
SEGUNDA REGÊNCIA (Renata Feitosa)
Mais um dia de estágio começando e outra vez a sequência de aulas foi alterada por uma atividade avaliativa da disciplina de geografia. Nesse meio tempo eu e minha dupla aproveitamos para finalizar os preparativos para regência que seria apenas no segundo tempo. Após finalizarmos, voltamos para sala, eles já tinham terminado a avaliação e logo a professora adiantou em passar a atividade de português já que ela não teria o tempo de costume por conta da nossa regência.
Um dos alunos entrou em sala e logo ela me chamou e perguntou se eu poderia ajudá-lo na atividade avaliativa que ele não tinha participado, supus que ele estava na aula de reforço tendo em vista que ela já tinha citado que ele era um dos alunos que ainda não era alfabetizado. Enfim, concordei e logo fui sentar ao lado dele. Dando início eu não tinha noção como iria fazer isso, como auxiliar em um atividade avaliativa que precisava de interpretação textual? Tentei o meu máximo para que ele tivesse autonomia e instiguei a leitura, mas eu já estava indicando onde ele iria ler, será que realmente era um auxílio ou eu dei as respostas? Mas o que eu faria? Deixaria ele sem responder? Como poderia ajudá-lo de outra forma? Respirei e continuei, nada que eu fizesse mudaria aquele cenário, infelizmente ele também é mais um vítima do sistema que o empurra de série em série a cada ano. Ficamos o resto do primeiro tempo mais o intervalo em sala, o que diga-se de passagem eu achei injusto. A maneira como a escola visa ajudá-lo é sobrecarregar ele com aulas/tarefas sem nenhum tempo de ao menos respirar e comer.. por que sim, ele não lanchou esse dia.
Logo após fim do recreio, a professora já havia perguntado se o tempo que tínhamos programado daria para ela fazer uma breve correção da atividade que ela havia passado no final do primeiro tempo e dissemos que não haveria problema e assim aconteceu.
Quando ela acabou a correção nos deu a palavra. Como eu havia dito no último relato tínhamos notado que os alunos demonstravam dificuldade em português, mais precisamente na formação e separação de palavras e letras. Dito isso pensamos em uma atividade de competição que consistia em formar/montar palavras através de sílabas de maneira correta. O início da atividade foi propor que eles mesmos fizessem as sílabas. Separamos a sala em dois grupos e distribuímos papéis para que eles fizessem as sílabas. A priori o grupo 1 se engajou mais e montaram a estratégia de pensar em palavras antes de escrevem as sílabas para que já tivessem palavras feitas. Já o grupo 2 pareceu não ter muito ânimo para dinâmica, mas acredito que faltamos com atenção em deixar no grupo 2 com crianças que já são tímidas e menos participativas. A divisão da sala foi feita apenas com um critério, que dois alunos que já eram mais avançados não ficassem no mesmo grupo, e o resto das crianças foram dívidas como já estava organizado em sala.
Demos alguns minutos para que eles finalizassem e o grupo 2 pareceu se movimentar mais com o decorrer do tempo e alguns impulsos da minha dupla. O critério para vencer era por pontos. Palavras monossílabas valiam 1 ponto, dissílaba valiam 2 pontos, trissílaba 3 pontos e polissílabas 4 pontos. Eles tiveram 15 minutos para montar as palavras. Quem tivesse mais pontos vencia a brincadeira. Confesso que achei que não teria tanta empolgação, mas no momento em que eu disse "VALENDO!", começou a correria dentro de sala. Foi sensacional ver os rostinhos pensativos em palavras possíveis em meio um mar de sílabas. Eu fiquei responsável por averiguar se as palavras estavam separadas corretamente e as copiar no quadro, no grupo 1 e minha dupla ficou responsável por fazer o mesmo no grupo 2. Eles montaram estratégias diversas, desde colocar sílabas nos dois lados da folha, ou dobrar para diminuir a silaba como: "FOR", eles dobravam para "cortar" o R e aparecer apenas "FO" e formar novas palavras. Após o tempo proposto, fomos a contagem e pedi para que eles ( grupo 1) me ajudassem a classificar as palavras e da os devidos pontos a elas. E o mesmo se repetiu no grupo 2 com o Gabriel.
Por fim fizemos a contagem de pontos e o grupo 1 venceu. Houve gritaria de comemoração, sim, teve. Mas não vi ninguém fazendo "graça" com outros da outra equipe, não vi ninguém triste por ter perdido. Fiquei feliz pelo desempenho da turma, e da reação de maturidade entre saber perder e ganhar.
SILÊNCIO, A PEÇA NÃO VAI COMEÇAR (Thalita Duarte)
UMA ESTRELA CADENTE NA PRIMEIRA REGÊNCIA (Nalígia Holanda)
ROUBO OU ESTRATÉGIAS? (Gabriel Costa da Silva)
No segundo tempo, colocamos em prática a atividade planejada, que consistia em uma brincadeira envolvendo a formação de palavras a partir de sílabas soltas. Com a ajuda da professora regente — que, por conhecer melhor a turma, contribuiu bastante nesse processo — dividimos a sala em duas equipes.
Explicamos as regras com clareza e demos início à atividade. Logo percebemos uma diferença no engajamento das equipes: enquanto uma delas participou com muito entusiasmo, na outra apenas alguns alunos se mostraram interessados. Ainda assim, foi possível observar momentos de bastante envolvimento por parte dos pequenos. Ainda assim, algo que me chamou atenção foi a veia competitiva da turma, especialmente entre os alunos mais engajados. Eles demonstraram um grande interesse em vencer e em pontuar, o que, na minha percepção, é um potencial que vale a pena ser explorado pedagogicamente. A própria professora comentou que eles adoram jogos, então senti que seria um desperdício não aproveitar esse recurso em sala de aula de forma intencional e educativa.
Algo que chamou minha atenção foi a forma como algumas crianças começaram a modificar ou reposicionar as sílabas disponíveis para tentar encaixá-las em palavras possíveis. Pude perceber que, mesmo de forma espontânea, estavam traçando estratégias para formar o maior número de palavras — o que demonstra pensamento lógico e criatividade. A dúvida que permaneceu no ar era se aquilo era permitido ou era "roubo". Eu, particularmente, preferi acreditar que se tratava de uma estratégia muito bem pensada para ampliar suas possibilidades e pontuar mais e, ainda que de forma espontânea, um certo raciocínio linguístico criativo.
Foram formadas palavras corretas da língua portuguesa, mas também algumas que não existem oficialmente, ou que eram aproximações de palavras reais. Isso gerou algumas discussões curiosas entre os alunos sobre o que "vale" ou não como palavra, e permitiu pequenas intervenções pedagógicas durante a dinâmica. A professora caiu na gargalhada quando viu a minha equipe escrever "cachalhota" (um possível animal marítimo ainda não descoberto segundo eles) e cochalho (que na verdade era pra ser chocalho, aquele brinquedo para bebês).
Ao final, o placar ficou em 72 a 51, se não me falha a memória. A contagem dos pontos acabou ultrapassando o tempo previsto para a aula, o que fez com que algumas crianças saíssem da sala antes do encerramento. No entanto, outras fizeram questão de permanecer até o fim, ansiosas para saber se sua equipe havia vencido.
Essa experiência foi muito rica e me fez refletir sobre o papel do lúdico na aprendizagem, o engajamento dos alunos e as diferentes formas de participação dentro da mesma sala. A atividade cumpriu seu papel pedagógico e também me proporcionou um aprendizado valioso sobre condução de grupos e adaptação de estratégias conforme o andamento da aula.
NEM JESUS EXPLICA ESSA QUARTA (Ana Letícya)
Por algum milagre do universo (e do algoritmo do Uber), tive uma manhã tranquila. Nem parecia real: a moto chegou rápido, e, pasmem, não cheguei atrasada no estágio! Comecei o dia conversando com alguns alunos e, no meio da conversa, uma aluna solta:
"Sabia que quando Jesus soltar vai ser assim?", apontando para um cartaz do Leviatã. Confesso que por um momento fiquei pensando se ela tava falando da volta de Jesus, do Apocalipse ou de algum lançamento cinematográfico que perdi.
O sinal tocou, as turmas foram para as salas… menos a nossa. Ficamos naquele limbo pedagógico, sem saber o que fazer, até que a diretora nos mandou levá-los. Chegando lá, sem nenhuma orientação, pensamos: "bom, vamos deixar eles livres por um tempinho, o que pode dar errado?"
A resposta: tudo. Tudo pode dar errado.
A professora chegou logo depois, no mesmo clima dos alunos: energia nível "5 cafés e uma dose de caos". Resultado? Muitos gritos, muita agitação e eu ali no meio, tentando entender.
Pra apimentar o dia, três alunos foram parar na coordenação — dois por comportamento e outro porque estava com febre. Esse último me preocupou muito, principalmente porque ele não queria que a família fosse avisada. Tentei conversar, fazer aquele papel de investigadora, consegui pouco.
Nos minutos finais, decidimos propor uma brincadeira. Eles escolheram jogo da velha, mas, pra manter a ordem, tinham que jogar calados e comemorar em silêncio. Foi tipo pedir pra um trio elétrico desfilar em modo mudo: deu certo, mas sem graça nenhuma.
Ainda durante a aula, o aluno J. me encarava fixamente, até que soltou, bem sério:
"Tia, você já fez cirurgia no nariz?"
Eu, confusa: "Por quê?"
"Seu nariz é tão fino."
Achei engraçado o quanto ele me observou para isso.
A aluna L., que até então tinha uma rixa silenciosa comigo (não sei por quê, mas ela me olhava como quem lembra de uma traição passada), decidiu falar comigo nesse dia. Comentou das minhas unhas e riu de algumas coisas. Senti que, finalmente, o muro de Berlim entre nós começou a ruir.
Na aula de matemática, o caos seguiu firme e forte. Percebemos que quando um certo aluno começa a brigar, a sala inteira entra em modo hard. A professora A. tentou corrigir a tarefa de casa, mas só três alunos tinham feito — um clássico. Então ela desistiu e passou desafios pra casa. Agora é esperar pra ver se eles vão trazer na próxima quarta ou se vão alegar amnésia coletiva.
Essa quarta-feira foi tipo uma montanha-russa: começou calminha e terminou no looping do caos. Mas foi também um dia de conexões, de escuta e de pequenas vitórias (inclusive com a aluna que me perdoou sem dizer, rs). Entre perguntas inusitadas, brincadeiras silenciosas e alunos fervendo (literalmente), sigo aprendendo que a sala de aula é um universo à parte, onde nada é garantido, mas tudo é oportunidade. E que às vezes, sobreviver ao estágio já é, por si só, uma conquista digna de troféu.
NO EPISÓDIO DE HOJE... (Loriene Ribeiro)
Relato 8
Primeiramente, boa tarde e, caramba, já estamos no oitavo relato?! O tempo está voando e só de pensar que logo, logo vamos nos despedir das crianças, já fico com saudade. Elas são tão engraçadas e eu acho o máximo ver a personalidade de cada uma. A maioria só está nesse planeta há cerca de uma década, o que é relativamente pouco quando se fala de infância, mas já sabem de tanta coisa, têm tantas opiniões e ideias sobre o mundo. Definitivamente, elas não são uma folha em branco e, para mim, isso é uma das coisas mais fascinantes em relação às crianças.
Muito bem, quarta-feira foi uma loucura. Eu sinceramente me senti num episódio do Zorra Total ou num desenho maluco do Cartoon Network; eu até pensei em comparar com um filme do Tim Burton, mas não é para tanto. Para começar, eu cheguei bem atrasada. Quando entrei no 3° ano B, percebi que havia mais crianças do que o normal; realmente, a sala estava lotada e penso que cheguei bem perto de descobrir como um pão de queijo se sente dentro de uma Airfryer, porque o calor que estava fazendo era absurdo. Com isso, refleti sobre como a estrutura também impacta o aprendizado; imagine se a sala fosse espaçosa e climatizada? Seria algo a menos para se preocupar em meio aos cálculos, textos e provas.
Inclusive, as provas estão se aproximando, então aquela foi uma longa tarde de revisão. No primeiro tempo, o conteúdo é matemática; no segundo, educação física. Thalita e eu nos preparamos para realizar uma intervenção neste último, porém, uma iminente apresentação de teatro nos impediu de realizar a proposta. Só que acabou que não teve nem intervenção nem peça teatral. Não soubemos o porquê do cancelamento da apresentação; só continuamos na Airfryer... digo, na sala de aula, até o fim do dia.
Mas, apesar dos pesares, posso dizer que foi um dia bom. Recebi muitos abraços, apreciei os cartazes da feira de Ciências, participei de uma mini-batalha Pokémon, dei conselhos amorosos e fui advertida a não colocar o nome da minha futura filha de "Emília", pois é nome de "velha". Eu só vacilei por ter passado quase a tarde inteira chamando de "Benício" uma criança que se chama "Murilo", mas ele me perdoou, então vida que segue. Que venha o próximo episódio!
quinta-feira, 12 de junho de 2025
QUANDO A MÚSICA NÃO BASTOU (Emily Karoline Freire Gomes)
Cheguei ao estágio cansada, com muita enxaqueca. Assim que entrei, o aluno K veio me contar como foi a feira de ciências. Ele disse que foi legal, e aquilo me despertou de novo a curiosidade sobre o nome da professora (que eu ainda não consegui gravar, mas confirmei que não tinha escutado errado antes).
Depois do toque, percebemos que a professora ainda não havia chegado na sala. Então tivemos que levar os alunos. Até eles estranharam a ausência dela. Deixamos que conversassem, porque ninguém havia passado orientação para nós — só disseram: "levem eles para a sala". Eu olhei para minha dupla como quem diz: "É isso? Agora nos viramos?". Realmente não entendi muito bem o que fazer naquele momento.
Quando a professora chegou, veio bem alvoroçada. A turma, que já estava animada, ficou mais ainda. Ela costuma colocar uma música no começo das aulas para acalmar os alunos, mas naquele dia parecia que era ela quem mais precisava da música.
A turma teve vários contratempos comportamentais, principalmente dois alunos que acabaram sendo levados para a coordenação. Isso desorganizou o ambiente, e o conteúdo sobre doenças como malária e cólera não foi trabalhado com a intensidade que poderia.
Depois do intervalo, na aula de matemática, a turma continuava agitada. A professora tentou fazer a correção das atividades e percebeu que quase ninguém tinha feito a lição de casa — só três alunos fizeram. Ela comentou que não teria como passar a aula inteira corrigindo uma atividade que a maioria não fez, até porque eles precisavam adiantar o conteúdo para a prova da próxima semana. Então, conversou com eles, dizendo que isso estava acontecendo com frequência, que não era legal e que esperava que, na próxima semana, todos tivessem as atividades feitas para poderem tirar suas dúvidas e evoluírem.
Por conta do tempo, a professora propôs duas questões desafiadoras como tarefa. No entanto, algo que mais uma vez me chamou a atenção foi perceber que nem a página anterior, que também trazia atividades, havia sido realizada pela turma. Sinto que esse tem sido um dos maiores desafios: encontrar maneiras de motivar os alunos e lidar com essa dificuldade no cumprimento das tarefas. É importante lembrar que existem muitos fatores que influenciam essa situação, e que a parceria entre família e escola é fundamental para que o processo de aprendizagem aconteça de forma mais efetiva.
A PRIMEIRA REGÊNCIA DOS EXPLORADORES APRENDIZES (Sadrak Alves)
Nesta quinta-feira os ventos da trilha surravam algo diferente, não seria só mais uma simples trajetória ao lado dos guardiões dos tesouros escondidos, dessa vez, iríamos mediar uma parte da trilha. Durante toda a semana, eu e a guardiã dos passos sábios planejavamos cada caminho, cada enigma e passo dessa jornada. O coração batia forte, não por medo, mas pela responsabilidade de conduzir os guardiões em direção aos mistérios do conhecimento.
Peguei a nave da trilha bem cedo para que nenhum imprevisto cruzasse meu caminho. A guardiã dos passos sábios me enviou um sinal que iria chegar com um pequeno atraso, fiquei com coração apertado, porém não acabou aí, a guardiã do compasso iria se atrasar também. Caberia, então, a mim reunir os guardiões e conduzi-los à sala. Senti o peso do momento sem minha companheira de jornada, contei com o auxílio do guardião da trilha, que me acompanhou nessa travessia inicial. Por sorte tinha poucos guardiões, logo chegou a auxiliar e pouco depois a guardiã do compasso, a guardiã dos passos sábios e também outros guardiões.
O local da travessia precisou ser escolhido com sabedoria. O primeiro plano seria no pátio, infelizmente, logo tivemos que modificar, pois o espaço já estava reservado para uma outra missão. Foi então que escolhemos um abrigo embaixo de uma grande árvore, em frente à sala. Ali, sob sua copa protetora, preparamos os objetos encantados e o desafio do dia. A jornada começou dentro da própria sala, com um canto mágico, com objetivo de libertar sorrisos e despertar os laços entre os guardiões e os exploradores aprendizes. Logo depois, iniciou-se uma conversa sobre aniversários: -Quem já participou de um aniversário? O que costuma ter nessa festa?.. Essas pistas eram apenas a porta de entrada para o verdadeiro desafio: O aniversário do senhor Alfabeto. Logo, um enigma foi lançado: -Será que alguma letra já completou aniversário?.
As ideias começaram a florescer. Foi então que foi revelado o segredo: -O senhor alfabeto precisa de ajuda para organizar sua festa. Mas antes de começar ele deixou um presente.
Todos saíram em busca do presente, encontrando as letras pelo caminho, A, B, C…. até o Z, que servia de guia até o ponto de encontro. Lá, uma caixa misteriosa aguardava. Um guardião se aproximou, colocou a mão e retirou um envelope repleto de cartas e entregou aos seus companheiros. Um guardião leu a mensagem e desvendou o mistério. Era a hora da contação de história: O aniversário do seu alfabeto. Sentaram-se no chão e os aprendizes assumiram a narração. Nem tudo foi fácil, alguns guardiões deixavam-se distrair fácil, mas perguntas e olhares atentos os traziam de volta. Estava fluindo, até que…o céu mudou.
Uma fumaça, uma luz, um sinal. Teria sido uma estrela cadente? Um disco voador? Uma nave? as versões divergiam, mas todas interromperam a narrativa. Por sorte, a história estava quase no fim. Ainda assim, com muita dificuldade concluímos a última página e realizamos alguns questionamentos sobre o livro.
Retornamos à sala, e em clima de celebração, foi proposto que cada um desenhasse e escrevesse o nome de um presente que gostaria de oferecer o seu alfabeto, mas tinha que ser algo que iniciasse com a primeira letra do seu nome. Surgiram diversos desenhos incríveis, que logo ficaram expostos em um varal na sala.
Embora após o intervalo tenha ocorrido outros trajetos, resolvi guardar para outro momento os relatos dessas passagens e deixar registrado aqui apenas o brilho desse primeiro ato da jornada realizado por nós exploradores aprendizes.
Foi um momento em que nós se via à frente da trilha, pela primeira vez conduzimos sozinho os passos iniciais dos guardiões, senti ansiedade bater no peito, lidamos com imprevistos e improvisos. Senti o peso da responsabilidade, mas também a leveza de ver os guardiões engajados, criando hipóteses, sorrindo e participando. Nem tudo saiu como o mapa prévia, mas a jornada aconteceu e isso, por si só, já é um tesouro raro.
segunda-feira, 9 de junho de 2025
A DANÇA DOS RELATOS (Eduardo)
Fonte: https://blog.runrun.it/estado-de-flow |
Existe o desafio de ficar sentado numa cadeira escutando alguém falar, de absorver uma série de informações sobre situações, ações, pensamentos e sentimentos que são narrados, de lidar com a complexidade de articular essas informações dando-lhe um sentido... E existe a habilidade necessária da atenção (para realmente ouvir o que está sendo dito), da paciência (para esperar nossa vez de falar), da empatia (para se colocar no lugar tanto de quem está relatando quanto das pessoas envolvidas no relato), da imaginação (para transformar palavras lidas em imagens em movimento)... Quando consigo mobilizar essas habilidades, me sinto fluindo, envolvido pelos relatos, me divertindo, gargalhando, sofrendo, me surpreendendo.