quinta-feira, 19 de junho de 2025

"SIGA-ME E PONDERE A QUESTÃO" (Loriene Ribeiro)

Relato 9

Dentro do universo Marvel existe um conceito chamado "multiverso" que, basicamente, se refere a um conjunto de universos distintos com realidades alternativas. Agindo nesse conceito, há um personagem chamado de "O Vigia", ele é uma espécie de entidade cósmica que observa os universos com o intuito de registrar seus eventos, porém, esses seres vivem sob um juramento de nunca interferir nas realidades que observam. Então, enquanto Thanos evaporava metade da população com um estalar de dedos, o Vigia estava lá só assistindo. E hoje eu me senti como ele.

Foi um dia de prova. No primeiro tempo, as crianças realizaram uma avaliação da prefeitura e, no segundo tempo, a bimestral de matemática. Vez ou outra, uma criança pedia nossa ajuda: "Tia, quanto é tanto mais tanto?", "Tia, o que é uma esfera?", "Tia, qual é a resposta dessa?" e eu me senti exatamente como o Vigia dizendo "eu não posso interferir". Algo parecido aconteceu no recreio, quando duas meninas começaram a brigar do meu lado; não acho que era uma briga séria, mas confesso que não sabia o que fazer. A única maneira que eu sei de desarmar uma pessoa é fazê-la rir, então eu tive que apelar para cócegas.

Esse não é um recurso que posso usar sempre, então preciso pensar numa coisa nova, porque, afinal de contas, existem situações em que precisamos nos envolver. Acho que ser educador é isso: mexer na realidade alheia, não como alguém que destrói ou atrapalha, mas como alguém que, por ter contato com muitos universos, sabe de muita coisa e quer compartilhar para construir coisas boas. Na história da Marvel, o último Vigia que tentou fazer isso se deu mal, mas não estamos na realidade dele e, além disso, não somos Vigias. Cada um de nós é um universo.


segunda-feira, 16 de junho de 2025

CRIANDO AOS PEDAÇOS (Eduardo)

Uma técnica muito útil em processos criativos é separar os elementos de uma criação anterior e recombiná-los entre si ou com elementos de outras criações. É uma ideia simples, mas muito efetiva, e foi muito bom vê-la em ação nas regências e nos relatos de vocês. Seja a letra inicial que serve para dar vários presentes ao Sr. Alfabeto, sejam sílabas que se juntam formando as palavras mais variadas, sejam palitinhos e massinha de modelar que constroem sólidos geométricos puros ou aplicados em casas, prédios ou obras de pura imaginação.


Lembrei, pra variar, da velha citação de Paulo Freire: "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as condições para a sua construção ou produção". Essa condição criada de que as crianças manejem elementos soltos (letras, sílabas, palitos e massinhas) permite que as crianças construam e produzam conhecimento. Um conhecimento que não é apenas teórico, conceitual, mas também prático e afetivo. Porque além de criar coisas concretas como palavras e sólidos geométricos, as crianças têm mais liberdade para fazer algo que gostam. Então o ensino deixa de ser algo apenas do pensamento e se torna também algo da ação e do sentimento. Sentir, pensar e agir. Tudo junto e misturado. Aprender criando. Criar aprendendo.

As regências de vocês são fonte de ânimo e inspiração para as professoras supervisoras, que podem ceder à rotina e à monotonia devido à sobrecarga de trabalho. É como se soprasse uma brisa suave dentro das quentes salas de aula. Os elementos da experiência das professoras com os elementos da animação de vocês também podem render boas combinações num conhecimento construído ou produzido. Foi o que vi claramente na regência do guardião e da guardiã.

E as regências de vocês também têm efeito sobre mim, sobre minha prática pedagógica. A partir dos relatos de vocês, me veio a ideia de um jogo. Estou desenvolvendo pra gente jogar na próxima aula de sexta-feira. 😉

sexta-feira, 13 de junho de 2025

MASSINHA E PALITOS (Levi)

Chegou o grande dia da regência, aplicar o que planejei durante a semana toda. Conforme eu havia conversado com a professora, ficou decidido que na aula de Geometria seria aplicada a regência nessa disciplina. Fiquei bastante nervoso, planejei e pensei muito sobre o que poderia trabalhar em sala de aula com as crianças. As crianças estavam estudando sólidos geométricos, então montei o planejamento pensando nesse conteúdo no intuito de revisar os conceitos e realizar uma atividade de cunho lúdico com eles.

Após a primeira aula da prof. Sônia, chegou a nossa vez. Antes do recreio, expliquei o que seria feito em sala e conversei um pouco sobre o conteúdo de geometria com eles, busquei "revisar" alguns conceitos que eles já sabiam. 

Após o intervalo, começamos a colocar mão na massa: As crianças teriam que construir sólidos geométricos utilizando palitos e massinha de modelar. Inicialmente pedi para que realizassem sólidos simples como pirâmides e cabos, no entanto, com o passar do tempo as crianças utilizaram a criatividade e criaram obras utilizando os sólidos como casas e apartamentos. Deixamos as crianças realizarem suas obras por um determinado tempo, após isso realizamos uma conversa sobre o que foi feito. Quantas arestas tinham na figura deles? Quantos vértices? foram várias perguntas.

As crianças engajaram e ficaram felizes, muitas estavam animadas e gostaram da ideia. Elas utilizaram da criatividade e buscaram resgatar os conceitos a cerca dos sólidos geométricos. Durante a aula de Artes, a professora não pode comparecer, então continuamos com a atividade por todo o tempo e continuamos a conversar e debater sobre a atividade feita.

MAIS UMA OU MENOS UMA QUARTA-FEIRA? (Hanna)

Menos uma quarta de estágio, e dessa vez eu estava muito pensativa em relação à avaliação que as crianças iriam fazer no dia. Ficava me perguntando se realmente seria a mesma que vazou na semana passada, como seria aplicada, enfim, muitos questionamentos.

Quando cheguei na sala, a Milena já estava no cantinho com uma criança realizando a prova. Logo em seguida, a Larissa pediu para que eu aplicasse a avaliação com a Lua (nome fictício). Enquanto a Lua terminava de preencher a agenda, me ofereci para fazer a prova com a Lia (nome fictício). Como já havia mencionado antes, a Lia me passa muita insegurança em relação às atividades. No momento da prova, na hora de escrever as palavras, ela olhava para o teto e ficava repetindo o som da sílaba "mi, mi, mi". Quando estava quase escrevendo a letra M, olhou novamente para o teto e mais uma vez repetiu "mi, mi, mi". Porém, em vez de escrever o M, escreveu a letra B.

Ela já reconhece os sons das vogais, então acertou o I, mas o que era para ser "milho" acabou ficando "bio". Conversei com a professora e, mais uma vez, ressaltei que percebo nela uma grande insegurança — um medo de errar, que a impede de tentar. No final da avaliação, ela já não queria mais pensar ou fazer as atividades. Estava com os olhinhos vermelhos, como se quisesse chorar. Quando finalizou, abaixou a cabeça e ficou com um semblante triste.

Logo depois, fui realizar a prova com a Carla (nome fictício), outra criança com dificuldades com letras e sons. Porém, diferente da Lia, a Carla não demonstra tristeza por não saber. Durante a prova, ela ficava olhando para a parede onde está o alfabeto e escrevia qualquer letra no papel. Pedi que ela se concentrasse e disse que estava percebendo o que ela estava fazendo. Foi então que ela me disse: "Eu não quero fazer essa prova, não ligo de tirar nota baixa", como se já tivesse aceitado que não consegue aprender. Mais uma vez, conversei com a professora, e falamos sobre como ela, na verdade, se importa sim, mas finge que não liga para não ficar triste. E sim, foi a mesma prova que vazou.

Após isso, foi o intervalo. Quando voltamos, fiz a avaliação com a Lua. Assim como a Lia, ela só reconhece os sons das vogais e ainda não assimilou as consoantes.

A Lua, como já mencionei em outros relatos, tem mutismo seletivo e escolheu a escola como o lugar onde prefere ficar em silêncio. Aproveitei o momento da prova para tentar incentivá-la a falar algo comigo. Fingi que não sabia a cor do milho, e ela chegou a abrir e fechar a boca, como se quisesse dizer que era amarelo, mas infelizmente ainda não foi dessa vez. Mesmo assim, sigo conseguindo fazê-la rir — o que surpreende Larissa.

No final da tarde, as crianças me ensinaram a brincar de "Pikachu", e foi um momento bastante divertido que eu e a Milena compartilhamos com elas. (Para aprender a brincadeira, perguntar a Milena pois ela sabe mais que eu)

PRIMEIRA REGÊNCIA: PLANEJAMENTOS, SURPRESAS E APRENDIZADOS (Larisse Sousa)

Até que enfim chegou a primeira regência. Estava ansiosa, um pouco nervosa, mas crente de que iria dar tudo certo. A esperança é a última que morre e o importante é manter o otimismo, né mesmo?

O planejamento inicial era que Bia e eu conduzíssemos a aula da professora, que já era habitualmente feita com a turma. Queríamos, assim, nos inserir na rotina natural das crianças e da professora, e também nos apropriarmos de uma dinâmica já comum no meio escolar. A ideia era começar com algo que elas já estivessem acostumadas, para que pudéssemos observar e nos adaptar à rotina da sala.

Pedimos o planejamento com antecedência à professora, mas, por conta de outras demandas e das formações pedagógicas que ela participou durante a semana, ela não conseguiu nos enviar. Ainda assim, nos adiantou que o conteúdo seria sobre as ruas, o que já nos deu um ponto de partida. Eu e minha dupla nos organizamos e nos preparamos com base nisso.

Ao chegarmos na escola, a professora nos mostrou o planejamento do dia, para que pudéssemos nos situar e organizar nossa regência a partir dele. 

Com isso, colocamos a mão na massa para conduzir as atividades. Conduzimos a agenda, a marcação do calendário e fizemos uso do livro didático para orientar a aula das crianças. Estávamos prontas para seguir o plano de ensinarmos sobre o uso do "ç", sobre as ruas das quais elas fazem parte, a história das ruas e o poema "Se essa rua fosse minha".

Só que, nesse dia, houve muitas surpresas com eventos diferentes e atípicos que tomaram boa parte do tempo. O primeiro evento foi a apresentação do Palhaço Alba. A apresentação foi super divertida, lúdica e bem engraçada para todos. As crianças gostaram muito, e nós também.

Em seguida, houve uma oficina de reciclagem com os mesmos participantes, com a proposta de construção de instrumentos musicais a partir de materiais recicláveis. Foi uma experiência rica, cheia de criatividade e bastante interessante.

Todavia, devido às atividades externas, não conseguimos concluir tudo o que a professora havia planejado para o dia, por mais que, nas últimas horas, tenhamos conseguido assumir a condução das atividades com mais autonomia e sem imprevistos.

Aprendemos, na prática, que o planejamento precisa ser flexível. E nossa expectativa também. No ambiente escolar, é comum que os imprevistos aconteçam, e precisamos estar preparadas para adaptar aquilo que foi previamente pensado. Mesmo com as mudanças, as crianças continuam aprendendo, e nós, aprendendo junto com elas. Foi um dia cheio, de fato, e nossa regência teve um gostinho de planejar, viver e se adaptar.

Desejo encerrar esse relato com a minha parte da criação da canção "Se essa rua fosse minha", que foi uma das propostas dadas às crianças no livro didático:

Se essa rua, se essa rua fosse minha,
Eu mandava, eu mandava-a colorir
Com desenhos e pinturas deslumbrantes,
Pra todas as crianças aqui vir.
(Registro da criação da canção de uma das crianças) 🥹

AVALIAÇÃO (Milena)

Eu nem lembro mais em que quarta estamos, só sei que o tempo tem voado e falta apenas mais duas quartas na escola. Essa quarta começou muito corrida porque peguei o ônibus bem tarde, mas no fim só me atrasei uns 20 minutos; geralmente eu chego na sala junto com as crianças e vou dando boa tarde, mas devido ao atraso, as crianças ja estavam em sala e fiquei muito feliz que fui recebida com gritos de "TIAAA VOCÊ VEIO" e alguns abraços. Eu ia em direção a última mesa para deixar a bolsa e eles iam passando a mão no meu braço me cumprimentando e sorrindo. Me senti uma diva pop em turnê.

A Hanna também acabou se atrasando, e foi meio engraçado quando ela chegou porque a gente tava gêmea de roupa: calça preta e camisa vermelha. Mais tarde percebi que essa combinação era bem comum, porque encontramos outras pessoas no shopping vestidas do mesmo jeito. Uma vibe bem vendedora da Claro!

Quando cheguei na sala, a Larissa me situou sobre as avaliações que estavam sendo realizadas com as crianças desde sexta-feira. Ela contou que, sempre que tem estagiária, pede para aplicarem com umas duas crianças, pra que se familiarizem com o processo. Acredito que ela gostou da forma como a gente estava conduzindo, porque eu devo ter feito com umas quatro crianças e meio que fugi da quinta, jogando o trabalho pra Hanna porque, àquela altura do dia, meu cérebro já estava carcomido.

A avaliação (ADR) consistia em acompanhar a criança na escrita de quatro palavras: bandeirinhas, fogueira, milho e pão. Além disso, elas escreviam o seu nome e formavam uma frase com a palavra "milho". A escrita era espontânea, mas podíamos silabar a palavra para ajudá-los.

As crianças curtiram bastante. Acredito que viam mais como um desafio do que como avaliação. Algumas chegavam perto de mim e só faltavam implorar para serem as próximas. Além da ADR, também trabalhei com elas o reconhecimento do alfabeto, leitura de palavras e de frases.

Uma das crianças que pediu por favor para ser chamada deu um grito de "YESSS" quando chamei o seu nome e pedi que viesse ate a mesinha realizar a atividade comigo. Ele já reconhecia o alfabeto e lia bem algumas palavras, mas não sabia usar o "GUE" nem o "H". Uma outra criança chegou perto e ficou observando. 

Em alguns momentos, ele esquecia como pronunciar uma sílaba e repetia toda a família. Por exemplo, na palavra BALÃO, ele lia: "BA", olhava o "LÃO" e começava a falar: "LA - LE - LI - LO - LU - LÃO", para só então dizer "BALÃO". O menino que observava falou: "Tu vai demorar o dia todo assim! Não precisa falar tudo pra ler a palavra."

Pedi para ele deixar o amigo se concentrar e seguir no tempo dele. Mas ele continuou sendo o coach da desmotivação: "Cara, assim tu vai ficar o dia todo... tem que agilizar as coisas. O "LÃO" é "LÃO", não "LA - LE - LI - LO - LU - LÃO"!

Observei a interação pedindo intervenção divina pra não rir, porque em partes concordava que ia demorar muito, mas também acredito que seja importante respeitar o tempo do outro e deixar que se aventure em formas de experienciar a leitura. 
E assim seguimos para a próxima palavra: BODE. Que ele leu assim:
ba - be - bi - BO
da - DE
BODE.

Após o recreio, as crianças retomaram as atividades do livro. Naquela tarde tinha uma cantiga de ciranda, então fomos ao pátio fazer uma grande roda com a turma que ia num ritmo meio desordenado. Por fim, voltamos pra sala e concluímos as atividades do livro.

QUEBRA DE EXPECTATIVA GERA BOAS SURPRESAS? (Ana Beatriz)

No dia da nossa primeira regência, cheguei à escola animada e preparada, levando comigo vários materiais impressos que havíamos planejado utilizar com a turma. A proposta do dia era seguir o planejamento da professora regente, trabalhando o texto da música "Se essa rua fosse minha". Iniciamos a atividade com entusiasmo, cantando com as crianças, e tudo parecia correr conforme o previsto.

No entanto, fomos surpreendidas por uma mudança inesperada: a professora havia se esquecido de nos avisar que a turma havia sido selecionada para participar de uma apresentação do "Palhaço Alba", seguida de uma oficina com sua equipe. Foi uma verdadeira quebra de expectativas!

Apesar do susto inicial, a experiência acabou sendo bastante positiva. A apresentação foi divertida e envolvente, tanto para as crianças quanto para nós, estagiárias. Durante a oficina, as crianças confeccionaram instrumentos musicais utilizando materiais recicláveis, o que despertou bastante interesse e ampliou suas possibilidades de expressão artística.

Embora essa mudança tenha interferido no nosso planejamento inicial, conseguimos realizar uma parte da regência no final do dia. Essa vivência nos trouxe um aprendizado importante: a prática docente está repleta de imprevistos e readequações. É preciso estar sempre aberta a novas situações e disposta a adaptar o planejamento às necessidades e oportunidades que surgem no cotidiano escolar.

Seguimos firmes, reorganizando nossas propostas e nos preparando com ainda mais cuidado para a próxima regência, com a certeza de que cada experiência, mesmo que diferente do previsto, contribui significativamente para a nossa formação como futuras professoras.

*Fotos: Registros do momento da regência 

SEGUNDA REGÊNCIA (Renata Feitosa)

Mais um dia de estágio começando e outra vez a sequência de aulas foi alterada por uma atividade avaliativa da disciplina de geografia. Nesse meio tempo eu e minha dupla aproveitamos para finalizar os preparativos para regência que seria apenas no segundo tempo. Após finalizarmos, voltamos para sala, eles já tinham terminado a avaliação e logo a professora adiantou em passar a atividade de português já que ela não teria o tempo de costume por conta da nossa regência.


Um dos alunos entrou em sala e logo ela me chamou e perguntou se eu poderia ajudá-lo na atividade avaliativa que ele não tinha participado, supus que ele estava na aula de reforço tendo em vista que ela já tinha citado que ele era um dos alunos que ainda não era alfabetizado. Enfim, concordei e logo fui sentar ao lado dele. Dando início eu não tinha noção como iria fazer isso, como auxiliar em um atividade avaliativa que precisava de interpretação textual? Tentei o meu máximo para que ele tivesse autonomia e instiguei a leitura, mas eu já estava indicando onde ele iria ler, será que realmente era um auxílio ou eu dei as respostas? Mas o que eu faria? Deixaria ele sem responder? Como poderia ajudá-lo de outra forma? Respirei e continuei, nada que eu fizesse mudaria aquele cenário, infelizmente ele também é mais um vítima do sistema que o empurra de série em série a cada ano. Ficamos o resto do primeiro tempo mais o intervalo em sala, o que diga-se de passagem eu achei injusto. A maneira como a escola visa ajudá-lo é sobrecarregar ele com aulas/tarefas sem nenhum tempo de ao menos respirar e comer.. por que sim, ele não lanchou esse dia. 


Logo após fim do recreio, a professora já havia perguntado se o tempo que tínhamos programado daria para ela fazer uma breve correção da atividade que ela havia passado no final do primeiro tempo e dissemos que não haveria problema e assim aconteceu. 


Quando ela acabou a correção nos deu a palavra. Como eu havia dito no último relato tínhamos notado que os alunos demonstravam dificuldade em português, mais precisamente na formação e separação de palavras e letras. Dito isso pensamos em uma atividade de competição que consistia em formar/montar palavras através de sílabas de maneira correta. O início da atividade foi propor que eles mesmos fizessem as sílabas. Separamos a sala em dois grupos e distribuímos papéis para que eles fizessem as sílabas. A priori o grupo 1 se engajou mais e montaram a estratégia de pensar em palavras antes de escrevem as sílabas para que já tivessem palavras feitas. Já o grupo 2 pareceu não ter muito ânimo para dinâmica, mas acredito que faltamos com atenção em deixar no grupo 2 com crianças que já são tímidas e menos participativas. A divisão da sala foi feita apenas com um critério, que dois alunos que já eram mais avançados não ficassem no mesmo grupo, e o resto das crianças foram dívidas como já estava organizado em sala. 


Demos alguns minutos para que eles finalizassem e o grupo 2 pareceu se movimentar mais com o decorrer do tempo e alguns impulsos da minha dupla. O critério para vencer era por pontos. Palavras monossílabas valiam 1 ponto, dissílaba valiam 2 pontos, trissílaba 3 pontos e polissílabas 4 pontos. Eles tiveram 15 minutos para montar as palavras. Quem tivesse mais pontos vencia a brincadeira. Confesso que achei que não teria tanta empolgação, mas no  momento em que eu disse "VALENDO!", começou a correria dentro de sala. Foi sensacional ver os rostinhos pensativos em palavras possíveis em meio um mar de sílabas. Eu fiquei responsável por averiguar se as palavras estavam separadas corretamente e as copiar no quadro, no grupo 1 e minha dupla ficou responsável por fazer o mesmo no grupo 2. Eles montaram estratégias diversas, desde colocar sílabas nos dois lados da folha, ou dobrar para diminuir a silaba como: "FOR", eles dobravam para "cortar" o R e aparecer apenas "FO" e formar novas palavras. Após o tempo proposto, fomos a contagem e pedi para que eles ( grupo 1) me ajudassem a classificar as palavras e da os devidos pontos a elas. E o mesmo se repetiu no grupo 2 com o Gabriel.


Por fim fizemos a contagem de pontos e o grupo 1 venceu. Houve gritaria de comemoração, sim, teve. Mas não vi ninguém fazendo "graça" com outros da outra equipe, não vi ninguém triste por ter perdido. Fiquei feliz pelo desempenho da turma, e da reação de maturidade entre saber perder e ganhar. 



SILÊNCIO, A PEÇA NÃO VAI COMEÇAR (Thalita Duarte)

Quarta-feira, 11 de junho. Estava em uma semana complicada no trabalho (igual a todas as outras...) Já acordei cansada, pensando: "E se eu não for para o estágio hoje?..." Mas desisti de desistir. Trabalhei, voei para casa e fiz tudo correndo, como sempre.

Cheguei recebendo meus abraços e sorrisos. Lori e eu havíamos combinado nossa intervenção de Educação Física para esse dia, então fiquei um pouco ansiosa ao chegar. Tudo correu como de costume: agenda, correção da atividade de casa e revisão para a prova. A professora pediu que, caso víssemos alguma criança muito dispersa, fôssemos até ela e tentássemos trazê-la de volta ao presente. Deu tudo certo, eles fizeram a revisão e nós ajudamos.

Fomos informadas de um imprevisto: aconteceria um teatro depois do recreio, então nossa intervenção foi por água abaixo.

O professor chegou e perguntamos sobre o teatro. Ele nos contou que sabia tanto quanto nós duas — ou seja, ninguém sabia de nada. Disse que também foi informado minutos antes e falou, com indignação, que nunca é comunicado sobre o que acontece por lá. Comentou que já havia pedido para ser adicionado ao grupo do WhatsApp, mas nunca o atenderam. Compartilhou ainda que, horas antes, estava em outra escola onde ocorreu uma situação complicada: a mãe de um aluno agrediu a professora por um motivo totalmente fútil. Durante o recreio, alguém pisou no pé do garoto, e a mãe foi tirar satisfação com a professora, o que acabou resultando na agressão. Chamaram a polícia para essa mãe, fiquei em choque e lamentei a situação.

Depois do recreio, esperamos... esperamos... e esperamos mais um pouco. No fim, nada aconteceu. O teatro não houve. O professor então passou algumas questões no quadro para serem respondidas, e foi isso o que fizeram na aula, no lugar do teatro.

Foi um dia morno, sem grandes emoções. Mas conversar com as crianças sempre rende umas boas risadas. E olha que hoje, pela primeira vez desde que comecei esses relatos, não teve nenhuma pérola infantil digna de registro. Mas vai que na próxima quarta elas capricham, né? Fica aí a esperança.

UMA ESTRELA CADENTE NA PRIMEIRA REGÊNCIA (Nalígia Holanda)

Depois de planejamentos, trabalhos manuais e muita expectativa, chegou o dia da primeira regência. Nosso desejo era proporcionar uma aula leve descontraída e um pouco diferente da habitual. 

Como já havíamos conversado com a professora e a mesma nos pediu ajuda para reforçar o alfabeto, decidimos trabalhar essa temática trazendo alegria e ludicidade.

Iniciamos com uma música exercitando o abecedário e ao mesmo tempo trabalhando a identidade dos alunos. Na canção os estudantes se apresentavam dizendo seu nome e a letra inicial correspondente. Após a apresentação, retiravam do quadro sua letra, mostrando para todos da sala. Assim, em um momento de interação, possibilitamos o reconhecimento fonológico, trabalhando também a oralidade. 

Em seguida houve uma descontraída roda de conversa, em que indagamos se todos gostavam de aniversário. Houve quem dissesse que gosta de bolo, de salgado e outras coisas mais. Logo após perguntamos se eles achavam possível uma letra fazer aniversário. Por incrível que pareça alguns disseram que sim, e continuando a conversa, meu colega disse que o "Seu Alfabeto"' iria convidar as letras e todas as crianças para o seu aniversário. 

Esse diálogo foi a entrada para a próxima proposta, que seria um momento de leitura. 

Prosseguimos conversando sobre como seria o aniversário do Seu Alfabeto e convidamos as crianças para seguirem uma trilha que desvendaria esse mistério. 

A trilha foi construída com letras do alfabeto fixadas no chão. O caminho das letras levaria a um outro ambiente que foi preparado com mantas e almofadas. Ao chegarmos no ambiente de leitura as crianças retiraram de uma caixa misteriosa várias cartas do Seu Alfabeto que foram distribuídas. Pedimos a uma criança para ler e o restante acompanhou a leitura. O conteúdo da carta versa sobre um convite do Seu Alfabeto para o seu aniversário. Ele explica que as crianças além de serem convidadas, seriam também responsáveis pela organização da festa. O anfitrião deixa um presente em forma de livro contando como foi o seu último aniversário. Assim iniciamos a leitura do livro: O aniversário do Seu Alfabeto. 

Nos revezamos na leitura, fazendo pequenas pausas para explicar algumas palavras e acontecimentos do livro. Contamos com o apoio da Professora que além de muito solícita nos ajudou nas mediações. 
Tudo estava indo bem até que o inesperado aconteceu, uma criança gritou: " Tia olha, uma estrela cadente!" .Quando olhamos para o alto, havia um avião da esquadrilha da fumaça riscando o céu. Ainda bem que a leitura já estava no final, pois ficou difícil competir com ele. Imaginem só, uma estrela cadente em pleno dia!

Ao final da leitura conversamos sobre o que as crianças entenderam do livro e o que lhes chamou a atenção. Voltamos para a sala de aula e como avaliação, pedimos para eles desenharem um presente para o Seu Alfabeto, utilizando a letra inicial do seu nome. 

Estivemos individualmente com cada criança, incentivando, auxiliando e estimulando a criatividade para as suas produções. 

Nos bastidores dessa proposta tivemos o apoio da coordenação, da professora e do nosso orientador. Embora alguns eventos tenham ocorrido como: a apresentação de um palhaço no mesmo local que havíamos pensado, um maribondo pousando em mim no começo da leitura e uma suposta estrela cadente no céu, tudo correu bem, as crianças participaram bastante e a professora gostou muito. 

Finalizamos o dia com um gostinho de quero mais para a próxima regência.


ROUBO OU ESTRATÉGIAS? (Gabriel Costa da Silva)

Durante o estágio desta semana, vivenciei mais uma experiência marcante na sala de aula. No dia 11/04 aconteceu mais um dia de regência no 5° B da Escola Alba Frota. Sem sentimentos ruins hoje, senti que estava pronto pro que viesse e que ia dar tudo certo. No primeiro tempo da aula, minha dupla e eu aproveitamos o momento para ensaiar e finalizar os preparativos da nossa regência, que seria realizada no segundo tempo. Aproveitamos esse momento para alinhar as funções de cada um, revisar as regras da atividade e garantir que tudo estivesse pronto.

No segundo tempo, colocamos em prática a atividade planejada, que consistia em uma brincadeira envolvendo a formação de palavras a partir de sílabas soltas. Com a ajuda da professora regente — que, por conhecer melhor a turma, contribuiu bastante nesse processo — dividimos a sala em duas equipes.

Explicamos as regras com clareza e demos início à atividade. Logo percebemos uma diferença no engajamento das equipes: enquanto uma delas participou com muito entusiasmo, na outra apenas alguns alunos se mostraram interessados. Ainda assim, foi possível observar momentos de bastante envolvimento por parte dos pequenos. Ainda assim, algo que me chamou atenção foi a veia competitiva da turma, especialmente entre os alunos mais engajados. Eles demonstraram um grande interesse em vencer e em pontuar, o que, na minha percepção, é um potencial que vale a pena ser explorado pedagogicamente. A própria professora comentou que eles adoram jogos, então senti que seria um desperdício não aproveitar esse recurso em sala de aula de forma intencional e educativa.

Algo que chamou minha atenção foi a forma como algumas crianças começaram a modificar ou reposicionar as sílabas disponíveis para tentar encaixá-las em palavras possíveis. Pude perceber que, mesmo de forma espontânea, estavam traçando estratégias para formar o maior número de palavras — o que demonstra pensamento lógico e criatividade. A dúvida que permaneceu no ar era se aquilo era permitido ou era "roubo". Eu, particularmente, preferi acreditar que se tratava de uma estratégia muito bem pensada para ampliar suas possibilidades e pontuar mais e, ainda que de forma espontânea, um certo raciocínio linguístico criativo.

Foram formadas palavras corretas da língua portuguesa, mas também algumas que não existem oficialmente, ou que eram aproximações de palavras reais. Isso gerou algumas discussões curiosas entre os alunos sobre o que "vale" ou não como palavra, e permitiu pequenas intervenções pedagógicas durante a dinâmica. A professora caiu na gargalhada quando viu a minha equipe escrever "cachalhota" (um possível animal marítimo ainda não descoberto segundo eles) e cochalho (que na verdade era pra ser chocalho, aquele brinquedo para bebês).

Ao final, o placar ficou em 72 a 51, se não me falha a memória. A contagem dos pontos acabou ultrapassando o tempo previsto para a aula, o que fez com que algumas crianças saíssem da sala antes do encerramento. No entanto, outras fizeram questão de permanecer até o fim, ansiosas para saber se sua equipe havia vencido.

Essa experiência foi muito rica e me fez refletir sobre o papel do lúdico na aprendizagem, o engajamento dos alunos e as diferentes formas de participação dentro da mesma sala. A atividade cumpriu seu papel pedagógico e também me proporcionou um aprendizado valioso sobre condução de grupos e adaptação de estratégias conforme o andamento da aula.

NEM JESUS EXPLICA ESSA QUARTA (Ana Letícya)

Por algum milagre do universo (e do algoritmo do Uber), tive uma manhã tranquila. Nem parecia real: a moto chegou rápido, e, pasmem, não cheguei atrasada no estágio! Comecei o dia conversando com alguns alunos e, no meio da conversa, uma aluna solta:

"Sabia que quando Jesus soltar vai ser assim?", apontando para um cartaz do Leviatã. Confesso que por um momento fiquei pensando se ela tava falando da volta de Jesus, do Apocalipse ou de algum lançamento cinematográfico que perdi.

O sinal tocou, as turmas foram para as salas… menos a nossa. Ficamos naquele limbo pedagógico, sem saber o que fazer, até que a diretora nos mandou levá-los. Chegando lá, sem nenhuma orientação, pensamos: "bom, vamos deixar eles livres por um tempinho, o que pode dar errado?"

A resposta: tudo. Tudo pode dar errado.

A professora chegou logo depois, no mesmo clima dos alunos: energia nível "5 cafés e uma dose de caos". Resultado? Muitos gritos, muita agitação e eu ali no meio, tentando entender.

Pra apimentar o dia, três alunos foram parar na coordenação — dois por comportamento e outro porque estava com febre. Esse último me preocupou muito, principalmente porque ele não queria que a família fosse avisada. Tentei conversar, fazer aquele papel de investigadora, consegui pouco.

Nos minutos finais, decidimos propor uma brincadeira. Eles escolheram jogo da velha, mas, pra manter a ordem, tinham que jogar calados e comemorar em silêncio. Foi tipo pedir pra um trio elétrico desfilar em modo mudo: deu certo, mas sem graça nenhuma.

Ainda durante a aula, o aluno J. me encarava fixamente, até que soltou, bem sério:

"Tia, você já fez cirurgia no nariz?"

Eu, confusa: "Por quê?"

"Seu nariz é tão fino."

Achei engraçado o quanto ele me observou para isso.

A aluna L., que até então tinha uma rixa silenciosa comigo (não sei por quê, mas ela me olhava como quem lembra de uma traição passada), decidiu falar comigo nesse dia. Comentou das minhas unhas e riu de algumas coisas. Senti que, finalmente, o muro de Berlim entre nós começou a ruir.

Na aula de matemática, o caos seguiu firme e forte. Percebemos que quando um certo aluno começa a brigar, a sala inteira entra em modo hard. A professora A. tentou corrigir a tarefa de casa, mas só três alunos tinham feito — um clássico. Então ela desistiu e passou desafios pra casa. Agora é esperar pra ver se eles vão trazer na próxima quarta ou se vão alegar amnésia coletiva.

Essa quarta-feira foi tipo uma montanha-russa: começou calminha e terminou no looping do caos. Mas foi também um dia de conexões, de escuta e de pequenas vitórias (inclusive com a aluna que me perdoou sem dizer, rs). Entre perguntas inusitadas, brincadeiras silenciosas e alunos fervendo (literalmente), sigo aprendendo que a sala de aula é um universo à parte, onde nada é garantido, mas tudo é oportunidade. E que às vezes, sobreviver ao estágio já é, por si só, uma conquista digna de troféu.

NO EPISÓDIO DE HOJE... (Loriene Ribeiro)

Relato 8


Primeiramente, boa tarde e, caramba, já estamos no oitavo relato?! O tempo está voando e só de pensar que logo, logo vamos nos despedir das crianças, já fico com saudade. Elas são tão engraçadas e eu acho o máximo ver a personalidade de cada uma. A maioria só está nesse planeta há cerca de uma década, o que é relativamente pouco quando se fala de infância, mas já sabem de tanta coisa, têm tantas opiniões e ideias sobre o mundo. Definitivamente, elas não são uma folha em branco e, para mim, isso é uma das coisas mais fascinantes em relação às crianças.


Muito bem, quarta-feira foi uma loucura. Eu sinceramente me senti num episódio do Zorra Total ou num desenho maluco do Cartoon Network; eu até pensei em comparar com um filme do Tim Burton, mas não é para tanto. Para começar, eu cheguei bem atrasada. Quando entrei no 3° ano B, percebi que havia mais crianças do que o normal; realmente, a sala estava lotada e penso que cheguei bem perto de descobrir como um pão de queijo se sente dentro de uma Airfryer, porque o calor que estava fazendo era absurdo. Com isso, refleti sobre como a estrutura também impacta o aprendizado; imagine se a sala fosse espaçosa e climatizada? Seria algo a menos para se preocupar em meio aos cálculos, textos e provas.


Inclusive, as provas estão se aproximando, então aquela foi uma longa tarde de revisão. No primeiro tempo, o conteúdo é matemática; no segundo, educação física. Thalita e eu nos preparamos para realizar uma intervenção neste último, porém, uma iminente apresentação de teatro nos impediu de realizar a proposta. Só que acabou que não teve nem intervenção nem peça teatral. Não soubemos o porquê do cancelamento da apresentação; só continuamos na Airfryer... digo, na sala de aula, até o fim do dia.


Mas, apesar dos pesares, posso dizer que foi um dia bom. Recebi muitos abraços, apreciei os cartazes da feira de Ciências, participei de uma mini-batalha Pokémon, dei conselhos amorosos e fui advertida a não colocar o nome da minha futura filha de "Emília", pois é nome de "velha". Eu só vacilei por ter passado quase a tarde inteira chamando de "Benício" uma criança que se chama "Murilo", mas ele me perdoou, então vida que segue. Que venha o próximo episódio!


quinta-feira, 12 de junho de 2025

QUANDO A MÚSICA NÃO BASTOU (Emily Karoline Freire Gomes)

Cheguei ao estágio cansada, com muita enxaqueca. Assim que entrei, o aluno K veio me contar como foi a feira de ciências. Ele disse que foi legal, e aquilo me despertou de novo a curiosidade sobre o nome da professora (que eu ainda não consegui gravar, mas confirmei que não tinha escutado errado antes).

Depois do toque, percebemos que a professora ainda não havia chegado na sala. Então tivemos que levar os alunos. Até eles estranharam a ausência dela. Deixamos que conversassem, porque ninguém havia passado orientação para nós — só disseram: "levem eles para a sala". Eu olhei para minha dupla como quem diz: "É isso? Agora nos viramos?". Realmente não entendi muito bem o que fazer naquele momento.

Quando a professora chegou, veio bem alvoroçada. A turma, que já estava animada, ficou mais ainda. Ela costuma colocar uma música no começo das aulas para acalmar os alunos, mas naquele dia parecia que era ela quem mais precisava da música.

A turma teve vários contratempos comportamentais, principalmente dois alunos que acabaram sendo levados para a coordenação. Isso desorganizou o ambiente, e o conteúdo sobre doenças como malária e cólera não foi trabalhado com a intensidade que poderia.

Depois do intervalo, na aula de matemática, a turma continuava agitada. A professora tentou fazer a correção das atividades e percebeu que quase ninguém tinha feito a lição de casa — só três alunos fizeram. Ela comentou que não teria como passar a aula inteira corrigindo uma atividade que a maioria não fez, até porque eles precisavam adiantar o conteúdo para a prova da próxima semana. Então, conversou com eles, dizendo que isso estava acontecendo com frequência, que não era legal e que esperava que, na próxima semana, todos tivessem as atividades feitas para poderem tirar suas dúvidas e evoluírem.

Por conta do tempo, a professora propôs duas questões desafiadoras como tarefa. No entanto, algo que mais uma vez me chamou a atenção foi perceber que nem a página anterior, que também trazia atividades, havia sido realizada pela turma. Sinto que esse tem sido um dos maiores desafios: encontrar maneiras de motivar os alunos e lidar com essa dificuldade no cumprimento das tarefas. É importante lembrar que existem muitos fatores que influenciam essa situação, e que a parceria entre família e escola é fundamental para que o processo de aprendizagem aconteça de forma mais efetiva.

A PRIMEIRA REGÊNCIA DOS EXPLORADORES APRENDIZES (Sadrak Alves)

Nesta quinta-feira os ventos da trilha surravam algo diferente, não seria só mais uma simples trajetória ao lado dos guardiões dos tesouros escondidos, dessa vez, iríamos mediar uma parte da trilha. Durante toda a semana, eu e a guardiã dos passos sábios planejavamos cada caminho, cada enigma e passo dessa jornada. O coração batia forte, não por medo, mas pela responsabilidade de conduzir os guardiões em direção aos mistérios do conhecimento. 

Peguei a nave da trilha bem cedo para que nenhum imprevisto cruzasse meu caminho. A guardiã dos passos sábios me enviou um sinal que iria chegar com um pequeno atraso, fiquei com coração apertado, porém não acabou aí, a guardiã do compasso iria se atrasar também. Caberia, então, a mim reunir os guardiões e conduzi-los à sala. Senti o peso do momento sem minha companheira de jornada, contei com o auxílio do guardião da trilha, que me acompanhou nessa travessia inicial. Por sorte tinha poucos guardiões, logo chegou a auxiliar e pouco depois a guardiã do compasso, a guardiã dos passos sábios e também outros guardiões.

O local da travessia precisou ser escolhido com sabedoria. O primeiro plano seria no pátio, infelizmente, logo tivemos que modificar, pois o espaço já estava reservado para uma outra missão. Foi então que escolhemos um abrigo embaixo de uma grande árvore, em frente à sala. Ali, sob sua copa protetora, preparamos os objetos encantados e o desafio do dia. A jornada começou dentro da própria sala, com um canto mágico, com objetivo de libertar sorrisos e despertar os laços entre os guardiões e os exploradores aprendizes. Logo depois, iniciou-se uma conversa sobre aniversários: -Quem já participou de um aniversário? O que costuma ter nessa festa?.. Essas pistas eram apenas a porta de entrada para o verdadeiro desafio: O aniversário do senhor Alfabeto. Logo, um enigma foi lançado: -Será que alguma letra já completou aniversário?.

As ideias começaram a florescer. Foi então que foi revelado o segredo: -O senhor alfabeto precisa de ajuda para organizar sua festa. Mas antes de começar ele deixou um presente. 

Todos saíram em busca do presente, encontrando as letras pelo caminho, A, B, C…. até o Z, que servia de guia até o ponto de encontro. Lá, uma caixa misteriosa aguardava. Um guardião se aproximou, colocou a mão e retirou um envelope repleto de cartas e entregou aos seus companheiros. Um guardião leu a mensagem e desvendou o mistério. Era a hora da contação de história: O aniversário do seu alfabeto. Sentaram-se no chão e os aprendizes assumiram a narração. Nem tudo foi fácil, alguns guardiões deixavam-se distrair fácil, mas perguntas e olhares atentos os traziam de volta. Estava fluindo, até que…o céu mudou. 

Uma fumaça, uma luz, um sinal. Teria sido uma estrela cadente? Um disco voador? Uma nave? as versões divergiam, mas todas interromperam a narrativa. Por sorte, a história estava quase no fim. Ainda assim, com muita dificuldade concluímos a última página e realizamos alguns questionamentos sobre o livro. 

Retornamos à sala, e em clima de celebração, foi proposto que cada um desenhasse e escrevesse o nome de um presente que gostaria de oferecer o seu alfabeto, mas tinha que ser algo que iniciasse com a primeira letra do seu nome. Surgiram diversos desenhos incríveis, que logo ficaram expostos em um varal na sala. 

Embora após o intervalo tenha ocorrido outros trajetos, resolvi guardar para outro momento os relatos dessas passagens e deixar registrado aqui apenas o brilho desse primeiro ato da jornada realizado por nós exploradores aprendizes. 

Foi um momento em que nós se via à frente da trilha, pela primeira vez conduzimos sozinho os passos iniciais dos guardiões, senti ansiedade bater no peito, lidamos com imprevistos e  improvisos. Senti o peso da responsabilidade, mas também a leveza de ver os guardiões engajados, criando hipóteses, sorrindo e participando. Nem tudo saiu como o mapa prévia, mas a jornada aconteceu e isso, por si só, já é um tesouro raro. 


segunda-feira, 9 de junho de 2025

A DANÇA DOS RELATOS (Eduardo)

Sexta-feira, brincamos de dança das cadeiras cooperativamente. Em vez de uma pessoa ser eliminada a cada rodada, experimentamos três variações. 

Na primeira, proposta pela Renata, com tantas cadeiras quanto o número de participantes, tínhamos alguns segundos para sentar após a música parar, primeiro de olhos abertos, depois de olhos fechados. 

Na segunda variação, proposta pelo Sadrak, com tantas cadeiras quanto o número de participantes, começávamos sentados, levantávamos com a música e, quando ela parava, também tínhamos alguns segundos para sentar novamente mas ao lado de pessoas diferentes das que estavam à nossa direita e esquerda no início. 

Depois experimentamos a variação proposta por mim, com uma cadeira a menos que o número de participantes. Ao final da primeira rodada, a pessoa que não conseguiu se sentar numa cadeira deveria se sentar no colo de alguém e ninguém deveria tocar o pé, ou qualquer outra parte do corpo, no chão. A cada rodada, uma cadeira era removida e o processo se repetia. Foi chegando mais gente e o desafio final foi acomodar 15 pessoas em 5 cadeiras sem encostar os pés no chão. Todos venceram! Muita diversão e gargalhadas.

A leitura dos relatos que se seguiu, como de costume, é uma espécie de dança das cadeiras cooperativa. A cada rodada, temos um par de relatos a menos e precisamos nos colocar no colo dos relatos que ainda restam ser lidos. Fazemos poses estranhas, as experiências de um relato começam a se misturar com as experiências de outros, a mistura vai ganhando em complexidade com os comentários e as reflexões.

Eu sinto a leitura dos relatos de experiência como uma nova experiência que, geralmente, me coloca em estado de fluxo (flow).

Fonte: https://blog.runrun.it/estado-de-flow

Existe o desafio de ficar sentado numa cadeira escutando alguém falar, de absorver uma série de informações sobre situações, ações, pensamentos e sentimentos que são narrados, de lidar com a complexidade de articular essas informações dando-lhe um sentido... E existe a habilidade necessária da atenção (para realmente ouvir o que está sendo dito), da paciência (para esperar nossa vez de falar), da empatia (para se colocar no lugar tanto de quem está relatando quanto das pessoas envolvidas no relato), da imaginação (para transformar palavras lidas em imagens em movimento)... Quando consigo mobilizar essas habilidades, me sinto fluindo, envolvido pelos relatos, me divertindo, gargalhando, sofrendo, me surpreendendo.

Quando crianças, brincamos. E podemos continuar brincando durante toda a vida. Mas, como adultos, também podemos encontrar e criar outras formas de estarmos completamente no presente, nos sentindo plenos, concentrados, leves... Alguma situações da vida nos pesam e dificultam essa escolha, mas continua uma escolha: mobilizar habilidades para lidar com desafios. 

Até a próxima dança dos relatos. 😉