Neste texto, uso a letra "i" como recurso de linguagem neutra.
Hoje vou compartilhar com vocês uma estratégia-coringa que pode ser usada para os mais variados tipos de conteúdo.
Essa atividade é baseada no jogo "Bring your own book" ("Traga seu próprio livro"), um jogo competitivo para 3 a 7 jogadores. O jogo tem apenas três componentes: um conjunto de cartas, cada uma com uma pergunta; uma ampulheta de 1 minuto; e livros que cada pessoa mesmo traz. O jogo competitivo original funciona assim...
Na sua vez de jogar, uma pessoa pega uma carta do topo do baralho de perguntas e lê para as demais pessoas. Exemplos de algumas perguntas do jogo original: algo falado por um animal em um conto de fadas; o título de um romance de mistério; a frase em um biscoito da sorte japonês; letra de uma canção sertaneja; a senha secreta para uma caverna mágica...
Em seguida, cada uma das outras pessoas precisa procurar em seu próprio livro, abrindo-o ao acaso, um trecho sequencial de qualquer tamanho que responda aquela pergunta. Obviamente, já que o livro pode não ter nada a ver com a pergunta, muitas vezes só se pode encontrar uma resposta inusitada, incomum, estranha, poética, e nisso está a graça do jogo. Por exemplo, vou achar no livro que estou lendo no momento uma resposta para "algo falado por um animal em um conto de fadas". Só um momento...
Pronto. Na página em que abri o livro, encontrei duas frases que podem servir: "vale a pena repetir a conclusão" e "observe o mundo, se quiser". Escolho a segunda.
Assim que a primeira pessoa encontra uma resposta, ela aciona a ampulheta e as demais pessoas têm mais um minuto para encontrar suas próprias respostas. Você quer experimentar? Então pegue aí um livro que esteja próximo e encontre uma resposta para "algo falado por um animal em um conto de fadas"...
Achou?! Então responda essa mensagem escrevendo o que encontrou. Estou curioso.
Passado um minuto, cada pessoa lê o que encontrou. Se alguém não encontrou nada, abre novamente seu livro ao acaso e lê a primeira coisa em que colocar os olhos. A pessoa que leu a carta-pergunta funciona como um juiz, escolhendo a melhor resposta e entregando para a pessoa que a encontrou a carta-pergunta.
Em seguida, inicia-se uma nova rodada com a pessoa à esquerda de quem fez a pergunta na rodada anterior. O jogo segue assim até que uma pessoa ganhe 4 cartas (numa partida de 5 a 7 pessoas) ou 5 cartas (numa partida de 3 ou 4 pessoas). Essa pessoa é a vencedora do jogo. Durante o jogo, sempre que alguém ganha 3 cartas, cada pessoa passa seu livro para a pessoa à esquerda.
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Ao adaptar o jogo como uma atividade para a sala de aula, fiz algumas mudanças.
Primeiro, na aula anterior, peço que cada estudante traga não um, mas dois livros (para o caso de outra pessoa não trazer e poder pegar emprestado). Os livros devem ter a seguinte especificação: qualquer tipo de livro em português, de que você goste muito, que tenha texto em todas ou quase todas as páginas e que possa ser manuseado pelos colegas de turma.
Divido a turma em grupos de cinco ou seis pessoas. Sempre misturando as panelinhas.
Antes da atividade propriamente dita, cada pessoa do grupo apresenta em até um minuto o livro para as demais pessoas: título, autor, por que gosta daquele livro. Esse momento é importante por dois motivos. Primeiro, cada pessoa se sente bem ao compartilhar seu gosto de leitura com is colegas. É uma ótima chance de revelar sua própria personalidade por meio daquilo que gosta de ler. Geralmente, temos um conjunto variado de livros e de gêneros literários: da Bíblia (quase sempre presente) até ficção científica, passando por livros científicos, fantasia, distopia e poemas. Segundo motivo, é uma forma das pessoas descobrirem novos livros de que elas talvez possam gostar. Quando falamos apaixonadamente de um livro ou autor, isso costuma despertar o interesse de outras pessoas.
Além dos livros, os componentes agora são: em vez da ampulheta, o aplicativo de cronômetro do celular de uma das pessoas do grupo; e, em vez das cartas-pergunta do jogo original, papeizinhos (uma folha A4 rende 4 ou 8 papeizinhos) com perguntas relacionadas ao conteúdo que está sendo trabalhado na aula.
Na adaptação, removi o caráter competitivo do jogo. Quando todas as pessoas encontraram algo, elas conversam para decidir, se possível por meio de um consenso, qual a melhor resposta. A pessoa que encontrou essa resposta lê a próxima pergunta e, enquanto as demais pessoas procuram uma nova resposta, essa pessoa escreve a resposta anterior que encontrou no verso do papelzinho que tinha a pergunta. Dessa forma, fica um registro da melhor resposta para cada pergunta.
Uma coisa importante: as respostas precisam ter até 10 palavras. Nas primeiras vezes em que usei essa atividade, não estabeleci nenhum limite e algumas pessoas liam parágrafos inteiros, o que tomava mais tempo e era mais monótono. Além disso, respostas curtas tendem a ser mais interessantes, mais sujeitas a várias interpretações.
A atividade segue assim até que se esgote o tempo reservado para ela: geralmente, uns 90 minutos. Não há um vencedor, mas as pessoas geralmente se sentem vencedoras e animadas durante toda a atividade. Frequentemente pedem para continuar jogando.
Vou falar agora de mais algumas adaptações que fiz no jogo ao trabalhar vários conteúdos diferentes...
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ENTREVISTA COM PROFESSORES. Como escrevi no Didaticx anterior, às vezes uso essa atividade na sequência da entrevista com professoris. Então solicito, junto com os dois livros, que cada pessoa transforme as perguntas originais da entrevista em quatro perguntas curtas, que não possam ser respondidas com um mero "sim" ou "não" e que não tenham uma única resposta certa, ou seja, uma pergunta de resposta subjetiva. Cada pergunta deve ter mais três cópias legíveis, cada cópia num papelzinho do tamanho de um quarto de uma folha de A4, com a indicação do nome di aluni. Peço mais de uma cópia para que aquela pergunta possa ser respondida em vários grupos. Com a indicação do nome di aluni no papelzinho, é possível, ao final da aula, retornar para eli todas as respostas para as perguntas que eli trouxe.
ESCRITA CRIATIVA. Certa vez, numa turma da disciplina "Espaços-Tempos e composição humana", o querer de aprendizagem de algumas pessoas era "escrever crônicas", então fiz a seguinte adaptação. Cada pergunta estava relacionada a elementos característicos do gênero literário crônica: 1) tema da vida cotidiana; 2) acontecimento curioso; 3) estado de espírito do cronista; 4) personagem interessante; 5) frase inspiradora; e 6) trecho em que o cronista fala com o leitor.
1. Cada pessoa recebe um livro de crônicas para usar durante o jogo. Pode trazer um de casa, se quiser.
2. Cada pessoa tem 2 (dois) minutos para procurar no livro uma frase de 1 a 6 palavras que atenda ao elemento número 1 de uma crônica.
3. Ao terminar o tempo, cada pessoa lê a frase que escolheu e a escreve num papel que também deve conter a expressão “Elemento 1”.
4. Os papéis “Elemento 1” de todas as pessoas são agrupados formando um pequeno monte.
Repetem-se os passos 2 a 4 até que tenham sido formados seis montes contendo frases para os elementos de 1 a 6. A cada repetição, as pessoas passam o livro que têm em mãos para a pessoa à sua esquerda.
5. Os papéis de todos os montes são revelados, de modo que fiquem visíveis para todas as pessoas.
6. Cada pessoa escolhe seis papeis, sendo um de cada elemento. Várias pessoas podem escolher um mesmo papel de um dado elemento.
7. Cada pessoa terá 20 (vinte) minutos para escrever uma pequena crônica (de quinze a vinte e cinco linhas) contendo cada um dos seis elementos que escolheu.
8. Terminado o tempo, cada pessoa lê o seu texto para as demais, que apreciam como a pessoa conseguiu combinar em seu texto os seis elementos de uma crônica.
RODA DE SENTIMENTOS. Também já usei essa atividade para o primeiro momento da aula, com todas as pessoas de pé, em círculo. Em vez de simplesmente identificar e dizer o próprio sentimento, cada pessoa procura um trecho que expresse o que está sentindo no momento.
FICHA DE OBSERVAÇÃO. Já usei até para a reflexão a partir da ficha de observação no final da aula. Sentadas, num grande círculo, cada pessoa preenche cada item da ficha com algum trecho que encontra no livro que trouxe. Eu dou um minuto para achar cada item. Terminado o tempo, as pessoas que conseguiram encontrar algo para aquele item leem para toda a turma. Se o tempo estiver curto, apenas três ou quatro pessoas leem.
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E aí? Se inspirou para adaptar o jogo para algum conteúdo de suas matérias ou disciplinas?
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Você faz alguma atividade em que is alunis trazem para a sala seus gostos culturais: livros, filmes, músicas, jogos? Como você faz isso?
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