Em 2019.2, durante as eleições para o Diretório Central dos Estudantes, uma chapa fazia campanha em minha sala quando um aluno disse:
— Cadê a representação negra?
Um dis representantes disse que a pessoa negra da chapa estava realizando outra atividade naquele momento. Meu aluno insistiu e senti que a coisa poderia ficar polêmica. Interrompi a discussão, agradeci a dupla de representantes e tentei continuar a aula. Mas parece que aquela aula ainda não acabou...
Este ano, já sob a pandemia, vimos o mundo se posicionar contra o racismo após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos. Nos meses que se seguiram a esse movimento, observei um número cada vez maior de negros aparecer em programas de TV, artigos de jornal e até no meu feed do Youtube. Percebi, com um certo choque, que eu não costumava ver vídeos de pessoas negras e que não estava inscrito em nenhum canal de im negri. Comecei a ver vídeos e me inscrever.
A princípio foi uma reação. Mas ao ver mais gente negra falando, muitas vezes a respeito do racismo estrutural brasileiro, comecei a ser mais sistemático na prática de ver, ouvir e ler pessoas negras. Nas últimas semanas, essa prática se intensificou e tenho a sensação de que faço um curso sobre como ser antirracista.
Estou lendo, aos poucos e diariamente, o "Pequeno manual antirracista", da Djamila Ribeiro. E tenho visto, também diariamente, as séries Afronta! e Sankofa. Incrível como uma pessoa tão curiosa quanto eu viveu 50 anos sem curiar esse universo negro que, percebo com cada vez mais clareza, não é um mundo paralelo em outra dimensão, mas a realidade imediata fora da bolha branca em que vivi até agora.
Só hoje posso lembrar daquela aula e perceber que meu aluno não estava simplesmente sendo polêmico. Ele estava ativamente lutando pelo fim da discriminação negra no movimento estudantil, na universidade, na cidade, no país e no mundo.
É, Tomaz... você foi o meu primeiro professor antirracista e eu era um aluno meio desligado. Agora estou me esforçando. A aula continua.
Querido didaticário,
ResponderExcluirDepois q a gente sai da bolha, nunca mais consegue se isolar nela novamente.
https://www.youtube.com/channel/UCjivwB8MrrGCMlIuoSdkrQg
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=kr98MSULN9g&t=1382s
https://www.youtube.com/watch?v=-VGpB_8b77U
https://www.youtube.com/watch?v=QVp7XvJWcHs
https://www.youtube.com/watch?v=Vcbk3KNHiZU
Grato pelas dias, Katia. :)
ExcluirVou conferir.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÓtima reflexão, eu também estou muito mais voltada a essas questões como nunca estive antes, assisti ao especial "Falas Negras" e foi como um soco no estômago perceber como seres humanos foram/são tratados de maneira brutal somente devido à cor.
ResponderExcluirEu me perguntontodo dia: e se eu fosse preta?
ExcluirGrato pela dica, Ádina.
ExcluirGostei bastante.
Ótima reflexão. Porém, infelizmente, muitas vezes só temos a consciência de que o racismo é real e presente na nossa sociedade quando ocorrem fatos chocantes que ganham repercussão nacional ou internacional. Muitas vezes somos omissos pelo fato de não sermos atingidos diretamente por essa violência que é o racismo.
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